quinta-feira, 21 de novembro de 2019

A ideologia de classe média americanizada e ressentida

“Bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida”

Enders é professora titular de História Contemporânea da Universidade Paris 8.  Foto: Arquivo pessoal
ENDERS É PROFESSORA TITULAR DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DA UNIVERSIDADE PARIS 8. FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Historiadora Armelle Enders comenta os ataques de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes à primeira-dama francesa e descontrói FHC

A historiadora francesa Armelle Enders é apaixonada pelo Brasil, país que visita e estuda há mais de 30 anos. Nesta entrevista a CartaCapital, ela comenta o episódio dos ataques grosseiros desferidos por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes à primeira-dama francesa, Brigitte Macron. “O bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida. E tem também a personalidade do Macron, um homem culto, o que para o bolsonarismo é uma coisa que instiga a homofobia deles. Cultura é vista como uma coisa feminina, desprezível, de homossexual.”
A historiadora desconstrói ainda a personagem de Fernando Henrique Cardoso, “que goza de uma reputação de esquerda esclarecida entre franceses de sua geração, mas é, na realidade, um coronel da política brasileira que faz em Paris análises totalmente equivocadas sobre a realidade do País”.
Professora titular de História Contemporânea na Universidade Paris 8 e pesquisadora do Institut d’Histoire du Temps Présent, Armelle Enders publicou, entre outros livros, A História do Rio de Janeiro (Editora Gryphus) e Histoire du Brésil (Chandeigne), que acaba de ganhar a terceira edição, atualizada com a eleição de Bolsonaro.
MACRON E BOLSONARO FOTO: FREDERICO MELLADO / ARG
CartaCapital: Em janeiro deste ano, em Paris, FHC disse que não houve golpe de Estado, as instituições no Brasil funcionavam normalmente e a eleição de Bolsonaro foi a expressão da rejeição da corrupção e da violência.
Armelle Enders: Acho que há um divórcio entre a imagem que o FHC tem na França, por causa das relações que ele tem de amizade com uma certa inteligência francesa da geração dele, e a realidade. Ele tem uma imagem de esquerda esclarecida, esquerda moderna, e na realidade é um coronel da política brasileira. Como historiadora, vejo como uma coisa típica que havia na Primeira República: políticos que tinham posições públicas progressistas e, na verdade, no reduto eleitoral de poder deles, eram muito atrasados, oligarcas tradicionais. A análise dele é equivocada. É a versão do PSDB, surgida antes da campanha de 2014, de que o “lulopetismo era um sistema para se perpetuar no poder”. A propaganda foi massiva e espalhou-se. Pode-se contestar o PT, num contexto democrático isso faz parte da luta política. Mas, com o golpe, a situação política no País virou uma construção diabólica, de destruição do Estado.
CC: Uma construção diabólica?
AE: O PT foi acusado de se corromper para manter um projeto autoritário de poder. Foi isso o que os brasileiros teriam rejeitado. A afirmação de FHC é a consagração dessa lógica, que se desenvolveu num contexto de eleições, mas virou verdade para muita gente. Acabou por abalar as consciências. Outro argumento foi usado no pleito de 2018: o PT e Bolsonaro são dois extremos. Então, ambos devem ser rejeitados. Esses dois temas são desdobramento do contexto eleitoral, mas totalmente equivocados.
FOTO: LUIZ RAMPELOTTO/EUROPA NEWS WIRE/AFP
CC: O escritor chileno Ariel Dorfman afirmou recentemente: “O Brasil continua de costas para seu passado. A impunidade das Forças Armadas brasileiras abriu o caminho para Bolsonaro ser presidente e dizer as barbaridades que pronuncia diariamente”. Concorda?
