terça-feira, 24 de março de 2015

A Justiça no Brasil é braço de uma elite liberal

Juiz que liberou da cadeia primo do governador Beto Richa “abre fogo” contra Juca Kfouri, Dilma Rousseff e PT

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Blog do Esmael

O juiz substituto em 2.º grau Márcio José Tokars, da 2.ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), que concedeu ontem à noite um Habeas Corpus liberando o lobista Luiz Abi Antoun, primo do governador Beto Richa (PSDB), da prisão após uma semana, foi às ruas no último dia 15 de março contra o PT e o governo “corrupto” de Dilma Rousseff.

Quem relata isso é o próprio Tokars em seu perfil no Facebook, datado de 12 de março — véspera da manifestação que reuniu 80 mil pessoas em Curitiba. No texto, o juiz defende o panelaço da classe média e espinafra o jornalista Juca Kfouri que viu ódio da classe média contra a petista no artigo “O panelaço da barriga cheia e do ódio”.
O diabo é que Luiz Abi, o primo de Richa, esteve preso por fraude em licitações no governo do Paraná. Praticou corrupção. O parente do tucano foi solto mesmo com o magistrado reconhecendo a gravidade do delito. Tokars defendeu “medidas alternativas à prisão preventiva” do “chefe da quadrilha”, nas palavras do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
Deputados perguntavam na manhã de hoje, nos corredores da Assembleia Legislativa, se o juiz Márcio José Tokars vai à próxima manifestação pelo impeachment de Dilma acompanhado de Luiz Abi Antoun, pois, como se sabe, os protestos contra o PT e a presidenta são engendrados dentro do Palácio Iguaçu. Mas os palacianos disfarçam bem sob o manto do “apartidarismo”.
A seguir, leia a íntegra da carta aberta do juiz Márcio José Tokars ao jornalista Juca Kfouri:
Resposta ao texto atribuído a Juca Kfouri (“O panelaço da barriga cheia e do ódio”)
Sou fã do Juca Kfouri. E continuarei sendo. Mas, como analista político, ele se revelou um grande conhecedor do futebol brasileiro. É capaz de recitar de memória a escalação do Corinthians nas oitavas de final do campeonato paulista de 1982, mas não de descrever a profundidade e gravidade do momento pelo qual nosso país está passando.
As diatribes que lança são tão desconexas da realidade que não podem ser respondidas de forma linear. Somente de forma fragmentada, e talvez mesmo desajeitada, podem ser analisadas. Segue minha tentativa:
1. A legitimidade do panelaço foi atacada pelo fato de advir de uma “elite branca” temerosa de perder seus privilégios. Esta defesa em forma de ataque está errada principalmente por duas razões:
a) a indignação à corrupção deslavada (que, somada à empáfia e à evidente incapacidade técnica de nossa presidente para dirigir a economia) não está limitada à classe média. Ainda ontem, Dilma foi ruidosamente vaiada em um evento em São Paulo. E foi vaiada por um grupo de 200 operários bastante distantes do conceito de elite branca; e
b) as pessoas com quem convivo e que manifestam, como eu, uma indignação plena por estarmos sendo representados e conduzidos por alguém como Dilma Roussef, de fato pertenceriam, na visão de Juca, a uma elite (se ainda fosse sociologicamente aceitável a estratificação). Mas a condição de elite atribuível a este grupo não decorre do fato de equiparmos nossas cozinhas com panelas de teflon, ou ainda de podermos viajar mais. Decorre de termos estudado mais, trabalhado mais e de estarmos mais comprometidos com nossos princípios éticos do que as pessoas que nos governam. Neste cenário, temos que confessar: somos a elite intelectual, laboral e ética do país. E essa elite é gigantesca.
2. O ingrediente racial adicionado à fórmula de ataque proposta por Juca Kfouri beira ao ridículo. É, em si, racista. Provavelmente não mereceria um comentário mais atento. Qualquer pessoa minimamente civilizada sabe que quantidade de melanina em nossas células epiteliais não faz qualquer diferença. Mas, se a pigmentação for mesmo relevante neste momento, talvez valha a lembrança de que nós, integrantes da classe média preocupada, somos descendentes diretos e próximos de verdadeiros red necks. Só fica a duvida: a pigmentação solar de quem veio para os trópicos há um século para, literalmente, lavorar, vale como argumento de legitimação?
3. Não estamos defendendo privilégios, mas conquistas. Tenho orgulho de poder oferecer aos filhos mais possibilidades de vida, sob o ponto de vista material, do que aquelas que tive (sem prejuízo do orgulho de poder preservar um ambiente doméstico de amor por aos filhos, que não poderia ser maior do que eu tive à disposição em minha infância). Tenho orgulho de ter uma casa confortável. Tenho orgulho de poder receber meus amigos e oferecer-lhes bons vinhos. Tenho orgulho de tudo isso. Mas também tenho a consciência de que nada disso é privilégio. É conquista. Conquista cujas principais características também devem ser destacadas:
a) não foi produzida ou maximizada pelas pelo governo do PT. O crescimento econômico que facilitou as coisas até 2010 não é obra de Lula/Dilma, mas de um cenário internacional tremendamente favorável (que gerou taxas de crescimento incríveis e contínuas em países como a Irlanda, a Ucrânia, a Colômbia e o México), e que foi bastante impulsionado pela exportação de commodities à China. Atribuível ao PT é a iminente recessão (que não é fruto do cenário internacional, mas da inanição interna – veja-se que os EUA, que levaram o maior tombo entre os países atingidos em 2008, estão crescendo 4,4% em uma economia que continuou sendo gigante); e
b) estão acessíveis a todos que disponham da vontade de trabalhar. Para estudar, basta um cérebro (equipamento de série em nossa espécie, mesmo que algumas pessoas levem a crer que não). Como muitos que hoje dispõem de suas varandas gourmet, estudei em escolas públicas (do pré-primário ao doutorado), cresci em casa de madeira com cheiro de cera Canário e vi buracos surgirem na sola de meus Ki-Chutes e Congas. As conquistas vieram de muito esforço, e não da capacidade ou da bondade do PT.
4. Temo, realmente, pela perda de minhas conquistas. Não confio em uma estrutura de poder que, sim, é corrupta (alguém pode explicar a fortuna de Lula?), que, sim, é ignorante (reclassificaram o substantivo “presidente” por absoluta falta de leitura e hoje são representados por uma ex?-assaltante de bancos cuja vida empreendedora se resume à falência de uma loja de bugigangas chinesas), e que, sim, já demonstrou não ter limites ou escrúpulos na preservação de seus privilégios (sim, privilégios, por não advirem de seu mérito, mas de seu poder).
5. Não há problema em os aeroportos estarem, na visão de Juca, cheios de gente humilde (aliás, vivo em aeroportos lotados por outras razões). Não há problema em as classes mais simples estarem na Universidade (ainda que a política de quotas parta de um preconceito essencial – sei disso: sempre estudei em escola pública e todos os meus colegas tinham capacidade de estudar). Não há problema para a elite branca se menos pessoas não estão morrendo de fome (palmas para o Bolsa Família, mesmo não sendo uma invenção petista ou brasileira). Ninguém se compraz com a miséria alheia. Ninguém aceita a preservação da miséria material (que é a menos complicada de sanar). Mas as misérias intelectual e ética, que parecem estar na essência de nossos políticos, revoltam porque não são fruto do ambiente; são pessoais e opcionais.
6. O PSDB é culpado por existir? Por que a defesa petista se limita a atacar o PSDB? Eu até levaria a sério, se estivéssemos investigando objetivamente a corrupção tucana. Mas estamos sendo apresentados a um colossal esquema de corrupção criado e alimentado (muito bem alimentado) nas entranhas do governo petista. Se o PT deseja se defender, que fale de si. Caso contrário, vamos culpar Pedro Álvares Cabral de uma vez e acabar com o problema (retirar seus despojos de onde estiverem e enfiá-los no sal seria uma ideia).
7. Não tenho ódio. Tenho medo. Medo de um ex-presidente que, transloucado, diz que fará “o diabo” para manter o PT no poder.
8. O panelaço não é antidemocrático. O Juca que me desculpe, mas minha agenda está apertada hoje (tenho que trabalhar). Assim, não vai dar pra citar um monte de gente. Mas tem um que é fácil por estar na memória: Friedrich Muller. Ele deixou claro que a democracia, quando vai além da legitimação artificial do poder pelo voto, é algo que não se encontra nas eleições, mas nos períodos que as separam. A eleição é menos exercício de poder do que renúncia (nunca vi grande vantagem em escolher qual dos inaptos vai me governar). A verdadeira democracia existe quando a população manifesta sua opinião de forma legítima, exatamente como está ocorrendo agora. A verdadeira democracia existe quando a população acredita em sua capacidade de construir a própria história. E a verdadeira democracia se consolida historicamente quando somos capazes de abandonar nossa zona de conforto para lutar por aquilo que é correto.
Enfim, estarei na rua no domingo. E não vou defender nenhum privilégio. Vou defender um país mais decente.

