quinta-feira, 2 de abril de 2015

As mais estúpidas teorias conspiratórias da extrema-direita

O blog do Yahoo que virou fonte das mais estúpidas teorias conspiratórias da extrema-direita

Postado em 02 abr 2015
Fraude eleitoral 1
. Os Estados Unidos estão investigando se as eleições no Brasil foram fraudadas. A empresa venezuelana Smartmatic, que produz as urnas, deu um golpe eletrônico.
. As autoridades da Operação Lava Jato estão chegando perto de desvendar o que está por trás dos perdões das dívidas de países africanos.
. Nicolás Maduro esteve presente nos protestos do dia 15, como parte do “exército” de Stédile.

. Lula abandonou Dilma e orquestrou uma campanha difamatória através da imprensa. José Dirceu e Marta Suplicy foram usados por ele para detonar a sucessora.
. Um ministro da Venezuela veio armado ao país para dar aulas de tiro ao MST. A intenção é montar uma milícia bolivariana. Os planos estão adiantados.
. A Polícia Federal está buscando uma gravação segundo a qual Paulo Roberto da Costa disse que Dilma Rousseff teria sido quem “forçou a barra” para que a usina de Pasadena, na Califórnia, fosse comprada pela Petrobras a preços insuflados, e em total desacordo com os de mercado.
. A CIA matou Eduardo Campos.
Todas as “notícias” acima foram publicadas no portal Yahoo. São falsas ou ilações. Como essas, há diversas outras. O autor é Cláudio Tognolli, um caso de mitomania como pouco se viu na história da imprensa nacional, incluindo a extinta revista Planeta, que tratava de OVNIs.
Sem apurar, chutando a esmo, citando fontes que não existem, fazendo ligações sem sentido, criando teorias as mais estapafúrdias, entrevistando “especialistas” que ninguém sabe ao certo quem são — enfim, mentindo –, Tognolli tem licença para matar. Não possui qualquer tipo de supervisão ou critério jornalístico.
Por conta disso, seus posts passaram a alimentar a vasta rede de psicopatia da extrema direita. Gente com o perfil típico de um revoltado online compartilha e repercute aquelas “informações” e alerta para a conspiração bolivariana.
O simulacro noticioso tem os clichês mais idiotas, feitos sob medida para ignorantes de ocasião. Ele sempre tem uma “bomba”, uma “exclusiva” etc. Quando se vê, não é nada.
Além dos maníacos e inocentes inúteis, Tognolli atrai também comentaristas do mais baixo nível. A maioria tem algo a acrescentar à farsa e, depois, xinga e pede a morte dos citados, um padrão que tem levado portais a suspender comentários para evitar complicações jurídicas. No caso, a loucura está liberada.
No tal post em que anuncia a intervenção americana, Tognolli baseia seu “furo” numa palestra do “prestigioso” The National Press Club. “Falarão sobre o tema o ex-presidente colombiano Alvaro Uribe, Olavo de Carvalho, o irmão do ex-presidente Bush, Jeb Bush, e o sempre sério e respeitado senador Marco Rubio.” (O ultraconservador Rubio, da Flórida, falsificou seus dados biográficos de modo a contar que seus pais fugiram da ditadura cubana em 1971, quando eles imigraram em 1956, antes da revolução).
Uma figura frequente no blog é Lobão. Tognolli é co-autor da biografia do músico. É claro que ele não avisa aos leitores. O fundamental é utilizar o Yahoo para fabricar boatos e factoides que depois virem verdades em protestos na Paulista capitaneados pelo amigão.
Tognolli é professor na ECA-USP (!!). Passou pela Veja, Folha e mais uma miríade de títulos sem nunca se firmar em nenhum por motivos óbvios. Num perfil em inglês claudicante escrito por ele mesmo na Wikipedia, se declara co-fundador do Brasil 247 e diretor da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
Orgulha-se de ter escrito doze livros. Foi ghost writer de “Assassinato de Reputações”, de Romeu Tuma Jr, recheado de tentativas de assassinato de reputação. A grande revelação era que Lula tinha sido informante do Dops e usava o codinome “Barba”, balela que foi desprezada até por Fernando Henrique Cardoso num Manhattan Connection.
Ninguém medianamente ajuizado leva aquilo a sério. Mas as empulhações sobrevivem no pântano do subjornalismo — ou do que Umberto Eco chamou, numa bela entrevista ao El Pais sobre seu novo livro sobre um jornalista picareta, de “máquina de lama”.
Ela “é utilizada para deslegitimar o adversário e desacreditá-lo sobre questões particulares”, afirma Eco. “É suficiente difundir uma sombra de suspeita”. A máquina de lama do Yahoo é operada por um homem só, munido de um arsenal de velhacarias, livre em seu voo mitomaníaco.
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
 
Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.