AE: Na verdade, esse conflito nasce da correlação de forças no final da ditadura. A extrema-direita militar e civil negociou uma transição pretensamente democrática feita por cima, um acordão. O poder estava do lado dos militares, o que estava em jogo era a anistia. Foi preciso escolher: ou a ditadura persiste ou se processa os militares. O preço foi uma anistia negociada, sem punição. O problema sempre surge em função dos militares.
CC: Por que não se revogou a Lei da Anistia, como Néstor Kirchner fez na Argentina?
AE: Essa correlação de poder se manteve. A Comissão Nacional da Verdade desfez o pacto da Anistia, mas sem julgar os torturadores e responsáveis por crimes contra a humanidade.
CC: E essa série de incidentes degradantes e ridículos protagonizada por Bolsonaro, Guedes e outros em relação à França? Houve ofensas à mulher do presidente Macron que envergonham qualquer brasileiro decente.
AE: Analiso em dois níveis. Primeiro, o nível político, da relação do Brasil de Bolsonaro com o governo americano e Trump. Houve atritos entre Trump e o presidente Macron. Logo em seguida, começaram os atritos do Bolsonaro com Macron, o alinhamento era evidente. Foi também uma maneira de Bolsonaro agitar a bandeira da soberania diante das velhas potências europeias. Há ainda um componente cultural. A representação da Europa, e particularmente da França, é o contrário da ideologia dos bolsonaristas. A França é representada pela cultura, sofisticação de uma certa elite brasileira tradicional. O bolsonarismo é uma ideologia de classe média americanizada, ressentida. E tem também a personalidade do Macron, um homem culto, o que para o bolsonarismo é algo que instiga a homofobia. Cultura é vista como uma coisa feminina, desprezível, de homossexual. Macron valoriza a cultura, não é o estilo varonil do russo Vladimir Putin. O casal que ele forma com Brigitte, uma mulher culta e mais velha, representa tudo o que eles odeiam.
CC: Bolsonaro não esconde o interesse de se apropriar das terras indígenas para favorecer o agronegócio e explorar as riquezas do subsolo. Como a comunidade internacional pode ajudar a proteger a biodiversidade da Amazônia, mas também a proteger essas populações?
AE: Políticos populistas, como Trump, Netanyahu ou Putin, desrespeitam totalmente as instituições internacionais. Imagino que Bolsonaro fará a mesma coisa. As ONGs sofrem perseguição do governo brasileiro, e há ainda os consumidores do mundo. O que pode alterar a situação do Brasil da era Bolsonaro são os interesses econômicos. Mas não é fácil, porque muitas empresas multinacionais lucram com o bolsonarismo.
CC: Em artigo publicado no Le Monde, o filósofo Alain Badiou sustentou que o capitalismo é o responsável pela destruição do planeta. E propôs: “Que não exista propriedade privada do que deve ser comum, a saber a produção de tudo o que é necessário à vida”.
AE: Na verdade, a única alternativa que tivemos ao capitalismo foi a União Soviética, que em relação ao meio ambiente também não foi exemplar. É uma crise não só do capitalismo, mas da civilização, do que era a social-democracia. Não acredito também na economia administrada ou num Estado todo-poderoso, que pode acabar sendo predador.
CC: Qual seria a solução?
AE: É uma questão de consentimento das populações. Uma grande parcela apoia a predação. É difícil resolver.
CC: Será resolvido somente quando todos perceberem que estamos à beira do precipício?
AE: Já estamos. Aparentemente, há uma consciência mais nítida do que muitos anos atrás. O Brasil tem uma coisa mais forte, uma tradição escravocrata, que vem da época colonial. E o Bolsonaro refere-se a isso no imaginário da conquista do Oeste. Existe a ideia de que o território do Brasil é infinito. Pode-se explorar as terras à vontade, com permissividade absoluta.

