terça-feira, 30 de outubro de 2018

A Invasão Cultural Norte-Americana - Destino Manifesto

O brasileiro não é brasileiro

Olá!!
Recomendo a te a leitura do livro: Invasão Cultural Norte-Americano, de Júlia Falivene Alves.
Te adianto que na proporção que fores lendo vais percebendo que o brasileiro não é brasileiro. No final da leitura terás descoberto que o brasileiro é mentalmente um zumbi fascista norte americano que acha que é brasileiro com a mente na America do norte.
Atitudes e comportamentos do brasileiro pró americano expõem o quanto ele não é brasileiro. Portanto, não é um fascista brasileiro. Isso é mais drástico do que se fosse o seu fascismo pelo o Brasil.
Queres um exemplo, quando o presidente agora eleito presta continência à bandeira norte americano.

Para uma compreensão mais clara, objetiva e didática recomendo a leitura e reflexão do livro - A invasão cultural norte-americana (resumo) – pode ser lido em meu blog – http://professornegreiros.blogspot.com.br/

A Invasão Cultural Norte-Americana - Destino Manifesto

A Invasão Cultural Norte-Americana - Neste livro, nosso cotidiano é analisado para denunciar como a identidade brasileira tem sofrido o impacto avassalador do estilo de vida ianque. Para tanto, a autora desvenda os aspectos ideológicos decorrentes dessa invasão nos mais diversos setores, como a língua portuguesa, as músicas, os brinquedos, a educação escolar, o lazer, a política, bem como a cultura enlatada veiculada pelo rádio, tevê, cinema e publicidade.

Segundo o livro a invasão cultural norte-americana pode ser comparada com a colonização Portuguesa, só que ela ocorreu de um modo muito mais suave. A partir da invasão ficamos carentes de passado, vazios de lembrança e culturalmente marginalizados, não sabemos o que fomos não temos consciência daquilo em que nos tornamos nem percebemos o quanto e como poderíamos ser diferentes.

As únicas pessoas que se beneficiam com essa invasão cultural dos EUA é a alta burguesia Brasileira que usufrui da ignorância do povo para com seu próprio passado.
Aos poucos fomos despersonalizados, coisificados, e passamos a nos contentar com as coisas ultrapassadas que já não tem mais nenhuma serventia para os americanos e aí então chegam ao mercado de consumo brasileiro. Conclusão: se aqui está lançando um MP4, lá eles já estão lançando um MP9.

Outros países também trouxeram um pouco de sua cultura para o Brasil, mas as mesmas não exerceram tanta influência sobre nós quanto a norte- americana. Afinal, o que nos leva a introduzir o inglês em nossa cultura tendo outros países mais próximos e que não exercem o mesmo valor lingüístico como a Espanha, por exemplo, O inglês no Brasil é com se fosse sua segunda língua e a única obrigatória nas escolas.

O Brasileiro não tem consciência plena de que essa imposição de hábitos, modas e valores se realiza por processos artificiais, beneficiando o capitalismo e o imperialismo norte-americanos e garantindo nosso alinhamento político aos EUA, tudo isso é fruto de um planejamento cuidadosamente elaborado pelo governo dos EUA, trata-se de uma penetração cultural essencialmente pacífica, porque não há utilização de força ou material bélico. Essa invasão anestesia a nossa razão e nos faz esquecer dos problemas reais do nosso país como fome, chacinas, corrupção, aliciamento de menores entre outras coisas.

Não há como escapar ainda que camuflados, os americanos estão em todas. …[…]…

Edemerson 10/02/2009
Explosivo!
Depois de lê-lo, sua cabeça nunca mais será a mesma, sua visão dos americanos e seu "still way of life" jamais será como antes. É impressionante saber como vivemos culturalmente na periferia das migalhas desse povo e como ainda aceitamos, gostamos e engolimos tudo que é lixo que nos é dado; e o pior é que aplaudimos como "macaquitos".

Niko Costa 27/12/2010
TODO BRASILEIRO DEVE LER!
Um livro muito bom e que todo brasileiro deveria ler. Após o termino do livro o que vc pensa sobre os EUA vai mudar bastante!

Vitor Saraiva 22/11/2014
O poder de destruição do imperialismo
A obra Invasão Cultural Norte Americana é especial pela clareza e objetividade com que o assunto é retratado. Particularmente, saí desse mergulho de informações e formação de criticidade com outra visão acerca do que somos hoje, do que o povo brasileiro é, e principalmente acerca da capacidade de destruição do imperialismo. Fomos e somos dominados, diariamente, descaradamente, em todos os lugares, de todas as formas pelos interesses de quem se julga superior a nós. Recomendo a leitura do livro. 

A invasão cultural Norte-Americana – Americanização

Posted on by webfonte

   Muito comentada, a tal “Americanização” tem seu lado bom e ruim. Com ela milhões de mudanças, no cotidiano, nas palavras, formas e necessidades. Mas sem ela, todo um avanço mundial, praticidade e facilidade de comunicação talvez não existissem.
     Diet – ao invés de “sem açucar”
     Light – ao invés de “leve”
     OK – ao invés de “tudo bem”
     Aids – ao invés de Sida! (Sindrome da Imuno-Deficiência Adquirida)
     A AMERICANIZAÇÃO é a definição da influência dos Estados Unidos sobre a cultura de outros países. Com ela, acabaram-se as peculiaridades das línguas locais, assim fazendo com que elas caminhassem para se tornar praticamente uma linguagem universal. 
    Apesar de facilitar a comunicação internacional, as línguas originais se perdem, trazendo certo empobrecimento que a assimilação do estrangeirismo causa nas línguas. 
 globalizacao1
     Lan House, Self-Service, Jeans, McDonalds, Coca-Cola, CDs, DVDs, Long-neck, Test-drive, Delivery, Drive-Thru, Big Brother, Insul-film, fast-food, hot-dog, telemarketing, air bag, Orkut, web, internet;
      Estas são apenas algumas das palavras com que hoje convivemos diariamente, trazidas de fora e que já adotamos. 
globalizacao2
      Mas afinal, quais são as vantagens e desvantagens da Americanização para nós?
      Já é fato que o mundo de hoje está globalizado e agora está caminhando para um nível mais alto, a Internacionalização, que nada mais é do que a adaptação/desenvolvimento de um produto em geral softwares de computadores, para uma língua e cultura de um país. Com ela, são conquistados novos mercados e conhecimentos vindos de outros países e suas culturas.
      A internacionalização de um produto não fabrica o produto novamente, somente adapta as mensagens do sistema à língua e à cultura locais. Isto é importante porque permite que o desenvolvedor de software respeite as particularidades de cada língua e cultura de cada país.” (http://pt.wikipedia.org).
      Acaba sendo até engraçado. Pois com a globalização nos adaptamos a uma cultura que não era nossa e adotamos um palavreado americanizado. E agora com este novo conceito – Internacionalização, a pós globalização, a nova busca é exatamente conhecer, respeitar e preservar a cultura dos outros países.
     A globalização é, em partes um mal necessário e também, sem volta.
     Dentre seus males, nos deparamos com o termo “Fast-food”, por exemplo, que significa “comida rápida”, e que já faz parte, agora, mais do que nunca do nosso cotidiano. Exatamente por ser servida rápida, é sucesso e mania principalmente entre os jovens em todo o mundo.
    Vinda dos Estados Unidos, esta mania saborosa traz problemas que tem somente aumentado nos dias de hoje, tendo como seu problema principal a obesidade, seguindo pelo colesterol alto, diabetes, câncer e diversas outras anomalias. O Fast Food é um dos maiores criadores de doença do mundo moderno.
    Assim concluindo,
    “Em dias tão globalizados como os nossos é praticamente impossível evitar a entrada de tais expressões no cotidiano dos povos e nações.
    O mundo moderno e globalizado reduziu distâncias e facilitou o contato entre os povos, permitindo uma maior e mais rápida interação, onde valores, hábitos e expressões cotidianos são constantemente compartilhados. Mas vale frisar que os valores e expressões que mais circulam e, por conseguinte, se impõe são justamente aqueles oriundos de nações que também se impõe cultural e economicamente sobre outras. Fato que explicaria a universalização e/ou imposição da língua norte-americana no mundo hoje.
    Toda essa invasão cultural pode ser recebida de braços abertos em prol da própria construção e evolução da língua. Todavia aos excessos, convém cautela. Pois, a mesma globalização que une povos e reduz distâncias pode, mesmo que sutilmente, homogeneizar culturas, levando a padronização de hábitos, costumes e expressões lingüísticas. E assim gradual e paulatinamente degenerar a identidade cultural de um povo: interferindo ou sucumbindo por definitivo sua memória e/ou seu Legado lingüístico cultural.”
(“Estrangerismo: Enriquecimento cultural ou invasão impestinente?”, Por leideane
valadares – 25/01/2009)

    Outros textos recomendados:
       – Americanização
       – O aspecto social da tv
       – Americanização em pauta
* Pamela Bianca Desideri dos Santos, 22 anos, Webdesigner, é estudante do Curso Superior de Tecnologia em Webdesign, na Universidade Paulista – Campus Swift em Campinas. Este artigo foi escrito para a disciplina Ética e Legislação na Comunicação, lecionada pelo prof. Arnaldo Silva.


A Invasão Cultural Norte-Americana: um verdadeiro manifesto antropofágico de alto teor crítico multifacetado Tweet

Nota 5/5
A Invasão Cultural Norte-Americana
Será que os diferentes povos que compõe essa aldeia global conseguirão manter, daqui para frente, a riqueza contida em suas diversidades culturais? Ou será que o atual processo de mundialização da cultura norte-americana deixará todos eles com a mesma cara dos USA? O que acontecerá com a cultura brasileira, se até agora ainda estamos construindo nossa própria identidade cultural?

Para responder a essas perguntas, a autora Júlia Falivene Alves transforma seu livro, A Invasão Cultural Norte-Americana (Editora Moderna, 2004), em um verdadeiro manifesto antropofágico [cultura comendo cultura], sem ufanismos e com alto teor crítico multifacetado. A autora percorre as variáveis que compõe a cultura brasileira, denunciando as conseqüências da invasão cultural norte-americana no Brasil.

O mais grave nesse manifesto é a característica subliminar da invasão. Como se fosse um vírus, infiltrado dentro de nossas mentes. São invasores invisíveis, confundem-se com nossos valores, nossas crenças e nosso estilo de vida. Os invasores estão em nosso tênis (Nike), em nosso som (Punk Rock), são nossos ídolos (Nirvana), estão nos filmes (Star Wars), na nossa comida (McDonald's), na nossa bebida (Coca-Cola), nos nossos apelidos (baby), nos desenhos animados (Scooby-Doo), nos nossos sonhos (Hawaí), enfim. Indubitavelmente somos hospedeiros culturais made in USA.

O livro A Invasão Cultural Norte-Americana, percorre a história buscando a origem da doença. A autora mostra que desde o início de nossa industrialização, somos mantidos por capital estrangeiro, principalmente americano. O imperialismo americano mostra-se na desigualdade do intercâmbio econômico, na qual o Brasil é mero fornecedor de matérias-primas e alimentos e importador de manufaturados, tecnologia e capitais dos Estados Unidos.

Os USA tem o poder de influir sobre os assuntos de interesse público no Brasil, opondo-se e interferindo nas tentativas de emancipação que porventura possam ocorrer, usando para isso tanto pressões diplomáticas, sanções econômicas e campanhas publicitárias, como ainda operações secretas e intervenções militares.

Segundo a autora, "durante a ditadura militar, a TV brasileira se transformaria em anestésico e analgésico socioculturais. Em decorrência, surgiam ante nosso olhos 'dois Brasis': um que a gente de fato vivia, e outro, que a gente apenas 'televia'. Entender como programas e anúncios publicitários televisivos nos manipularam naquele período é meio caminho para nos livrarmos de possíveis manipulações nos dias de hoje".

A autora cita como exemplo a Rede Globo. A emissora foi criada a partir do capital americano através de um consórcio de US$ 5 milhões com o grupo Time-Life. Inclusive nessa época foi aberta uma CPI para averiguar esse misterioso contrato. A CPI concluiu que o acordo infringia preceitos constitucionais, que proibiam a participação de estrangeiros na orientação intelectual e administrativa da TV brasileira. No governo militar de Costa e Silva (1967-1969), o caso foi arquivado.

Gilberto Gil, em seu discurso de posse como ministro do governo Lula, disse:
A multiplicidade cultural brasileira é um fato. Paradoxalmente, a nossa unidade de cultura – unidade básica, abrangente e profunda – também. Em verdade, podemos mesmo dizer que a diversidade interna é, hoje, um dos nossos traços identitários mais nítidos. É o que faz com que um habitante da favela carioca, vinculado ao samba e à macumba, e um caboclo amazônico, cultivando carimbós e encantados sintam-se – e, de fato, sejam – igualmente brasileiros. Como bem disse Agostinho da Silva, o Brasil não é o país do isto ou aquilo, mas o país do isto e aquilo. Somos um povo mestiço que vem criando, ao longo dos séculos, uma cultura essencialmente sincrética. Uma cultura diversificada, plural – mas que é como um verbo conjugado por essa pessoas diversas, em tempos e modos distintos. Porque, ao mesmo tempo, essa cultura é una: cultura tropical sincrética tecida ao abrigo e à luz da língua portuguesa.
Viva a cultura brasileira! Viva a produção nacional! Viva o novo! Viva o inédito!