Sem crise não há mérito

A CRIATIVIDADE NASCE DA ANGUSTIA

A crise é a maior bênção que pode acontecer às pessoas e aos povos, porque a crise traz consigo progressos.

A criatividade nasce da angústia, tal como o dia nasce da noite escura.

É na crise que nascem os inventos, as descobertas e as grandes estratégias.

Quem supera a crise supera a si mesmo.

Quem atribui à crise os seus fracassos, inibe seu próprio talento e dá mais importância aos problemas do que às soluções.

Sem crise não há desafio, e sem desafios a vida é uma rotina, uma agonia lenta.

Sem crise não há mérito.

É na crise que vem à superfície o melhor de cada pessoa, porque sem crise todo vento não passa de uma carícia.


(Albert Einstein)

Eduardo Cunha faz ameaça

Luis Nassif: Eduardo Cunha ameaça processar o Blog

O presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha pretende processar o Blog.
No mandado de citação, ele diz:

"O Autor, depois de vários anos de sua vida como administrador digno e honesto chegou ao elevado cargo de Presidente da extinta Telerj, no qual destacou-se sobremaneira» sendo que sua administração chegou a ser objeto de referência elogiosas na imprensa, como vê do incluso editorial do Jornal 'V GLOBO" (Doe, 1)
Além disso, , face à sua comprovada honestidade e competência como administrador, o Autor chegou ao cargo de Presidente da Cehab (Doe. 2)
Posteriormente, por força do voto popular, foi levado à ALERJ, como Deputado Estadual (Doe. 3).
Hoje, ocupa uma honrosa cadeira na Câmara dos Deputados, para a qual também foi reeleito pelo voto popular nas últimas eleições, em um segundo mandato como Deputado Federal (Doe. 4).”.
Vou pedir uma ajuda para vocês, em uma pesquisa nos sites jornalísticos, especialmente no período 1990 a 2000.
Para os voluntários, o trabalho coletivo fica assim:
1.     Pesquisem nos sites. Na Folha tem muita matéria, assim como na Veja e na IstoÉ da época. Seria bom pesquisar em O Globo, já que Cunha invoca um editorial elogioso em seu favor.
2.     Selecionadas as matérias relevantes, copie o link e os trechos mais elucidativos.
3.     Podem também imprimir a página em PDF e, depois, anexar o arquivo nos comentários. Basta clicar no PRINT e, nas opções, selecionar gravar em PDF.
4.     À medida em que os trabalhos forem sendo levantados, vamos estruturá-los em uma série sobre o presidente da Câmara.
O material também poderá ser enviado para lourdes@jornalggn.com.br

Negra de...

modismo da imbecilização

O bizarro e superficial pensamento "coxinha" ou o modismo da imbecilização segundo Guilherme Boulos, da Folha

"Já nos ensinou Freud, sempre é bom desconfiar do juízo que as pessoas fazem sobre si próprias. Os coxinhas que têm infestado o debate político atual não são exatamente modelos de retidão e coerência."

Segue artigo de Guilherme Boulos, extraído da Folha:


O Pensamento Coxinha


Guilherme Boulos


O orgulho coxinha entrou na moda. Muitos andam por aí, nas ruas e nas redes, autoproclamando-se "coxinhas" sem nenhum pudor. Virou identidade positiva. O coxinha se considera trabalhador, estudioso, um cidadão de bem que cumpre seus deveres. É contra a corrupção e privilégios que firam a meritocracia.

Mas, já nos ensinou Freud, sempre é bom desconfiar do juízo que as pessoas fazem sobre si próprias. Os coxinhas que têm infestado o debate político atual não são exatamente modelos de retidão e coerência.

São adeptos do "dois pesos, duas medidas". Sua visão tacanha do mundo, que dificilmente resiste à crítica, com frequência descamba para o ódio e a intolerância. Substituem os argumentos por xingamentos.

O coxinha se indigna com os R$ 25 bilhões que o Estado paga anualmente ao Bolsa Família, mas acha normal os R$ 978 bilhões pagos por este mesmo Estado ao bolsa banqueiro.

Ele sai às ruas de branco pedindo redução da maioridade penal quando um cidadão de classe média é assassinado, mas mantém seu silêncio sorridente ao saber que, a cada dia, dois jovens pobres são mortos pela polícia de São Paulo.

Acha que a corrupção no Brasil começou com o PT e faz vistas grossas ao trensalão, ao escândalo do HSBC ou ao aeroporto do titio.