Muito obrigado por ter chegado até aqui...


... Mas não se vá ainda. Ajude-nos a manter de pé o trabalho de CartaCapital.

O jornalismo vigia a fronteira entre a civilização e a barbárie. Fiscaliza o poder em todas as suas dimensões. Está a serviço da democracia e da diversidade de opinião, contra a escuridão do autoritarismo do pensamento único, da ignorância e da brutalidade. Há 24 anos CartaCapital exercita o espírito crítico, fiel à verdade factual, atenta ao compromisso de fiscalizar o poder onde quer que ele se manifeste.

Nunca antes o jornalismo se fez tão necessário e nunca dependeu tanto da contribuição de cada um dos leitores. Seja Sócio CartaCapital, assine, contribua com um veículo dedicado a produzir diariamente uma informação de qualidade, profunda e analítica. A democracia agradece.

Fonte: https://www.cartacapital.com.br/politica/bolsonarismo-e-uma-ideologia-de-classe-media-americanizada-ressentida/?fbclid=IwAR1EOmDG403l-fAU5Zaa365kESNaMOGg8Pd39VCiqTtQlKCi_gfMnynpYKc 

GASTANDO DE FORMA CRIMINOSA O QUE LULA DEIXOU.

Quando Lula assumiu o Governo em 2002, havia uma Dívida Externa. Ou seja, o Brasil era devedor. Com o PT, o Brasil virou um credor com mais de R$ 1 Trilhão. Parte deste dinheiro Lula e Dilma colocaram no “Fundo Soberano”, que poderia ser usado quando o mundo entrasse em crise. Aí pegava o dinheiro e aplicava na Geração de Emprego e Renda aqui dentro. Mas aí veio o Golpe e o Temer acabou com o Fundo Soberano. Agora começam a torrar o dinheiro comprando dólar mais caro. Ou seja, a cada dólar comprado agora com esta reserva, o Brasil esta perdendo dinheiro. E quem ganha é quem é dono do tal “mercado”. Ou seja, banqueiros e donos dos títulos da dívida pública do Brasil.



Guedes quer entregar mais de R$ 1 trilhão de reservas internacionais do Brasil a banqueiros
luizmuller21 de novembro de 2019 15:07


Print de O GLOBO
Print da Matéria de O Globo
Quando Lula assumiu o Governo em 2002, havia uma Dívida Externa. Ou seja, o Brasil era devedor. Com o PT, o Brasil virou um credor com mais de R$ 1 Trilhão. Parte deste dinheiro Lula e Dilma colocaram no “Fundo Soberano”, que poderia ser usado quando o mundo entrasse em crise. Aí pegava o dinheiro e aplicava na Geração de Emprego e Renda aqui dentro. Mas aí veio o Golpe e o Temer acabou com o Fundo Soberano. Agora começam a torrar o dinheiro comprando dólar mais caro. Ou seja, a cada dólar comprado agora com esta reserva, o Brasil esta perdendo dinheiro. E quem ganha é quem é dono do tal “mercado”. Ou seja, banqueiros e donos dos títulos da dívida pública do Brasil.
Leia a seguir o que são estas Reservas e pra que servem.
O artigo a seguir é do TODA POLÍTICA
Reservas internacionais: o que são, para que servem e qual o valor do Brasil
Reservas internacionais são recursos financeiros que o Brasil tem investido e guardado no Banco Central. É uma espécie de poupança do país, que também é chamada de reserva cambial.
As reservas internacionais do Brasil são formadas por valores em dólares, outras moedas e investimentos feitos pelos país e são administradas pelo Banco Central do Brasil.

Como são feitas as reservas internacionais

Para poder ter as suas reservas internacionais o Brasil, através do Banco Central, compra moedas fortes de outros países, principalmente nos momentos em que o câmbio está mais favorável.
O Brasil também costuma investir em títulos da dívida pública de outros países porque costuma ser um investimento com rendimentos satisfatórios.
Em menor escala o país também faz outros tipos de investimentos, como a compra de ouro, desde que esses investimentos sejam seguros e tenham bons rendimentos.

Qual a função das reservas internacionais?

A principal função de ter reservas internacionais é proteger a economia do país e conseguir garantir a estabilidade do mercado financeiro em momentos de desequilíbrio ou de crise.
Ou seja, a reserva financeira é uma segurança, uma garantia de que o país tenha condições de lidar com situações que poderiam deixar o mercado financeiro mais instável. Também assegura que o país tem condições de cumprir os compromissos financeiros assumidos com os seus credores, tanto os internacionais como os nacionais.
As reservas internacional também ajudam no controle da flutuação do valor da dívida pública do país e da emissão da moeda brasileira.

Qual o valor das reservas do Brasil?

De acordo com os dados publicados pelo Banco Central, as reservas internacionais do país são de aproximadamente 372 bilhões de dólares. Esse valor coloca o país na lista das dez maiores reservas internacionais do mundo.
Quase a totalidade do valor corresponde ao investimento feito na compra de moedas de outros países. Há também uma parcela menor investida em ouro, outros títulos públicos e depósitos no Fundo Monetário Internacional (FMI).

Evolução do valor das reservas

O montante das reservas internacionais do Brasil aumentou cerca de dez vezes nos últimos anos.
Em 2002 o valor era de 37 bilhões de dólares, em 2007 era de 180 bilhões e em 2012 chegou a ser de 378 bilhões de dólares.