O livro A Invasão Cultural Norte-Americana é fruto de um estudo amparado por números e fatos que comprovam o colonialismo cultural que o Brasil se submete aos Estados Unidos. É um livro, é um manifesto, é uma luz que se acende nesse mar de penumbra cultural.

Outras resenhas sobre o assunto:

Daniel Castelo Branco


Destino Manifesto

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/1/12/American_progress.JPG/400px-American_progress.JPG
Esta pintura (cerca de 1872) de John Gast chamada de Progresso Americano é uma representação alegórica do Destino Manifesto. Na cena, uma mulher angelical, algumas vezes identificada como Colúmbia, (uma personificação dos Estados Unidos do século XIX), segurando um livro escolar, leva a civilização para o oeste, com colonos americanos, prendendo cabos telegráficos, por outro lado, povos nativos e animais selvagens são afugentados.
O Destino Manifesto é o pensamento que expressa a crença de que o povo dos Estados Unidos é eleito por Deus para civilizar a América, e por isso o expansionismo americano é apenas o cumprimento da vontade Divina. Os defensores do Destino Manifesto acreditavam que os povos da América não poderiam ser colonizados por países europeus, mas deveriam governar a si próprios.
"Be strong while having slaves", frase de propaganda política do século XIX que usava sua cultura para que pessoas de outros países achassem que os Estados Unidos eram o melhor país do mundo, virando essas pessoas até contra seus países de origem.
O Destino Manifesto se tornou um termo histórico padrão, frequentemente usado como um sinônimo para a expansão territorial dos Estados Unidos pelo Norte da América e pelo Oceano Pacífico 1
As doutrinas do Destino Manifesto foram usadas explicitamente pelo governo e pela mídia norte-americana durante a década de 1840, até a compra de Gadsden (sendo também inclusa a compra do Alasca por alguns historiadores), como justificativa do expansionismo norte-americano na América do Norte. O uso formal destas doutrinas deixou de ser utilizado oficialmente desde a década de 1850 até o final da década de 1880, quando foi então revivido, e passou a ser usado novamente por políticos norte-americanos como uma justificativa para o expansionismo norte-americano fora da América. Após isto, o uso da ideologia do Destino Manifesto deixou de ser empregado explicitamente pela mídia e por políticos em geral, embora alguns especialistas acreditem que certas doutrinas do Destino Manifesto tenham, desde então, influenciado muito as ideologias e as doutrinas imperialistas norte-americanas até os dias atuais 1 .
O presidente James Buchanan, no discurso de sua posse em 1857 deixou bem claro a determinação do domínio norte-americano:
Da mesma forma, o candidato à presidência daquele país, Mitt Romney, que afirma-se mais um homem de negócios do um estadista, no discurso de abertura de sua campanha, em 2012, disse: "Deus não criou este país para que fosse uma nação de seguidores. Os Estados Unidos não estão destinados a ser apenas um dos vários poderes globais em equilíbrio. Os Estados Unidos devem conduzir o mundo ou outros o farão."

Índice

Origem da frase

A frase foi criada pelo jornalista Nova Iorquino John L. O'Sullivan em sua revista Democratic Review. Em um ensaio intitulado "Annexation", no qual exigia dos EUA a admitir a República do Texas na União.
O'Sullivan escreveu:
"Nosso destino manifesto atribuído pela Providência Divina para cobrir o continente para o livre desenvolvimento de nossa raça que se multiplica aos milhões anualmente."
O Texas se tornou um estado estadunidense logo após, mas a frase de O'Sullivan utilizada pela primeira vez atraiu pouca atenção.
Na segunda vez em que utilizou a citação, numa coluna do New York Morning News de 27 de Fevereiro de 1845, O'Sullivan tratava sobre o avanço das disputas de fronteiras com a Grã-Bretanha, onde afirmou que os Estados Unidos tinham o direito de reivindicar "o Oregon inteiro":
And that claim is by the right of our manifest destiny to overspread and to possess the whole of the continent which Providence has given us for the development of the great experiment of liberty and federated self-government entrusted to us. [E esta reivindicação é parte de nosso "destino manifesto" de avançar e possuir todo o continente que a Providência nos concedeu pelo desenvolvimento da grande experiência a nós confiada da liberdade e do auto-governo federalista.]
Isto é, O'Sullivan acreditava que Deus ("a Divina Providência") tinha dado aos Estados Unidos a missão de expandir a democracia republicana ("the great experiment of liberty" - "O grande experimento de liberdade") por toda América do Norte.
Devido a Grã-Bretanha não utilizar Oregon com propósitos de expansão da democracia, acreditava o jornalista, a reivindicação do território pelos britânicos poderia ser desconsiderada.
O'Sullivan acreditava que o Destino Manifesto era um ideal moral (uma "lei superior") que se sobrepunha a outras considerações, incluindo leis e acordos internacionais.

O extermínio dos povos indígenas na América do Norte

No início de sua história, os Estados Unidos eram formados pelas Treze Colônias. Ao se libertar da Inglaterra, houve a necessidade da expansão para o Sul e para o Oeste. O comércio e a indústria estavam crescendo rapidamente, havendo portanto a necessidade de aumentar os seus limites de atuação.
Ao passar do tempo, iniciou um sentido maior de patriotismo no povo das treze colônias. O avanço pelo continente gerou muitas batalhas contra os índios americanos. Nestas batalhas, foram exterminadas muitas nações indígenas que viviam há milhares de anos naquelas terras. Cada vez que havia uma vitória contra o inimigo, firmava-se um sentimento de superioridade sobre os outros povos. Realimentando o sentimento expansionista 1 .
Nesse contexto, pode-se citar Benjamin Franklin quando dizia: "Se faz parte dos desígnios da Providência extirpar esses selvagens para abrir espaço aos cultivadores da terra, parece-me oportuno que o rum seja o instrumento apropriado. Ele já aniquilou todas as tribos que antes habitavam a costa"2

O sentimento de superioridade racial

Esta superioridade acabou se transformando com o tempo na ideologia do Destino Manifesto, que se realimentou e gerando uma ideia fixa da pré-destinação dos norte americanos da época sobre os outros povos americanos descendentes de indígenas, hispânicos, e escravos negros. Capítulo à parte era o sentimento de superioridade racial dos norte americanos sobre os negros - estes, segundo muitos estudiosos da época, eram considerados um elo entre os animais e os seres humanos 1 .

A América para os americanos

Em 1821 o senador por Massachusetts, Edward Everett, demonstrando o pensamento estadunidense sobre os seus vizinhos da América Latina declarou: (sic)..."Nem com todos os tratados que possamos fazer, nem com todo o dinheiro que emprestarmos, poderemos transformar seus Bolívares em Washington".
Quando os norte americanos referem-se a si mesmos como americanos somente repetem a frase mais conhecida do presidente James Monroe, proferida no congresso estadunidense em 1823: "A América para os americanos". o contexto se referia à interferência européia nas então colônias em fase de independência nas Américas. No início do século XX, durante a política do Big Stick de Theodore Roosevelt, foi adotado sentido imperialista conhecido como "Corolário Roosevelt à Doutrina Monroe", consistia em considerar "América para os norte americanos".
A doutrina Monroe consistiu basicamente em três questões:
  • A não intervenção nos assuntos internos da América por países europeus.
  • A não criação de novas colônias por países europeus na América.
  • A não intervenção dos Estados Unidos em conflitos relacionados aos países europeus como guerras entre estes países e suas colônias 1 .

A invasão do Texas

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/8/85/Territorial_Expansion_of_the_United_States_since_1803.jpg/400px-Territorial_Expansion_of_the_United_States_since_1803.jpg
Mapa mostrando a expansão dos Estados Unidos de 1803 a 1912
Entre 1820 e 1830, os norte americanos começaram a invadir lentamente o território do Texas que pertencia à República do México, era uma invasão benigna através da compra de terras, muito baratas. Ao entrar em território mexicano, grandes latifundiários levaram consigo as oligarquias e o trabalho escravo (O comportamento era muito parecido com o coronelismo). No México não havia escravatura, pois era proibida pela Constituição. Em 1835, o governo mexicano aprovou a Constituição Centralista Mexicana, reforçando a proibição da escravidão em território daquele país. Os grandes oligarcas norte americanos donos daquelas terras financiaram então uma revolução e proclamaram a independência do Texas em 1836. Formou-se então a República da Estrela Solitária, que passou a ser um protetorado dos Estados Unidos.

A República do Texas

Tão logo foi reconhecida a independência da República do Texas pelos norte americanos, fez-se um pedido formal de anexação à nação vizinha, sob a alegação de que os laços raciais do povo texano eram muito mais estreitos com os Estados Unidos do que com o México. Desta forma, em 1845, o Texas foi anexado ao território estadunidense.
Segundo informações coletadas da Biblioteca do Congresso estadunidense, que após da libertação do Texas, o povo mexicano da região de fronteira era muito violento, aumentando o índice de criminalidade. Foram necessárias portanto, medidas drásticas de contenção contra os criminosos e bandos de bandidos hispano-americanos.

A Guerra do México e a anexação dos territórios Califórnia, Novo México, Nevada, Arizona e Utah

Estas medidas de contenção do banditismo geraram muitos desentendimentos entre os dois países. Em 1846, houve um conflito de fronteira entre os Estados Unidos e o México. Os norte americanos acabaram declarando guerra ao país vizinho invadindo seu território e "libertando" a Califórnia, Novo México, Nevada, Arizona e Utah.
Metade do território mexicano foi perdida para os Estados Unidos, e grande parte do povo latino da região, ou foi morto, ou expulso para o que restou do México.

Abertura forçada do mercado do Japão

Em 1853 uma esquadra estadunidense força os japoneses à abertura das fronteiras e seus mercados aos Estados Unidos.

A invasão da Nicarágua

Em 1855 o mercenário William Walker desembarcou e atacou a Nicarágua dominando o país declarando-se presidente. Fazendeiros sulistas norte americanos imediatamente fundaram oligarquias na região. Walker porém foi derrotado e fuzilado em Honduras. Muitos dos fazendeiros tiveram que retornar aos Estados Unidos falidos e doentes.

John O'Sullivan e "O destino manifesto"

Em 1857, o jornalista estadunidense John O'Sullivan declarou que: (sic)...seria intolerável que prejudicassem nosso poder, limitando nossa grandeza e impedindo a realização do nosso "Destino Manifesto", que é estendermo-nos sobre o continente que a Providência fixou para o livre desenvolvimento de nossos milhões de habitantes, que anos após anos se multiplicam...

Influência sobre a Teoria do Espaço Vital (Lebensraum em alemão)

O Geógrafo alemão Friedrich Ratzel visitou a América do Norte no início de 18733 e se impressionou com a doutrina do Destino Manifesto nos EUA4 . Ratzel simpatizava com os resultados do "Destino Manifesto", mas ele nunca usou o termo. Em vez disso, ele contou com a Tese da Fronteira de Frederick Jackson Turner5 . Ratzel promoveu colônias ultramarinas para a Alemanha, na Ásia e África, mas não uma expansão em terras eslavas6 . Depois alguns alemães reinterpretaram Ratzel para defender o direito do raça alemã de expandir na Europa, essa noção foi mais tarde incorporada na ideologia nazista4 . Harriet Wanklyn argumenta que os políticos distorceram a teoria de Ratzel para objetivos políticos7 .

A guerra contra a Espanha e a invasão dos territórios hispânicos

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3a/Magnifying_glass_01.svg/17px-Magnifying_glass_01.svg.pngVer artigo principal: Guerra Hispano-Americana
Em 1898, com a explosão de um navio estadunidense chamado Maine em Cuba, os EUA declaram a guerra contra a Espanha, os territórios espanhóis no Caribe e no Pacífico foram invadidos. Cuba permaneceu ocupada até 1902, sendo liberada pelos norte americanos depois da aprovação da emenda Platt. A emenda Platt era uma lei que dava direito aos norte americanos de invadir Cuba a qualquer momento em que interesses dos Estados Unidos fossem ameaçados. Esta lei permaneceu mantendo Cuba um protetorado estadunidense até 1933.

A anexação do Hawaii

Em 1898 o congresso estadunidense aprova a anexação das Ilhas do Havaí.

A Conferência Pan-americana

Em 1890, aconteceu a primeira Conferência Pan-americana. Esta propunha uma moeda comum no continente americano, o dólar, uma união aduaneira, um conselho de arbitragem de conflitos militares e econômicos em Washington, além de cobrança de tributos de proteção. O Brasil e a Argentina se opuseram, receberam retaliações econômicas do bloco liderado pelos norte americanos. Contra o Brasil, a principal retaliação foi o encerramento da importação do látex, contra a Argentina, a importação de gado e de trigo.

Roosevelt e o Big Stick

Em 1901 Theodore Roosevelt assumiu a presidência dos Estados Unidos, sua máxima era (sic)...Fale suave, mas tenha nas mãos um grande porrete que será bastante útil..., esta foi chamada da política do Big Stick. Seguindo esta orientação, sob os mais diversos pretextos os Estados Unidos ocuparam em nome da democracia Cuba entre 1906 a 1909, em 1912 e 1917 a 1922, o Haiti entre 1915 a 1934, a República Dominicana entre 1916 e 1924 e a Nicarágua entre 1909 a 1910 e 1912 a 1933.

