terça-feira, 8 de julho de 2014

SOU DOIS QUE HABITAM MEU CORPO ...

DOIS HABITAM MEU CORPO ...


Reforma política e o cinismo da mídia

Reforma política e cinismo da mídia

Por Bepe Damasco, em seu blog:

A história do Brasil mostra que sempre que governos populares ousam reduzir a vergonhosa desigualdade social brasileira a mídia não mede esforços para desgastá-los e, se possível, derrubá-los, recorrendo a campanhas sistemáticas para taxá-los de corruptos. Foi assim com o "mar de lama" que levou Vargas a dar um tiro no peito. Foi assim na campanha para impedir a posse de Jango, em 1961. Foi assim no golpe civil-militar de 1964. Foi assim com Lula. Tem sido assim com Dilma. Só que esse moralismo udenista é seletivo. Só serve como instrumento de luta política contra a esquerda e seus aliados. Já em relação a denúncias envolvendo políticos e partidos de sua preferência, os barões da mídia se calam, como no escândalo do metrô e dos trens de São Paulo. E por que o monopólio midiático se opõe à reforma política, mesmo sabendo tratar-se do remédio mais eficaz para combater a corrupção ?

Todos se lembram que, no auge das manifestações de junho do ano passado, a presidenta Dilma enviou à Câmara dos Deputados um projeto de reforma política, com plebiscito e Constituinte exclusiva. Rapidamente a aliança entre a maioria conservadora do Congresso Nacional e o PIG cuidou de sepultar a mensagem da presidenta. Os deputados deixaram claro que até aceitavam, num futuro incerto e não sabido, examinar um projeto de reforma política. Desde que sob o controle absoluto deles e, sobretudo, sem participação popular, sem povo.

Mas a mídia corporativa foi além. Simplesmente passou a atacar todo e qualquer projeto de reforma política para, em seguida, sumir com o assunto do noticiário. Vale salientar que sempre que vem à tona a necessidade imperiosa de o país fazer a reforma política, para dar um grande passo republicano e mudar o jeito de se fazer política no país, o mundo conservador entra em pânico. E isso acontece por três motivos básicos : 1) Constituinte exclusiva e plebiscito darão ao povo brasileiro a condição de protagonista do processo da reforma; 2) O financiamento público em muito contribuirá para reduzir a influência do poder econômico nas eleições, permitindo que candidatos oriundos das camadas mais pobres concorram com mais chances; 3) O voto em lista fechada favorece partidos mais organizados e programáticos como o PT e seus aliados no campo da esquerda.

Até o STF percebeu o quanto as eleições brasileiras vêm sendo deformadas pelo financiamento privado de candidatos e partidos por parte dos grandes empresários e do capital financeiro. Tanto que chegou, há alguns meses, a constituir maioria esmagadora de votos para acabar com o financiamento privado. Temendo que a medida viesse a valer já nas eleições deste ano, o que fez o ministro Gilmar Mendes ? Pediu vistas do processo, sem prazo para apresentar seu voto. Não por acaso nunca foi cobrado por nenhum colunista ou articulista da velha mídia. Esse silêncio cúmplice garantiu a realização de mais uma eleição na qual, certamente, correrá solto o dinheiro dos grupos econômicos.

Caso se pautasse pelo interesse público e o cinismo não fosse uma das suas características mais marcantes, a mídia teria a obrigação de mostrar à sociedade que na raiz de grande parte dos esquemas de corrupção está o toma-lá-dá-cá propiciado pelo financiamento privado. O capitalista que financia um candidato é o mesmo que logo lhe apresenta a fatura, exigindo seu dinheiro de volta com margens exorbitantes de lucro às custas da sangria dos cofres públicos.

A verdade nua e crua é que a mídia brasileira não se incomoda com a corrupção e a malversação do dinheiro público, como tentar fazer crer em seus editoriais falsamente indignados e suas manchetes levianas e sensacionalistas. Se considerasse verdadeiramente a corrupção um mal a ser combatido, cobraria punição dos endinheirados corruptores. Caso seu moralismo fosse sincero, e não mirasse apenas seus adversários políticos, a campanha dos movimentos sociais, centrais sindicais e entidades da sociedade pela reforma política, com Constituinte exclusiva, não seria vista como uma "ameaça à democracia".