Cinismo mau caráter - FHC pensa que crise petista o reabilita

Eduardo Guimarães: FHC pensa que crise petista o reabilita


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Posted by  on 24/03/15 • Categorized as Opinião do blog

A última de Fernando Henrique “uma declaração por dia” Cardoso (by Brasil 247) foi tentar culpar o sucessor direto, Luiz Inácio Lula da Silva, pela corrupção na Petrobrás. Antes, disse que a corrupção no Brasil foi inventada pelo PT. Antes, disse que o governo Dilma deveria cair. Antes, disse que o governo Dilma não deveria cair. Antes…
Desde que Dilma Rousseff assumiu seu segundo mandato, não passa uma semana ininterrupta sem que o ex-presidente tucano dê alguma declaração atacando-a ou ao seu partido ou a Lula, à diferença do que ocorreu durante a campanha eleitoral do ano passado.

Durante o processo eleitoral de 2014, mais uma vez o PSDB escondeu o seu líder maior, assim como fez em 2002, 2006 e 2010. A razão reside em pesquisa Datafolha publicada em 6 de junho do ano passado, que revelou a enorme impopularidade do ex-presidente.
Segundo o Datafolha de 6 de junho de 2014, os que “com certeza” optariam por um candidato a presidente sugerido por Fernando Henrique Cardoso eram 12%. Mas o destaque da pesquisa foi a influência negativa do tucano: 57% diziam que não votariam em alguém apoiado por ele. Por conta disso, a campanha de Aécio Neves o escondeu.
Por alguma razão, FHC acha que deve falar sem parar sobre “estelionato eleitoral”. Ele que, em 1998, disse que se Lula se elegesse presidente iria desvalorizar o real. Contudo, o tucano se reelegeu e, semanas após a reeleição, fez o que disse que o adversário faria, jogando o Brasil em uma das maiores crises econômicas da história recente.
FHC falar em “estelionato eleitoral” ou em crise econômica é uma piada de muito mau gosto. Aliás, qualquer tentativa de comparar a situação econômica de hoje com a de 1999, ano do segundo governo tucano, é ridícula.
Na última segunda-feira, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s manteve a nota de crédito do Brasil em “investment grade”, nota essa que afiança aos investidores internacionais que o país é seguro para investir.
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Existe alguém honesto que seja capaz de dizer que essa era a realidade do Brasil no início ou no fim do segundo mandato de FHC? Em 2002, último ano do governo FHC, o Brasil foi colocado pela mesma Standard & Poor’s na categoria “investimento especulativo”, ou seja, de risco elevado, a quem investisse aqui, de levar calote.
Sim, a popularidade de Dilma e do PT está no fundo do poço. Não se pode negar isso. A falta de explicação sobre o ajuste fiscal, a artilharia midiática e as críticas de setores da esquerda e até do PT às medidas de equilíbrio fiscal geraram um temor muito mais psicológico do que factual sobre a situação do país.
Isso quer dizer que os brasileiros esqueceram do que foi a era FHC? Será que os 57% que, ano passado, disseram que nem amarrados votariam em um candidato indicado pelo tucano, de repente, só porque acham que Dilma cometeu estelionato eleitoral tanto quanto ele, mudaram de ideia?
Duvido e faço pouco. Aliás, isso vale para o PSDB. Se hoje houvesse uma disputa entre Marina Silva e Aécio Neves, por exemplo, o tucano perderia de lavada. Sobretudo se Marina se voltasse para o campo progressista.
Aliás, a manutenção da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor’s constitui uma péssima notícia para FHC e seu partido, até porque a agência afirma que, ano que vem, a economia brasileira voltará a crescer.
Os brasileiros estão esperando uma torrente de desgraças pela frente, mas o que o mercado diz é que a situação é muito menos feia do que parece.
Se não ocorrerem as desgraças previstas, se os brasileiros constatarem que o que estão esperando de trágico não sobreveio, Dilma pode se recuperar. Já o que o país viveu sob FHC e seu partido, nunca será esquecido porque é história.
Aliás, mesmo que Dilma e seu partido não se recuperem, isso não irá reabilitar FHC. Uma nova força política emergirá. Pode ser Marina Silva, pode ser até, de repente, alguém bem mais à esquerda do que Dilma, de um partido mais à esquerda que o PT.
FHC sabe disso. Tanto sabe que nunca mais se candidatou a nada. Mas anda sonhando até em disputar a Presidência da República. Mas está incorrendo em um autêntico autoengano. Contudo, seria bom para o Brasil que ele tivesse essa coragem. Mas vai acordar. Não é tão estúpido. Sabe muito bem o que fez, apesar de ser tão cara-de-pau.