O coxinha, ao saber que as riquezas do 1% mais ricos ultrapassarão a dos 99% restantes no mundo em 2016, atribui isso ao trabalho e esforço desse 1%, mesmo estando sem dúvida alguma entre os 99%.

É contra privilégios desde que não sejam os dele. Queixa-se de que o aeroporto virou rodoviária e de que a classe média já não pode ter empregada doméstica.


O coxinha se mobiliza contra a corrupção, mas não lhe passa pela cabeça defender o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais, fundamento de 11 entre 10 escândalos de corrupção no Brasil.

Para ele, o mundo se divide entre esforçados e vagabundos. Por isso é contra as cotas e programas sociais. Se os negros ganham 42% em média a menos que os brancos, deve ser porque trabalham menos. Se ainda há pobres é porque se escoram no Bolsa Família e não querem aprender a pescar.

O pensamento coxinha é primário. Não passa por elaboração crítica e não resiste a cinco minutos de questionamento. Numa típica formação reativa, transforma a insuficiência em insulto. Mostra que entre a inconsistência e a agressão há apenas um passo.

Alguns dizem que a onda coxinha revela o nascimento de uma nova direita no Brasil. Direita sim, nova nem tanto. São apenas os velhos ranços, preconceitos e indignações seletivas da porção mais conservadora da classe média que encontraram ocasião para sair de algum canto do armário.

Recomenda-se que guarde os fascismos para si. Quando se é racista, misógino e antipopular abertamente, tendo ainda auditórios para aplaudir, é mau sinal. O orgulho coxinha simboliza o emburrecimento do debate público no Brasil.

Guilherme Boulos

o rombo do Zelotes

 

Apequenaram o rombo do Zelotes pois ali não há o PT?


abril 2, 2015 12:33
Apequenaram o rombo do Zelotes pois ali não há o PT?
“Se for verdadeiro o roubo, as proporções indicadas são 100 vezes maiores que o mensalão e quase dez vezes maiores que o Lava Jato. Mesmo assim, não se vê, não se lê e não se ouve nada a respeito, a não ser o noticiário arroz-com-feijão. Onde está a repulsa da sociedade, se tudo isso for verdade?”
Por Aracy Balbani, do Jornal GGN
Artigo de opinião do Jornal do Brasil de 1º de abril sobre a denúncia de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), alvo da Operação Zelotes, é alerta para a necessidade de esclarecer a população sobre a forma de indicação dos membros que compõem o Conselho.
Muitos nunca ouviram falar no Carf antes da Operação Zelotes (zelote: aquele que finge que tem zelos) e também não encontraram na imprensa comercial informações detalhadas sobre seu histórico, mecanismo de funcionamento e composição.
Na página do Carf há informações úteis para começar a compreender a situação. Ali se fala, por exemplo, das origens do Conselho: “O Decreto nº 16.580, de 04 de setembro de 1924, instituiu um Conselho de Contribuintes em cada Estado e no Distrito Federal, com competência para julgamento de recursos referentes ao Imposto sobre a Renda, cujos cinco membros seriam escolhidos entre contribuintes do comércio, indústria, profissões liberais e funcionários públicos, todos de reconhecida idoneidade e nomeados pelo Ministro da Fazenda.”
Abaixo, o texto do JB.
Se forem verdadeiras as acusações de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), que estão sendo vistas pelo povo, pelos responsáveis pela segurança, pelos responsáveis pela vida pública, por todo segmento do Executivo, Legislativo e Judiciário, elas atingem um nível que faz inveja aos últimos acontecimentos da ladroeira de segmentos importantes da vida pública brasileira.
Empresas de todos os segmentos de negócios – bancos, siderúrgica, escritório de advocacia – estariam protagonizando escândalos com cifras impressionantes, e até agora não houve nenhuma manifestação pedindo CPI, ou pedindo a prisão, ou a punição ou mesmo o apressamento da PF em apontar este desvio de quase R$ 19 bilhões do erário público.
O que mais atormenta é que a instituição Receita Federal não está atingida. Seus funcionários, pela dignidade que sempre serviu de exemplo para o país, não são os responsáveis. O que se lê é que a responsabilidade vem de um conselho basicamente indicado por segmentos empresariais. 
Uma pequena reflexão se faz necessária: se a denúncia fosse feita contra a Receita, com o delegado da Receita indicado por um partido político desses que mais vem sendo apontado como responsável pela grande corrupção, o teto brasileiro já teria caído. 
Se for verdadeiro o roubo, as proporções indicadas são 100 vezes maiores que o mensalão e quase dez vezes maiores que o Lava Jato. Mesmo assim, não se vê, não se lê e não se ouve nada a respeito, a não ser o noticiário arroz-com-feijão. 
Onde está a repulsa da sociedade, se tudo isso for verdade?”