O Canal do Panamá e a liberdade do povo panamenho

A região do Canal do Panamá pertencia à Colômbia, por uma questão de soberania os colombianos não aceitaram a proposta estadunidense da construção de um canal em seu território. Em 1903, o Senado da Colômbia negou-se a ratificar o Tratado de Hay-Herrán, que estabeleceria o arrendamento aos Estados Unidos de uma faixa de território do istmo do Panamá para construírem um canal e ter seu uso exclusivo por 100 anos. Como conseqüência os Estados Unidos insuflaram uma guerra separatista na região. Depois da intervenção de tropas estadunidense foi criado o Panamá, país que ficou sob o protetorado dos norte americanos. Em troca foi cedida a região para a construção do canal e o direito de explorá-la para sempre pelos norte americanos. Em meados de 1975, sob muita pressão internacional, e depois de muitos anos de negociações, os Estados Unidos aceitaram entregar o canal para o Panamá em 1999.

Os donos do Brasil

Todos os países da América sofreram em maior ou menor grau o efeito da doutrina do Destino Manifesto. Ora com intervenções militares, ora econômicas, políticas ou ideológicas. No Brasil também houve o domínio e compra de muitas terras gerando gigantescos oligopólios e a compra de companhias brasileiras por muitos empresários norte-americanos do início do século XX até a década de cinqüenta do mesmo século. Grande parte das atividades de extrativistas, construção de estradas de ferro, rodovias, mineração, geração de energia elétrica, águas e esgotos, transportes, indústrias de papel, metalúrgicas, mecânicas, navais entre outras, pertenciam àqueles grupos.

Percival Farquhar

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3a/Magnifying_glass_01.svg/17px-Magnifying_glass_01.svg.pngVer artigo principal: Percival Farquhar
De todos que vieram ao Brasil, o mais conhecido foi o norte-americano Percival Farquhar, o dono da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, que ficou mais conhecida como a Ferrovia do Diabo, em cuja construção morreram muitos milhares de trabalhadores que viviam na selva amazônica sob as mais precárias condições de trabalho sub-humano e semi-escravidão. Em todo Brasil o senhor Farquar tinha suas indústrias voltadas quase que unicamente para o extrativismo vegetal e mineral. No Sul do Brasil no Estado Paraná, a empresa colonizadora pertencente ao empresário derrubou e enviou documentados mais de 250 milhões de pinheiros, estima-se que somada ao envio ilegal, a remessa chegou na ordem de 750 milhões de pinheiros, praticamente extinguindo toda a fauna e flora dependente das florestas de araucárias do Estado. No Estado de Santa Catarina a cifra ultrapassou à casa de 800 milhões de árvores retiradas com a conseqüente destruição da fauna e flora. Para remeter toda esta madeira para os Estados Unidos foram construídos milhares de quilômetros de estradas de ferro, no interior do Paraná e Santa Catarina. Quem pagou a construção destas ferrovias para uso particular do grupo norte-americano, foi o Governo Brasileiro. Uma das conseqüências das mazelas de uma de suas empresas, a Southern Brazil Lumber & Colonization Company foi a Guerra do Contestado, após a demissão de milhares de operários que haviam sido contratados para a construção da ferrovia.

América do Sul

Em todos os outros países da América do Sul, também houve a invasão benigna de empresas norte-americanas. Da Argentina foram levadas as mudas da Cola, da Bolívia, Colômbia, etc mudas de Coca, ambas destinadas à fabricação do refrigerante mais bebido do mundo 8 . Da Amazônia foram retiradas as mudas da Seringueira, além de muitos outros vegetais e minerais.

A conquista dos corações americanos

No final da década de 1930, seguindo sua doutrina do Destino Manifesto os Estados Unidos iniciaram sua fase de conquista dos "corações e mentes" da América (toda a América, não só a do norte). Começou a campanha de penetração cultural norte-americana ostensiva no Brasil e nos outros países americanos. O “american way of life” foi sendo introduzido gradativamente na sociedade latino-americana. No caso do Brasil, o plano era uma estratégia dos Estados Unidos para incentivar a solidariedade hemisférica de forma a enfrentar a influência do Eixo e consolidar-se como grande potência. O início da campanha foi a propagação através da propaganda dos "valores pan-americanos" , isto ocorreu durante as conferências interamericanas. Em agosto de 1940, foi criado o “Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (OCIAA)” 9 , era um escritório chefiado pelo empresário Nelson Rockefeller vinculado ao Conselho de Defesa Nacional dos Estados Unidos.

Office of the Coordinator of Inter-American Affairs - OCIAA

As divisões da agência continham setores de relações culturais, comunicações, saúde, relações comercial e financeira 9 . Havia ainda diversas fundações dirigidas por senhoras de empresários americanos com a finalidade de filantropia e ajuda humanitária. Portanto, todas as atividades eram isentas de impostos e ainda recebiam dinheiro do governo brasileiro para atuarem em todo o território nacional. O OCIAA 9 , se subdividia em seções: música, cinema, imprensa, literatura, rádio, arte, finanças, exportação, problemas sanitários, transporte e educação infantil. O OCIAA atuou de forma ostensiva com o DIP 10 , principalmente nas pesquisas e implementação de técnicas para a criação de cartilhas escolares 9 .

O OCIAA na Imprensa e meios de comunicações brasileiros

Quando atuava nas áreas de informações e comunicações, a agência norte-americana veiculava na imprensa brasileira factóides favoráveis aos Estados Unidos. Difundiu no Brasil as técnicas mais modernas de manipulação comportamental mediante imagens agradáveis ligadas a tudo que era norte-americano 10 11
Difundiu por anos a impressão de que os produtos importados dos Estados Unidos faziam parte da moda e que produtos nacionais eram somente aceitos pela classe baixa da população, fomentou a diferenciação de classes e a criação de serviços de primeira classe para quem podia pagar e de segunda classe para quem não podia pagar 10 .
Este tipo de propaganda fez a classe média iniciar a onda consumista já no início da década de 1950, acelerando o comércio e a importação de produtos norte-americanos, principalmente automóveis e eletrodomésticos 10 .
Foram implantadas técnicas de publicidade no jornalismo nacional. Para isso era necessária a importação de equipamentos daquele país para transmissão e recepção de radiofotos, de forma a demonstrar a modernidade da imprensa norte-americana 10 .

A publicidade a serviço do domínio

Sob a coordenação do OCIAA, se iniciou uma campanha publicitária direcionada à classe média brasileira. Eram incentivados o luxo e o consumismo através das roupas caras e apetrechos de luxo de grande apelo popular 10 .
Os programas radiofônicos e as produções cinematográficas davam ênfase aos produtos de consumo, principalmente eletrodomésticos. A propaganda massificava a população e era largamente utilizada como um dos mais importantes instrumentos de propaganda da guerra 10 .
Programas de rádio transmitidos do território americano tinham penetração em todo o Brasil. O OCIAA através da rádio A Voz da América com suas antenas voltadas para o Brasil apresentava a cobertura em tempo real da guerra com slogans incitando aos brasileiros o quanto era bom ser "americano", há que se lembrar que brasileiros não são bem vindos em território americano 12
As transmissões divulgavam durante todo o tempo a cultura norte-americana, seus usos e costumes. Eram reforçadas as publicidades direcionadas principalmente à classe média e aos jovens de faixa etária entre vinte e cinco e trinta anos em programas radiofônicos.
Bons exemplos de propaganda de guerra foram programas como "O Brasil na Guerra", "A Família Borges" e "Barão Eixo".

O uso do cinema

Os filmes de ficção e documentários norte-americanos tinham o papel de difundir a ideologia e cultura dos Estados Unidos, para tal, OCIAA usava as indústrias cinematográficas de Hollywood 9 .
O OCIAA evitava mostrar para a América Latina em seus filmes os costumes norte-americanos que poderiam a vir a ofender os brios e o modo de vida latino 9 .
Exemplo típico foram os famosos foras da lei mexicanos, tão comuns nos filmes de bang-bang. Estes foram eliminados das produções de Hollywood para evitar mal-estar entre os latinos.
Outro exemplo comum utilizado até a atualidade que procura disfarçar a discriminação racial contra os negros e latinos, bastante comum nos Estados Unidos eram, e ainda continuam sendo os filmes policiais dirigidos para a América Hispânica e Brasil. Nos filmes os policiais negros são companheiros inseparáveis de policiais brancos.
No caso de filmes dirigidos e exportados para a Argentina, e outros países hispânicos evitavam ofender os brios e o machismo dos latino-americanos, enaltecendo a masculinidade e a feminilidade latinas.

Disney

A criação de personagens para fomentar a política de boa vizinhança continental foi muito utilizada sob o comando do OCIAA 9
Assim, os Estúdios Disney, criaram o papagaio Zé Carioca com a firme proposição de influenciar as crianças brasileiras em serem amigos das crianças norte-americanas, preparando as latinas para serem lideradas por aquelas no futuro 13 . O filme Alô Amigos demonstra bem a manipulação comportamental onde o "simpático e falador papagaio" enfatiza a amizade com o "nervoso e temperamental" Pato Donald, naturalmente a mensagem passada é que o papagaio aceita a liderança do pato em todas as ocasiões 14

A preparação para a invasão

Devido à grande quantidade de trabalhadores estrangeiros que morreram durante as construções de ferrovias e rodovias por empreiteiros norte-americanos no Brasil desde o início do século XX, o OCIAA sabia que existiam doenças tropicais no território nacional que matavam indivíduos que não tinham imunidade àquelas enfermidades.
As principais doenças pesquisadas "humanitariamente" foram a malária e a Febre amarela. Visando "ajudar" a população enferma brasileira no controle das doenças, o OCIAA iniciou um ostensivo programa de educação médica e treinamento de enfermeiros brasileiros e estrangeiros nas selvas brasileiras.
Embora negado, sabe-se que o objetivo principal não era obter a aprovação da população à atuação da agência no Brasil. O povo sertanejo em grande parte pois grande parte era e é imune às várias endemias que assolam as florestas do Brasil, na realidade as pesquisas iam muito mais além.
As forças armadas norte americanas precisavam preparar o terreno para a provável chegada e manutenção de suas tropas e empresas mineradoras em território brasileiro com a finalidade de extrair materiais estratégicos a serem fornecidos às suas indústrias bélicas. Todas as jazidas conhecidas então na América do Norte estavam sendo exploradas e muitas estavam se exaurindo. Conforme acertado nas negociações em que ocorreu o alinhamento brasileiro à política norte americana, o Brasil passaria a ser um protetorado daquele país na época da Segunda Guerra Mundial por não ter poderio bélico suficiente para se defender de um inimigo externo 10 .
Foram construídas então bases aéreas, navais, fábricas de armas, metalúrgicas e siderúrgicas com financiamento oferecido por banqueiros norte-americanos sob o aval do Ministério da Defesa daquele país. A única condição era que as "empresas" fundadas deveriam ser orientadas por empresas de consultoria norte-americana e que a tecnologia e insumos deveriam ser comprados dos norte-americanos 10 .
Foi acertado também que certas ligas metálicas e certos artefatos não poderiam ser construídos em território brasileiro para salvaguardar as patentes de produtos daquela nação. Foi este o motivo em parte do atraso do Brasil em produzir certas ligas de aço resistentes e de não produzir ligas metálicas nacionais para solda elétrica até a década de 1950.

Carmem Miranda, o Zé Carioca, Coca-cola, a obrigatoriedade do ensino do inglês nas escolas públicas e as fábricas de cigarros

A portuguesa Carmem Miranda naquela época se tornou o símbolo da cultura brasileira nos Estados Unidos. O papagaio Zé Carioca ajudou a construir o estereótipo do brasileiro simpático e malandro, não muito chegado ao trabalho 10 .
A poderosa Coca-Cola utilizando de propaganda maciça, principalmente no cinema, iniciou uma campanha lançando "modismos" como novas vestimentas, roupas de praia e banho para senhoras e senhoritas, dando ênfase às formas femininas e à sensualidade acabou por substituir o consumo pela classe média dos sucos naturais. A família brasileira deixou então de beber a limonada, a laranjada, o suco de melancia, o suco de abacaxi e demais sucos de frutas tropicais. Um detalhe importante era a ênfase dada pelo fabricante norte-americano de que sua bebida deveria ser consumida pelas "famílias de bem", dando margem subliminar de que os consumidores de sucos não eram "consumidores premium" 10 .
O ensino de línguas estrangeiras nas escolas brasileiras, a exemplo do latim, do francês e do espanhol, passou a ser desestimulados pelo governo brasileiro influenciado pela propaganda norte-americana 10 .
As escolas estaduais passaram a ser obrigadas pelas esferas federais a substituir o ensino de quaisquer idiomas pelo inglês. No Estado de Santa Catarina, de forte influência de colonização alemã, o uso da língua germânica pela população passou a ser proibido e punido com prisão. As escolas que ensinavam aquela língua passaram a ser fechadas caso não mudassem o ensino para o inglês 10 .
O idioma inglês passou já naquela época a ser considerado a língua de "pessoas cultas". Nas reuniões, era de bom tom se referir em diversas ocasiões em idioma inglês para as mais diversas situações. Eram consideradas "charmosas" as expressões: "Oh my God", "My baby", "My little bear", etc.
Nas escolas, principalmente nas "particulares", era moda o uso de roupas de corte norte-americano entre os adolescentes já no início da década de 1950 10 .
  • O vício do fumoiniciou sua caminhada pela publicidade dirigida a crianças através de pequenos "cigarros de chocolate" distribuídos nas escolas públicas. Era comum ver crianças de 6, 7 anos de idade na década de 1950 e 1960 sorvendo pequenas barras de chocolate idênticas aos cigarros que os adultos fumavam. As caixas onde eram acondicionados "os cigarrinhos de mentirinha" eram idênticas às carteiras dos cigarros verdadeiros. As crianças andavam às mãos de seus pais segurando os "cigarrinhos" da mesma forma que os adultos.
Nos "filmes de guerra" norte-americanos não eram raras as cenas de oferecimento de "cigarros americanos", inclusive entre os "inimigos" transmitindo assim a mensagem de que os "companheiros de vício" não tinham fronteiras.
Embora a venda e consumo de cigarros no Brasil tenha tido sua primeira onda na década de 1920, foi na época da Segunda Guerra Mundial que as grandes multinacionais do fumo norte-americanas (as européias seguiram a onda em seguida) tiveram uma verdadeira explosão das exportações do cigarro industrializado para o Brasil.
A aceitação do vício entre crianças e os adolescentes (além dos adultos) foi tão grande que as empresas se apressaram em construir novas fábricas no Brasil no final da década de 1940. As marcas Camel, Chesterfield, Pall Mall, Marlboro, Hollywood entre outras européias e norte-americanas tiveram no início da década de 1950 uma grande explosão de vendas. A população estava viciada em produtos norte-americanos.

