sábado, 28 de março de 2015

“Investimentos” das negociações secretas do Acordo TPP

Capítulo “Investimentos” do Acordo (secreto) da Parceria Trans-Pacífico (TPP)

25/3/2015, WikiLeaks (press-release)
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
                     POSTADO POR CASTOR FILHO
WikiLeaks publica hoje (25/3/2015) o Capítulo “Investimentos” das negociações secretas do Acordo TPP (Parceria Trans-Pacífico). O documento se soma às publicações anteriores de WikiLeaks, dos capítulos “Direitos de Propriedade Intelectual” (Intellectual Property Rights, novembro de 2013) e “Ambiente” (janeiro de 2014).
O Capítulo Investimentos do Acordo TPP publicado hoje, é datado de 20/1/2015. O documento é sigiloso, para ser mantido secreto por quatro anos depois de o acordo TPPentrar em vigência ou, no caso de não chegar a haver acordo, por quatro anos depois de encerradas as negociações.
Para Julian Assange, editor de WikiLeaks,
A “Parceria Trans-Pacífico” cria, em segredo, uma corte judicial supranacional, absolutamente sem qualquer obrigação de prestar contas a quem quer que seja, para que empresas multinacionais processem estados. Esse sistema é aberto desafio a soberania parlamentar e judicial das nações. Tribunais semelhantes a esse já conseguiram impedir que se adotassem políticas públicas de proteção adequada ao meio ambiente, para melhoria da saúde e do transporte público em vários países.
Atualmente, permanecem como estados membros que participam das negociações para chegar à Parceria Trans-Pacífico, os EUA, Japão, México, Canadá, Austrália, Malásia, Chile, Cingapura, Peru, Vietnã, Nova Zelândia e Brunei. A Parceria Trans-Pacífico está prevista para ser o maior tratado econômico na história, incluindo países que representam mais de 40% do PIB mundial.
TPP - Países participantes (até hoje)
O capítulo “Investimentos” destaca a intenção dos países que estão discutindo a formação de uma Parceria Trans-Pacífico, liderados pelos EUA, de gerar vastíssimos novos poderes para empresas multinacionais, criando um tribunal supranacional, no qual empresas globais poderão processar estados e obter compensações, a serem pagas com dinheiro dos contribuintes, sempre que alguma ação-desejo dos próprios contribuintes dificultar alguma operação de alguma empresa multinacional, acarretando “perda de lucros futuros esperados”.
Esses tribunais para decidir disputas entre investidores e estados [orig. Investor-state dispute settlement (ISDS) tribunals) estão sendo concebidos para se sobrepor à competência dos sistemas judiciais nacionais. Esses tribunais ISDS introduzem um mecanismo mediante o qual corporações multinacionais podem forçar estados e governos a pagar compensações, caso o tribunal decida que leis ou políticas nacionais, num dado país, afetam “lucros futuros” que a empresa contava receber. Em troca, os estados signatários contam com que as multinacionais investirão sempre mais.
Já existem e foram usados mecanismos semelhantes. Por exemplo, a Phillip Morris, gigante norte-americana do tabaco serviu-se de um tribunal desse tipo para processar a Austrália (Junho de 2011 – em andamento) por o estado australiano ter obrigado a empresa a publicar alertas de risco à saúde pública nas embalagens de cigarros (ing. plain packaging of tobacco products, lit. [obrigação de usar] embalagens feias para cigarros); e a gigante do petróleo, Chevron, contra o estado do Equador, tentando escapar da obrigação de pagar ao Equador uma “compensação” multibilionária, que o país exige da empresa por poluir o meio ambiente. A ameaça-chantagem de novos processos fez parar todo o movimento a favor de leis de proteção ao meio ambiente no Canadá, depois que o país foi processado por empresas fabricantes de pesticidas em 2008/9.
CHEVRON no Equador - Crime Ambiental Impune
Os julgamentos nesses tribunais ISDS são quase sempre secretos, não há mecanismo de apelação contra as “sentenças”, o tribunal declara-se não submetido a leis de proteção a direitos humanos nem ao interesse público e os meios pelos quais as partes “processadas” podem manifestar-se são muito restritos.
A negociações do TPP vêm sendo feitas, em segredo, há cinco anos; agora, estão chegando aos estágios finais. Nos EUA, o governo Obama planeja fazer avançar com rapidez a tramitação no Congresso, dado que deputados e senadores não poderão discutir ou votar medidas isoladas. Essa atitude vem encontrando crescente oposição, resultado de a opinião pública estar sendo afinal mais bem informada graças aos documentos divulgados por WikiLeaks sobre também outras etapas dessa negociação.
Esse acordo Trans-Pacífico, discutido também secretamente, é o primeiro que virá na sequência, entre EUA e a União Europeia – a Parceria Trans-Atlântico, para Comércio e Investimento [orig. (Transatlantic Trade and Investment Partnership, TTIP).
As negociações para a Parceria Trans-Atlântico foram iniciadas pelo governo Obama em janeiro de 2013. Combinados, os dois acordos, Trans-Pacífico (TPP) e Trans-Atlântico (TTIP) cobrirão mais de 60% do PIB global.
TPP - WikiLeaks
O terceiro tratado desse mesmo tipo, também negociado em segredo, é o Trade in Services Agreement (TiSA), sobre comércio de serviços, incluindo os setores financeiro e de saúde. Cobre 50 países, inclusive EUA e todos os países da União Europeia. WikiLeaks publicou um rascunho secreto do anexo financeiro do TiSA, em junho de 2014.
Todos esses acordos/tratados ditos “de livre comércio” são negociados à margem da Organização Mundial do Comércio. Muito sintomaticamente, estão excluídos desses tratados o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, países BRICs.