Política no Face:

Mais um moralista está perdendo as máscaras. O coordenador de campanha de Aécio Neves, senador Agripino Maia, acaba de ser indiciado por CORRUPÇÃO ATIVA e cobrança de PROPINAS. Ele se tornou réu por decisão da ministra do Cármen Lúcia, após o Ministério Público apresentar provas em áudio e vídeo do senador do DEM fazendo chantagem com empresários, exigindo destes um repasse de 1 milhão de reais. Agripino Maia é um dos mais críticos direitistas do País e era um dos mais serelepes e agitados manifestantes contra a corrupção na manifestação do dia 15. Contra a corrupção dos outros.

http://goo.gl/oCk2hr

'Manifestante', Agripino agora é réu por corrupção

:
Senador Agripino Maia (DEM/RN), que preside o DEM e foi um dos manifestantes contra a corrupção no dia 15 de março, agora é oficialmente réu no Supremo Tribunal Federal; a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi aceita pela ministra Carmen Lúcia, que autorizou a abertura de inquérito; Agripino teria recebido propina de R$ 1,1 milhão para liberar serviços de inspeção veicular no Rio Grande do Norte; em entrevistas recentes, ele tem se posicionado a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, assim como outros parlamentares do DEM, como Ronaldo Caiado (DEM/GO); este, que chegou a usar uma camisa de inspiração fascista contra o ex-presidente Lula, afirmou que Agripino merece o benefício da dúvida

24 de Março de 2015 às 17:13


247 – Menos de dez dias depois de participar dos protestos contra a corrupção e de defender, em entrevistas recentes, o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o senador Agripino Maia (DEM/RN) se tornou réu no Supremo Tribunal Federal por... corrupção.

A ministra do Cármen Lúcia decidiu abrir uma investigação contra o senador Agripino Maia (RN), presidente do DEM, com base em denúncia apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Maia foi delatado pelo empresário do Rio Grande do Norte George Olímpio, que disse negociar propina com políticos. A denúncia foi feita por meio de delação premiada.

Ele contou que o senador lhe pediu R$ 1,1 milhão para campanhas políticas e o chantageou, afirmando que, caso não lhe desse o dinheiro, perderia o contrato que tinha por meio de um instituto para prestar serviços ao Detran/RN.

Ele disse que chegou a entregar R$ 300 mil a Agripino Maia e a fazer empréstimos a pessoas indicadas por ele para que completasse a quantia solicitada. O pagamento ajudaria a liberar serviços de inspeção veicular no Rio Grande do Norte.

Como presidente do DEM, Agripino recebeu a solidariedade de correligionários como o senador Ronaldo Caiado (DEM/GO). No 15 de março, Caiado participou dos protestos e chegou a usar uma camisa de inspiração fascista contra o ex-presidente Lula. Em relação a Agripino, ele afirmou que o senador potiguar deveria ter o benefício da dúvida e o direito de se defender.

O EXEMPLO

 
Um ministro português recebeu, em Lisboa, um ministro angolano. Simpático, o ministro português convidou o outro a ir lá a casa. O ministro angolano foi e ficou espantado com a bela vivenda. Em bairro chiquérrimo e com piscina.
Com a informalidade dos luandenses pôs-se a fazer perguntas.
- Com um ordenado que não chega a mil contos limpos, como é que o meu amigo conseguiu tudo isto? Não me diga que era rico antes de ir para o Governo? O ministro português sorriu, disse que não, antes não era rico. E em jeito de quem quer dar explicações, convidou o outro a ir até à janela.
- Está a ver aquela auto-estrada?
- Sim, respondeu o angolano.
- Pois ela foi adjudicada por 100 milhões. Mas, na verdade, só custou 90... disse o português, piscando o olho.
Semanas depois, o ministro português foi de viagem a Luanda. O angolano quis retribuir a simpatia e convidou-o a ir lá a casa. Era um palácio, com varandas viradas para o pôr-do-Sol do Mussulo, jardins japoneses e piscinas em cascata. O português nem queria acreditar, gaguejou perguntas sobre como era possível um homem público ter uma mansão daquelas. O angolano levou-o à janela.
- Está a ver aquela auto-estrada?
- Não.
IN WWW.INSURGE-TE.BLOGSPOT.COM

Até quando os ministros do STF vão se fingir de mortos?

Ricardo Melo: Até quando os ministros do STF vão se fingir de mortos?

publicado em 23 de março de 2015 às 11:29
gilmar-mendes
Por que não uma Constituinte?
Proposta lançada após junho de 2013 é alternativa popular para uma reforma política verdadeira
Ricardo Melo, na Folha de S. Paulo
Quando parecia ser uma semana infernal para o governo, fatos mostraram que o jogo está longe de ter sido jogado.
Um dos alvos da Lava Jato, a Setal, abriu o bico sobre o cartel que cercava a Petrobras. Segundo a empresa, a indústria da fraude vem de longe. Mais precisamente do final dos anos 1990, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso. E agora, senador José?
Quase ao mesmo tempo, surge vídeo do processo sigiloso mais vazado da história. O criminoso Alberto Youssef delata, em alto e bom som, que o senador Aécio Neves recebia propinas de uma diretoria de Furnas. Em São Paulo, capitania tucana, avança o processo sobre a roubalheira na CPTM/Metrô; procuradores acham brechas para ressuscitar a Castelo de Areia. (Para quem não se lembra, trata-se de operação sobre negociatas com governos tucanos. Foi impugnada sob o argumento de que os grampos incriminadores eram ilegais… Imagine se o mesmo critério fosse aplicado na Lava Jato.)
Quer mais? Empreiteiros juram de pés juntos que Sérgio Guerra, ex-presidente do PSDB e já morto, embolsou grana pesada para esvaziar investigações na Petrobras. E um novo nome aparece para atormentar vestais de azul: o doleiro Adir Assad, ajudante de ordens de Youssef. O personagem tem muito a falar sobre negócios de Eduardo Cunha, Sérgio Cabral, governadores tucanos e o ex-prefeito Gilberto Kassab, segundo informa reportagem do sempre atento Fabio Serapião na revista “Carta Capital”.
Resumo da ópera: multiplicam-se as provas de que o Estado brasileiro opera sobre uma base misturando corrupção, conivência do grande empresariado e interesses partidários. Para o governo, isso pode até trazer algum alívio quanto a cálculos políticos. Já para os envolvidos, o PT e todas as suas inúmeras digitais incluídos, são novos elementos a cobrar iniciativas mais convincentes que entrevistas coletivas atabalhoadas, pacotes requentados e dietas alimentares transformadas em termômetro político.
No que a esta altura parece um tempo imemorial, mais de 7 milhões de brasileiros participaram de um plebiscito informal que durou de 1º a 7 de setembro de 2014. Quase 500 entidades organizaram a consulta. Resultado: 97% dos participantes se declararam a favor de uma Constituinte exclusiva e soberana sobre o sistema político. Detalhe: a proposta foi lançada pela própria administração petista pós-junho de 2013. Teve gente que acreditou nela, tanto que organizou o referendo. Já o Planalto parece nem se lembrar da proposta, embora exista um projeto na Câmara pela convocação de um plebiscito oficial.
Que uma reforma política é mais do que necessária, os fatos se encarregam de mostrar. Que do mato atual não vai sair coelho sadio, disso pode se ter certeza. Esperar que os parlamentares de turno façam alguma mudança séria num sistema que os levou ao poder é como esperar Papai Noel na chaminé. Num país em que um ministro do Supremo se dá o direito imperial de bloquear um mísero projeto de purificação do financiamento eleitoral, e seus colegas de corte se fingem de mortos, qualquer cenário é possível. Até que o povo e suas famílias percebam o custo da bandalheira institucionalizada.
MARTA À RÉ
Políticos sempre apostam na lavagem cerebral do eleitorado. Marta Suplicy, herdeira de faqueiros reluzentes, que certo dia mostrou-se espantada ao descobrir que nem todas as casas tinham piscina, construiu sua carreira amparada no glamour de ser uma rica que pensa nos pobres. Nada contra, pelo contrário. Quanto mais gente defender os humildes, melhor. Mas não dá para encarar como normal, a não ser como oportunismo eleitoreiro, o súbito antigovernismo de alguém que durante anos e anos participou ativamente de tudo que agora critica. Relaxa e goza, Marta.
Leia também:
Partido Novo, de ideias liberais, quer tirar sindicatos e partidos das ruas