O intervencionismo norte-americano contra o comunismo

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3a/Magnifying_glass_01.svg/17px-Magnifying_glass_01.svg.pngVer artigo principal: Intervencionismo
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a conseqüente derrota do eixo, os Estados Unidos fizeram ser aprovada a Declaração de Solidariedade para a Preservação da Integridade Política dos Estados Americanos Contra a Intervenção do Comunismo Internacional, esta era a nova maneira dos norte-americanos continuarem sua presença nas Américas.

O comunismo

Agora era a vez do Comunismo; documento datado de março de 1954 afirmava que "(sic)...que o domínio ou controle das instituições políticas de qualquer Estado americano por parte do movimento internacional comunista, que tenha por resultado a extensão até o continente americano do sistema político de uma potência extracontinental, constituiria uma ameaça à soberania a à independência política dos Estados americanos, o que poria em perigo a paz da América".

Domínio político versus domínio econômico-financeiro

Porém tomando-se o intenso interesse de grandes grupos empresariais dos Estados Unidos em expandir suas empresas, por exemplo, na China, um país de governo comunista, pode-se concluir que, na verdade a pretensão de domínio mundial dos EUA não se dá na área política mas sim na esfera econômica. Ou de outra forma, o domínio do Estado através de subjugá-lo ao poder financeiro.
Dessa forma conseguiríamos entender o porquê de seu sistema eleitoral não tomar o voto como, ao mesmo tempo, um direito e um dever, como ocorre no Brasil, por exemplo. O voto, nos EUA, é facultativo às pessoas comuns. Se tomarmos o voto como expressão legítima de cidadania (não há como fugir do fato de que nós, as pessoas comuns, somos obrigatoriamente cidadãos de algum lugar e, ao mesmo tempo, temos o direito pleno a essa cidadania, conforme a Declaração dos Direitos Humanos), corromper essa natureza da cidadania, a saber, seu caráter a um tempo, de dever e de direito teria, como consequência, o estabelecimento da possibilidade da pessoa vir a ter o status de "quase-cidadão". Esse enfraquecimento da noção de cidadania aponta para o fato de que a noção de Estado, de Governo, nos EUA não é tão importante quanto a noção de poder econômico. O que legitimaria uma pessoa em sua cidadania estaria mais relacionado, dessa forma, a seu poder econômico e não à noção de existência nacional.

A eclosão de golpes por toda a América

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/3a/Magnifying_glass_01.svg/17px-Magnifying_glass_01.svg.pngVer artigo principal: The War on Democracy
Golpes militares começaram a derrubar presidentes dos vários países das Américas.15 Foi derrubado Jacobo Arbens na Guatemala, Vargas no Brasil, entre outros 16 .
Em 1962, Cuba foi excluída da OEA. Em 1964 com o apoio da Operação Brother Sam houve o Golpe Militar de 1964 no Brasil. Em seguida, diversos países da América Latina tiveram seus governos derrubados por golpes e contra-golpes 17
Devido a estes movimentos revolucionários e contra-revolucionários, os países da região perderam completamente o controle econômico, a região se transformou num caos, e as populações começaram a ser massacradas pelas mais diversas ditaduras militares 16 .

As economias implodidas

Na América do Sul, o empobrecimento real transformou economias de países em meras dívidas externas impagáveis
18 .
À cada revolução, golpe e contra-golpe, sempre havia "alguém" pronto para emprestar o dinheiro necessário à conquista da "liberdade democrática" .
Atrás disso vieram os empréstimos para o "desenvolvimento" dos países do bloco americano, estes se endividaram novamente e tiveram que contrair mais empréstimos para pagar as dívidas geradas pelos golpes. Necessitavam de novos e novos empréstimos para pagar os juros que explodiram com as "crises" internacionais, do petróleo, etc.
Com a queda da União Soviética, os norte-americanos continuaram acreditando na sua doutrina do destino manifesto. Agora como maior potência militar e econômica do Planeta iniciaram a aculturação de outras nações sob o pretexto de combater o "terrorismo internacional".

O século XXI

Iniciando o século XXI, aconteceu a tragédia dos ataques terroristas às torres gêmeas.
Os Estados Unidos se viram frágeis, pois jamais haviam recebido um ataque tão violento em seu território no próprio continente.
Sua resposta foi a invasão do Afeganistão e do Iraque. O custo financeiro, político e moral do povo norte-americano está sendo gigantesco, e está colocando em xeque a sua doutrina do destino manifesto 19

Bibliografia

Referências

·  Manifest Destiny: A Study of Nationalist Expansionism in American History. WEINBERG,Albert Katz. Ams Pr Inc; 1st AMS ed edition (June 1976), ISBN 9780404147068
·  ·  "Wrintings" (org.) J. A. Leo Lemay, Library of America, New York, 1987, p. 1.422 apud Losurdo, Domenico in Contra-História do Liberalismo, 2006, p. 30
·  ·  Mattelart, Armand. The Invention of Communication, pp. 212–216. University of Minnesota Press, 1996. ISBN 0-8166-2697-9
·  ·  Klinghoffer, Arthur Jay. The power of projections: how maps reflect global politics and history (O poder das projeções: como mapas refletem a política global e a história). Greenwood Publishing Group, 2006. ISBN 0-275-99135-0, p. 86.
·  ·  AAtlantic Monthly, janeiro 1895, pp. 124-128. "A German Appraisal of the United States" (Uma Avaliação Alemã dos Estados Unidos), em inglês, Página visitada em 17 de outubro de 2009
·  ·  Woodruff D. Smith, "Friedrich Ratzel and the Origins of Lebensraum",German Studies Review, vol. 3, No. 1 (fevereiro de 1980), pp. 51-68 JSTOR
·  ·  Wanklyn Harriet, Friedrich Ratzel: A Biographical Memoir and Bibliography(1961), pp 36-40
·  ·  (em inglês) IMDB - Documentário The War on Democracy. Acessado em 19 de Maio de 2010.
  1. ·  STIGLIZ, Joseph e BILMES, Linda. The three trillion dollar war The cost of the Iraq and Afghanistan conflicts have grown to staggering proportions London: The Times, 23 de fevereiro de 2008
·         http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/0/01/A_coloured_voting_box.svg/25px-A_coloured_voting_box.svg.pngPortal da política


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Ignorando a Democracia



Ignorando a Democracia


Os esquerdistas, os vermelhos que hoje são condenados por Bolsonaro e seus seguidores, e ameaçados de serem amanhã perseguidos..., ontem lutaram contra uma ditadura civil-militar da qual Bolsonaro fazia parte e as defendida de arma na mão, para que o povo brasileiro, dentre ele Bolsonaro e os seus, tivesse nos últimos 30 anos o prazer, o gozo, a alegria, a satisfação de ter uma democracia com a liberdade de ser o que são, de falar/dizer o que falam/dizem e de fazer o que fazem. E que infelizmente ignoram isso. Ignoram o valor de uma democracia, o valor da liberdade.

Portanto, como é frustrante, decepcionante, desalentador, triste para nós que lutamos há pouco tempo contra a ditadura no Brasil, por liberdade, por democracia, vê agora a nação entregue gratuitamente ao nazi-fascismo pela sua própria população “majoritária eleitoralmente” e que se encontra em estado de júbilo pelo feito!! Não sabendo ela que a democracia com a liberdade de ser o que são, de falar/dizer o que falam/dizem e de fazer o que fazem, infelizmente pode não existir mais a partir de amanhã por pura ignorância coletiva!!

Quem ignora a Democracia e a Liberdade que tem é porque nunca lutou, nunca sofreu para tê-las!!

Professor Negreiros
Também Radialista e Ativista Digital.
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BELEZA DIFÍCIL

ANTROPOSMODERNO
Toda Beleza é difícil
Marcia Tiburi asmulhereseafilosofia@ieg.com.br
Desde que a filosofia - marcada pela autocrítica - é capaz de avaliar o caráter patriarcal da racionalidade [1] , é possível buscar uma leitura do cânone filosófico exposto nos textos dos filósofos, de modo a pôr em questão o elemento sexual, ao lado do sexismo,ao lado da mulher tomada como tema, ao lado da discussão filosófica sobre gênero.

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Esboço de crítica sobre as relações entre Metafísica, Estética e Mulheres na Filosofia.

“ O caos deve resplandecer no poema sob o véu incondicional da ordem ”.

Novalis

A ESTÉTICA COMO PANDORA: O SEXO DAS IDÉIAS E DOS SIMULACROS

Desde que a filosofia - marcada pela autocrítica - é capaz de avaliar o caráter patriarcal da racionalidade [1] , é possível buscar uma leitura do cânone filosófico exposto nos textos dos filósofos, de modo a pôr em questão o elemento sexual, ao lado do sexismo, ao lado da mulher tomada como tema, ao lado da discussão filosófica sobre gênero. Essa ênfase é, com certeza, uma tomada de posição teórica na qual se impõe a tentativa de “lógica do desmoronamento”, pois me parece hoje inevitável que um enfrentamento conseqüente desse problema traga também em alguns aspectos, senão a derrocada do discurso filosófico – o que me parece um exagero falacioso –no mínimo, o esfacelamento de alguns de seus momentos e posicionamentos mais preciosos. Se o discurso filosófico e a racionalidade que o sustenta - ou constrói - estrutura-se como patriarcal (originalmente significando apenas a concentração do poder entre os varões para dominar e subjugar as mulheres) no sentido de um imperialismo da razão sobre seu outro (a alteridade em diversas de suas formas, e o que nos ocupa aqui: a natureza e todo o seu simbolismo feminino e o feminino e todo o seu simbolismo natural - e teríamos que questionar a construção da idéia de natureza em filosofia no que concerne ao ideal de dominação das mulheres [2] ) encontramos aberta a possibilidade de pensar - desde este momento paradigmático do patriarcalismo da razão - a construção dos objetos do conhecimento da razão e do discurso filosófico. A instauração das disciplinas da filosofia evidencia esta construção e o lugar preparado e ocupado pela Estética pode ser revelador da postura patriarcal da razão. O lugar onde podemos chegar ao buscarmos alguns aspectos da fundação da disciplina denominada Estética pode pertencer ao mesmo liame que define a fundação e manutenção do sexismo em filosofia (lembremos que na Antigüidade clássica, o conhecimento filosófico dividia-se em Física, Lógica e Ética). Mas seus avatares encontram-se em momentos bastante remotos, muito mediatizados. Em torno a isso, há que se percorrer algumas pistas e esboçar possibilidades de interpretação.

A equação analógica homem/razão/metafísica serve como contraponto à equação mulher/natureza/estética. O campo analógico é ampliável considerando o posicionamento do “outro da razão” no qual o corpo, a matéria, a fantasia, a arte e todo discurso da expressão ficam associados ao feminino e à mulher. A metafísica construída sob o apanágio da razão, como o discurso por excelência da razão filosófica, encontra-se como lugar positivo à margem da qual surge a estética como discurso do “conhecimento inferior”, o discurso do “outro da razão”. A forma como o conceito de belo migra da metafísica (constituindo a tríade belo-bom-verdadeiro) e se torna objeto de discurso da estética permite reconhecer que a construção deste lugar especial é marcado por uma forte ideologia patriarcal. Cabe reconhecer se isto define um momento inescapável da razão ou se, por outro lado, a razão pode ser salva, neste caso de si mesma (e através de si mesma), novamente (e desde Kant) de (e em) seu próprio tribunal, sendo seu próprio espelho (talvez gorgônico); se pensá-la como patriarcal é ter em mente a idéia de uma totalidade absoluta que a define, ou se o patriacado é uma das marcas de uma racionalidade concebida como caco, fragmento, de um grande mosaico de racionalidades; se ela é uma construção do patriarcado, um mero instrumento seu, ou se ela pode ser o meta-discurso capaz de auto-crítica consistente que, em alguns de seus aspectos constrói o patriarcado enquanto, em outros, é capaz de produzir emancipação em relação a ele.