A PETROBRAS E OS ENTREGUISTAS


Imprensa tucana (até no exterior!)

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FHC: fomos surpreendidos novamente!
O constrangedor episódio em que a sucursal brasileira da agência de notícias britânica Reutersdeixou escapar, no meio de um texto publicado na internet, um recado do editor para alguém, consultando se uma informação desfavorável a Fernando Henrique Cardoso deveria ser suprimida(veja reprodução do texto publicado no fim desse post), confirmou aquilo que todos - pelo menos todos os jornalistas - já sabiam: o dedo do PSDB pesa na pauta, no conteúdo e na edição final do que é produzido por muitos meios de comunicação. Não, não é delírio de petista, mania de perseguição ou teoria da conspiração. Pra começar, o dito texto é uma entrevista com o citado morto-vivo FHC, que nada influi na política nacional (e nem mesmo em seu partido) desde que saiu da presidência da República para o lixo da História - e a publicação de (dispensáveis e inúteis) declarações suas na imprensa corrobora a influência tucana sobre a mídia. Segundo, a tal entrevista foi feita por Brian Winter, coautor de um livro exatamente com o entrevistado (!). E, por fim, o vazamento do comentário, que dá ideia do nível de vassalagem de nossa mídia ao PSDB e que atinge até (financeiramente?) uma sucursal de agência estrangeira. Delírio? Paranoia? Mistificação?

Goebbels: 'mentor' da mídia tucana
Com 21 anos de profissão, ao bater o olho no recado esquecido no meio da entrevista ("Podemos tirar, se achar melhor"), referindo-se a possível e "apropriado" corte da informação de que "o esquema de pagamento de propinas na Petrobras começou em 1997, no governo tucano [de FHC]", me pareceu um caso clássico de "acordo" em matéria "encomendada". Comecemos assim: um veículo de comunicação toma a iniciativa ou é pautado por "instâncias superiores" (PSDB?) a publicar textos/reportagens/entrevistas/notícias/notinhas maldosas/entrevistas insinuando que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (provável e temido candidato em 2018) é o principal responsável pela roubalheira na Petrobras. A ordem é bater nessa tecla diariamente, por meses (ou anos) a fio, até que se concretize a máxima de Joseph Goebbels, ministro da propaganda no regime nazista de Adolph Hitler, de que "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade". Para estrear a série, fica acertada uma entrevista com FHC - até porque, inativo e pouco lembrado em seu ostracismo eterno, ele está sempre a postos e disponível para se prestar a esse tipo de coisa (disparar acusações sem provas). Mas há condições pré-combinadas num "negócio" desses.

Livro de Winter, 'submetido' a FHC
Uma delas é a escolha, a dedo, do entrevistador. Nada mais garantido, amigável e confortável do que um jornalista que escreveu, em coautoria com FHC, um (obviamente favorável!) livro sobre as memórias do ex-presidente tucano. Aliás, o método de produção dessa obra nos remete diretamente ao episódio grotesco do recado que escapou na edição da Reuters(o grifo é meu): "O autor da versão original, Brian Winter, entrevistou, pesquisou e submeteu o texto a Fernando Henrique" - de acordo com revelador texto de David Hulak, da Revista Será, que tem o mais do que sugestivo slogan "Penso, logo duvido". Então retornemos ao que eu disse sobre "acordo" em matéria "encomendada". É simples: você ouve o "cliente", digo, o entrevistado, e se compromete a só publicar o texto depois que ele leia a versão editada, ordene alterações ou não, e autorize a publicação. Nas redações, num código informal entre os profissionais, isso é totalmente proibido e, caso aconteça e seja flagrado, geralmente causa a demissão do jornalista. Porém, se os proprietários do veículo de comunicação têm interesse no "negócio" e autorizam tal "acordo" (tucanamente falando), resta apenas aos subordinados o cumprimento das ordens. Mas sem vazar recadinhos, de preferência!

