
GEA Cipriano Barata:
Novo
 verbete do blog. Dessa vez com a colaboração de Lúcio Junior Espírito 
Santo escrevendo sobre Pensamento Gonzalo. Comentem curtam e 
compartilhem.http:// geaciprianobarata.bl ogspot.com.br/2014/0 5/pensamento-gonzalo -verbete.html
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Pensamento Gonzalo (Verbete)
“Pensamento
 Gonzalo” é o nome dado à contribuição do Partido Comunista Peruano ao 
marxismo, sob a presidência de Manuel Rubén Abimael Guzmán Reynoso. 
“Presidente Gonzalo” é a denominação dada a Guzmán enquanto líder do 
PCP.
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| Manuel Rubén Abimael Guzmán Reynoso | 
Guzmán,
 originário de Arequipa participou de um partido obreirista nos anos 50,
 lendo mais Stálin que Lênin. Na cidade de Ayacucho, onde tornou-se 
professor universitário de Filosofia, entrou no Partido Comunista 
Peruano, por volta dos anos 1960, quando participou do debate sobre o 
Stálin, tomando partido da linha chinesa e tendo ido à China, onde 
esteve ao tempo da Revolução Cultural. De volta ao Peru, entrou na 
clandestinidade por volta de 1973, abandonando a posição na 
universidade. Aprendeu quéchua (língua dos índios) e muitos dos 
estudantes em Ayacucho casaram-se com mulheres de origem indígena, 
estabelecendo assim verdadeiros laços com os camponeses. Após a saída 
dos militares do poder, em 1980, finalmente lançaram a guerra popular, 
sua primeira ação armada foi contra uma zona eleitoral. O exército, 
muito enfraquecido pela ditadura militar, não podia retornar 
imediatamente para castigá-los, o que lhes deu considerável vantagem.
Guzmán,
 filho ilegítimo de um comerciante, teve apoio do pai e foi aceito pela 
madrasta. Estudou em colégios bons e destacou-se, tornando-se professor 
de filosofia. Após formado em filosofia com uma tese sobre o tempo e o 
espaço em Kant, fez também uma pós-graduação sobre o estado democrático 
burguês. Guzmán teorizou que a revolução peruana significaria um novo 
ciclo de revoluções mundiais, agora encabeçadas pelo 
marxismo-leninismo-maoísmo. Stálin é considerado por ele um 
marxista-leninista e o pensamento Gonzalo, uma aplicação do maoísmo ao 
contexto específico do Peru. A tese de Kruschev sobre o culto da 
personalidade é denunciada por ele como revisionista, ou seja, 
não-leninista nos seguintes termos:
Aqui
temos que recordar a tese de Lênin sobre o problema da relação
massas-classes-partidos-chefes. Consideramos que a revolução, o partido, a a
classe em geral geram chefes, geram um grupo de chefes; em toda revolução tem
sido assim. Se pensamos, por exemplo, na Revolução de Outubro, temos Lenin,
Stálin, Sverdlov e uns outros homens mais, um pequeno grupo; o mesmo na revolução
chinesa, também temos um pequeno grupo de chefes: o presidente Mao Tsetung e os
camaradas KangSheng, ChiangChing, Chan Chung-Chao, entre outros. Toda revolução
é assim, então isso também se dá na nossa. Não poderíamos ser exceção, ainda
que toda regra tenha exceção, aí se trata do cumprimento de leis. Todo processo
tem chefes, mas tem um chefe que sobressai dentre os demais, segundo as
condições, porque não podemos ver todos os chefes com igual dimensão: Marx é
Marx, Lenin é Lênin, o presidente Mao é o presidente Mao, e cada um é
irrepetível e ninguém é igual a eles (...). (GUZMAN, 1988).