A instauração da estética como disciplina se dá como forma de “disciplinamento” de conteúdos mais ou menos intocados pela razão - nos quais, todavia, ela pretende tocar (por isso ela é uma disciplina que tem na racionalidade o instrumento para tratar da sensibilidade e do conhecimento dos sentidos) - e que fazem sua aparição no cenário das mais variadas tentativas de sustentação da metafísica, tratada aqui no sentido bastante amplo e, do ponto de vista de seu conceito, como a construção filosófica de idéias, conceitos, teorias, por oposição à matéria e o que possa remeter ou conectar-se facilmente a ela, o que possa ser seu atributo ou corolário. A instauração da estética no século XVIII se dá no período da crítica da metafísica dogmática, num período em que as ciências devem dividir-se para melhor contemplarem objetos de investigação segundo pressupostos racionalistas, como forma de efetivação de um método da razão que encontra seu manancial seguro no posicionamento cartesiano. A criação da Estética deixa à luz (como em uma certeza cartesiana reabilitada no Iluminismo) de modo enfático que existem conteúdos que merecem uma disciplina, conteúdos que não podem ser deixados à cegueira de si mesmos, pois na Metafísica(como ciência, em Kant) teremos que a razão procurará compreender a si mesma através de si mesma (o método é tão racional e lúcido quanto o objeto), mas na Estética a razão terá de se ver com seu outro (o método enfrenta-se com um objeto que não se dispõe à tal lucidez). Assim, a partir desta busca por racionalizar o não racionalizável (a sensibilidade) que constitui a Estética no seu nascedouro, encontraremos importantes desvios e atalhos nos séculos posteriores.

O caminho destinado à Estética desviará de si mesmo:aquela disciplina que deve transformar em transcendental os conteúdos empíricos, acabará por apontar e favorecer o lugar do que podemos chamar o mal em filosofia. Se ela é a representante dos conteúdos da aparência, ela também o será dos conteúdos abjetos para a razão, de tudo o que representou o oposto à racionalidade ao longo do processo de construção do lógos até po século XX. Se ela será a disciplina que deve traze-los ao conceito e assim exorcizá-los, no séc. XX ela bem pode ser a “indisciplina” enquanto método, a esfera da investigação que rompe com o ideal do método e o reinstaura ao perder domínio sobre seu objeto e explicitar essa derrocada, a propósito possibilitada pela fundação da estética como teoria (primeira?) na obra de Th Adorno, que se estrutura ao ser manchada pelo seu objeto. O momento em que o possível “caráter feminino” apresenta seu instante emancipatório é aqui percebido e poderia ser reinterpretado também em termos metafísicos e éticos.

O conceito de beleza pode servir como articulador desta tentativa de compreensão da metafísica que se elabora, no que concerne ao conceito de belo, como Estética. O conceito de belo, todavia não é um apanágio da Estética desde o séc. XVIII; ele pertenceu, nos primórdios da filosofia, ao âmbito do que Platão denominou Erótica e que designava a filosofia enquanto método. Foi na Erótica que a tríade metafísica belo-bom-verdadeiro adquiriu historicamente o seu máximo sentido e que pode agora mostrar a idéia de um “subtexto de gênero” [3] , algo como um elemento subcutâneo à exposição filosófica e que pode ser o contra-fundamento da metafísica, talvez a face oculta do princípio de identidade, em sua base (patriarcal), um princípio de dominação do mesmo sobre o diferente, da razão sobre seu outro. Todavia, se a linguagem instaura-se sobre a identificação, seria ela também patriarcal? Como escapar dessa adjetivação? Toda a instauração discursiva, que se dá em definições, abre para um subterrâneo do discurso posposto como avesso e negativo – e a hipótese desse texto é a de que a Estética seja o avesso complementar da Metafísica, tanto quanto de que o feio seja o avesso do belo -, cabe avaliar o estatuto destas definições e de suas negações e perceber como podem levar à construção da imagem da mulher ideal como “bela” e “burra”, em outras palavras, como se constrói a relação enfática entre o universo da estética e o do “não-espírito” e de como a mulher se torna sua representante.


A perquirição sobre o conceito de beleza pode segu pelo menos dois caminhos: o primeiro diz respeito a uma reconstrução histórica na qual uma coleção de idéias sobre o tema pode ser apresentad a partir de uma escavação literário-filosófica e até filológica. Poderíamos apenas retraçar a evolução da percepção sobre o belo ao longo da história humana buscando suas definições. O segundo refere-se à possibilidade de rastrear nesta história positivamente construída, aquilo que nela ficou oculto ou escamoteado, neste caso o conceito do feio. Em relação ao tema que aqui nos une, precisamos seguir os dois, ou seja, rastrear o significado do conceito do belo tanto quanto repensá-lo à luz de seu oposto ou, para aproveitar um trocadilho a ser avante esclarecido, à sombra de seu oposto. Em outras palavras, teremos que nos haver com o conceito de feio e compreender em que medida o ideal da beleza construiu-se como sua domesticação.

Nessa escavação, torna-se relevante uma breve compreensão do arcabouço histórico e do lugar a partir do qual tal problematização adquire sentido, ou seja, o âmbito do cenário teórico em que as idéias em jogo fazem sua aparição. Há na história da beleza um instante em que se subordina a investigação possível à construção da disciplina capaz de comportá-la e essa subordinação terá a função de cárcere. Se tomamos como base o pressuposto bastante comum de que a filosofia surge alguns poucos séculos antes de Cristo por obra do espírito grego – e haverá quem ponha isto em dúvida – e, aos poucos, vai firmando subdivisões no que se refere aos objetos de sua investigação, todavia, a sua separação em disciplinas ou em espaços especializados apenas ocorre tardiamente no que se refere à Estética e a sua instauração – como sói acontecer em filosofia - será definitiva para a sujeição dos objetos do conhecimento que lhe correpondem posto que a construção da disciplina erige-se a partir de uma concepção de método e de objeto: que o método original seja o resultado do posicionamento cartesiano de Baumgarten e Wolff não define a única via pela qual a estética pode se instaurar. Através da instauração da disciplina denominada estética reproduzem-se os avatares sempre historicamente renovados da menorização e marginalização de seus conteúdos tanto quanto se lança esta mesma perspectiva para o futuro da filosofia. A seqüência a ser desvendada coloca a estética circunscrita ao ambit de uma concepção de filosofia como “erótica” fundada no ideal de um amor/desejo masculino e homossexual desde sua base epistemológic- que lhe definirá o método -, coloca a beleza subordinada a est ideal – a beleza como beleza do corpo masculino - e impõe a pergunta pelo lugar do corpo e da beleza femininos no processo de instauração da filosofia. Não seria a estética a disciplina que guardaria uma afinidade – no que se refere ao método e ao conteúdo – com o dado cultural que entrou na história da filosofia como o “feminino”? Não guardaria ela os conteúdos traiçoeiros da metafísica que impediriam a construção da perspectiva neutra da racionalidade, da verdade, do conceito? A estética não seria uma espécie de Pandora [4] na história da Filosofia? Enquanto erótica a filosofia não estaria, todavia, fortemente marcada pelo caráter estético? Se responde-se a isso afirmativamente, então a questão a se colocar não seria a da busca pela compreensão do recalque do momento estético que vem a configurar a história inteira da metafísica?


Se os gregos usavam a palavra aisthésis (?????????)para designar os sentidos [5] -, será apena no séc. XVIII que Alexander Baumgarten [6] ocupar-se-á de separar uma “ciência do conhecimento sensitivo” dos demais âmbitos de investigação da filosofia. Tal ciência será, segundo sua definição, uma “teoria das artes liberais”, uma “gnosiologia inferior”, uma “arte de pensar de modo belo”, uma “arte do análogon da razão”, mas, será substancialmente uma “ciência” ao mesmo tempo que um “arte”, para ele maneiras de ser que não se opõem (§ 10). O fim, segundo ele, visado pela Estética é a “perfeição do conhecimento sensitivo como tal”, ou seja, a beleza; sua imperfeição é o “disforme” que “como tal deve ser evitada” (§ 14). A “beleza universal do conhecimento sensitivo” (§ 18) não deve ser todavia confundida com a beleza do conhecimento nem com a dos objetos e da matéria, mas ela é “o consenso dos pensamentos entre si em direção à unidade; consenso este que se manifesta como a beleza das coisas e dos pensamentos” (§ 18). Baumgarten, mais adiante dirá que não existe perfeição sem ordem na preocupação de definir uma “beleza da ordem” que deve se manifestar no discurso, no gesto, na exposição dos conhecimentos. Esta beleza universal da qual ele fala, diz respeito ao “estabelecimento das regras no ato de conhecer” (§ 25) e se refere igualmente a uma noção de elegância tributária, em última instância, da retórica (“existem tantas figuras quantos são os tipos de sentenças e os tipos de argumentos”), depois disso o texto de Baumgarten se ocupará em definir o caráter do esteta de talento (quem será “capaz de pensar de modo belo”?) e conclui pelo inatismo de seu ingenium (“talento elegante e refinado” dos § 28 e 29). O texto deixa evidente que há um sujeito deste conhecimento: o “esteta” é alguém com uma sensibilidade além do comum, uma percepção à flor da pele aliada a uma aptidão para fantasiar, perspicácia, memória, uma aptid poética, gosto fino e apurado oposto ao gosto vulgar, previsão e pressentimento do futuro, além de uma capacidade para expressar suas percepções, que ele deveria harmonizar com outras faculdades (o intelecto e a razão), como que para não se perder no desregramento próprio das faculdades sensíveis.

Com isso temos que a estética nasce, em um sentido, como uma disciplina auxiliar, podemos dizer “ao lado” (um tanto à margem) ou “abaixo” das demais disciplinas que se ocupariam com as “faculdades superiores” (intelecto e razão) por oposição a este, assim denominado, estudodas “faculdades inferiores” (§ 41) - o esteta é, em Baumgarten, aquele que possui em si uma harmonia entre tais faculdades -, mas seria ao mesmo tempo, embora como disciplina auxiliar, muito necessary à própria sustentação de tais faculdades. Do ponto de vista da instauração da disciplina encontra-se uma hierarquia na qual a estética, como foi dito, figura numa posição menor, inferior, abaixo. Ela está englobada, circunscrita, definida por oposição à metafísica instaurada como prima philosophia [7] . Ela seria, por conseqüência, a filosofia última [8] . Neste ponto, as colocações de Baumgarten bem podem levar à conclusão de que a motivação para este lugar destinado à estética e às faculdades a ela circunscritas deve-se à necessidade de controlar tais faculdades, às quais poderiam levar ao desregramento e à deformação das “coisas e dos pensamento (ao inadmissível feio) enquanto que, servindo à razão e ao intelecto, elas obedeceriam às suas exigências de ordem e harmonia, pois não estava, para ele, fora de questão que “no que concerne à beleza”, cada detalhe possa ser submetido ao “julgamento do intelecto” (§35). O importante, para Baumgarten, seria evitar os riscos da “imaginação heterogênea” (§ 36) que asseguraria a inteireza das demais faculdades. A imaginação descontrolada, como também em Kant e em tantos pensadores do séc. XVIII [9] , apresentar-se-ia como perigosa.

É preciso ter em mente que Baumgarten é um pensador do Iluminismo. Sua marca mais definitiva é a do racionalismo que procura enfatizar a luminosidade da razão como detentora da verdade (a noção de “clareza” cartesiana atinge seu ápice neste período) sustentada no combate às sombras da superstição. A imaginação como faculdade “desregrada e errante” [10] é arduamente, se não combatida, pelo menos controlada. A busca e a defesa da beleza nada mais é do que a tentativa de dar forma harmônica ao cego caos que paira como ameaça sobre o pensamento e as artes. O classicismo será o representante exato desta tentative que, de um modo ou outro acompanha a noção de “forma” desde os primórdios das artes e, como veremos, sempre que se pense ao longo da história, uma beleza do corpo.

