segunda-feira, 23 de março de 2015

novo papel do professor como tendência

Grandes professores: talento natural ou treinamento?

Debate no SXSWEdu, nos EUA, questiona se ensinar é algo que se aprende ou deve ser feito por quem tem habilidade natural
Um bom professor é aquele que nasceu com dom para lecionar ou para exercer a profissão com louvor é preciso aprender a ensinar? Essas duas visões dividiram o palco principal do evento sobre inovações educacionaisSXSWEdu, em Austin, nos Estados Unidos, nesta terça-feira (10) na sessão “Great Instructors: Are They Born or Built?” (“Grandes Professores: eles já nascem sabendo ou são construídos?”, em livre tradução). Para apimentar o debate que mobiliza educadores e tomadores de decisão naquele país, uma dupla com casamento marcado – mas visões bem distintas – expôs suas convicções, como se tivessem tendo uma conversa na cozinha de casa, cada um tentando convencer não apenas o outro, mas toda a audiência do seu ponto de vista.
Elizabeth Green, cofundadora da Chalkbeat, uma ONG americana de jornalismo que trata de mudanças educacionais e autora do best-seller “Building a Better Teacher” (“Construindo um professor melhor”, em livre tradução), acredita que ninguém nasce sabendo ser um grande professor. Para ela, bons educadores dominam a ciência da empatia, uma vez que além da resposta correta, devem saber o que faz o aluno errar. “Professores são como médicos, que diagnosticam erros, mas eles não têm apenas um aluno por vez. Achar que eles nascem sabendo isso não é apenas um erro, mas uma temeridade, porque os deixa solitários nessa tarefa”, afirmou.
SXSWEdu Professorescrédito kbuntu / Fotolia.com

De outro lado, o seu namorado, David Epstein, repórter da ProPublica e também autor de um best-seller, o “The Sports Gene” (“O gene do esporte”), defende que pessoas com facilidade nata para tarefas difíceis, como ensinar, naturalmente melhoram suas habilidades mais rapidamente. Sua teoria ficou famosa aplicada ao esporte a partir de seu livro, em que ele questiona a “regra das 10.000 horas”, segundo a qual qualquer pessoa que praticar uma habilidade por todo esse tempo vai se tornar uma especialista. Para o jornalista, algumas pessoas aprendem mais em menos horas. “O seu hardware não faz nada sem o software certo, mas se você tem esse software, o seu hardware faz uma diferença enorme”, afirmou.
O debate bem humorado teve alguns momentos propositalmente combativos, passou por questões filosóficas, econômicas, educacionais e relacionadas a políticas públicas dos Estados Unidos, sugerindo bons pontos de reflexão para o desafio de qualificar professores brasileiros. Enquanto Epstein diz que “professores mais inteligentes formam alunos mais inteligentes”, Green, que é mais ligada à área da educação, tentou conquistar a simpatia da plateia composta em maioria por educadores explicando que nem sempre um matemático ensina melhor que um professor que conhece menos da ciência dos números, mas mais da ciência de ensinar. Também defendeu que do ponto de vista de políticas públicas essa tese não se sustenta.
Segundo ela, existem 3,8 milhões de professores nos EUA, número superior ao de advogados, jornalistas, médicos e engenheiros, por exemplo.  “Abrir mão dos piores professores não resolve o problema dos que estão na média e dos que vão entrar no mercado”, afirmou. Ela ainda acrescentou que uma experiência do programa Teach for America, que buscou recrutar há 20 anos os melhores alunos do ensino médio para se tornarem professores, não surtiu resultados significativos. “Eles não se tornaram melhores professores”, afirmou.
“O que importa não é quem é o professor, mas o que acontece quando ele chega na sala de aula”
No Brasil, a baixa atratividade da carreira faz com que muitos jovens que procuram a profissão sejam oriundos de classes baixas com defasagem em sua formação, o que preocupa gestores da área, que assim como David Epstein acreditam que para melhorar a qualidade da educação é preciso contratar os profissionais com melhor formação cognitiva e melhores condições de ensinar, como ocorre em países como a Finlândia e a Coreia do Sul, cujos alunos se saem bem em testes de aprendizado. Ele também apoiou o uso da tecnologia para que bons professores impactem mais alunos.
Contra esse argumento, Green lamenta que a educação utilize inspirações equivocadas de outras áreas, como esporte. Para ela, os educadores não precisam se tornar heróis como são os grandes esportistas, mas é preciso dar a mesmo suporte para a inovação que é fornecido aos atletas. Para ilustrar, usou o exemplo do Japão, onde “o que importa não é quem é o professor, mas o que acontece quando ele chega na sala de aula”. “Ao contrário daqui [EUA], em que ensinar é um ato privado, lá é público. Professores são observados por mentores e colegas, e boas práticas são compartilhadas e melhoradas constantemente”, contou, após uma hora de troca de opiniões, que se não serviram para convencer ou mudar a ideia dos presentes, pelo menos ajudaram a reforçar convicções com bons dados. Uma última pergunta da plateia ao casal ainda mostrou que talvez nem eles não estejam em lados tão opostos: “Não seria o caso de contratar os melhores e dar o melhor treinamento a eles?”.
A editora do Porvir, Tatiana Klix, acompanha o SXSWedu de Austin.

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