PSDB manda e desmanda na mídia
A empresa britância tentou justificar dizendo que a frase, "publicada acidentalmente", é uma "pergunta" de um dos editores do serviço brasileiro da agência "ao jornalista que escreveu a versão original da matéria em inglês". Não convence ninguém - pelo menos entre os que têm décadas de experiência em redações. Porém, mesmo aceitando essa desculpa, o procedimento continua sendo aviltante e injustificável. Porque a consulta (seja lá de quem pra quem) é se uma informação negativa e comprometedora contra FHC e o PSDB deve ser suprimida da versão publicada para o leitor. E, não por acaso, a única informação ruim contra os tucanos num texto que detona o Lula e o PT pela mesmíssima denúncia da Petrobras. Agora, pra encerrar, deixo minha opinião: o tom do recado, com o verbo no plural ("Podemos tirar"), e com o destinatário no singular ("se [você] achar melhor"), me sugere fortemente que os editores finais do "trabalho sujo", digo, da entrevista, estavam cumprindo o acordo de submeter o texto ao "cliente" - FHC ou alguém do PSDB incumbido de resolver o assunto. Assim como Brian Winter, como observei no parágrafo acima, "submeteu o texto [do livro sobre FHC] a Fernando Henique". A gafe da Reuters taí, pra que não restem quaisquer dúvidas.

Mas, como diria Rita Lee, "quando a gente fala mal/ a turma toda cai de pau/ dizendo que esse papo é besteira". No que Raul Seixas complementaria: "eu não preciso ler jornais/ mentir sozinho sou capaz/ não quero ir de encontro ao azar". Nem eu!

P.S.: Antes que alguém me acuse de "paranoia, delírio e mistificação", adianto que as imagens acima não foram publicadas à direita por acaso, nem por mera coincidência.


A 'prova do crime': editores consultam alguém (FHC? PSDB?) sobre informação negativa e comprometedora

Quanto Custa o Brasil pra Você?

Cy de Aquino

Compartilhada publicamente18:35
Quanto Custa o Brasil pra Você? - Campanha Justiça Fiscal 2012 - Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional. Participe do abaixo-assinado pela Reforma Tributária.

Professor foge do simplismo para discorrer sobre corrupção

Doutor em Ciência Política fala, ao vivo, na Globo, o que a emissora não queria ouvir

Professor foge do simplismo para discorrer sobre corrupção e manifestações, ao vivo, na Rede Globo. Ao dispensar o script da moralidade seletiva e tratar os meandros da política profissional com racionalidade, Vitor Amorim incomodou a emissora

Casos de convidados da Rede Globo que fogem do script da emissora para tratar de temas delicados não são comuns – previamente selecionados, os convidados, normalmente, reforçam os posicionamentos da maior rede de TV da América Latina. O mais recente caso de fuga de script aconteceu no Bom Dia ES, programa de afiliada da Globo no Espírito Santo exibido pela manhã [vídeo acima].
O professor Vitor Amorim de Angelo foi confrontado, ao vivo, com temas que envolviam desde a corrupção na Petrobras até as manifestações do último dia 15/03. Abriu mão do simplismo e teve a ousadia de discordar de Míriam Leitão – jornalista referência na emissora – quando questionado sobre a possível participação de eleitores de Dilma nos protestos pró-impeachment.