Assim podemos retroceder alguns vários séculos e analisarmos a frase citada de Sócrates no final Hípias Maior [11] que serve de título à perquirição aqui realizada. Que o belo seja difícil, deveria significar, como consta da conclusão de Sócrates, que não se o possa conhecer imediatamente. A dificuldade aí manifesta de conciliar a idéia de beleza com a percepção subjetiva das coisas belas é resolvida em outros diálogos. No Fedro (outro diálogo sobre a Beleza) e no Banquete (sobre o Amor) haverá como que uma associação entre eros e kalon: o amor é um desejo das coisas belas; deseja-se o belo enquanto qualidade objetiva dos corpos, a beleza é algo experimentado como prazer. Em Platão, a beleza será Eidos. Idéia que, associada ao Bom e ao Verdadeiro, pertence ao âmbito superior da escala metafísica. Mas a palavra Eidos também pode ser traduzida por Forma (Idéia de idein , que quer dizer ver, lhe corresponde [12] ). Neste sentido, obedece a algo que só se encontra no mundo sublunar em condições muito especiais. Não será nas artes que a “manifestação sensível da Idéia” encontrará seu lugar mais apropriado - sabemos desde a República que as artes miméticas ou imitativas deveriam ser extirpadas de uma sociedade ideal. É no Banquete e no Fédro que a beleza aparecerá, entre outras coisas, associada ao corpo [13] - a beleza da escultura de um corpo seria necessariamente inferior à beleza de um corpo in natura . Enquanto Aristóteles mais tarde dará um acento maior ao valor objetivo da beleza a partir das noções de ordem, simetria e o caráter definido ou a clareza que são ressaltados na matemática [14] , a objetividade encontrar-se-á em Platão apenas na Idéia (que jamais pode ser alcançada a não ser na morte ou por uma anamnésis ou memória a duras penas conquistada apenas pela dialética que aparece como o modo de ser mais próprio da filosofia). A objetividade da beleza do corpo é uma aparição da beleza ideal, todavia, contudo, apenas uma aparição, uma cópia e não a coisa em si mesma. Portanto, o acesso e a concepção da beleza dependem em alto grau de uma subjetividade que em sua viagem de reconhecimento de si mesma e de busca pelo transcendente se torna ela mesma sensível. A beleza que provoca o amor aparece no corpo do outro, mesmo que ele não seja belo do ponto de vista de um consenso geral. Eros é o amor que nos avassala como desejo do corpo belo do outro. A forma positiva e superior deste amor em princípio ensandecido constitui-se em um valor moral (o que deve guiar o homem ao longo de sua vida) e no próprio método filosófico par excellence . A filosofia depende do amor (é ela mesma uma espécie de amor, a amizade [15] [philia, pelo saber). O amor é um meio para o alcance da felicidade e da virtude. Existem tipos de amor - e nem todos serão belos - assim como há também um modo belo de amar. Mas a erótica que é a filosofia – e tomemos enfaticamente que enquanto diálogo – exclui as mulheres (é preciso retirar as mulheres para começar o diálogo), pois a beleza que se busca é a do corpo masculino e de suas idéias. Este é um momento especial da instauração da filosofia não apenas enquanto método, mas como cenário ideológico, espaço constituído para o desenvolvimento do método (já que para poder falar, para poder realizar o diálogo, é preciso um lugar adequado, uma cena que se compõe de um modo nad gratuito e que precisa retirar a mulher como personagem. Seria a filosofia contemporânea uma inversão dessa cena, um retorno das mulheres à cena? Certamente as mulheres precisam perguntar pelo porquê de sua retirada, o que me parece uma legitimação histórico-epistemológica do feminismo filosófico que se coloca na maiêutica que deve ter lugar diante desta retirada).

No Banquete, não se podem amar mulheres e rapazes do mesmo modo, nem se pode amar mais ao corpo do que à alma (aparece aqui uma sub-analogia entre mulher e corpo e entre homem e espírito?). Há um amor que ocorre entre os homens e que diz respeito à predileção pelo que é, segundo Platão, de naturez mais forte e mais racional. O amor entre os homens seria o mais moralmente próximo da filosofia, seria o próprio amor pela sabedoria no qual o conhecimento seria realmente alcançado através de um diálogo assim suposto como frutífero, como pertencente à natureza do lógos. Se o amor é o laço, a predisposição ao outro como desejo, e se ele caracteriza a filosofia como diálogo (uma relação ao lógos do outro), temos diante desta constelação a conclusão de que esse amor entre homens define a filosofia como diálogo entre homens [16] .

É Erixímaco, um médico hipocrático, que fala após Pausânias - o qual defende aquele amor presente na alma - que trará à tona um tipo de amor que agrega tanto o prazer mais baixo (da parte apetitiva ou concupiscível da alma) quanto o prazer mais alto (relativo a parte racional). Ele falará do eros presente nos corpos saudáveis e nos corpos doentes. E dirá, a propósito, que a medicina é o comprazer-se com as tendências saudáveis de cada corpo, é o conhecimento das tendências eróticas do corpo e que aquele que diagnostique nestas tendências o eros belo (o amor celeste) e o eros feio (o amor vulgar), é o médico mais bem capacitado [17] . O médico deverá saber colher os frutos do prazer sem que se origine a enfermidade.Todas as atividades humanas possuem ambos os impulsos eróticos (para o belo e para o feio) e o médico deve ser aquele que as equilibra.O amor será, neste contexto, um poder múltiplo e enorme. O diálogo segue com o discurso de Aristófanes sobre o mito do Andrógino (que explicaria porque para sempre procuraríamos nossa cara-metade) no qual o amor aparece como um poder de regeneração da própria naturez humana, ele seria, pode-se dizer, curativo de uma deformidade que nos é constitutiva enquanto indivíduos e que só resolveríamos ao encontrar nosso outro arquetípico. Ágaton segue afirmando que Eros é o mais belo e melhor dos deuses, além do mais delicado. Ele é também jovem, flexível e proporcional em suas formas, sendo a deformidade sua grande inimiga. Outras de suas características é a justiça e a ausência de violência, sua virtude é a temperança e ele é, nesta descrição já exaustiva de suas características, o melhor poeta. Sócrates, depois, dirá que o amor é um desejo sobre o que falta, enquanto coloca todas as demais palavras de seu relato na boca da sacerdotisa Diotima [18] . O amor, a partir desta inusitada perspectiva, não será um deus, mas um gênio (algo entre deus e mortal) que tem a tarefa da mediação entre o humano e o divino e tendo sido gerado entre Poros (o Recurso) e Penia (a Pobreza) no dia do aniversário de Afrodite, carrega as características destes três seres. O amo o é com respeito ao belo (a sabedoria é bela). Tem-se amor pelas coisas belas enquanto o próprio amor é um sentimento belo. Não há amor pelo disforme, pelo desproporcional porque não há beleza possível nos casos em que isto aparece. O amor é ele mesmo o belo sentimento, a comoção agradável e nobre que se tem com os belos objetos e seres. Nas palavras de Diotima o amor pelos belos corpos é apenas o começo no caminho do conhecimento da beleza em si mesma que é o que realmente parece interessar a Sócrates.

A busca pela beleza do corpo em qualquer época e em qualquer caso, pode-se concluir, seria uma tentativa imediatista de alcançar o amor (o desejo que advém do outro) mas através de uma inversão hierárquica não percebida, pois desde que o amor e a beleza sejam copartícipes conceituais não se torna obrigatória a conclusão de que em se provocando a beleza se alcançará necessariamente o amor. A beleza do corpo é fundamental - o poeta não diz novidade -, mas não se pode obtê-la com fins instrumentais, ela deixaria de ser beleza se o que houvesse além do corpo também não fosse belo. O amor procura a beleza; todavia, sendo ele mesmo belo já a encontrou ao saber a si mesmo e acaba por alimentar-se de si mesmo. O mito do nascimento de Eros define que não está dado que a beleza possa faze-lo nascer, apenas que ele nasce no ambiente de sua festa. Ela o propicia, mas não o provoca imediatamente. Ele é, muito mais provocado pela falta (Pênia, sua mãe é a miséria e a carência ou a pobreza, é o estado de necessidade, enquanto seu pai Póros é o recurso, intrépido e diligente, estratégico e sofista) e o fato de aventurar-se impetuosamente para o desconhecido a conhecer, para o que não vemos, é o que nele é realmente belo. O belo mais próximo do verdadeiro é o que não se vê e que se desejaria ver, o que se poderia ver. Ele depende de um disfarce que a bela aparência providencia. O belo é, portanto, sempre erótico: o que não vejo é o que me impele à sensação de prazer e não o que vejo, o erotismo não toca o pornográfico. Podemos encontrar já nestas colocações que são feitas a partir do texto de Platão, uma relação a se encenar na história posterior da idéia de beleza - relativa às artes e aos corpos assim como toda a beleza da natureza - , a saber, entre erotismo e camuflagem e entre pornografia e caricatura.

O CORPO FEIO E MAU: FEMININO

Mas antes de nos determos nesta análise é preciso uma mínima compreensão sobre a questão do corpo na Estética não apenas no que se refere à beleza, mas também ao seu lugar como algo historicamente negado. Assim poderemos compreender o significado da beleza ao longo das épocas como referência ao corpo. A concepção do corpo como cadáver ou sepultura da alma ou psyché que advém do orfismo-pitagorismo migra para a filosofia de Platão constitui a filosofia aristotélica, e assume seu tom mais enfático no pensamento medieval. Tal concepção dualista jamais é superada pela filosofia e acabará por definir a sua história como história da metafísica, de mundos que se contrapõem, da matéria e do espírito, da imanência e da transcendência, do histórico e do transcendental. Na filosofia de Platão, o reino da matéria é apenas uma cópia ma feita do mundo das Idéias e, como tal, desde seu caráter perecível e efêmero, é o reino da falsidade por oposição à imutabilidade e eternidade das essências. Se Aristóteles recupera a dignidade da matéria e da verdade do mundo sublunar ao estabelecer críticas severas ao seu mestre, no período medieval que se estabelece a partir destas duas filosofias, o reposicionamento aristotélico não será suficiente para compor um quadro de aceitabilidade do corpo. É certo que a teologia judaico-cristã está na base do pensamento medieval e compõe a cena de uma pecaminosidade da carne. O triunfo do cristianismo no ocidente traz em seu bojo a revolução ligada ao corpo [19] ao modo de sua exclusão como eliminação sucessiva até mesmo dos lugares urbanos que o exaltavam. Os gregos jamais tiveram tal perspectiva. Como sepultura da alma o corpo deveria ser cuidado (Platão na República defende a ginástica como necessidade do Estado Ideal) como morada e como meio para o alcance de um fim superior, embora jamais fosse liberado do estigma da inferioridade. Os medievais, todavia, tratarão o corpo como ergastulum (prisão para escravos) [20] da alma enquanto algo sexual. O próprio pecado original é reinterpretado como pecado sexual perdendo a conotação do desafio intelectual e as mulheres, como representantes da corporeidade (posto que destituídas da “alma” em sentido masculino - a ratio évirilis , o feminino é ligado ao appetitus [21] …), serão concebidas como Eva, a homônima de toda feiticeira. É certo que o corpo será a morada do diabo desde a ameaça do desejo e o corpo feminino será um dos seus agentes, enquanto, ao mesmo tempo, será objeto de medo por parte do homem [22] . Nada disso é espantoso se nos damos conta de que num contexto de superstição o mundo precisa ser explicado a qualquer custo e a eleição de um bode expiatório pode resolver todo o mistério do mal manifesto na loucura e em outras doenças (como compreender, por exemplo, a existência de um leproso sem referi-lo à menstruação?: se Deus culpou e castigou a mulher desta forma, não é ilógico que ela ainda seja a culpada e que o homem possa ou deva continuar a castigá-la…) A lepra será a “lepra da alma” [23] e, como tal, manifesta sensivelmente na matéria, onde o pecado deve ser expiado. O corpo deve ser perseguido, evitado, ao fim e ao cabo, controlado. A ele está associado um poder de subversão, de desequilíbrio e desordem que, em escala social, seriam funestos. O controle do corpo acaba por ser um controle da alma. Também por isso concebe-se que pobres e plebeus (estes que entrarão no reino dos céus) sejam feios enquanto ricos e nobres sejam belos e bem constituídos [24] . O que se encontra neste ponto é a aprovação da feiúra como miserabilidade da carne na expiação do pecado pelo sofrimento, e sinal de sua finitude que aponta para uma esperança na vida eterna: tanto o homem não se reduz à esta “podridão” quanto tem sua salvação superando-a. A beleza representaria, portanto, uma elevação ou exaltação do corpo: por si só, caso fosse apenas uma atenção ao corpo, seu destino como pecado já estava, de antemão, selado. A construção da idéia de pecado obedece ao fim ideológico de controlar a alma (hoje nossa mente) através do corpo e não apenas o contrário. Neste ponto, permanecemos medievais.

Como entender, entretanto, que Cristo tenha prometido uma ressurreição da carne? O que seria a negada carne cristã? Por que tantas vezes na iconografia desta época a alma é representada como o corpo de um homúnculo? Por que os reis taumaturgos curavam as escrófulas com o simples toque de suas mãos? [25] . Como explicar o culto das relíquias, estes “pedaços” de corpo carregados de alma?

Na impossibilidade de uma resposta a estes temas adjacentes e carregados de contradição, devemos retornar à questão do belo tendo em mente que, de maneira alguma, o mundo medieval de um modo homogêneo negou-se a aceitá-lo. Que a beleza do corpo tenha sido negada apenas ocorreu em favor de uma beleza maior ou considerada superior, a da alma. Nisto não haveria diferença com a antigüidade clássica. Todavia, enquanto as imagens do corpo naquele primeiro período são mimetizadas de um modelo ideal e buscam revelar a beleza ideal na matéria - apontando para a beleza propriamente dita da matéria - , nas representações medievais o corpo é in extremis desmaterializado. Ocorre como que uma intensificação do não material na iconografia, não há mais imitação do real e o natural e a preocupação com a harmonia e a proporção assumem outra dimensão. Se entra em cena o “pecado da originalidade” das artes, isto de modo algum deve reverter em “ausência de sensibilidade estética” [26] . Se é certo que o filósofo medieval ao falar de beleza remete a uma experiência concreta [27] que o é da natureza e das artes, não é possível não relativizá-la por uma concepção puramente inteligível da beleza enquanto “harmonia moral” e “esplendor metafísico” [28] . Se não ocorre uma mera “negação moralista do belo sensível” [29] , o ascetismo nasce como resultado obtido da tensão entre os atrativos do mundano e terreno e a busca do transcendente: o asceta contempla o mundo calmamente, sem excitações. Ele deve aprender a acalmar seu corpo frente ao desejo provocado pela beleza do corpo seja próprio ou alheio. Trata-se, ainda, de superar o corpo, de evitá-lo e, sob bases tantas veze desesperadas, de eliminá-lo através da auto-flagelação ou qualquer sorte de violência. Que a opulência decorativa seja criticada pelos pensadores (o que dizer de uma catedral gótica frente à indigência dos fiéis?) se deve também ao fato de que ela distrai da atenção da oração. A “beleza da liturgia” [30] - sua forma - poderia ser um atrativo maior do que a fé ou a responsabilidade moral com a religião, o que poderia ser muito perigoso desde que o prazer era associado ao proibido.

