sábado, 4 de abril de 2015

o jogo sobre corrupção

Empreiteiro abre o jogo sobre corrupção (em 1996…)

4 de abril de 2015 | 11:28 Autor: Miguel do Rosário 
 

Um dos problemas da mídia brasileira é que ela inventa uma narrativa que não corresponde à realidade.
Apenas serve a um propósito político.
Segundo esta narrativa, a corrupção começou agora, com o PT.
É uma coisa esquizofrênica, porque no momento em que a Polícia Federal e o Ministério Público iniciam grandes investigações, que não poupam ninguém, nem membros do governo, nem gente da cúpula dos partidos governistas, ou seja, quando há efetivamente, combate à corrupção, pinta-se um quadro de descontrole administrativo que, na verdade, pertence ao passado.
A corrupção em grande escala sempre acontece nos bastidores do poder. Por isso, investigações que não atingem o próprio governo e os próprios partidos no poder não são objetivas.
Era o que acontecia antes. Não havia investigação. A Polícia Federal era uma ferramenta de partido, e suas atividades não poderiam jamais afetar a imagem do governo.  Ao final do governo FHC, chegou-se ao cúmulo do diretor da Polícia Federal ser um militante filiado ao PSDB.
Hoje, não. Hoje a Polícia Federal tem independência. Tanta independência que alguns setores são, inclusive, acusados de estarem à serviço da oposição.
Isso também não pode acontecer. A PF não pode servir nem ao governo, nem à oposição.
De qualquer forma, ninguém hoje nega que a PF tem muito mais autonomia do que jamais teve no passado. Investiga mais, possui mais estrutura (mais gente e mais recursos), e tem mais autonomia.
Dito isso, publico abaixo uma entrevista concedida à Istoé, em fevereiro de 1996, por Murilo Mendes, então presidente de uma das maiores empreiteiras nacionais, a Mendes Jr.
É uma entrevista com valor político e literário. Político, porque Mendes Jr. abre o jogo, às vezes diretamente, às vezes com insinuações, sobre a corrupção generalizada que existia na relação entre as empreiteiras e os governos.
A própria Istoé, no editorial daquela edição, deixa bem claro que a corrupção era a regra:
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Eu falei em “valor literário” da entrevista porque Murilo Mendes usa uma linguagem solta, cheia de palavrões, que expressa uma época que hoje parece tão distante do padrão politicamente correto que rege nossa imprensa.
Trechos com insinuações interessantes:
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“Serjão” era o apelido de Sergio Motta, o homem forte do governo FHC na relação com o congresso, acusado de ter sido o operador do esquema de propinas para a aprovação da emenda da reeleição. Esse é o homem com quem Murilo Mendes admite ter “conversa de empreiteiro”.
Além de operador político, Motta também era ministro da Comunicação, o homem que lidava diretamente com os grandes grupos de mídia, enchendo-os com dinheiro da publicidade institucional. Não existia esse negócio de “mídia técnica”. A grana era para Globo, Abril, Folha, Estadão, Istoé, e ponto final.
Trechos com confissões do presidente da Mendes Jr, sobre existência da cultura de propina:
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Entretanto, é de se notar a simpatia da Istoé pelo entrevistado, e pelas empreiteiras de maneira geral, mesmo sabendo que elas pagavam propina a funcionários do governo.
A entrevista é feita com explícito objetivo de expor o ponto-de-vista do presidente da Mendes Jr, cujos negócios sofriam com uma dívida de R$ 3 bilhões que o governo não queria pagar.
Ainda não havíamos chegado ao vale-tudo de hoje, em que, na ânsia de derrubar um governo eleito, a mídia não mais se preocupa com o destino das empresas e dos milhões de empregos agregados às suas atividades.
A íntegra da entrevista, e o editorial da Istoé podem ser vistos abaixo:





 

 

 

 

 


 

 

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