Zelotes: corrupção na Receita era técnico-empresarial

Autor: Fernando Brito
zelotes
Daqui a pouco, os leitores que acompanham a Operação Zelotes, sobre corrupção nos Conselhos Administrativos de Recursos Fiscais vão topar com uma expressão usada para alguns ex-auditores da Receita que usavam de seu conhecimento técnico para fraudar ou facilitar a fraude no pagamento de impostos por grandes empresas.

Era prática, na Receita, fiscais licenciarem-se para prestar consultoria a escritórios de advocacia que as representavam no julgamento de autos de infração  lavrados por seus próprios colegas.
O termo nasceu em 2003, quedo Paulo Baltazar Carneiro e Sandro Martins Silva, dois auditores fiscais, montaram a Martins Carneiro Consultoria Empresarial. Um se licenciava, depois o outro e, assim, vendiam facilidades aos empresários no julgamento de seus processos fiscais. Depois de anos de investigações e processo administrativo, foram demitidos em 2008 e, finalmente, condenados em agosto do ano passado, pela 2ª Turma do Superior Tribunal de Justiça.
Situação semelhante é a do ex-fiscal Paulo Roberto Cortez, apanhado na gravação que O Estado de S. Paulo divulga hoje. Cortez aposentou-se em 2009.  E foi, então, indicado como representante da Confederação Nacional do Comércio como representante da entidade no Conselho.formando com o auditor Nelson Malmann, recentemente aposentado e que integrou a formação de conselhos de 1994 a 2013, a Cortez & Mallmann Consultoria Tributária,
Viu-se, agora, para que.
Para os que gostam de generalizar, mesmo em meio a uma corporação “linha-dura” como a Receita, fica a prova de que a corrupção está longe de ser um “privilégio” dos políticos. Nem sempre os há nos casos escabrosos.
Mas empresário, ah, isso não falta.

(1964-2015): O Brasil mudou, mas a mídia não

O Golpe (1964-2015): O Brasil mudou, mas a mídia não. Por Ângela Carrato, da UFMG


O GOLPE (1964-2015)
O Brasil mudou. A mídia, não


Por Ângela Carrato em 31/03/2015 na edição 844 do Observatório da Imprensa

Em recente evento cultural em Belo Horizonte, o fotógrafo Sebastião Salgado fez algumas afirmações que não repercutiram na mídia. De acordo com ele, uma das grandes mudanças, senão a maior, na cena brasileira, diz respeito ao fato de “o governo federal não ser mais comandado por pessoas ligadas aos monopólios de comunicação”. Este é, inclusive, o motivo pelo qual, a seu ver, tantas denúncias de corrupção estão vindo à tona, enquanto no passado foram ignoradas ou abafadas. Ao contrário da maior parte da mídia brasileira, que diuturnamente tem previsto o caos, ele avalia que “o Brasil já é um grande país e está cada vez mais sério”.

Salgado não é nenhum ingênuo ou pessoa sobre a qual possam pesar suspeitas de interesses menores. Por isso, não deixa de ser curioso observar a disparidade entre sua visão (e a de dezenas de especialistas nacionais e internacionais) e a que prevalece na mídia brasileira. Disparidade que leva qualquer um, com informação e independência, a constatar que a mídia não viu (ou não quer ver?) que o Brasil realmente mudou.

Se não fosse a referência aos governos petistas, o editorial “Momento de se reaproximar dos Estados Unidos”, publicado pelo jornal O Globo na edição do domingo (29/03) poderia ser confundido com tantos outros de cinco décadas atrás, às vésperas do golpe civil-militar de 1964. Naquela época, os mais influentes jornais brasileiros atendiam pelos nomes de Diários Associados, Jornal do Brasil, Correio da Manhã, Tribuna da Imprensa, Diário Carioca e Última Hora. O Globo era uma publicação acanhada, de propriedade da família Marinho que até 1962 havia sido vespertina. A televisão vivia a sua fase elitista, com o aparelho sendo considerado um luxo ao qual apenas a elite econômica tinha acesso e o rádio era a mídia de massa.

À exceção de Última Hora e da Rádio Nacional, praticamente todos os demais estavam ou ficaram contra o presidente João Goulart. As denúncias de que ele pretendia implantar uma “república sindicalista” eram permanentes. Os “barões” da mídia, adversários das “reformas de base” propostas pelo governo, queriam ver Jango pelas costas e não mediam esforços para alcançar seus objetivos. Os ataques mais contundentes partiam de Assis Chateaubriand, o primeiro magnata do setor no país, e de Carlos Lacerda. Roberto Marinho, mesmo longe do peso que viria a adquirir no futuro, foi fundamental na desestabilização e derrubada de Jango, ao franquear os microfones da sua Rádio Globo, para os ataques golpistas e destemperados de Lacerda.