A beleza do corpo não aparece nas artes. Não há uma erótica como em Platão, mas uma tentativa bastante menos mediada de tocar o ideal. Se em Platão as artes imitativas não são válidas porque distanciam do ideal sem provocarem sequer sua lembrança, as artes medievais parecem pretender apenas produzir uma lembrança esmaecida do que é a beleza superior, realmente não há uma fusão entre o conceito de beleza e a noção grega de arte como techné [31]. É certo que não faltam exemplos da beleza das artes que nos aparecem hoje como exuberantes sobretudo na arquitetura e nas artes plásticas (Iluminuras e Miniaturas o confirmam [32] ), mas a beleza é fundamentalmente uma categoria metafísica. Por sua vez, toda a beleza perecível (inclusive ou principalmente a do corpo) não proporciona nenhuma garantia de qualquer coisa, o que se alcança apenas por meio de uma “beleza interior que não morre” [33] . A beleza de uma face seria apenas o reflexo da graciosidade interior e serviria para reavivar os ânimos daqueles que a contemplam [34] . Não existem relatos de que cosméticos pudessem ser utilizados ou quaisquer outros artifícios (aliás Platão já não os aprovava) para alcançar a beleza do corpo. Em alguns casos inclusive se deveria procurar o seu contrário.

PARA UMA GENEALOGIA DA DEFORMIDADE DA IMAGEM DA MULHER EM FILOSOFIA OU DE COMO TODA MULHER BELA NÃO É BOA, NEM VERDADEIRA, NEM BELA.



Que o corpo tenha sido rejeitado e junto com ele a beleza física é algo que se destitui historicamente a partir do final da Idade Média com a Renascença. O corpo é ainda recuperado nestes primórdios da modernidade tanto nas artes quanto na ciência: a pintura (os exemplares Da Vinci e Michelângelo) e a dissecação de cadáveres com fins científicos. Data desta época, segundo Lipovetsky, a construção da idéia do feminino como “belo sexo” [35] . Trata-se de uma invenção da modernidade. As sociedades primitivas valorizavam na mulher a fecundidade enquanto as sociedades camponesas até diabolizaram o feminino. A antigüidade grega foi apológética (por exemplo, em Píndaro e Safo e com a escultura de Praxíteles, apesar da masculinidade de suas representações) e condenatória do feminino (em Hesíodo com o mito de Pandora… Homero não deixa de ser ambíguo), sendo que o ideal da beleza do corpo era o masculino. E, na Idade Média, como referido acima, apenas o amor cortês foi capaz de salvar um pouco a imagem feminina, o que não foi possível para a própria Virgem Maria, entendida muito mais como a mãe de Cristo do que como mulher.

A “idolatria do belo sexo” apenas iniciou com a divisão social entre classes trabalhadoras e ociosas: estas últimas puderam dedicar-se à práticas da beleza [36] . A relação entre beleza e posição social assinalado por Lipovetsky define o ideológico culto aristocrático da beleza como “desprezo pelo trabalho produtivo” [37] . Existem alguns textos que se ocupam com a beleza feminina nos primórdios da modernidade e que chegam a personificá-la como “anjo” [38] à medida que a beleza é concebida como um atributo divino e o feio como uma característica do diabo. Passamos de uma visão exagerada a outra.

Mas a questão teórica da beleza aparece em um conhecido filósofo da época: Marcílio Ficino [39] que congrega o platonismo (ele praticamente reproduz o pensamento platônico [40] ) e o neoplatonismo e que apresentará, segundo Trías, uma consistente “construção estética” antes do Iluminismo [41] . Dentro de uma complexa estrutura metafísica baseada na hipóstase do “Uno”, a arte aparecerá como a luta da alma com a matéria para trazer esta à luz. A beleza aparecerá como o primeiro raio de luz que brota da fonte de bondade originária assim como, analogamente, Afrodite (Celeste, mas não Pandemos) é a primeira filha de Urano. Assim como no platonismo, Eros é o princípio propulsor de elevação da matéria, ele é o desejo de beleza que supera em capacidade ao próprio nous , o intelecto. Eros é tanto profano quanto místico, tanto terrestre quanto celestial [42] . A beleza feminine beneficia-se da impossibilidade do culto pagão da beleza masculina neste contexto cristão [43] . Agora, contudo, a beleza é idéia e é também irradiação do rosto divino que se dá imediatamente. Trata-se, pois, de uma beleza descoberta e que oculta algo, não exatamente Deus, eis que ele é incógnito e incomunicável. A beleza “é o véu de irradiação comunicável que, ao modo de esplendor do rosto, cobre a abismal separação e transcendência do divino com a ilusão de familiaridade, de imanência” [44] . A beleza é a aparência desnuda, e o rosto é, no corpo, o naturalmente nu. Afrodite em Botticelli se apresenta nua em um cenário que pretende a encenação do inefável: a revelação, todavia, do princípio originário (a tríade Belo/bom/verdadeiro) é também encobrimento de algo tenebroso, abismal e sinistro [45] .Sabemos o quanto Ficino influenciou muito a arte de Botticelli. Eugénio Trías sustenta que a obra deste pintor imbuído da ideologia neoplatônica permite “vislumbrar o que a categoria tradicional da beleza deixa na sombra: o mais além do limite que ela estabelece, o fundo tenebroso de cuja ocultação brota a bela aparência ”[46] .Trías realiza o experimentum crucis de sua hipótese analisando as obras “Alegoria da primavera” e “O nascimento de Vênus”, as quais põem em cena “a condição e o limite da categoria de beleza”. Segundo Trías, tal condição e limite encontram-se presentes em tais obras sob a forma da ausência.

A questão da beleza feminina é redimensionada à luz da benignidade da Virgem Maria e é desprendida da noção, já um tanto obsoleta, do pecado. "Vênus substitui a Virgem" [47] através da aparição de sua pureza e de seu caráter espiritual. Nenhuma época, mormente na literatura, foi tão apologética da beleza feminina. Nas artes a nudez feminina é alçada à temática nobre. Mas precisamos compreender bem o caráter inteiro desta exaltação que aparece por exemplo no significado da representação de uma mulher deitada, por oposição à verticalidade da mulher de Botticelli. Giogione pintará a primeira Vênus adormecida em 1505 abrindo caminho para a predominância do papel decorativo, ocioso e passivo da mulher que "sonha desapossada de si" e é oferecida "ao sonho de posse dos homens" [48] . Mais tarde o conto de Charles Perrault "Cinderela" (ou a Bela Adormecida, ou a Branca de Neve…) confirmarão o tom ideológico que deve vir a presidir as fantasias que norteiam as relações entre os sexos.

Temos, assim, inaugurada a modernidade e o ideal do “belo sexo", ou “a continuação da dominação masculina e da negação da mulher por outros meios" [49] , pois este ideal de beleza a tornará mulher-objeto e em nada acrescentará em termos de direitos a ela devidos. Como diz Lipovetsky "aos homens, a força e a razão, às mulheres a fraqueza do espírito e a beleza do corpo" [50] , em outras palavras, aos homens a ciência e o poder (lembremos do “saber é poder” de F. Bacon) e às mulheres a ignorância e a submissão alcançadas através da domesticação estética. Mas o lado positivo disto ainda foi, para o próprio Lipovestsky, a "eliminação da exterioridade perigosa do feminino" [51] Simplesmente a beleza deixou de ser perigosa. Mas assim também não poderia acabar por perder o seu potencial emancipatório?

Com o Iluminismo de Baumgarten e Kant encontrar-se-á a passagem de uma metafísica do belo para o problema do juízo de gosto ou uma crítica do juízo estético. Kant que se ocupa de nossos sentimentos do belo e do sublime, todavia, escreveu um texto que hoje pode soar cômico. Poderíamos dizer, em tom jocoso, que ele tenta apresentar a fundamentação para a vulgar tradição que reza acerca da "burrice das loiras", a loira, verdadeira mulher simbólica e emblemática, seria assim despotencializada em seu natural ou radical poder feminino. Em um texto intitulado "Da diferença entre o sublime e o belo na relação entre os sexos" [52] Kant apresentará a legitimação da expressão "belo sexo". O belo seria a marca inconfundível do feminino, aquilo que definiria sua essência, natureza e função. Não há nada mais feio para Kant do que uma mulher discursando sobre filosofia (aliás não seriam, para ele, capazes de entender Leibniz ou Descartes, e não esqueçamos que as mulheres não aprendem geometria…) e ela é tanto mais bonita quanto mais graciosa, charmosa e enfeitada e, certamente, loira como as circassianas e georgianas da época. Uma mulher que, por exemplo, tenha a cabeça entulhada de grego ( a Sra. Dacier) ou que fale sobre mecânica (a Marquesa de Châtelet) deveria usar barba, pois sua aparência está em desacordo com sua essência. A filosofia das mulheres, para o nosso filósofo, deve consistir não no racionar, mas no sentir [53] . E será tão horrível chamar um homem de “tolo” quanto uma mulher de “asquerosa” (isto é o contrário exato da beleza). Outra tragédia para o feminino seria a velhice quando o único motivo pelo qual "valeu a pena contrair uma tal ligação" (a do casamento com uma mulher), o contentamento (este é o motivo), pode cair por terra. A mulher na velhice teria perdido todo o seu valor desde que a beleza é pensada como jovialidade. A corrida contra as rugas se daria na exata medida de uma tentativa de valorização da mulher como objeto (sempre novo e inteiro ou pelo menos bem conservado) para o outro sexo a partir de cujo olhar ela adquiriria sentido.

Apesar de seu eminente machismo, Kant é certamente um divisor de águas da estética. Ele define os limites do sentimento do gosto e da própria estética. O asqueroso (ou nojento) representaria algo que não viria sequer a elevar-se a juízo estético [54] (se a mulher se torna “asquerosa”, ela deixa de ser um objeto do juízo estético e perde, assim, sua função) por estar fora dos limites do juízo estético. A arte moderna, na contracorrente, será aquela que enfrentará este deslimite. O que encontramos já no séc. XIX e enfaticamente no séc. XX é a intensificação nas artes da experiência estética para além do belo e do sublime, a experiência do feio e do horror, daquilo que se aproxima ou toca o asqueroso e quiçá o ultrapassa. Em relação ao corpo, contudo, a história não se encontra muito modificada. A mulher continua objeto.

A escala todavia agora é massiva e falsamente democrática. Se a mulher sempre foi objeto, não há porque surpreender-se com o mercado do corpo apenas sistematizado hodiernamente com o capitalismo. O corpo feminino sempre foi objeto de valoração e de troca. Talvez o que mais assuste hoje seja o envolvimento dos homens, sua efeminação: o fato de que eles procurem provocar a beleza através de estratégias tidas como femininas (o uso de cosméticos e, desde a evolução da medicina, a cirurgia plástica como versão radical da ginástica para modelar o corpo). Mesmo para os gregos que defendiam o homossexualismo como paradigma do corpo e dos comércios amorosos, a aceitação das supostas ou socialmente forjadas caraterísticas femininas no gesto e na aparência jamais foram promovidas. Encontramos hoje uma apologia do corpo masculinizado, o corpo sem gorduras. Poderíamos dizer que, neste sentido, há uma “ideologia da contra-celulite”. Esta seria o horror a ser superado em escala social e o que traria a felicidade para a mulher como sujeito de relações. Como símbolo da fertilidade feminina ligada ao corpo, a celulite precisaria ser eliminada fisicamente. Temos aí uma verdadeira alegoria da eliminação do corpo tal como a Idade Média pretendeu colocar em cena. Não devemos nos esquecer da problemática da dominação do corpo, versão suave do seu ocultamento. A eliminação dos “excessos” pode ser pensada como uma eliminação da feminilidade do corpo e, em certo sentido, eliminação daquilo que no corpo o significa como o fundamentalmente corpóreo, o que escapa à significação, o que se nega à dominação, o que é refratário ao corte matemático da razão. Quanto à questão da razão que a envolve teríamos uma eliminação do próprio feminino como representante do que lhe escapa, do que ela não pode conter. Na impossibilidade de eliminarmos todo o corpo, nossa atual opção é pelo padrão do corpo masculino, o mais próximo dos padrões geométricos da racionalidade ilustrada. A questão de até que ponto a racionalidade tenha sido construída a partir do modelo da corporeidade masculina deverá ser enfrentada posteriormente. Teríamos, então, invertidos os nossos paradigmas.

