O blog do Yahoo que virou fonte das mais estúpidas teorias conspiratórias da extrema-direita
Postado em 02 abr 2015
. Os Estados Unidos estão investigando se as eleições no Brasil foram
fraudadas. A empresa venezuelana Smartmatic, que produz as urnas, deu um
golpe eletrônico.
. As autoridades da Operação Lava Jato estão chegando perto de desvendar
o que está por trás dos perdões das dívidas de países africanos.
. Nicolás Maduro esteve presente nos protestos do dia 15, como parte do “exército” de Stédile.
. Lula abandonou Dilma e orquestrou uma campanha difamatória através da
imprensa. José Dirceu e Marta Suplicy foram usados por ele para detonar a
sucessora.
. Um ministro da Venezuela veio armado ao país para dar aulas de tiro ao
MST. A intenção é montar uma milícia bolivariana. Os planos estão
adiantados.
. A Polícia Federal está buscando uma gravação segundo a qual Paulo
Roberto da Costa disse que Dilma Rousseff teria sido quem “forçou a
barra” para que a usina de Pasadena, na Califórnia, fosse comprada pela
Petrobras a preços insuflados, e em total desacordo com os de mercado.
. A CIA matou Eduardo Campos.
Todas as “notícias” acima foram publicadas no portal Yahoo. São falsas
ou ilações. Como essas, há diversas outras. O autor é Cláudio Tognolli,
um caso de mitomania como pouco se viu na história da imprensa nacional,
incluindo a extinta revista Planeta, que tratava de OVNIs.
Sem apurar, chutando a esmo, citando fontes que não existem, fazendo
ligações sem sentido, criando teorias as mais estapafúrdias,
entrevistando “especialistas” que ninguém sabe ao certo quem são —
enfim, mentindo –, Tognolli tem licença para matar. Não possui qualquer
tipo de supervisão ou critério jornalístico.
Por conta disso, seus posts passaram a alimentar a vasta rede de
psicopatia da extrema direita. Gente com o perfil típico de um revoltado
online compartilha e repercute aquelas “informações” e alerta para a
conspiração bolivariana.
O simulacro noticioso tem os clichês mais idiotas, feitos sob medida
para ignorantes de ocasião. Ele sempre tem uma “bomba”, uma “exclusiva”
etc. Quando se vê, não é nada.
Além dos maníacos e inocentes inúteis, Tognolli atrai também
comentaristas do mais baixo nível. A maioria tem algo a acrescentar à
farsa e, depois, xinga e pede a morte dos citados, um padrão que tem
levado portais a suspender comentários para evitar complicações
jurídicas. No caso, a loucura está liberada.
No tal post em que anuncia a intervenção americana, Tognolli baseia seu
“furo” numa palestra do “prestigioso” The National Press Club. “Falarão
sobre o tema o ex-presidente colombiano Alvaro Uribe, Olavo de Carvalho,
o irmão do ex-presidente Bush, Jeb Bush, e o sempre sério e respeitado
senador Marco Rubio.” (O ultraconservador Rubio, da Flórida, falsificou
seus dados biográficos de modo a contar que seus pais fugiram da
ditadura cubana em 1971, quando eles imigraram em 1956, antes da
revolução).
Uma figura frequente no blog é Lobão. Tognolli é co-autor da biografia
do músico. É claro que ele não avisa aos leitores. O fundamental é
utilizar o Yahoo para fabricar boatos e factoides que depois virem
verdades em protestos na Paulista capitaneados pelo amigão.
Tognolli é professor na ECA-USP (!!). Passou pela Veja, Folha e mais uma
miríade de títulos sem nunca se firmar em nenhum por motivos óbvios.
Num perfil em inglês claudicante escrito por ele mesmo na Wikipedia, se
declara co-fundador do Brasil 247 e diretor da Abraji (Associação
Brasileira de Jornalismo Investigativo).
Orgulha-se de ter escrito doze livros. Foi ghost writer de “Assassinato
de Reputações”, de Romeu Tuma Jr, recheado de tentativas de assassinato
de reputação. A grande revelação era que Lula tinha sido informante do
Dops e usava o codinome “Barba”, balela que foi desprezada até por
Fernando Henrique Cardoso num Manhattan Connection.
Ninguém medianamente ajuizado leva aquilo a sério. Mas as empulhações
sobrevivem no pântano do subjornalismo — ou do que Umberto Eco chamou,
numa bela entrevista ao El Pais sobre seu novo livro sobre um jornalista
picareta, de “máquina de lama”.
Ela “é utilizada para deslegitimar o adversário e desacreditá-lo sobre
questões particulares”, afirma Eco. “É suficiente difundir uma sombra de
suspeita”. A máquina de lama do Yahoo é operada por um homem só, munido
de um arsenal de velhacarias, livre em seu voo mitomaníaco.
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