Corrupção

“A corrupção é um problema complexo e, como tal, merece ser tratada com complexidade […] atinge todas as esferas do poder: Executivo, Legislativo, setor público e setor privado”, disse Vitor, causando algum desconforto em um apresentador que carregava consigo a missão de reforçar maniqueísmos políticos e responsabilizar um único partido por tudo de ruim que há no Brasil.
O acadêmico destacou ainda a importância das manifestações populares, mas mandou um recado para aqueles que nutrem uma sanha golpista: “A democracia é um regime de confiança, não de adesão. Portanto, não é uma opção aderir ou não ao resultado. Você faz parte desse sistema político no qual ela é presidente. O inverso também é verdadeiro: você venceu, mas não pode deixar de governar para aqueles que não te elegeram”.
Ao dispensar o script da moralidade seletiva e tratar os meandros da política profissional com racionalidade, Vitor Amorim incomodou a Rede Globo.
*Vitor Amorim de Angelo é professor de Sociologia, formado em História, com mestrado e doutorado em Ciência Política, membro do Laboratório de Estudos de História Política e das Ideias, com passagem pelo Centre d’Histoire do Institut d’Études Politiques de Paris(SciencesPo) e pesquisador do Institut des Sciences Sociales du Politique da Université de Paris Ouest-Nanterre La Défense.
Pragmatismo Político
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Pobre o país cujos filósofos mais conhecidos são Pondé e Olavo de Carvalho

Pobre o país cujos filósofos são Pondé e Olavo de Carvalho



Postado em 27 out 2013
Nosso filósofo
Nosso filósofo
Pobre o país cujos filósofos mais conhecidos são Pondé e Olavo de Carvalho.  Não peço Sêneca, não peço Montaigne, não peço Zenão.
Mas Carvalho e Pondé?
Um leitor reclamou de Pondé, vi no Twitter da Folha esta manhã. Fui verificar. Ele se queixava de uma frase de Pondé que dizia o seguinte, mais ou menos: “Os Estados Unidos são a melhor democracia do mundo e ninguém vai para as ruas protestar.”
Não vou discutir a idolatria de Pondé pelos Estados Unidos. Mas, como estranhou o leitor, não existem protestos lá?
Como os negros conquistaram direitos? Sentados nos cantos nos quais eram discriminados? Como a sociedade exigiu o fim da Guerra do Vietnã: vendo televisão e comendo pipoca?
E agora: o que foi o movimento Ocupe Wall Street?
Fui ler o texto de Pondé. Se entendi bem, havia lá uma tese segundo a qual a Revolução Francesa foi um equívoco da história.
Bem, este é nosso filósofo. Danton, Robespierre simplesmente são ilusões de ótica. No mundo ideal, estaríamos sob o Luís 150 na França.
Não existe maior demonstração de conservadorismo do que repudiar protestos. São eles que movem o mundo e reequilibram situações de enorme disparidade e injustiça.
Nada, rigorosamente nada, cai no colo de quem está por baixo. Ou, já que falamos dos OWS, dos 99%. Nos Estados Unidos mesmo, os debates sobre a iniquidade só ganharam a agenda nacional depois do OWS. Obama se reelegeu, mesmo com a economia em pedaços, porque usou a questão da desigualdade contra Mitt Romney, seu adversário.
Romney foi flagrado dizendo a portas fechadas que não se importava com os “47%” mais pobres entre os americanos. A campanha de Obama martelou essa fala de Romney nos americanos.
Pondé acha que é “moderno” ao repetir lugares comuns do thatcherismo e do reaganismo, mas não existe nada mais obsoleto e mais fracassado historicamente do que a doutrina de Thatcher e de Reagan.
Pondé quer parecer Paulo Francis com isso. Mas tudo que ele consegue é ser um cruzamento bizarro de Olavo de Carvalho e Rodrigo Constantino.
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Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