Assim,
 a posição de Guzmán a respeito de Stálin está de acordo com a posição 
de Mao, que por sua vez é, em parte, confirmada pelas pesquisas do 
professor GroverFurr, de MontclairStateUniversity: Kruschev mentiu em 
seu famoso relatório:
Kruschev levantou o problema do culto da
personalidade para combater o camarada Stálin, mas esse foi um pretexto, como
todos sabemos, para no fundo combater a ditadura do proletariado. Hoje mesmo
Gorbachev volta a falar no culto da personalidade, como também o fazem os
revisionistas chineses Liu Shao-Chi e TengSiao-Ping. Essa é em consequência uma
tese revisionista que aponta em essência contra a ditadura do proletariado e
contra as liderança e chefes do processo revolucionário, em geral, para
decapitá-lo. Em nosso caso, o que há de concreto, para decapitar a guerra
popular, nós não teremos ditadura do proletariado e sim um Novo Poder que se
desenvolverá segundo as normas da nova democracia, ou seja, de ditadura
conjunta de operários, camponese e progressistas. O que em nosso caso
apontamos, o que se trata é decapitar; bem sabe a reação e seus seguidores
porque o fazem, porque não é fácil gerar chefes e lideranças. E uma guerra
popular, assim que se desenvolva no país, precisa de chefes e de liderança, de
alguém que a represente e que encabece e de um grupo capaz de comandá-la
indubitavelmente. Em síntese, o culto da personalidade é uma sinistra tese
revisionista, que não tem nada ver com nossa concepção sobre chefes que se liga
ao leninismo (GUZMAN, 1988).
Assim
 sendo, o Pensamento Gonzalo pode ser resumido como uma aplicação 
teórica e prática do pensamento de Marx, Lênin, Stálin e Mao. O 
movimento é gerado a partir do movimento estudantil, transferindo 
quadros para o campo para que, a partir da guerrilha no campo, cercar as
 cidades. Para Guzmán, é preciso revolucionar o Estado, não preocupar-se
 em criar quadros para o velho Estado, que une três entidades doentes: 
latifúndio, um setor empresarial que se vale do estado como alavanca 
para lucrar e o capital internacional. Para Guzmán, não adiantam leis 
agrárias, nada será dado aos camponeses, a terra terá que ser tomada 
pela mão armada. Para tanto, Guzmán e o PCP organizaram uma escola 
militar a partir de 1980, militarizando o próprio partido e organizando,
 a partir dele, um exército popular, disseminando-se pelo país a partir 
dos núcleos em Ayacucho e agindo até mesmo nos caóticos presídios 
peruanos, onde as células continuavam a se organizar e os militantes 
lutavam e estudavam, mesmo estando presos. Isso originou ataques às 
prisões e massacres de presos em rebeliões como em 1986.
O
 grande mérito de Guzmán e do PCP foi o de provar a universalidade do 
maoísmo, aplicando e desenvolvendo uma guerra popular num período de 
forte descenso da esquerda revolucionária em todo o mundo (1980-92). O 
PCP tinha atingido, nos anos 80, hegemonia no campo, nas universidades e
 nas favelas de Lima, muito mais do que o MRTA, de linha cubana.
Abimael
 Guzmán frisa que não tem sentido fazer, como na Nicarágua, uma frente 
dizendo que são todos marxistas. Isso, no entender dele, é estar ligado 
ao social-imperialismo soviético. É preciso um partido comunista para 
poder realizar, junto com a frente e o exército guerrilheiro, a 
revolução de nova democracia. A média e a pequena burguesia, no seu 
entender, precisam ser diferenciadas da burguesia burocrática, que ele 
não aceita como monopolista. Ele as aceita, desde que depois da 
revolução.
O
 movimento encabeçado por Guzmán foi esmagado em 1992, com sua prisão em
 Lima, além da prisão de todo comitê central. Hoje há remanescentes em 
luta armada na região de Ayacucho e há também o Movadef, movimento 
pacifista que tenta participar de eleições, mas no Peru existem leis 
muito duras que colocam na ilegalidade o “Pensamento Gonzalo”.
Referência: 
 Lúcio Junior Espírito Santo. Graduado em Filosofia/mestre em Estudos Literários/UFMG). Blog: revistacidadesol.blogspot.com). Bom Despacho, Minas Gerais. Nascido em Uberaba (1974). | 