EUCALIPTO/PINO; TECA; PARIKÁ... NÃO É FLORESTA

Novo artigo em Ja4Change

Plantações não São FLORESTAS! E em África sabemos o que são florestas!!

 por JA
A Justiça Ambiental tem vindo a acompanhar, há cerca de 9 anos, com bastante preocupação e indignação a promoção e o estabelecimento de plantações de monocultura de eucalipto no país. Com particular atenção às plantações da Portucel, Navigator Company e à Green Resources, pela dimensão da área concedida para tal e pelos já evidentes e documentados impactos sociais negativos que ambas têm causado.
Nestes últimos anos, a JA! mantem contacto com as comunidades rurais afectadas por ambas as empresas e tem denunciado sem sucesso as irregularidades e os inúmeros conflitos existentes tanto às empresas em questão como às autoridades governamentais por meio de cartas, petições e pedidos de encontros. A JA! tem igualmente solicitado acesso aos processos de aquisição do Direito de Uso e Aproveitamento de Terra e os Relatórios de Desempenho Ambiental, que constitui informação de carácter e interesse público, mas nunca estas empresas se prontificaram a partilhar ou a publicar.
Finalmente, muito recentemente a JA! obteve acesso aos inúmeros processos de aquisição do DUAT da Portucel, por via duma acção emTribunal através do Acórdão 09/TACM/2019. Permanecemos sem acesso aos Relatórios de Desempenho Ambiental da Portucel porque esta “recusa-se” a partilhar.
Em Maio do presente ano, a Justiça Ambiental, a Acção Académica para o Desenvolvimento Rural (ADECRU) e o Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais organizaram o Encontro de “Partilha de experiências e resistência entre comunidades afectadas pelas Plantações de Monocultura” na cidade de Quelimane com representantes de comunidades das províncias de Nampula, Zambézia, Manica e Sofala afectadas por plantações de monoculturas e comunidades rurais que lutam para proteger as suas florestas e recursos naturais. Este encontro foi antecedido de uma visita em encontros nas comunidades afectadas pela Portucel, em que os presentes, membros e lideranças destas mesmas comunidades reiteraram o seu descontentamento com a actuação da Portucel, com as inúmeras promessas feitas aquando das consultas comunitárias de modo a ludibriar as mesmas para que cedessem as suas terras, promessas que permanecem até hoje por cumprir. A Portucel foi convidada ao encontro para que pudéssemos junto com os representantes das comunidades afectadas e com representantes do governo provincial apresentar as inúmeras queixas e discutir possíveis soluções, no entanto, desculpou-se e não compareceu mas fez questão de enviar alguém para reportar o que foi tratado portanto tem pleno conhecimento do que foi discutido e do quanto estas comunidades estão insatisfeitas. O governo provincial esteve representado e ouviu todas as queixas, mas também se esquivou do assunto.
É bastante desprezível verificar através de uma notícia publicada no“Clubofmozambique” que a World Wildlife Fund (WWF), uma imensa organização internacional não governamental ligada a questões ambientais, organizou recentemente um debate sobre “Plantar florestas sustentáveis em África” que nada mais é do que mais uma vez dar selo verde a empresas como a Portucel, apesar dos inúmeros estudos e relatórios a demonstrar os inúmeros problemas que este tipo de plantações traz e no caso concreto os inúmeros impactos da Portucel em Moçambique. É inaceitável que venha dar “selo verde” a plantações, com um discurso mascarado e enganoso que pretende levar a crer que estão a plantar florestas, levando aos mais desatentos a acreditar até que estão a apoiar na tomada de medidas concretas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
É de facto enganoso e problemático desconsiderar por completo os apelos sistemáticos das comunidades afectadas pela Portucel, assim como é inaceitável que utilize a sua marca e a imagem do desgraçado do Panda inofensivo para levar a crer que as plantações de monocultura em larga escala são de alguma forma benéficas para a mitigação dos impactos das mudanças climáticas. É ainda igualmente inaceitável que a WWF se posicione desta forma, dando selo verde a empresas com tantas reclamações e impactos, tendo conhecimento de que outras tantas organizações NACIONAIS tem vindo a trabalhar nesta questão há vários anos e que a mesma é bastante problemática, mesmo considerando que as organizações NACIONAIS não tem uma posição unânime quanto às plantações de monocultura… é vergonhosa esta actuação corporativa!!!

