Paulo Nogueira: Por que a Folha criticou a maneira amiga como a Justiça trata o PSDB?
Ora, e então vemos um alvoroço na internet com um editorial em que a Folha admite que a Justiça favorece o PSDB.
A razão do editorial foi o completo abandono do chamado Mensalão Tucano.
Bonito isso.
Agora, para ficar completo, só falta a Folha fazer um segundo editorial em que denuncie a proteção, pela mídia, do PSDB.
Ambas as proteções, a jurídica e a jornalística, caminham alegremente de
mãos dadas, e servem para que milhões de analfabetos políticos sejam
manipulados e acreditem que a corrupção é monopólio do PT.
Servem, também, para desviar o foco da sociedade. Nosso maior problema,
uma real tragédia, é a desigualdade social, e a mídia e a Justiça se
combinam para que ingênuos sejam levados a crer que o mal maior é a
corrupção.
A mídia favorece o PSDB de diferentes formas.
A Veja é descarada, escandalosa, despudorada. É aquela marafona que anda
pelas ruas com um cartaz no qual anuncia seu preço e condições.
Não pretende enganar ninguém.
A Globo é a marafona que faz algum esforço para disfarçar a sua
atividade, e às vezes chega mesmo a vestir roupa de colegial, mas que
mesmo assim deixa claro seu ofício e suas intenções.
Quer enganar, mas não engana ninguém.
A Folha é a marafona que se faz de virtuosa. Chega a dar lições de moral.
É, talvez, o pior tipo. Pois acrescenta hipocrisia ao vício.
Leva na bolsinha nomes como Josias de Sousa, Reinaldo Azevedo, Pondé,
Ferreira Gullar, Demétrio Magnolli e editores capazes de dar uma
manchete errada com Dirceu e repará-la, aspas, com uma nota de rodapé
num espaço que ninguém lê.
De vez em quando, a Folha faz um editorial como este em que critica um
antigo descalabro brasileiro – o caráter partidário da Justiça, algo que
mina a crença da sociedade nos bons propósitos dos senhores
magistrados.
Virou uma coisa tão indecente que já nem causa surpresa descobrir nas
redes sociais juízes fazendo, ostensivamente, agressivas campanhas
políticas antipetistas.
A Folha, eu dizia, de tempos em tempos, faz um editorial daqueles.
Mas apenas para que possa continuar a usar o marketing que diz que o
jornal “não tem rabo preso com ninguém”, e por nenhuma outra razão que
mereça algum tipo de elogio.
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