O “bruto pigmeu”

Em fins de março de 1964, enquanto as demais publicações registravam as tentativas de articulação de Jango contra a conspiração em marcha, os Diários Associados, de Chateaubriand, radicalizavam o noticiário, contribuindo para a tomada de posição dos setores civis e militares favoráveis ao golpe. Chateaubriand, em artigo de 26 de março, por exemplo, referia-se a Jango como sendo “o bruto pigmeu”, dado ao “seu ódio contra o benemérito capital estrangeiro”. Além de afirmar que Jango e seu governo trabalhavam de acordo com as ordens do Partido Comunista, exaltava a necessidade de uma intervenção por parte dos “setores de bom senso”. Leia-se: militares e aliados.

Vivia-se, naquela época, o auge da Guerra Fria, com o mundo dividido entre as áreas de influência dos Estados Unidos e as da União Soviética. A vitória de Fidel Castro em Cuba e sua aliança com uma potência comunista foi considerada intolerável pelos Estados Unidos, que reagiram à sua maneira. A política externa norte-americana passa a atuar em dois movimentos estratégicos simultâneos. Um, visível, através da Aliança para o Progresso, cujo objetivo era demonstrar a superioridade do modelo norte-americano de livre iniciativa, democracia liberal e individualismo sobre o socialismo, como a solução mais eficiente para o subdesenvolvimento da região. O outro, encoberto, através do apoio a ditaduras de direita, repressoras e violentas, como instrumentos de eliminação de movimentos de esquerda e de seus dirigentes.

Lógica semelhante à do movimento civil-militar que derrubou Jango no Brasil e se espraiou para a Argentina, a Bolívia, o Uruguai e o Chile. Nestes países, dirigentes eleitos foram alijados do poder com pleno apoio do governo “democrático” dos Estados Unidos. Naquela época, os círculos intelectuais e de propaganda norte-americanos criaram, para justificar as políticas repressivas de combate à subversão, as teorias da modernização. Segundo estas teorias, os militares seriam os setores menos comprometidos com as estruturas oligárquicas no continente sul, devendo a eles, portanto, caber o destino destas nações, logicamente “supervisionados” pelo Tio Sam.

A ditadura brasileira escondeu a participação dos Estados Unidos na derrubada de Goulart. A prisão do ex-ditador chileno Augusto Pinochet, em Londres, em outubro de 1998, possibilitou que grupos de direitos humanos e liberdade de informação passassem a pressionassem o governo Clinton para que os documentos envolvendo esta sórdida história pudessem ser conhecidos. Nos dias atuais, eles estão disponíveis para consulta, além de já terem sido publicados em livros no Brasil e no exterior.

Afronta à inteligência

Não há como um jornalista – sobretudo o responsável por editoriais – desconhecer este fato. No entanto, é esse “desconhecimento” que pode ser verificado no sintomático editorial “Momento de se reaproximar dos Estados Unidos”. O texto defende que o Brasil abra mão da política externa independente adotada a partir da chegada do PT ao poder e volte a cerrar fileiras com os Estados Unidos. Numa retórica que afronta a inteligência do leitor, o editorial frisa que a política externa brasileira perdeu espaço desde 2003, atribuindo este “fato” à “ingerência petista na diplomacia”.

Mas que ingerência é esta? A política externa brasileira está sendo feita a partir da visão de mundo do partido que legitimamente venceu as eleições. Mutatis mutandis, será que os Marinhos consideram igualmente ingerência a adoção das premissas do Partido Democrático na política externa norte-americana? Ou será que o governo brasileiro, segundo O Globo, deveria pautar-se pelos interesses norte-americanos na formulação de sua política externa?

Sintomaticamente, o editorial não faz qualquer menção à Unasul e, sem base na realidade, tenta minimizar a importância dos Brics, duas entidades que estão redesenhando a política externa na América do Sul e contribuindo para alterar os próprios contornos da política mundial. A criação da Unasul não teria sido possível sem a habilidade e paciência da diplomacia brasileira, tendo à frente o chanceler Celso Amorim, que materializou as diretrizes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no sentido de um subcontinente integrado e atuando em prol de interesses próprios.

A recente diplomacia brasileira deu contribuição das mais significativas para sepultar o histórico de subimperialismo regional, além de contribuir para desfazer divergências e rixas (a maioria estimuladas por potências externas) que marcam o passado da América do Sul.