um filósofo para racistas e idiotas

Olavo de Carvalho: um filósofo para racistas e idiotas

Texto atualizado em 21/03/2013
Olavo de Carvalho é um católico conservador que, incapaz de conviver com ideias diferentes na academia brasileira, resolveu estudar filosofia sozinho. Essa sua incapacidade, no entanto, é algo que marca toda a sua trajetória de vida, se traduzindo em uma profunda intolerância a qualquer pensamento divergente do seu. No site Mídia sem Máscara, do qual Olavo é dono, vários colunistas expõem todo tipo de pensamento preconceituoso, tacanho e reducionista travestidos de “jornalismo”.
Como católico conservador, Olavo possui um profundo medo de ir para o inferno após a morte. Embora isso seja risível, é o que ele demonstra em vários vídeos seus espalhados pelo Youtube, como este. E para tentar garantir sua ida ao céu, ele atribuiu a si mesmo uma missão: dedicar a vida a combater o comunismo e o marxismo em todas as suas formas de manifestação.  E nada escapa à sua obsessão anti-comunista: positivismo, ciência, secularismo, ateísmo – nada que não seja escolástico e profundamente reacionário.
Não importa que a Guerra Fria tenha terminado e o comunismo internacional tenha arrefecido juntamente com ela; ele não se deu por satisfeito e continua sua cruzada incansável contra todo esquerdismo, como ele caracteriza as entidades globalistas que, segundo ele, pretendem solapar os valores da família cristã e impor em seu lugar a agenda dos movimentos homossexual, feminista e ambientalista. Há anos ele tem sido um dos defensores de golpes militares pró-Estados Unidos na América Latina.
Nos últimos quatro anos, Olavo não cessou de falar sobre a falsidade da certidão de nascimento de Barack Obama, advertindo que ele é comunista e membro da fraternidade islâmica, tendo sido eleito presidente para minar o poder dos Estados Unidos no mundo, o que pode ser visto através do enfraquecimento das forças armadas americanas e pelo favorecimento dos grupos ligados à fraternidade islâmica nos países onde ocorreu a “primavera árabe”. Ele costuma elogiar o patriotismo dos norte-americanos, a importância que dão às forças armadas e deplorar o fato de que isso não existe no Brasil. Às vezes se mostra entusiasta do regime que vigorou no Brasil durante o Segundo Reinado. Também deplora o fato de o regime militar brasileiro não ter aniquilado a esquerda, antes permitindo que se tornassem proprietários de editoras e meios de comunicação.
Acusando sempre a imprensa brasileira de ser aquiescente em relação a esses eventos, ele se coloca como um jornalista que fala “a verdade” dos fatos. Afirma que o Brasil vive um regime totalitário sob o governo do PT, nutre um profundo desprezo por Dilma, Lula, pela Teologia da Libertação e por todos os teóricos da esquerda, sejam brasileiros ou não. Ele mesmo não se envergonha de dizer que, quando Lula foi eleito, tentou alertar as autoridades americanas acerca da “ameaça” que representava sua subida ao poder. É muito curioso esse interesse que ele demonstra pelo nacionalismo americano e pela direita cristã que apoia o partido Republicano. Olavo fala de Lula como a própria encarnação do mal, e frequentemente se refere ao ex-presidente com espasmos viscerais de ódio. Denuncia que o PT pôs em prática a estratégia gramsciana de mudança da sociedade pelo controle permanente das instituições.
Ele atribui os problemas educacionais do Brasil unicamente à esquerda e omite o fato de que foi o regime militar que sucateou o ensino de humanidades no Brasil, excluindo dos currículos disciplinas como línguas clássicas e francês, além de filosofia e sociologia e reduzindo inclusive o ensino da língua portuguesa. Qualquer um que seja minimamente informado sabe que ele mente quando fala essas coisas. Tudo isso deixa bem claro que Olavo não quer um país onde a esquerda participe do jogo democrático. Embora queira passar a imagem de liberal, ele não o é. Prefere uma ditadura fascista ao estilo franquista, que esmague a oposição e imponha a ferro e fogo os valores do catolicismo tradicional e do pensamento conservador.
Olavo ministra, pela internet, um seminário de Filosofia, curso em que ele, sozinho, trabalha todos os aspectos da disciplina, além de lições sobre história, psicologia e o que mais lhe der na telha. Olavo pensa o mundo de forma monomaníaca: tudo o conduz para um discurso denuncista da esquerda. Ele afirma ter passado vários anos estudando o marxismo, período que ele considera como de “autoenvenenamento”. Não reconhece qualquer importância nos trabalhos de Marx e Engels ou de qualquer outro teórico da esquerda, associando sempre esses autores ao stalinismo e aos gulags. Apesar de afirmar que estuda o assunto há quatro décadas, ele repete há anos os mesmos chavões.