Contudo, com diz o Igor Felippe, do Brasil de Fato, em artigo publicado recentemente no Blog Escrevinhador, a oposição feroz da mídia à reforma política só mostra que estamos no caminho certo.

instrumentos de combate à corrupção

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Dossiê ditadura – 50 anos depois do golpe

Dossiê ditadura – 50 anos depois do golpe
 http://www.revistadacultura.com.br/revista/edicao_80/capa_dossie_ditadura.aspx








A LUTA QUE JAMAIS PAROU

A batalha política e social, de que a juventude foi, e continua sendo, protagonista, nunca foi deixada de lado. Nem com uma ditadura de direita. sequer com um governo de esquerda

Só podia ser mentira. Afinal, era o dia da mentira. Mas o ano, ah..., o ano, infelizmente, era 1964. Então, algo estranho aconteceu: “O Exército dormiu janguista no dia 31 [de março] e acordou revolucionário no dia 1º [de abril]”. A frase é do general Osvaldo Cordeiro de Farias, ministro de Castelo Branco (1897-1967) entre 1964 e 1966, em entrevista aos sociólogos Aspásia Camargo e Walder de Góes para o livro Meio século de combate. Ele falava sobre as horas que desembocariam no golpe civil-militar. E nos sucessivos 21 anos de ditadura. Foi há 50 anos, mas parece que foi ontem. culpa do rápido e atropelado desencadear de eventos, que culminou na vitória dos golpistas, foi da ala mineira, que compunha a conspiração cujo objetivo maior era a derrubada de João Goulart (1919-1976). A relação do presidente com as Forças Armadas jamais foi serena, mas os ânimos enfureceram-se e a tensão alcançou níveis perigosos quando ele adotou um discurso mais agressivo a favor das reformas de base... LEIA +








RUA TUTÓIA, 921, O NINHO DO DRAGÃO


Cólicas intestinais assaltavam-me já desde a fila do alistamento militar obrigatório. Então, desabalava para bem longe da agência do Exército, sem apresentar documentos. O pavor ante a instituição enraizava-se em motivos diversos – da censura do regime militar a filmes, peças e jornais às chacinas dos esquadrões da morte, às quais eu associava, embora sem fundamentos, à morte do tio Jurandir. Assassinado sem motivo conhecido; era essa, mais ou menos, a legenda na foto de Notícias Populares: sob a ponte erma um corpo a boiar, de bruços. Integrados por policiais e militares, os esquadrões à margem da lei fuzilavam “criminosos”, ou seja, desafetos de traficantes, mendigos e “subversivos” de várias cepas, para atirar em seguida os corpos em represas e rios. A recusa ao alistamento logo revelaria o desastroso resultado de colocar-me no próprio ninho da serpente. À porta de casa, dois sargentos procuram saber do jovem de dezoito anos e meio. A não apresentação seria devida ao “arrimo de família”, trabalhar para sustentar o lar da desquitada? Minha santa mãe lhes informou que o trânsfuga...Leia +









CENSURA E ESTÍMULO

Durante o regime militar, o cinema no Brasil se viu limitado por cortes e proibições ao mesmo tempo que era beneficiado por atos de incentivo

Embora os dados permaneçam os mesmos, novos olhares e pontos de vista são sempre permitidos em torno do quanto a sétima arte brasileira sofreu com a censura que lhe foi infligida durante os 21 anos da ditadura militar no país. Assim como aconteceu em outros governos ditatoriais ao redor do mundo, era forte a investida contra filmes aparentemente opostos às ideias vigentes – incluindo produções vindas do exterior, que, na visão da censura federal, poderiam “colaborar para a dissolução da família brasileira ou a paz da nação”. Esses pretextos frequentes fizeram com que criações trazendo lutas de trabalhadores (A classe operária vai ao paraíso), erros judiciários (Sacco e Vanzetti), uma sexualidade inusitada (O sopro no coração) ou um ativista que transava com a família de um industrial (Teorema) ficassem um bom tempo inacessíveis ao nosso público...Leia +










EXISTE UM LEGADO PRÁTICO DA DITADURA BRASILEIRA QUE PODE SER APROVEITADO?

O terrível e longo período do regime militar no país ocasionou inúmeros danos irreparáveis. Mas investigar as trevas do totalitarismo não pode ser o caminho para transformar a dor histórica em lição?