Quanto aos Brics, a mídia brasileira, O Globo à frente, praticamente escondeu a realização, em Fortaleza (CE), em julho do ano passado, da reunião que criou o Banco de Desenvolvimento da entidade. Some-se a isso que não foi dado qualquer destaque ao fato de caber ao Brasil a primeira presidência do seu Conselho de Administração, cargo de fundamental relevância, que definirá linhas e valores para projetos de desenvolvimento. Em vez disso, o editorial prefere sentenciar que “o esfacelamento do Mercosul e a desaceleração chinesa impõem ao Brasil se reaproximar dos EUA, cuja economia deve acelerar a recuperação”.

O editorial, beirando a má-fé, desconhece que o governo brasileiro anunciou, dois dias antes, na sexta-feira (28/03), que fará parte do Asian Infrastructure Investiment Bank (AIIB), o banco de desenvolvimento criado pela China, de longe uma das mais importantes decisões dos últimos tempos. Mais do que o Banco dos Brics, ele deverá ser um dos principais competidores de estruturas como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional. Dito de outra forma, ao contrário do que afirma o editorial, quem está perdendo força são os Estados Unidos.

Ainda sobre o editorial de O Globo, o curioso é que ele tenta recolocar em pauta, bem ao estilo dos argumentos maniqueístas das décadas de 1960 e 70, rixas entre Brasil e Argentina, além de defender a volta da política de vassalagem em relação aos Estados Unidos. Pior ainda, procura reviver, através da demonização do “bolivarianismo chavista e do Irã”, o antigo pavor em relação ao comunismo. Pavor que, na prática, encobre o medo a qualquer aprofundamento democrático no Brasil. Afinal, são os Estados Unidos, e não o Brasil, que têm problemas com estes dois países.

A supremacia norte-americana mostra-se cada dia mais discutível. Óbvio que o Tio Sam ainda dispõe de capacidade quase ilimitada de destruição e que, investindo-se, por conta própria da condição de xerife do planeta, sente-se no direito de meter o bedelho em toda parte. As instituições brasileiras, no entanto, depois da experiência nefasta de 21 anos de ditadura e de mais de duas décadas de retorno ao estado de direito, mostram-se maduras e fortalecidas o suficiente para conviver com pressões de toda ordem, aí incluída uma mídia que mente, distorce os fatos e, principalmente, desprovida de qualquer sentimento patriótico.

Denúncias engavetadas

O “mar de lama” denunciado por uma histérica UDN (o PSDB da época), com o apoio da mídia, mostrou-se decisivo para o suicídio de Vargas, em 1954 que, agindo assim, abortou um golpe em marcha. Goulart, 10 anos depois, foi vítima de golpe civil-militar, apoiado pela CIA. A autointitulada “Nova República”, que pôs fim à ditadura, deixou visível, desde o primeiro momento, que não seria fácil livrar-se dos filhotes dos “anos de chumbo”.

Tancredo Neves, presidente eleito via Colégio Eleitoral, morreu antes de tomar posse. Seu vice, José Sarney, assumiu e deu posse ao ministério escolhido por Tancredo, no qual figurava, como titular das Comunicações, ninguém menos que Antônio Carlos Magalhães. ACM, como era conhecido, dominou a Bahia, seu estado natal, por décadas e foi um dos políticos mais ativos nos tempos da ditadura. Oficialmente, mudara de lado, mas não de métodos.

No governo Sarney, foi aprovada uma lei que passava o poder de dar/retirar concessões públicas para TV e rádio do presidente para o parlamento. Um dia antes de a lei entrar em vigor, ACM e Sarney fizeram 100 concessões públicas para TV e rádio, boa parte delas para afiliadas da TV Globo que, através do acordo ilegal com o grupo norte-americano Time-Life e graças às benesses da ditadura, já havia se transformado no maior conglomerado de mídia do país. É importante lembrar que Sarney e ACM controlavam, eles próprios, a maior parte dos veículos de comunicação em seus estados.

Fernando Collor, o primeiro presidente eleito pelo voto popular depois do golpe de 1964, chegou ao poder em grande medida através do apoio das Organizações Globo. Para a sua vitória foi decisiva a edição manipulada do debate entre ele e Lula, candidato do PT, em 1989. A manipulação, óbvia para boa parte dos profissionais e pesquisadores da área, foi negada durante 22 anos, até que o ex-todo poderoso dirigente da emissora, José Bonifácio Sobrinho, decidiu contar a verdade.

As Organizações Globo não gostavam de Itamar Franco, o vice de Collor que assumiu a presidência após o impeachment do titular do cargo. Rapidamente, Roberto Marinho encontrou no chanceler, e depois ministro da Fazenda de Itamar, Fernando Henrique Cardoso, um nome confiável. Quando a disputa sucessória desenhou-se em torno de Fernando Henrique e de Luiz Inácio Lula da Silva, era nítido o lado que jornais, revistas, rádios e TVs tomariam.