Embora nem tudo o que Olavo diga seja desprezível, e algumas de suas análises tenham certo teor de relevância, elas, no entanto, se perdem como gotículas no oceano de asneiras que ele profere. O problema não é o fato de ele ser de direita, mas de ter descambado para um pensamento intolerante, monomaníaco, mesquinho.  Alguém que leia Olavo de Carvalho verá o quanto ele está aquém de pensadores liberais (de verdade) que se destacaram no Brasil como Roque Spencer Maciel de Barros, por exemplo. Olavo é até mesmo indigno da grandeza dos autores de quem ele usurpa seu pretenso conservadorismo, como Ortega y Gasset, Ludwig Von Mises, Otto Maria Carpeaux, entre outros.
Já tentei buscar na internet informações sobre alunos e ex-alunos de Olavo de Carvalho. E com exceção de algumas frases bajulatórias em seu próprio site do Seminário de Filosofia, o resultado foi nada. Nenhum artigo, nenhum livro, ninguém que se dedique a qualquer área do pensamento filosófico e expresse isso em publicações. Olavo costuma dizer que nunca conheceu uma pessoa que tenha sido alfabetizada pelo método Paulo Freire. Da mesma forma, nunca conheci ou ouvi falar de um filósofo que tenha sido formado por ele. Esses alunos fantasmas vivem – como é de se esperar – silenciosamente paralisados à sombra de seu mestre, de quem são incapazes (ou têm medo) de discordar e mais incapazes ainda de produzir algo minimamente relevante.
Mas então, onde estão e quem são essas pessoas? O que elas produzem? Olhando os comentários aos vídeos semanais de Olavo no canal do Mídia sem Máscara no Youtube, podemos ter uma dimensão do perfil de seus seguidores. Muitos o chamam de “grande mestre”, e, seguindo seu exemplo, achincalham a esquerda sem um mínimo de reflexão teórica. Em um de seus programas recentes, um ouvinte ligou e afirmou de forma iracunda que “odeia a esquerda”. Olavo esboça um semblante de satisfação e lhe diz mansamente que não tem que odiar ninguém, que ele precisa ser profissional.
Mas que tipo de profissionalismo ele pode esperar de seu pupilo, se o que ele diz é a única coisa que aprendeu com o mestre: detestar irracionalmente toda forma de esquerdismo, mesmo que determinadas pessoas ou movimentos nada tenham de esquerdistas ou marxistas? E verbalizar esse ódio com xingamentos e esculhambações?
No ano passado, uma reportagem do portal Ig noticiou a atividade de alguns jovens universitários de direita, que, inspirados em Olavo de Carvalho, defendem valores tradicionais e afirmam estarem dispostos a usar a força física e a morrer por isso, estratégia semelhante ao do grupo racista skinheads, demonstra a reportagem. Embora Olavo posteriormente tenha negado qualquer ligação com esses grupos e criticado a reportagem, fica evidente que esse é o resultado mais óbvio de suas posturas políticas: o incentivo a atos e pensamentos de intolerância, facilmente assimiláveis por grupos de extrema direita.
A maioria de seus admiradores não são leitores de filosofia, são antes jovens carentes de um pai, de um líder, de um guia, de um führer. São pessoas incapazes de pensar por si mesmas e compartilham com seu mestre o desprezo pela academia. Apesar de todas as suas limitações e defeitos, a academia é o lugar onde ideias podem ser livremente debatidas. Essas pessoas, no entanto, não querem debates, elas querem a imposição do que pensam que pensam, sem saberem que na verdade não pensam nada. Como Olavo, seus seguidores veem esquerda e comunistas por toda parte, um inimigo a quem eles atribuem uma importância que não existe fora de suas mentes.
Ele ainda aconselha seus alunos a usarem textos anti-marxistas de seu site para enfrentarem professores nas universidades e já citou até exemplos de que isso deu certo. Ora, somente professores muito ingênuos e dogmáticos (e ainda há muitos desses por aí) podem cair nessa. Como se não bastasse, seus seguidores têm lançado diversos produtos com a marca “Olavettes”, contendo frases de seu mestre e com o dizer “Olavettes é nóis mermo”. Não são intelectuais, são tolos. São como crianças imitando adultos, com a diferença de que as crianças carregam a pureza da inocência, e eles a terrível marca da estupidez. Esse comportamento das “olavettes” é de causar vergonha alheia, a começar pelo nome que escolheram para designar a si próprios. Enquanto Olavo continua sua empreitada para tentar chegar ao céu, seus discursos têm atraído uma legião de seguidores, fascinados por seu estilo histriônico de falar, por seus xingamentos e por sua intolerância. Essas pessoas não se destacam por erudição ou produção intelectual, mas pela abjeção de suas ações.