ZUMBIS A SERVIÇO DOS IDEALIZADORES E MANIPULADORES DO GOLPE EM DEFESA DO NEOLIBERALISMO

Kjeld Jakobsen: Golpes de hoje, em defesa do neoliberalismo, combinam mobilização popular com instrumentos legais

publicado em 24 de março de 2015 às 12:40
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Em artigo na Carta Maior, Róber Iturriet Avila ligou a variação do salário mínimo ao golpismo
Golpes de Estado de ontem e de hoje
por Kjeld Jakobsen, no Teoria e Debate
Em um momento crítico da Guerra Fria entre as décadas de 1950 e 1970, quando muitos países do Terceiro Mundo lutavam por sua independência política e outros que já a possuíam buscavam um novo modelo de desenvolvimento econômico e social, as grandes potências defendiam seus interesses imperialistas e colonialistas por meio da promoção de golpes militares para derrocar governantes progressistas ou de esquerda.
Esses interesses eram principalmente a preservação do seu espaço geopolítico diante da expansão das experiências socialistas no período pós-Segunda Guerra e a manutenção de suas empresas multinacionais.
Esses golpes, via de regra, eram protagonizados pelas Forças Armadas do país em questão sob o pretexto de garantir a “segurança nacional” e combater o comunismo, contando com o apoio civil de sua burguesia e classes médias, bem como de órgãos de imprensa sob seu controle, empresas, igrejas, entre outros aparatos da superestrutura.
O apoio externo, normalmente norte-americano, assegurava os recursos para bancar a propaganda contra o governo a ser derrubado, a mobilização civil e eventualmente a compra de armas e pagamento de mercenários, caso dos golpes que derrubaram o presidente Jacobo Arbenz da Guatemala, em 1954, e Patrice Lumumba no Congo, uma década depois, além de muitos outros.
O padrão golpe de Estado por meio das Forças Armadas locais com apoio de setores da burguesia nacional para implantar ditaduras civis ou militares com envolvimento direto de agências de inteligência como a norte-americana CIA foi o que vigorou até a queda dos regimes de socialismo real no Leste Europeu e na União Soviética no final dos anos 1980.
Na América Latina, poucos países escaparam dessa sina e a violação de direitos humanos foi recorde. Na já mencionada Guatemala houve o assassinato e desaparecimento de aproximadamente 200 mil pessoas entre o golpe de 1954 e a assinatura do acordo de paz entre o governo e a guerrilha de esquerda em 1996.
O golpe militar que derrubou o presidente Sukarno na Indonésia, em 1965, cobrou a vida de cerca de 700 mil pessoas suspeitas de serem comunistas ou de esquerda. Na Argentina estima-se que a ditadura militar dos anos 1970 seja responsável por perto de 20 mil desaparecimentos.
A conjuntura pós-Guerra Fria significou a adoção do modelo de democracia liberal na maioria dos países que haviam optado pelo regime do socialismo real na segunda metade do século 20, bem como a redemocratização de muitos outros países que conviveram com ditaduras civis ou militares, caso do Brasil e de outros países da América Latina.
Os governos civis que assumiram após as ditaduras em geral adotaram o neoliberalismo como política econômica, aprofundando a concentração de renda, o desemprego e a informalidade.
Quando o resultado eleitoral na Venezuela levou Hugo Chávez à Presidência em 1998, inaugurou-se uma série de mudanças políticas na América Latina que questionavam o modelo neoliberal vigente, bem como a geopolítica hegemonizada pelos EUA.
Esses questionamentos e a busca de vários países latino-americanos por modelos de desenvolvimento mais autônomos provocaram a reação do imperialismo e dos setores econômicos e políticos nacionais a ele vinculados.
Essa reação, no entanto, deixou de ser militar, como durante a Guerra Fria, assumindo nova estratégia e doutrina.
Estas consistem, grosso modo, em gerar um questionamento social ao governante em exercício que possa justificar sua destituição por meio de instrumentos previstos na legislação nacional, mesmo que sua aplicação seja distorcida.
Convém lembrar que, embora as legislações de muitos países latino-americanos que passaram por ditaduras militares tenham sido reformadas após o fim desses regimes, certos poderes mantiveram-se inalterados e conservadores, como o Poder Judiciário.
O sistema presidencialista é o dominante nos países latino-americanos e os Parlamentos possuem mecanismos para destituir o presidente na maioria deles (impeachment). Tais características visivelmente vigoram no Brasil e em outros países do continente.
Portanto, essas são as duas instituições com capacidade de aplicar os atuais “golpes legalizados”, como vimos no Paraguai em 2013, quando em função de um conflito de terras na região de Curuguatay morreram vários camponeses e policiais.
Esse ocorrido pôs tanto a esquerda como a direita contra o presidente Fernando Lugo e, em menos de 48 horas, o Parlamento paraguaio, por meio de um “julgamento político”, votou por sua destituição, uma vez que seu apoio parlamentar era praticamente inexistente. Essa adjetivação da decisão visou impedir qualquer tipo de debate jurídico sobre seu mérito, já que o Parlamento é um organismo essencialmente político.
O golpe aplicado contra o presidente Manoel Zelaya de Honduras, em 2008, quando um pelotão militar o retirou de madrugada do palácio presidencial e o despachou para a Costa Rica, foi referendado imediatamente pelo Parlamento e pela corte suprema do país.
Como justificativa, alegaram que Zelaya pretendia ilegalmente mudar a Constituição hondurenha para possibilitar a reeleição presidencial, embora ele mesmo não fosse diretamente beneficiado, pois o referendo que propôs para definir a questão seria realizado somente na eleição que escolheria seu sucessor.
Entretanto, em outros países da região em que os presidentes têm maior poder e maior representatividade, como na Venezuela, Bolívia e Equador, a estratégia golpista teria de ser mais sofisticada, e assim foi introduzido o elemento mobilização social, bem como atos de violência ou sabotagens que pudessem desgastar o governo.
A Venezuela enfrentou essa situação pelo menos três vezes.
Na primeira, houve um golpe civil-militar clássico que, no entanto, destituiu por menos de 24 horas o presidente Hugo Chávez, pois a população e militares leais o reconduziram ao governo. Nas outras, tudo começou com processos de mobilização como a greve geral de 2002, o questionamento da oposição ao resultado eleitoral que sagrou Nicolás Maduro vitorioso em 2013 e as recentes manifestações articuladas pelos setores oposicionistas mais direitistas, como Leopoldo Lopez e Maria Corina Machado.
Na verdade, essas mobilizações são organizadas por setores sociais minoritários, embora contem com apoio externo. A mídia que as apoia lhes dão uma dimensão muito maior do que a real e, além disso, a introdução do fator violência com mortes de civis por meio de franco-atiradores, conforme verificado em vários momentos na Venezuela ou no já mencionado massacre de Curuguatay.
Essas mortes tendem a ser divulgadas pela mídia como de responsabilidade do governo, que estaria reprimindo duramente manifestações legítimas. A intenção é criar um ambiente que favoreça a intervenção de alguma instituição supostamente republicana para restaurar a ordem e a paz social e dar legitimidade popular ao golpe de Estado.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, enfrentou algo semelhante durante seu primeiro mandato por meio de um movimento separatista que opunha várias províncias ao governo central, quase paralisando o país.
O presidente Lula, no Brasil, também enfrentou um processo político desgastante em 2005 que a oposição brasileira só não levou até o fim porque imaginava que a eleição do ano seguinte resolveria a questão a seu favor. E agora estamos assistindo aos desdobramentos das investigações sobre a Petrobras com as quais a oposição pretende questionar o mandato da presidenta Dilma.
Não é apenas na América Latina que as forças conservadoras desprezam a democracia para defender seus interesses. Na Europa, berço da democracia ocidental, há vários casos da utilização de mecanismos burocráticos para defender certos interesses econômicos em detrimento da opinião majoritária da população.
Por exemplo, a imposição das medidas de austeridade na Grécia pela Troika, formada pelo Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI, impedindo que o governo de Georges Papandreau as submetesse a referendo popular, assim como a pressão da mesma Troika em 2010 sobre o Parlamento italiano para substituir o governo Berlusconi por um “gabinete técnico” que levasse as medidas de austeridade adiante na Itália. Desde aquele momento até hoje o país já está no terceiro primeiro-ministro não eleito pelo povo.
Ou seja, num primeiro momento era importante que o capitalismo neoliberal fosse legitimado democraticamente, e, como não havia contraponto devido à queda dos regimes do socialismo real e a crise da social democracia, foi o que aconteceu.
No entanto, como agora há questionamentos sérios a esse modelo, principalmente pelas experiências alternativas na América Latina, a legitimação democrática torna-se menos importante e, nesse sentido, a pressão que os governos progressistas da região ora sofrem tende a aumentar, pois há poucos aliados com os quais poderão contar no resto do mundo. Ou seja, os golpes de Estado de ontem eram para combater o comunismo e atualmente servem para defender o neoliberalismo.
*Kjeld Jakobsen é diretor da Fundação Perseu Abramo