A beleza ao longo de sua história esteve atrelada ao lógos filosófico, à racionalidade como medida e regra. O feio, seu oposto e seu negativo, é aquilo que escapa a esta medida racionalmente forjada. Quando elevado à questão teórica, o feio sempre disse respeito ao que deveria ser retrotrazido às forças luminosas da beleza, à sua promessa de reconciliação com a vida, a sociedade, a verdade, Deus ou o que quer que fosse. A hipótese que ainda merece enfrentamento diz respeito à construção deste lugar como negativo: o ideal da beleza foi construído ao lado dos padrões da verdade e do bem, eles mesmos alcançados através de uma luminosidade da razão (nos períodos em que a filosofia esboça-se sob vozes iluministas - mesmo na Grécia Antiga) e como tentativa de recondução das formas desarmônicas a um padrão. A necessidade desta domesticação (no sentido de colocar “o selvagem” dentro dos limites do domus - a casa…) deve-se ao fato de que elas fossem vistas como perigosas, ameaçadoras. A definição da beleza como dominação do medo das formas terríveis ou até monstruosas [55] não elimina o fato de que elas tenham sido aceitas [56] ou mesmo consideradas muitas vezes como atraentes [57] . Theodor Adorno no séc. XX defenderá a idéia de que a beleza toma forma “na recusa do antigo objeto de temor” [58] e que vem a ser considerado feio apenas a partir do seu fim, daquilo para o que deveria destinar-se. Para ele o feio é a dissonância que, aos desavisados sobre a arte moderna, aparece como violência contra a forma. A tese de Adorno é a de que o feio é um retorno da violência arcaica, enquanto, podemos dizer, a beleza é o que aparece como violência enquanto tentativa de dominação de um horror como que ancestral, o horror advindo daquilo que é o pré-cultural, o pré-lingüístico, o anterior à racionalidade e a ela não subssumível.

Todavia, seria o que faria acontecer a beleza que não poderia existir sem seu oposto instaurado nela mesma. O belo seria, deste modo, um véu, uma máscara atrás da qual algo não conhecido seria guardado. Ele funcionaria, assim, como um escudo mágico protetor contra o horror do desconhecido e que, ao mesmo tempo, sustentar-se-ia sobre a ameaça de um tal horror. Mais do que o quadro de Botticelli, o quadro Os Embaixadores de Hans Holbein parece mostrar mais emblematicamente a posição da beleza como superação do horror: tal é o significado da enigmática anamorfose. O belo seria uma proteção contra o medo, contra a angústia, uma defesa que nos permitiria deleite, agrado e prazer promovidos pela tranqüilidade adquirida frente às ameaças da natureza e caos “que deve resplandecer sob o véu incondicional da ordem”.

O paradoxo a ser enfrentado é o de que a única coisa bela é aquela que não é totalmente bela.




[1] Ver de Célia Amorós “Hacia una Crítica de la Razón Patriarcal”. Barcelona: Anthropos, 1985. O caráter patriarcal da razão já era percebido pelos autores da Dialética do Esclarecimento em 1947. Ver Adorno, Theodor e Horkheimer, Max. Dialética do Esclarecimento. 2ª edição. Trad. Guido Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. P. 20

[2] Amorós, Célia. Hacia una Crítica de la Razón Patriarcal. Op.cit. P.45-47.

[3] Ver Amália Gonzáles Suarez, “La Conceptualización de lo Femenino en la Filosofía de Platón” (Madri: Ediciones Clásica, 1999), p. XV da apresentação citando Nancy Frazer.

[4] Ver a apresentação de Célia Amorós “O feminino como “o outro” na objetivação conceitual do genérico humano” ao livro Conceptualización de lo femenino en la filosofía antigua. Organizado por Eulália Pérez Sedeño. Madri: Siglo Veintiuno, 1994. A análise de Pandora como “ideologema misógino do engano” (p. VIII), as conotações de aparência e simulacro de Pandora a tornam afim aos temas da Estética.

[5] Lembremo-nos que o latino Ovídio escreveu um “cosméticos” [e não “estéticos”] “para o rosto da mulher”, na verdade, escreveu “de medicamine aciei femineae”, no qual De Medicamine significa exatamente aquilo que é usado para o embelezamento da face e preservação da beleza. Ver Ovídio. Os remédios do Amor. Cosméticos para o rosto da mulher. Ed. Bilingüe. Trad. Antônio da Silveira Mendonça. São Paulo: Nova Alexandria, 1994.

[6] Baumgarten, A.G. Estética. A Lógica da arte e do poema. Trad. Míriam Sutter Medeiros. Petrópolis: Vozes, 1993.

[7] Rosencranz Karl, Ästhetik des Hässlichen. Leipzig: Reclam Verlag, 1996. P. 5. No séc. XIX, Rosenkranz, escreverá uma “Estética do Feio” justificando em seu prefácio o lugar negativo do feio em relação ao belo, como parte negativa da metafísica do belo, que corresponderia a uma primeira parte da estética enquanto esta seria o “nome coletivo para um grande grupo de conceitos”. P. 5. Se o feio aparecerá para este autor como um “belo negativo” (Negativschönen) para o qual não basta uma teoria (Theorie) do feio, mas é preciso uma estética, ele está dizendo mais do que meramente afirmando a dialética entre a positividade do belo e a negatividade do feio, mas falando da necessidade de instaurar, de definir, um campo de investigação do negativo – aqui o que nos interessa. Uma estética do belo não pode existir sem uma estética do feio nem o contrário (“o feio tem no belo seu pressuposto positivo”). Se a questão é pensar o lugar da estética enquanto teoria das coisas belas e não belas, mas também enquanto estudo dos sentimentos, do corpo, da aparência, podemos verificar na história de sua instauração o lugar negativ por ela ocupado em relação à metafísica enquanto estudo dos primeiros e últimos princípios. Se a metafísica foi a prima philosophia, a estética seria a filosofia última.

[8] Talvez mesmo uma filosofia das coisas “últimas” . Ver Christiaan L. Hart Nibbrig. Ästhetik der letzten Dinge. Frankfurt (M): Suhrkamp, 1989. Sobre as relações entre a estética e a morte. A “Dialética Negativa” (Frankfurt am Main: Suhrkamp, 1982) de Theodor Adorno, a dialética que aparece sob a marca da estética, se instaura enquanto teoria, por oposição a uma prima dialética ou a uma prima filosofia, neste caso ela se coloca também como uma filosofia última.

[9] Ver Enid Abreu Dobránszky, “No Tear de Palas; Imaginação e Gênio no séc. XVIII. Uma Introdução. Campinas: Papirus, 1992.

[10] Op.cit. p. 23-65.

[11] Platón. Hipias Mayor. In Obras Completas. Madrid: Aguilar, 1993. P. 135. 304 e.

[12] Segundo G. Reale, em Demócrito atomos idea indica a forma geometrica do átomo, enquanto em Platão Idéia corresponde à realidade suprasensível, o modelo, o paradigma inteligível, o ser puro. História da Filosofia Antiga. Volume V. São Paulo: Loyola, 1995. Verbete Idéia. P. 131.

[13] Platón. Fedro, o de la Belleza. In Obras Completas. Madrid: Aguilar, 1993. P. 859. 239 a.

[14] Aristóteles. Metafísica. Trad. Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. P. 274. 1078 b.

[15] A diferença entre Eros e Philia é a presença do elemento racional na última e do elemento passional no primeiro. Ver Giovanni Reale. Op.cit. p. 16. Verbete Amizade.

[16] A única possibilidade de discussão com esta idéia parece ser apresentada no século XX por Walter Benjamin sob a inóspita pergunta “Como falavam safo e sua amigas?”. Ver a análise do texto “A conversação” em Sigrid Weigel, Corpo, Imagem y Espacio en Walter Benjamin (Barcelona: Paidós, 1999).p. 148-151.

[17] Platón. El Banquete, o del amor. In Obras Completas. Madrid: Aguilar, 1993. P.573. 186 a.

[18] Platón. El Banquete, o del amor. In Obras Completas. Madrid: Aguilar, 1993. P.583. 201 e.

[19] Le Goff, Jacques. O Imaginário Medieval. Portugal: estampa, 1994. P. 145.

[20] Le Goff, Jacques. Op.cit. p. 145.

[21] Duby, Georges. Eva e os Padres. Damas do séc. XII. São Paulo: Cia. das Letras, 2001. P. 48.

[22] Delaumeau, Jean. História do Medo no Ocidente: 1300-1800. Uma cidade sitiada. São Paulo: Cia. das Letras, 1989. P. 310 ss.

[23] Le Goff, Jacques. Op.cit. p. 146.

[24] Le Goff, Jacques. Op.cit. p. 146.

[25] Le Goff, Jacques. Op.cit. p. 147.

[26] Eco, Umberto. Arte e Beleza na estética medieval. Rio de Janeiro: Globo, 1989. P. 13.

[27] Eco, Umberto. Op. Cit. p. 15-16.

[28] Eco, Umberto. Op. Cit. p. 16.

[29] Eco, Umberto.op.cit.p. 17.

[30] Armstrong, Karen. Uma História de Deus: quatro milênios de busca do judaísmo, cristianismo e islamismo”. São Paulo: Cia das Letras, 1994. P. 7.

[31] Eco, Umberto. Op. Cit. p. 25.

[32] Ver de Otto Pächt, La Miniatura Medieval. Madrid: Alianza Forma, 1993.

[33] Eco, Umberto. Op. Cit. p. 22.

[34] Eco, Umberto. Op. Cit. p. 22.

[35] Lipovetsky Gilles. A terceira mulher. Permanência e Revolução do Feminino. São Paulo: Cia. das Letras, 2000. P. 101 ss.

[36] Lipovetsky, Gilles. Op.cit. 107.

[37] Lipovetsky, Gilles. Op.cit. p. 8.

[38] Lipovetsky, Gilles. Op.cit. p. 114.

[39] Ver Marsilio Ficino, Sobre el Furor divino y otros textos. Edição bilingüe. Barcelona; Anthopos, 1993.

[40] Marsilio Ficino, Sobre el Furor divino. Esta carta a Peregrino Alio fala, por exemplo, do corpo como cárcere, corporis carcerem (p. 15) ou como tenebroso corporis habitaculo (p. 20-21).

[41] Trías, Eugenio. Lo Bello y lo Siniestro. Barcelona: Ariel, 1996. P. 47.

[42] Trías, Eugenio. Lo Bello y lo Siniestro. Barcelona: Ariel, 1996. P. 54-55.

[43] Lipovetsky, Gilles. Op.cit. p. 115.

[44] Trías, Eugenio. Lo Bello y lo Siniestro. Barcelona: Ariel, 1996. P. 57.

[45] Trías, Eugenio. Lo Bello y lo Siniestro. Barcelona: Ariel, 1996. P. 58.

[46] Trías, Eugenio. Lo Bello y lo Siniestro. Barcelona: Ariel, 1996. P. 58.

[47] Lipovetsky, Gilles. Op.cit. p. 116.

[48] Lipovetsky, Gilles. Op.cit. p. 120.

[49] Lipovetsky, Gilles. Op.cit. p. 125.

[50] Lipovetsky, Gilles. Op.cit. p. 126.

[51] Lipovetsky,Gilles. Op.cit. p. 127.

[52] Kant, Emmanuel. Observações sobre o sentimento do belo e do sublime. Campinas: Papirus, 1993. P. 47 ss.

[53] Kant, Emmanuel. Op. Cit. P. 50.

[54] Kant, Immanuel. Crítica da Faculdade de Julgar. Trad. Valério Rohden e António Marques. Rio de Janeiro: Forense, 1993. 189 sg. P. 157-158.

[55] Ver Lascault, Gilbert. Le Monstre dans L”Art Occidental. Un Problème esthétique. Paris: Klincksieck, 1973.

[56] Por exemplo, Claude Kapler em seu livro “Monstros, Demônios e Encantamentos no Fim da Idade Média” (São Paulo: Martins Fontes, 1994. P. 3.) afirma seu próprio estranhamento no que concerne ao curioso fato de que Jerônimo Bosch (compreendido modernamente como diabólico, herético, maldito, ensandecido) tenha sido apreciado e até compreendido em vida.

[57] A tese de Silke Kapp “Non Satis Est. Excessos e Teorias Estéticas no Esclarecimento” (UFMG, 1999. 328 páginas. Tese de Doutoramento) mostra, analisando autores racionalistas tais como o Abade Dubos e Boileau, como o gosto pelo excesso foi possível neste período a partir da separação entre a idéia do belo e a comoção. Segundo a autora, as obras apenas belas, poderiam, nesta época, ser também entediantes, o que faz surgir novas categories que tentem dar conta de qualidades que ultrapassam a idéia de belo enquanto regra (sublime, entusiasmo, terror, grandeza, desprazer, obscuridade, etc…).

[58] Adorno, Theodor. Teoria Estética. Lisboa: Ed. 70, 1988. P. p. 60.


Profa. Dra. Marcia Tiburi - PPG em Filosofia da UNISINOS; UNILASALLE.

domingo, 28 de outubro de 2018

Estou nesse Poema

*Tou nesse livro, com esse poema*


Tomara que o teu facismo
Nao resista ao amor
Que a tua misoginia 
Se derreta no calor 
De mil abraços fraternos
Nesse país multicolor

Tomara que o teu machismo
Vire a mais pura flor
E Você seja docinho 
O puro néctar do amor

Tomara que a homofobia
Que você tem semeado
Floresça às avessas
Que nem o milho estourado
E que você prove do amor
Mais puro e delicado

Tomara que o preconceito
Regado no teu coração
Desvie o curso da dor
Encontre a luz do perdão
E que de tanta claridade
Você enxergue a verdade
Saindo da escuridão 

Tomara, tomara mesmo
Que a arma que você aponta
Lance balas de alegria
Deixe a tua alma tonta
E você em êxtase e gozo
Seja sua propria janta

Tomara que toda a ira
Jorrada dos olhos teus
Desague no mar sereno
Da infinitude de Deus
E no maremoto divino
Os teus defeitos e os meus
Sejam em transmutação
Asas de um Louva-a-Deus

Lilia Diniz

#AmorSim
#PazSim

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