Para que os leitores percebam o quanto Olavo realmente não pode ser levado a sério, vejam a “refutação” que ele faz à ciência moderna e à teoria da relatividade neste vídeo. Chega mesmo a ser patológica a obsessão deste homem para ridicularizar qualquer coisa que não se enquadre em sua estreitíssima visão de mundo formada pelo ideário fascista e por dogmas da escolástica medieval. Sem absolutamente nenhuma referência teórica, sem menção a nenhuma pesquisa, ele tem a desfaçatez de sugerir que a terra é imóvel! Tudo porque o modelo copernicano mostrou a falsidade da cosmologia ptolomaica adotada pela Igreja. Esqueceram de avisar a Olavo que a própria Igreja hoje não pensa mais dessa forma, mudou seus conceitos e já até se desculpou com Galileu através de João Paulo II. O Vaticano inclusive conta com um centro avançado de pesquisa científica, onde atuam pesquisadores de várias partes do mundo.
E como alguém pode refutar a relatividade sem ao menos compreendê-la como ele próprio admite no vídeo? No auge de sua ignorância cínica, Olavo diz que Einstein inventou a teoria da relatividade pra não ter que admitir que a terra é imóvel. É impressionante quantas pessoas dão crédito e se deixam enganar por um impostor que se finge de filósofo e intelectual e pronuncia tantas asneiras absurdas e risíveis. Não é à toa que  apenas skinheads e outros grupos racistas, além de incautos sugestionáveis admiram o tal “filósofo”. Os verdadeiros liberais e pessoas sensatas da direita se envergonham até mesmo de mencionar-lhe o nome, afinal Olavo não é referência para nada que se queira produzir cientificamente. Ele mescla seus sentimentos de revolta pessoal com a esquerda com fanatismo religioso e sua personalidade megalomaníaca de se achar “um grande intelectual” a quem ninguém se compara no Brasil. É de dar dó. Ele critica intelectuais como Leandro Konder chamando-os de militantes mas incrivelmente não consegue se enxergar como militante de extrema direita.
Se fôssemos elencar as asneiras ditas e escritas por ele, teríamos de fazer um blog voltado exclusivamente a isso. Apenas mais um exemplo: em seu site pessoal há um texto assinado por José Nivaldo Cordeiro, “Discutindo o capitalismo”. No texto, o autor, que não passa de uma sombra de Olavo de Carvalho, fala coisas tão infundadas sobre Weber e Marx que não é possível dizer que se trata de um texto sério. Ele diz que o cristianismo fundou o princípio da igualdade jurídica quando lançou a máxima do “amar ao próximo como a si mesmo”. A noção de igualdade do Cristianismo primitivo não era jurídica, mas espiritual, não é à toa que suas verdades permaneceram no nível da dogmática por muitos séculos, apenas tardiamente ganhando elaboração intelectual. A moderna noção de igualdade jurídica remonta aos pensadores deístas do Iluminismo e, com base em suas ideias, à subsequente separação entre Estado e religião. A Igreja Católica não poderia tê-la desenvolvido na Idade Média porque sua cosmovisão estava ancorada no tomismo e na Escolástica, que preconizavam a subordinação do Estado à Igreja como a ordem natural estava subordinada à sobrenatural. No Antigo Regime da era moderna, o Estado, em aliança com a Igreja, exercia o poder a partir do princípio do direito divino dos reis, uma das características a que posteriormente se opôs o pensamento liberal, de matriz protestante. O que ele fala sobre “amor ao próximo” sequer pode ser considerado um argumento porque não tem fundamento histórico. A noção de igualdade jurídica é um anacronismo se aplicado à Idade Média. A atuação dos Tribunais da Inquisição também o provam. Durante séculos, dezenas de milhares de pessoas foram torturadas e executadas por divergirem ou serem suspeitas de divergirem dos dogmas oficiais da Igreja. Os tribunais não tinham preocupações com provas, qualquer acusação do tipo “ouvi dizer que fulano…” já eram suficientes para levar alguém a se tornar réu. Uma vez nessa condição, não havia possibilidade de absolvição. Depois ele diz que “sem a mensagem salvadora de Cristo ainda estaríamos vivendo formas imperiais e/ou tribais de organização social”. Será que o senhor Nivaldo Cordeiro não sabe o que foi o feudalismo, o cesaropapismo, a servidão que subsistiu por mais de um milênio após a queda do Império Romano? Claro que sabe, mas omite isso.