preconceito e conservadorismo estão ligados à inteligência baixa?



Estudo realizado pela Psychological Sciense mostra que pessoas de esquerda tendem a ser mais inteligentes, já pessoas menos inteligentes são mais conservadoras, preconceituas e ignorantes 
Por Redação

Não é nova a ideia de que o conservadorismo e o preconceito estão ligados umbilicalmente. Vários estudos já realizados chegaram a essa conclusão. A novidade é que o posicionamento conservador e o preconceito podem estar ligados à baixa inteligência.
Um estudo feito por pesquisadores de uma universidade de Ontario, no Canadá, chegou a conclusões bastante interessantes: adultos de baixo QI ou com dificuldades cognitivas tendem a ter atitudes conservadoras e preconceituosas (racismo, homofobia, machismo etc).
O estudo foi dirigido pelos pesquisadores Gordon Hodson e Michael A. Busseri, do departamento de Psicologia da Universidade Brock, de Ontario, e foi publicado pela revista Psychological Science.
Os dados levam a crer que as pessoas menos inteligentes se sentem atraídas por ideologias conservadoras porque estas exigem menos esforço intelectual, pois oferecem estruturas ordenadas e hierarquizadas, onde o indivíduo pode se sentir mais confortável.
É bom deixar claro que inteligência nada tem a ver com escolaridade. Há vários exemplos históricos (como a Comuna de Paris ou a Revolução Russa) em que as classes mais baixas e com menos escolaridade se mostraram as únicas capazes de pensar de maneira progressista.
Hodson afirma que “menor capacidade cognitiva pode levar a várias formas simples de representar o mundo e uma delas pode ser incorporada em uma ideologia conservadora, onde ‘pessoas que eu não conheço são ameaças’ e ‘o mundo é um lugar perigoso ‘…”.
A grande contribuição dessa pesquisa pode ser a criação de novas formas de combater o racismo e outras
formas de preconceito. “Pode haver limites cognitivos na capacidade de assumir a perspectiva dos outros, particularmente estrangeiros”, entende Hodson, já que a crença corrente é que o preconceito tem origens emocionais, não cognitivas.
 
 
comentário:
 
OMAR MOTTA
 
Inteligência, considero algo difícil de mensurar...quais métodos, quem é mais inteligente que quem...Agora, conservadores, preconceituosos, não tenho dúvida alguma...incapacidade, dificuldade de raciocínio ou preguiça de lidar com as palavras.Aqui na rede é o melhor exemplo: Enquanto tentamos argumentar,usar o raciocínio lógico, os conservadores preferem xingar, ameaçar, vociferar, nas ruas também tem sido assim, preferem em grupos mostrarem sua força, seus músculos(peitos e bundas) como se não tivessem cérebros e conhecimento...
 
 
Vamos dizer que midiotas não desenvolvem suas inteligências. Suas aspirações voltam-se para futilidades como adorar seu EGO. Cultuam seus corpos presumindo que serão os mais belos e perfeitos. Coitados! Não possuem um pingo de desconfiômetro; tornam-se feios e deformados e suas almas alienadas  e desprezíveis refletem-se em seus rostos monstruosos.
 