As afinidades dos “barões” da mídia com o ideário neoliberal defendido por Fernando Henrique Cardoso (PSDB) impossibilitaram que prosperasse qualquer denúncia sobre corrupção no governo. As concessões de rádio e TV (RTVs) foram importante moeda de troca neste processo. Até setembro de 1996 foram outorgadas 1.848 licenças de RTVs, das quais pelo menos 268 beneficiaram entidades controladas por 87 políticos (Lima & Caparelli, 2004).

A generosidade de Fernando Henrique coincidiu com a aprovação da emenda constitucional que permitiu a sua própria reeleição. Ao longo de seus dois governos, além das 539 emissoras concedidas por licitação, ele autorizou 357 concessões “educativas” sem licitação. A maior parte desta distribuição ficou concentrada nos três anos em que o deputado federal Pimenta da Veiga (PSDB-MG) esteve à frente do ministério das Comunicações e destinaram-se a políticos do seu partido e a aliados.

Nem Fernando Henrique nem seu ministro sofreram quaisquer sanções, apesar da Constituição de 1988 determinar que cabe ao Congresso Nacional apreciar todos os atos do Poder Executivo. O que inclui – mas nunca foi feito – a análise prévia da outorga ou renovação de concessões, permissão e autorização para serviços de radiodifusão.

A aprovação da emenda que permitiu a reeleição foi marcada por denúncias de corrupção envolvendo a compra de votos. O jornal Folha de S.Paulo levantou o assunto e publicou, em 1997, trechos de gravações em que dois deputados do PFL (atual DEM) do Acre afirmavam ter recebido R$ 200 mil cada (o equivalente hoje a R$ 530 mil) para votar a favor da emenda patrocinada pelo Palácio do Planalto. O então procurador-geral da República não se interessou pelo caso, transformando-o em uma das centenas de denúncias de corrupção que engavetou.

No segundo governo de FHC não faltaram denúncias envolvendo privatizações de empresas estatais a preço de banana, das quais a mais eloquente foi a da Companhia Vale do Rio Doce, vendida por R$ 3,3 bilhões, quando valia perto de R$ 100 bilhões. Pouco depois, o polêmico jornalista Paulo Francis, denunciou, no programa Manhattan Connection, da TV Globo, que os dirigentes da Petrobras mantinham contas secretas na Suíça, fatos que via como indícios de corrupção na estatal.

Mídia e governo não lhe deram ouvidos. A empresa entrou com ação indenizatória no valor de 100 milhões de dólares e, para muitos que conheceram Francis, este foi o motivo de sua morte prematura, em 1997, vítima de um ataque cardíaco fulminante, aos 67 anos. O tempo viria dar razão às denúncias de Francis.

Lula derrotou os candidatos tucanos José Serra, em 2002, e Geraldo Alckmin, em 2006, e ainda conseguiu, em 2010, fazer de Dilma Rousseff sua sucessora. As vitórias de Lula, como ele mesmo diz, aconteceram contra a mídia tradicional que nunca teve dúvidas que o “sapo barbudo” e o ex-torneiro mecânico, que não possui um dos dedos, não era dos seus. O mesmo pode ser dito de Dilma Roussseff, a ex-guerrilheira contra a ditadura e primeira mulher a chegar ao Palácio do Planalto.

Novos tempos

Nas eleições de 2010, a mídia brasileira apostou novamente no tucano José Serra, convencida que o peso do estado de São Paulo e os desgastes enfrentados pelo PT com as denúncias de corrupção envolvendo o Mensalão seriam suficientes para derrotar a candidata de Lula. Como não foram, a mídia partiu para o vale tudo em 2014, disposta a fazer qualquer coisa para dar vitória ao tucano Aécio Neves.

O tudo ou nada da campanha eleitoral se manteve nestes primeiros 100 dias de governo Dilma, com a mídia transformando-se em partido de oposição, insuflando e cobrindo manifestações de protestos de “revoltados” a “favor do impeachment”, do “Fora Dilma”, e de “intervenção militar constitucional” (!). Enfim de qualquer arranjo ou casuísmo, inclusive com digitais externas, que apeie o PT do poder ou o impeça de governar, por intermédio da conhecida “fórmula para o caos”, outro nome para o constante sangramento de adversários no poder.