Yuval Noah Harari - filósofo e historiador israelense

OLIMPÍADA DO FUTURO
Jovens de Mossoró, no Rio Grande do Norte, criaram um projeto para combater o avanço do plástico nos oceanos: um canudo à base de mandioca.

Todo dia é dia de negros, brancos, indígenas...

"O 20 de novembro é uma data para se lembrar, um marco importante na luta negra, mas penso que não deve ser simplesmente 'vamos aqui falar sobre isso no 20 de novembro'. A questão racial, como a questão do preconceito em geral, tem que ser tratada todos os dias e não só pelos negros, mas por todos aqueles que são contra o racismo e o preconceito".




Vê TV

Quinta-feira, 21/11/2019

"Bom Sucesso" dá exemplo sobre como abordar tema da consciência negra na TV

O Dia da Consciência Negra, mais uma vez, ajudou a colocar em pauta o tema do racismo e sugestões sobre como enfrentá-lo. Mas, como lembrou a atriz Erika Januza, a discussão precisa ir além da efeméride.

"O 20 de novembro é uma data para se lembrar, um marco importante na luta negra, mas penso que não deve ser simplesmente 'vamos aqui falar sobre isso no 20 de novembro'. A questão racial, como a questão do preconceito em geral, tem que ser tratada todos os dias e não só pelos negros, mas por todos aqueles que são contra o racismo e o preconceito", disse ela.

Pensando na televisão, em particular na teledramaturgia, esta reflexão da atriz é muito importante. É verdade que novelas e séries têm tratado do racismo, com erros e acertos, há muitos anos. O tema está presente, de fato, nas mais variadas produções. Mas a denúncia do racismo basta?

Como observa o ator e humorista Paulo Vieira, não basta. "A criança branca acha que não existe negro no mundo, porque ela só vê o mundo branco na televisão, e a criança negra acha que não há espaço para ela porque todo mundo bem-sucedido na televisão é branco. Não existe outra maneira de ampliar esse debate da representatividade senão as TVs criarem outras celebridades negras, escalarem negros para o papel principal, para galã, para mocinha, para apresentar programas", diz ele.

Um exemplo muito positivo, na minha opinião, do que diz Paulo Vieira pode ser visto na novela "Bom Sucesso", da Globo. Dos 51 personagens da trama, 17 são vividos por atores negros ou pardos. Isso representa um terço do elenco, um índice ainda inferior à realidade da população brasileira, mas muito acima do que se vê em outras produções.

Há negros em diferentes posições na trama - um dos protagonistas (Ramon), um médico (Mauri), a diretora comercial de uma editora de livros (Glaucia), a diretora de uma escola (Elomar), além, claro, dos vários moradores que formam o núcleo do bairro de Bom Sucesso, um subúrbio carioca.

Mais importante, creio, é a forma como os autores, Rosane Svartman e Paulo Halm, enfrentam o assunto sem condescendência. A negritude dos personagens é uma realidade, não um assunto. Desta forma, por exemplo, a protagonista, a costureira Paloma (Grazi Massafera), se vê dividida entre um homem negro de origem humilde, Ramon (David Junior), e um branco e rico, Marcos (Rômulo Estrela). Ambos têm qualidades e defeitos.

Outra abordagem interessante ocorre com o personagem Waguinho (Lucas Leto). O jovem se envolveu com criminosos e acabou participando de um assalto à casa de Paloma. Arrependeu-se e está tentando se regenerar, com a ajuda do padre e de uma professora. Mas ainda provoca desconfiança e medo de vários personagens, negros como ele.

Dois personagens são os vilões da história: o advogado Diogo (Armando Babaioff) e a secretária Gisele (Sheron Menezzes). Ambos são ambiciosos e querem subir na vida passando por cima das pessoas e das regras. Eram amantes e enganaram a editora Nana (Fabiula Nascimento). Ele é branco e ela, negra - e a questão racial, mais uma vez, não tem relação alguma com as atitudes que tomam.

Com as limitações que o horário das 19h30 impõe, "Bom Sucesso" apresenta um retrato diversificado da sociedade brasileira, tanto do ponto de vista socioeconômico quanto racial, explicita as desigualdades, mas sem passar a mão na cabeça de ninguém.

Stycer recomenda

Melhor e pior da semana



Você recebeu esta notificação porque você assinou a Newsletter do UOL. Para receber outras newsletter grátis acesse notificações no canto superior direito.