Quando pensamos na ditadura militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985, imediatamente nos vêm à cabeça associações negativas, como censura, tortura e restrição dos direitos individuais. Não sem razão, já que foram 21 anos de escuridão. Mas será possível que, mesmo diante da treva mais profunda, algo de positivo possa brotar? Embora delicado e controverso, o tema é pertinente em um país que ainda se considera em construção. Investigar o que herdamos do regime, social, econômica e culturalmente, para o bem e para o mal, é um exercício de cidadania.Para o historiador Marco Antonio Villa, autor de Ditadura à brasileira, apesar do terror, houve um legado que não deve ser ignorado. “As obras de infraestrutura que criaram as condições para o grande crescimento econômico entre os anos 1968-1978 foram importantes. Para o bem ou para o mal, especialmente na presidência [Ernesto] Geisel, o governo tinha um projeto nacional, o que, atualmente, não temos. E não é de hoje, isso vem desde a última década do século 20”, afirma... Leia +









O QUE APRENDEMOS COM 1964?

POR MARCOS NAPOLITANO

Os antigos diziam que a história é a mestra da vida. Se isso for verdade, cabe a pergunta: o que a sociedade brasileira aprendeu com a experiência de 1964? Ou seja, com o golpe de Estado e seus desdobramentos diretos que determinaram a vida do país por mais de 20 anos? Aprendemos que os direitos humanos são valores fundamentais de qualquer sociedade que se quer moderna e civilizada? Aprendemos que a distribuição de renda é a palavra-chave que faz rimar economia com democracia? Aprendemos que a democracia é incompleta quando só se preocupa com os direitos individuais, sem fortalecer os direitos sociais e os direitos civis de todos, e não apenas de alguns? Aprendemos que a violência policial não é o melhor caminho para uma sociedade mais segura? Aprendemos que governos eleitos podem e devem ser cobrados e criticados, mas jamais devem ter sua legitimidade política questionada? Bem, a julgar pelo que alguns colunistas escrevem em nossos jornais e revistas, ou pelo que se ouve e vê em alguns programas e jornais de rádio e TV, este aprendizado parece que não ocorreu como deveria. ... LEIA +








UM ADENDO MODESTO À VERDADE

POR LUIZ FELIPE PONDÉ

Fala-se muito da Comissão da Verdade. A solenidade que a constitui não deixa de ter sua razão; afinal, a ditadura que assolou o país foi uma lástima. Muita gente inocente morreu e foi torturada. Mas, suspeito, às vezes, que um adendo à Comissão da Verdade deveria ser posto, mesmo que de modo modesto.Refiro-me ao fato de a esquerda como projeto político (refiro-me a partidos como PT, PC do B, PSTU ou PSOL e a artistas, jornalistas, professores, intelectuais) constantemente se apresentar como a vítima oficial da ditadura. Não me parece uma verdade de fato, e qualquer comissão da verdade deveria, como adendo, ficar atenta ao que se faz com a herança da ditadura na sociedade que a sofreu.O que eu quero dizer com isso? Quero dizer que grande parte da esquerda hoje posa de vítima quando, na realidade, era apenas um dos atores totalitários em ação no período. E mais: que a esquerda venceu ao final. Grande parte daqueles que se dizem combatentes da liberdade durante a ditadura mente...Leia +









A HERANÇA DA VIOLÊNCIA SOCIAL E POLÍTICA

POR MILTON PINHEIRO

Completa 50 anos o golpe militar que instaurou no Brasil uma ditadura (1964-1985). Análises e perspectivas estão sendo realizadas, tendo como objetivo entender o que ocorreu e avaliar o que se mantém daquele período na sociedade brasileira.É importante observar que o Brasil do período pós-ditatorial não se livrou do autoritarismo e se defronta com uma herança que tem gerado violência e aprofundado o déficit democrático que perpassa as relações sociais e o processo de formação da cidadania. Nesse sentido, tem sido importante a existência de um movimento que advém de instituições públicas e da sociedade civil para criar “comissões da verdade” com o interesse de desvendar a ação da repressão dos governos da ditadura. Isso pode contribuir para revelar a natureza daquele processo e identificar os ramos do autoritarismo que se somam para manter a cultura da violência na realidade brasileira. O não desvelamento dessa situação histórica pode reforçar a cultura de impunidade que persiste em nossa sociabilidade...Leia +










REFLEXÕES NECESSÁRIAS


São inúmeros os livros – além de séries e documentários para TV – que chegam ao mercado neste e no próximo mês sobre o período em que o Brasil viveu sob o regime militar. Indicamos a seguir alguns dos títulos – além daqueles já citados em reportagens ao longo deste dossiê – que fazem um bom panorama da época e dos sentimentos envolvidos...Leia +