“Olocracia”, “otário” e “mau caráter”

Macacos Que Somos

A revolta como virtude política

Desarticulação: eis um dos maiores perigos para a democracia. Confundir entre si desejo, necessidade e vontade; povo e maioria; manifestação e juízo; sensacionalismo e evidência; denuncismo e comprovação; engajamento e indignação; liberdade de expressão e inconsequência. Todos esses conceitos poderiam ser melhor trabalhados com sobriedade e abertura para a diversidade de perspectivas, mas é precisamente essa possibilidade o que estamos minando ultimamente… O resultado? Dói até imaginar…
“Olocracia”. Descobri esse termo outro dia: é o governo das massas, das multidões. Diferentemente da Democracia, em que, pelo entendimento moderno, se governa em nome dos interesses do povo, neste modelo (não um “sistema”) a título de atender os desígnios da massa empoderada pode-se inclusive contrariar os maiores interesses do povo. Pois bem: conseguimos converter nossa ainda jovem democracia em uma olocracia progressiva. E não nos enganemos: se na Grécia Antiga, de onde se originou o termo (e o sistema democrático), essa forma de poder era pontual e flutuante, estabelecida pela reunião física de muitas pessoas, nos tempos atuais, com todo o aparato da comunicação de massas, ela é perenizada: não é preciso desmobilizar-se do coletivo, interromper a presença política para procurar o que comer e satisfazer outras necessidades fisiológicas. Ao contrário: na vida industrial e moderna é possível fazer tudo isso e ainda assistir o “telessangue” do meio dia e o telejornal da noite, além da telenovela. É possível ter notícias na sala de espera do dentista, nas mídias remotas de elevador ou do ônibus, no celular. É possível tomar banho e dirigir ouvindo rádio. A multidão existe potencialmente, enquanto público, e se estabelece efetivamente quando esse público adota um discurso comum, inarticulado internamente mas ostensivo no conjunto e na aparência. Até aí, nem mesmo é preciso que se reúnam fisicamente!
A raiva e a intolerância que não se intimidam com os reiterados flagras de sua hipocrisia ignorante constituem a marca mais bem acabada do curso de empoderamento desse modelo: pensar já se torna secundário ao agir, e quem pensa ou faz autocrítica antes de agir é qualquer coisa de nada lisonjeiro entre “otário” e “mau caráter”, em uma inversão total de perspectivas. Isso tudo lembra muito nosso país hoje, não!? A psicologia das massas e das multidões é objeto de atenção especial dos teóricos da comunicação e da sociologia já faz quase dois séculos. E de sua origem pra cá, essa preocupação testemunhou a ascensão de regimes totalitários com a mesmíssima base olocrática, ou seja, não foi preciso sequer que o Ocidente carecesse de instrumento teórico que reconhecesse essa situação para que, em plena Modernidade, deixasse de reproduzir suas condições até com mais virulência e profundidade – e vemos isso atingir o Brasil, agora, ao nível do corpo a corpo…
Tente conversar com uma multidão. É difícil, especialmente se você não estiver “ao lado dela”, acatando integral e performaticamente o que ela defende. Agora tente articular um pensamento divergente ao discurso da multidão… fazê-lo sem problemas é, virtualmente, quase impossível de tão improvável, e concretamente quase invariavelmente inconsequente consigo mesmo, a ponto de se correr risco de morte. Literalmente. Exagero? Lembremos dos múltiplos episódios de linchamentos recentes, os justiçamentos; lembremos de Fabiane Maria de Jesus, uma mãe de três filhos sumariamente julgada e assassinada por uma turba de anônimos no litoral paulista. Agora as hordas se movimentam por ímpeto institucional e político-partidário, ainda que pela afirmação negativa do “contra tudo isso que está aí”, pois isso que está aí está quase necessariamente particularizado em um partido específico ou contra a democracia como um todo. Se reúne por isso e vai às ruas. A grave escalada de ânimos que corre em meio a esses protestos independente da vontade de uma proporção considerável de seus partícipes dá seus sinais quando vemos “bonecos de judas” enforcados em um viaduto, portando máscaras de Dilma e Lula. Ou quando em um protesto uma multidão aos brados bate à porta de uma família, mandando-a tomar naquele lugar, corporificando-a como a legenda “PT” em razão de uma faixa com dizeres a respeito de outro momento político! Que chance têm as pessoas de se defenderem contra a multidão? Os covardes e alucinados que afrontaram moral e fisicamente aquela família sabe onde eles moram, e recairá sobre ela o ônus de se mudar dali se quiser minimizar os riscos de serem agredidos em novas manifestações – ou por um lunático revoltado que vá dar em sua casa num dia qualquer… será isso razoável, defensável? E esses são apenas alguns de muitos casos!
Língua ferina: desistimos do diálogo?
Para este público há algo de metafisicamente valioso em repetir que “todos os políticos são corruptos” e reiterar que não há espaço para “relativizações”, para “articulação”; “é tudo preto no branco!”. Não por acaso o público nessas manifestações se divide em inúmeras soluções contraditórias que nunca se processam, nunca se enfrentam, provavelmente porque não é algo propositivo o que importa, mesmo; e com isso deixam o tira-teima para o momento posterior às conquistas. Existe, pois, nessas manifestações uma suposta pluralidade subjacente que, no entanto, não se comprova como tal porque nunca se põe inteiramente à prova – e qualquer rastro de diversidade que pudesse resistir a essa análise acaba anulada pelos próprios manifestantes para dar corpo àquilo que os une. Por que, afinal, não se dividem? Por que o libertário está junto do requerente da intervenção militar? Por que não deixam claro essa diferença abissal em diferentes manifestações para chamarem de suas? Parece-me óbvio que a principal desculpa consciente seria, ora, que é preciso “mostrar que todos aqui somos contra tudo isso que está aí”… mas valerá tanto mais à pena correr o risco de cair na contradição do que defender o que supostamente é o certo? Não será essa postura desprecavida indício de que a prioridade é estritamente emocional e imediata em vez de racional e articulada para o longo prazo? Daí, desta covardia intelectual travestida de coragem e ação, surge a homogeneidade efetiva em torno da indignação como virtude política; e se fecha não só a definição própria de multidão atualizada para os tempos modernos, mas o protótipo da autocracia galopante.
Afeita a truísmos e caricaturas, cujo poder de comunicação é imediato e muito forte, a olocracia é, independente de assentir conscientemente com impeachments ou golpes, a antessala para a tirania, que se baseia nas mais banais fantasias. Essa massa anda sequiosa de um redentor, senão contribuindo intencionalmente para isso, mas ativa e concretamente, uma vez que aplainam as condições para que um indivíduo ou grupo de poucos indivíduos, oportunistas e teatralmente competentes (mas não administrativamente) tome o poder com um signo da moralização movimento a que se chama “bonapartismo”. Sabe-se disso desde que Homero fundamentou a monarquia com um eloquente “uma multidão de legisladores (ou o governo de muitos) não pode ser bom; que haja, pois, um só legislador, um soberano” quase 3 mil anos atrás. A mensagem continua forte ainda hoje, e seu sub-texto também. É por essas e outras que muita gente inteligente e bem intencionada não consegue processar as críticas que se faz ao movimento, se atendo à discussão invariavelmente seletiva de termos e expressões como “elite branca” e “classe média” – preferindo tornar maniqueísta a abordagem dessas questões (que pode muito bem ser tomada de maneira mais ampla e diversa, é ao que se propõe muitas vezes) mesmo quando os termos são usados por jornalistas e analistas em veículos internacionais! Não adianta achar que os idealismos morais bastam; ora, os regimes totalitários todos surgiram com excelentes intenções, e as populações colaboraram decisivamente para que se instalassem, estivessem ou não de acordo com os meios que depois viriam a ser empregados para “levantar a nação”, “moralizá-la”, “restaurá-la”… essas pessoas compuseram o ninho dessas cobras no momento mais oportuno e com exatamente aquilo que precisavam – força, visibilidade, corpo, voz – porque decidiram se deixar levar pela empolgação, por decidirem agir sem pensar muito, por encontrarem um inimigo em comum.
Em suma, estamos desistindo do diálogo, e essa é a forma mais eficiente de desarticular a democracia que se conquistou nesse país de maneira tão custosa. Um protesto por si só é, em tese, um exercício plenamente democrático – mas uma coisa é o panelaço das madres y abuelitas da Praça de Maio, que se originou da necessidade delas serem ouvidas; outra é a versão brasileira, que só existe para que seus manifestantes não ouçam, pois se dá tão logo qualquer figura do governo apareça para falar em público. É sintomático que quem faz isso o faz com orgulho; e não há mais pudor da mídia em mostrar que esse tipo de protesto predomina em áreas nobres das capitais brasileiras… quando observo isso, não estou contra a abstração que é o direito democrático de protestar contra a democracia. Estou contra o efetivo que se concretiza, contra o conteúdo (se é que tem) e principalmente contra a forma! Acreditar que dispor de bile em um discurso irrefletido pelo conserto mágico do país é o melhor para todos nós redunda, na verdade, em jogar por um gol contra. Senão for isso, como quem defende uma moralização e se diz “cidadão de bem” pela “moral e bons costumes” pode mandar alguém “tomar no …”? Como podem com consciência limpa ensinar crianças da mais tenra idade a odiar – chutando, queimando e achincalhando a bandeira de um partido em praça pública? Como podem agredir verbal e até fisicamente em grupo um só indivíduo porque este vestia uma camisa vermelha que fazia graça com as figuras (sim, satirizava a “esquerda festiva”!) de Marx, Engels, Lenin; ou outro com camisa vermelha do seriado americano Friends (tem coisa mais capitalista?) no metrô? Como podem pedir para que se limpe o país da corrupção ostentando uma camisa com o escudo da CBF no peito? E denunciar “o saqueamento do país” e ainda contemporizar com o furto de 127 produtos de uma padaria gourmet em Fortaleza?
Antes de sequer entrar no mérito moral dessas questões (que tende a se coalhar de moralismos e recusas), a contradição, a hipocrisia e a demagogia desses e tantos outros casos são dados evidentes, obscenos, irrevogáveis – e quem se contenta com isso em si mesmo ou naquele que protesta ao lado, como tem acontecido ultimamente no Brasil, não age com civilidade, mas quase que inteiramente a despeito dela. E isso se dá inclusive (ou preponderantemente) por meio da imprensa dominante, que entra numa espiral de silêncio não divulgando aquilo que não convém a seus interesses imediatos – afinal, quantos dessa “grande imprensa” noticiou os ocorridos nos links ao fim deste texto? Como comprova o aterrador vídeo do protesto que chega à porta da casa daquela família (em link abaixo), é extraordinária a dominância cognitiva que as classes mais privilegiadas têm sobre grande parcela da população, que branca ou negra, classe média ou baixa, basta sentir-se associado ao interesse ou ao discurso da elite para, de uma forma ou de outra, agir da mesmíssima forma, senão por eles – gerando os efeitos desejados e bem concretos… sendo assim, a intempestividade dos indignados está impedindo que as críticas ao governo mais necessárias e verdadeiramente úteis sejam expostas; e isso, se derrubar o governo, será indecentemente favorável ao(s) próximo(s) governante(s). Há muitos indícios apontando para este momento como decisivo: quem deseja o bem de todos precisa priorizar desde já a reflexão e a autocrítica em relação ao mero protesto. É preciso restabelecer o sentido da sobriedade democrática e o diálogo. Caso contrário, será difícil adivinhar quando não seria tarde demais!
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Alguns links:

Rafael Esteves: Uma camiseta vermelha do Friends e a turba direitista
Padaria de Fortaleza sofre furto de 127 produtos durante manifestação contra corrupção
Família de ocupação hostilizada na manifestação 15/03 (vídeo)
Em ato contra governo, manifestantes divergem sobre impeachment (vídeo)
15 de Março: “Temos que acabar com os partidos de esquerda” (vídeo)
Sávio Mota
Sávio Mota
Cearense de cabeça pontuda, dizem que é jornalista e rebento da tal geração Y. Cético desde sempre e corinthiano desde que é gente, gosta de ciências e futebol, cinema e documentários de tevê - além de ser apaixonado por História e por Evolução. É CODA. Tem um pequeno canal no Youtube, "O Mundo Paralelo de Neander". Wanna be a scientist. Normal não é.

As ameaças dos irresponsáveis

OS ZUMBISTELEGUIADOS PELA MÍDIA AMEAÇAM

Manifestação midiaticamente fomentada e "a profecia autocumprida" discutidas por Sylvia Debossan Moretzsohn



    Martelar uma ideia até que ela seja incorporada pelo público e apareça como expressão espontânea – embora, ao contrário do que se costuma pensar, nada seja, de fato, espontâneo, porque nada surge do nada –, martelar uma ideia até transformá-la em suposta expressão espontânea de uma legítima e inquestionável reivindicação é uma conhecida estratégia da propaganda, que tem a ver com o conceito de “profecia autocumprida”. O sucesso ou fracasso dependerá da predisposição do público em aceitar a ideia.



JORNALISMO POLÍTICO

A profecia autocumprida

Por Sylvia Debossan Moretzsohn
extraído do
 “Contra a corrupção e o governo” era a frase mais repetida na cobertura das manifestações de domingo (15/3) na GloboNews. O professor Guilherme Nery, da Universidade Federal Fluminense, notou a insistência. Não era necessário ser estudioso do assunto, como ele, para perceber a associação semântica: governo = corrupção, e vice-versa. “É gritante a falta de responsabilidade”, concluiu.
  Martelar uma ideia até que ela seja incorporada pelo público e apareça como expressão espontânea – embora, ao contrário do que se costuma pensar, nada seja, de fato, espontâneo, porque nada surge do nada –, martelar uma ideia até transformá-la em suposta expressão espontânea de uma legítima e inquestionável reivindicação é uma conhecida estratégia da propaganda, que tem a ver com o conceito de “profecia autocumprida”. O sucesso ou fracasso dependerá da predisposição do público em aceitar a ideia.
  O jornalismo transformado em propaganda – esse que, segundo a própria entidade representante das grandes empresas que o produzem, anunciou que assumiria o papel que a oposição não estava conseguindo exercer – tentou essa estratégia no caso do mensalão. Não teve êxito, pelo menos não imediatamente: apesar de tudo, o PT venceu as eleições em 2010. Mas a estratégia se manteve e agora, diante do escândalo da Petrobras, finalmente parece render frutos.
 Há fatores concretos para a revolta? Evidentemente sim, e não é preciso ter estômago especialmente sensível para se chegar ao limiar do vômito diante da platitude com que os envolvidos na Operação Lava Jato expõem o sistema de distribuição de propinas milionárias. Mas imaginemos como o público se comportaria se outros escândalos tivessem sido investigados: o caso Sivam, a compra de votos para o segundo mandato de Fernando Henrique, a privatização das teles, o caso Banestado...
 O fio da meada

 Lembrar esses episódios não significa tentar minimizar ou diluir as atuais denúncias de corrupção, no velho estilo “sou, mas quem não é?” – ou, como disse Lula quando percebeu que não poderia abafar a história do mensalão, “sempre foi assim”, inclusive porque quem votou no PT apostou na mudança. Significa oferecer argumentos para se entender por que “a pecha de corrupto pegou mesmo no PT”, como certa vez comentou um membro do governo, enquanto outros partidos posam de campeões da moralidade.