No dia 1º de setembro de 2013, as Organizações Globo, por meio de editorial publicado no jornal de sua propriedade, fez autocrítica, considerando “um equivoco” o apoio ao golpe civil-militar de 1964. Mesmo sem muita convicção e minimizando os fatos, uma vez que a empresa não apenas apoiou o golpe, mas foi parte de sua articulação e vitória, alguns viram no gesto da família Marinho (o patriarca já havia morrido) uma espécie de recomeço em novas bases. Menos de dois anos se passaram para que a “autocrítica” desse lugar a articulações semelhantes às dos idos de 1964. A resposta de Dilma, um tanto lenta, veio através de suspensão de verbas para a TV Globo e a revista Veja e a escolha do ex-deputado petista Edinho Silva para dirigir a Secom.

Há muito por fazer, a começar pela democratização da verba de publicidade institucional do governo e das empresas estatais. Em permanente queda de audiência, os veículos das Organizações Globo continuam recebendo a maior parte destes recursos, numa época em que as verbas em várias partes do mundo, a começar pela Inglaterra, Canadá e Estados Unidos (que eles tanto admiram), já migraram ou estão migrando para a mídia digital.

A crise e o caos brasileiro, que a velha mídia apregoa, estão longe de ser realidade. O Brasil mudou. Quem não mudou foi a mídia e ela, sim, está em crise. Aos poucos surgem histórias que ela gostaria de manter desconhecidas dos respeitáveis telespectadores, ouvintes e leitores, como as contas secretas de seus proprietários na agência suíça do banco HSBC e as denúncias de propinas pagas pela Rede Brasil Sul (RBS), afiliada da TV Globo. Tudo isso precisa e deve ser investigado, mas a velha mídia parece não se dar conta das mudanças, aferrada a padrões do século passado, quando mamatas e privilégios foram suficientes para garantir tranquilidade a governos e dinheiro e poder aos seus proprietários.

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Ângela Carrato é jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da UFMG. Este artigo foi publicado no blog Estação Liberdade

Maioridade Penal, um debate viciado

Enfim, mas enfim MESMO, um artigo lúcido sobre a questão da maioridade penal.



Maioridade Penal, um debate viciado


Alfredo Sirkis


Virou um debate viciado. A questão não é reduzir ou não a maioridade penal de uma maneira geral. A questão é como lidar com uma pequena minoria de criminosos menores de idade, violentos e extremamente perigosos, com uma propensão a matar maior do que a de criminosos mais experientes e que depois de cometerem seguidos crimes violentos voltam rapidamente às ruas em virtude do ordenamento jurídico vigente.

Os vociferantes tanto da esquerda quanto da direita estão errados nessa discussão. A esquerda precisa entender que a população não aceita mais a rapidez com que esses jovens assassinos voltam às ruas para matar de novo e pelo seu “status” tornam-se peças bem manipuladas pelas quadrilhas que gostam de ter seus contingentes “de menor”.

A direita, por outro lado, acredita demagogicamente que basta passar o conjunto de jovens infratores brasileiros para os presídios normais –esse é o efeito prático do que propõe—e nossa segurança irá melhorar. Como a maior parte dos delitos dos menores não envolve violência –há um número desproporcional por comércio de drogas-- o que estará se fazendo é aumentando muito as chances deles saírem dessas universidades do crime que são as penitenciárias muito mais violentos e perigosos.

O correto é não mexer na regra geral da maioridade penal, mas  apenas mas no tratamento específico a ser dado aos menores que tenham cometido crimes violentos e constituam ameaça evidente à sociedade, fazendo-os cumprir, ainda que em estabelecimento à parte, penas condizentes com os crimes violentos que cometeram, e não essas inócuas “medida de segurança” limitadas no tempo. Esse era, por exemplo, o propósito de um projeto do Sen. Aloisio Nunes que eu teria votado se parlamentar ainda fosse.

O presente movimento pela diminuição geral da maioridade capitaneando pelo lobby policial e abençoado pelo Eduardo Cunha obedece mais a propósitos políticos do que a uma estratégia de segurança bem pensada. Já as avestruzes de “esquerda” ignoram o problema real e o sentimento amplamente majoritário da população. Leio o argumento de que “só” quinhentos assassinatos por ano são cometidos por menores entre 16 e 18 anos.

Só quinhentos? Acham pouco???



Político e jornalista. Ex-deputado federal, secretário de estado e do município do RJ.



E complementando, vale dizer que sendo apenas 8% dos crimes de homicídio elucidados neste país. A esmagadora maioria por FLAGRANTE, já que a capacidade investigativa de nossas polícias é a mesma de um inspetor Closeau de sandálias havaianas e canivete.  Os tais 500 homicídios cometidos por menores - a esmagadora maioria presos em flagrantes -são muito mais opressores no imaginário da população do que se imagina. Sim, estes assassinos, menores ou não precisam ser retirados no convívio. Os outros, em situação de recuperação devem ser encaminhados a ambiente que os possa recuperar, longe das maças podres.  (Danilo Fernandes)



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