Depois ele diz que Weber cometeu vários erros, como “associar a eclosão do capitalismo ao protestantismo” e que ele fez isso por ser protestante e ter uma visão depreciativa do catolicismo e diz que houve uma “explosão de produtividade agrícola na Idade Média pelo talento dos monges católicos”. Parece que o autor nunca leu nem Weber nem autores renomados como Jacques Le Goff, Henri Pirenni e outros. Só faltou ele dizer que a Revolução Industrial começou nos mosteiros medievais. Ora, Weber não associou a origem do capitalismo ao protestantismo mas mostrou a diferença entre o ascetismo católico (extramundano) e o protestante (intramundano), demonstrando como a mentalidade deste último foi essencial para o desenvolvimento do comércio e, posteriormente, da indústria.  E isso nada tinha a ver com o fato de ele ser protestante ou não gostar do catolicismo. No texto, “Rejeições Religiosas do mundo e suas direções”, Weber retoma o assunto acrescentando outros elementos importantes, que Nivaldo Cordeiro sequer se deu o trabalho de ler, assim como não leu o capítulo de “Sociologia da Religião” na obra “Economia e Sociedade”, também do Weber. Não é por acaso que as análises de Weber sobre o tema continuam não apenas atuais e insuperadas, como também não houve críticas capazes de mostrar qualquer falsidade nelas.
No parágrafo seguinte ele diz que a Igreja adquiriu uma “herança imperial maldita” de Roma. “Herança maldita?” O uso de tal juízo de valor, depreciativo e absolutamente desnecessário pra algo que pretendia ser uma discussão histórica, já é suficiente para despacharmos o texto para o lixo. Aqui ele prova sua falta de seriedade, de distanciamento do objeto, sua ignorância histórica. Ele está analisando a origem do capitalismo não com base numa pesquisa ou discussão teórica, mas com base em seus sentimentos pessoais de aversão ao protestantismo, em seu fanatismo religioso. Ele utiliza autores como Paul Johnson, mas numa apropriação ingênua. Ele quer mostrar que o protestantismo não foi importante para o capitalismo, associando isso à herança clássica apropriada pela Igreja. Trata-se de uma interpretação completamente falsa de Weber e da retomada da herança clássica no Renascimento. Não vou entrar em detalhes sobre Weber porque em minhas publicações já discuti isso. Além disso há uma farta bibliografia sobre o assunto disponível inclusive na internet que o leitor pode usar para se informar, como os artigos do falecido sociólogo da USP Antonio Flavio Pierucci, um dos principais divulgadores da obra de Weber no Brasil, que ainda ajudou a traduzir e organizou a publicação de  “A Ética Protestante…” para o português para a editora Companhia das Letras. Vale ainda indicar a biografia intelectual de Weber de Reinhard Bendix, uma das melhores já produzidas. A estratégia de Olavo e seguidores é a seguinte: eles pegam alguns autores católicos ou de extrema direita, reafirmam o que eles dizem abrindo mão do diálogo com qualquer outro autor ou vertente, depois posam de grandes intelectuais e sabichões. Se a pessoa não for atenta cai na armadilha porque eles argumentam bem, usam a dialética erística pra enganar os incautos.  São pessoas inescrupulosas e que não têm comprometimento com a investigação científica, só com a militância e não se envergonham de fraudar os fatos para se colocarem como arautos da razão.
Uma vez, enquanto apresentava seu programa de rádio True Outspeak, um ouvinte telefonou e perguntou a Olavo o que ele achava da filosofia de Paul Ricoeur. Olavo respondeu diminuindo a importância da obra dele e dizendo que não tiraria três meses de sua vida pra ler Paul Ricoeur. Quem já teve contato com a obra de Ricoeur sabe que foi um dos mais importantes filósofos do século passado, principalmente por seus estudos sobre narrativa histórica e de ficção, hermenêutica e sobre a memória. É muito estranho Olavo ignorar sua obra e se recusar a estudá-la. Mas logo compreendi o porquê: Ricoeur não era um teórico da conspiração nem um militante anti-comunista e pra Olavo não interessam discussões fora desse campo. Ricoeur era um intelectual católico, mas não um extremista. Também me causa muita estranheza o fato de os seguidores de Olavo não perceberem sua desonestidade intelectual: ele se tornou obcecado pra combater o marxismo e faz isso a partir de posturas tacanhas como o fanatismo religioso, facilmente assimilável por jovens com pouca leitura de livros e de mundo.
Muitos outros exemplos poderiam ser citados, mas o que foi exposto já serve como amostra de quem se trata o homem que considera a si mesmo “o maior representante da alta cultura” no Brasil. Olavo de Carvalho não é filósofo, é um tagarela anticomunista, teórico da conspiração, ex-astrólogo revoltado por não ter encontrado espaço na universidade brasileira para suas logomaquias megalomaníacas e obsedado por sua intelectualidade imaginária. Um ogro da extrema direita brasileira.
Leia também neste blog:
Olavo de Carvalho e a pieguice intelectual brasileira (minha resposta a um vídeo difamatório de Olavo)
Outros textos sobre o assunto podem ser acessados no Tema “Olavo de Carvalho”, no menu do blog.

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