 Se quisermos entender como o movimento pró-impeachment ganhou as proporções atuais, precisaremos recuar até as vésperas do segundo turno, em outubro do ano passado, quando a Veja antecipou a distribuição de sua edição semanal para uma sexta-feira e saiu com a famosa capa – pela qual foi condenada a oferecer direito de resposta – acusando Dilma e Lula de saberem “de tudo”. (“Tudo”, como se recorda, era o esquema de corrupção na Petrobras, e a denúncia se baseava em depoimento do doleiro Alberto Youssef, pelo acordo de delação premiada.)

 Naquela mesma sexta-feira, o jornalista Merval Pereira, de O Globo,escreveu que, se comprovada a denúncia, “o impeachment da presidente será inevitável, caso ela seja reeleita no domingo”. Escreveu assim, no meio da coluna, como quem não quer nada, e ali plantou a semente.
  O desdobramento é conhecido: no domingo seguinte, Dilma foi reeleita por pequena margem e já na segunda-feira um grupo saía às ruas de São Paulo para pedir o impeachment. Trinta pessoas: uma irrelevância que, entretanto, O Globo transformou em notícia. Ao mesmo tempo, a eleição era posta sob suspeita pelo PSDB, que ensaiou um pedido de recontagem de votos. Foi-se consolidando, entre os derrotados, o sentimento de que o governo era espúrio e precisava ser derrubado.

 O cúmulo da parcialidade

 A imprensa fez a sua parte: contrariando os critérios elementares que levam um fato a se tornar notícia, cobriu os mais insignificantes atos em favor do impeachment, como o promovido por um grupelho de direita que destila seu ódio nas redes sociais e reuniu 20 (vinte) pessoas no Centro do Rio de Janeiro, na quarta-feira (11/3). Na sexta (13/3), dia da manifestação organizada pela CUT, ao mesmo tempo favorável e crítica ao governo, O Estado de S.Paulo dedicou em seu site uma notícia de cinco parágrafos (ver aqui) para a presença de oito (repito: oito) pessoas que, em Brasília, protestaram contra Dilma. (A notícia original falava em seis, mas foi atualizada.)

 Na semana que culminou com a monumental manifestação em São Paulo, a Folha de S.Paulo foi “desequilibrada”, ora com a avalanche de notícias negativas para o governo, ora com o tratamento díspare dedicado aos atos a favor e contra Dilma. Assim avaliou a ombudsman do jornal, que entretanto não apontou o cúmulo da parcialidade, revelado num detalhe: ao pé de reportagem sobre os protestos, na página 6 do caderno principal da edição de 10/3, o jornal publicava um quadro no estilo “serviço”, informando os “Atos contra Dilma”, “quando” e “onde”. O que levou o escritor e humorista Gregório Duvivier a publicar uma montagem no Instagram: “Onde? Shopping JK Iguatemi. Serviços: babá, empregada e open bar”.
  O pequeno “tijolinho” provocou também a ironia de uma jovem jornalista, que lembrou a campanha publicitária do jornal e sugeriu um texto mais honesto: “A Folha é contra a Dilma. Eu também”.

 Na véspera – ou seja, no início da semana –, o site da Folha publicava um “mapa interativo” dos protestos e destacava os “grupos contra Dilma”, prometendo informar “quem são os organizadores”. A reportagem, entretanto, se limitava a entrevistar os líderes daquelas organizações, que é a isso que se resume o jornalismo amestrado. (A expressão é do jornalista Licínio Rios Neto, num artigo publicado no final dos anos 1980. Não é fenômeno recente, portanto.)
 Criando o clima

 Traçar esse quadro propício à explosão da revolta contra o governo é apontar o sucesso da profecia autocumprida empreendida por uma imprensa que ajuda a criar o clima favorável para depois colher os resultados, com a agravante de esconder seu próprio papel nesse processo ao apresentar-se como responsável por simplesmente “relatar fatos”.

 Esse “simples relato”, que passa ao largo de uma apuração criteriosa, facilitou o discurso mistificador de parte dos organizadores do protesto, que evitaram – de acordo com a orientação geral das próprias lideranças do PSDB – carregar nas tintas do impeachment. Contrariando as evidências expostas nas faixas mais exuberantes, que pediam o afastamento da presidente, eles anunciaram que iriam às ruas em nome da democracia e contra a corrupção. Como se não estivéssemos vivendo em pleno regime democrático e os escândalos não estivessem sendo apurados, aliás de maneira inédita: o curioso, nessa história, é perceber que o ônus recai sobre quem apura.
 Da mesma forma, tanto esses organizadores quanto a própria mídia tentaram minimizar o impacto das faixas e cartazes exortando o retorno dos militares – algumas falavam em “intervenção militar constitucional” – e destilando ódio contra a suposta “doutrinação marxista nas escolas”, o que incluía um “basta a Paulo Freire”. Houve mesmo quem sugerisse que estas seriam manifestações plantadas pelo PT para desqualificar o movimento, o que nem a imprensa mais antigovernista – com o perdão do pleonasmo – ousou acolher.
 Brincando com o perigo
 Não foram poucos os que, nas redes sociais, denunciaram o risco da aliança com esse “ovo da serpente”, justamente no dia em que o país completava 30 anos de democracia.
 “Contra a corrupção e o governo”, essa perversa associação semântica, favorece a onda pró-impeachment. Um bom jornalismo poderia apontar o vazio da primeira consigna, apresentada assim genericamente: quem pode ser a favor da corrupção, a não ser os próprios beneficiários do esquema, que entretanto não podem assumir-se como tais? Poderia apontar, também, filigranas que talvez causassem algum mal-estar: as pequenas espertezas cotidianas dessa multidão que se perfila com a mão no peito para cantar o hino nacional a plenos pulmões, vestida com as cores da bandeira e convicta da retidão de sua conduta.
 Mas, principalmente, poderia lembrar que essa palavra de ordem genérica – quantos notaram a ausência de demandas pela reforma política e pela mudança nas regras de financiamento de campanha? – estimula reações histéricas de nefastas consequências.
P orque, sim, o governo pode ser derrubado, por vias legais ou não. Mas não custaria recordar que foi em nome do fim da corrupção – e da ameaça comunista, associada ao então governo constitucional e “corrupto” – que se promoveu o golpe, há mais de meio século.
 ***
 Sylvia Debossan Moretzsohn é jornalista, professora da Universidade Federal Fluminense, autora de Repórter no volante. O papel dos motoristas de jornal na produção da notícia (Editora Três Estrelas, 2013) e Pensando contra os fatos. Jornalismo e cotidiano: do senso comum ao senso crítico (Editora Revan, 2007)