quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Igreja Branca

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A igreja branca tem que acabar

Lemos e ouvimos por aí um discurso arrogante, oportunista e preconceituoso que diz: “A esquerda precisa conversar com os evangélicos, chegar às periferias”. Oportunista porque se vale da ingenuidade dos que não conhecem a natureza diversa da periferia e o universo evangélico e crêem em qualquer um que escreva:: “Eu vim da periferia, vocês não sabem o que se passa lá. Eu sei, e vou contar para vocês.” Arrogante, porque se coloca como voz única do que é necessariamente polifônico. Preconceituoso porque parte do princípio que pobres e evangélicos têm a cabeça vazia, são espécie de teletubies que aderem ao primeiro discurso que a eles chegar, a quem se apresentar mais próximo.
Uma das belezas do projeto Quadro-negro, é a oportunidade convidar as muitas vozes que, juntas, apresentam uma visão mais honesta do que tem se tornado um produto feitichizado para ser consumido por brancos “entusiastas das periferias e dos pobres”. Ronilso Pacheco é teólogo e pastor de São Gonçalo e ativista colaborador de diversas organizações de direitos humanos no Brasil. Atualmente mestrando em Teologia pelo Union Theological Seminary, da Universidade de Columbia (EUA), o organizador do livro  “Jesus e os Direitos Humanos: porque o reino de Deus é justiça, paz e alegria”, publicado pelo Instituto Vladimir Herzog, em 2018, escreveu recentemente, em uma de suas redes sociais:
“A impressão é que, nas periferias, nos territórios empobrecidos, evangélicas e evangélicos formam um grupo inculto e obtuso, limitado politicamente, incapaz de pensar por si mesmo e criar suas próprias linhas de fuga e sobrevivência.”
E aqui ele escreve sua primeira colaboração para o Quadro-negro, publicado um dia após a censura ao trabalho do Porta dos Fundos, explicando que, para além disso, o que ele chama de  “cristianismo branco” em nada se parece com a igreja original, que surgiu após a passagem de Jesus Cristo pela terra.
***
O Fim da Igreja branca é o fim de uma Igreja que não tolera a diversidade e a solidariedade – Por Rosilso Pacheco
Eu já escrevi que a bíblia é um livro negro de hermenêutica branca. Com “negro”, me refiro a toda diversidade que há na bíblia (de povos, culturas, tradições, religiosidade), e que foram violentamente deturpadas e invisibilizadas para prevalecer a forma europeia-colonial de lê-la e se projetar nela. A negação e a repressão desta diversidade nos afetou profundamente. E esta é uma das razões pelas quais a igreja branca precisa acabar. Ou ela vai nos destruir enquanto sociedade.
Mesmo não achando necessário, faço questão de dizer que quando falo da “igreja branca” não estou me referindo às pessoas “brancas” que estão na igreja (ao menos não de maneira direta). Indivíduos, brancos e brancas, não precisam se acharem tanto. Eu estou falando necessariamente de um modelo de igreja que foi construído com padrões determinados de teologia, de construção de referências de vida cristã, e de formas de conhecer a Bíblia, a Deus e a Fé.
O neocalvinismo, por exemplo, que está cada vez mais assentado no governo Bolsonaro (e cada vez mais o apoia) hoje, tem como seu principal articulador e formulador o teólogo e político Abraham Kuyper, um holandês, no século XIX. Kuyper, por sua vez desenvolveu uma ideia de “cosmovisão cristã” a partir da leitura da obra de James Orr, um escocês, e que foi influenciado por Wihelm Dilthey, um alemão. Uma construção teológica nasce em quintal branco, masculino e europeu, e isto é universalizado como genuína compreensão de Deus, da bíblia e “teologia de verdade”. Isto é a igreja branca.
Isto é um problema? Obviamente que sim. Neocalvinistas em torno do governo Bolsonaro estão comprometidos com uma visão de livre mercado, apoiam políticas hostis à imigrantes, negam o escravidão e os efeitos do racismo na sociedade brasileira, e rezam em uma cartilha neoliberal que moraliza e responsabiliza excessivamente o indivíduo, enquanto poupa e sacraliza a estrutura (por mais desigual, homofóbica, violenta e racista que a estrutura possa ser).
O que une pentecostais e neopentecostais, calvinistas e luteranos, batistas ou metodistas, em maior ou menor grau, em uma frente de conservadorismo que cada vez mais surpreende e assusta, com seu discurso de ódio nas relações, preconceituoso nas interações, violento na política e ganancioso na economia, é uma identidade branca da igreja que herdamos, ou a branquitude da identidade da mesma.
O que está sendo exposto são os limites de uma igreja estruturada no imaginário branco de ser igreja. De cara, este imaginário é racista. Mas ele também hostiliza os pobres, é violento, moralizador e punitivista (ou culpabilizador). Isto é a igreja branca, e ela precisa deixar de existir. Isto é um modelo de igreja que formou e dominou o Brasil na sua organização colonial, escravista, exploradora e que “batizou” a elite e seus privilégios.

Ronilso Pacheco é autor de “Ocupar, Resistir, Subverter: igreja e teologia em tempos de violência, racismo e opressão” (Ed. Novos Diálogos)


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    segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

    Verissimo: se um Bolsonaro chegou à presidência no Brasil, tudo é permitido

    Verissimo: se um Bolsonaro chegou à presidência no Brasil, tudo é permitido: (Foto: Esq.: Divulgação / Dir.: Adriano Machado – Reuters) “Eu não entendo como uma pessoa que enxerga o país à sua volta, vive suas desigualdades e sabe a causa das suas misérias pode não ser de esquerda. Ser de esquerda não é uma opção, é uma decorrência”, disse ainda o escritor Luis Fernando Veríssimo 247 … Continue lendo Verissimo: se um Bolsonaro chegou à presidência no Brasil, tudo é permitido →

    quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

    O “DIREITO” DE TU TERES ARMAS

    O “DIREITO” A TER ARMAS

    O “direito” que o assassino genocida bolsonaro diz de você ter armas e, por isso mesmo, fez por onde você as tenha..., que seja o direito de você ser a única vítima...!!

    Milhares de pessoas no último ano (de 2019) perderam seu(s) ente(s) querido(s): uma pessoa falecida que era amada e querida por seus familiares e amigos.

    Milhares de pessoas no último ano morreram de uma forma que poderia ter sido evitado. Mesmo sem que se tenha o “direito” de ter armas. Imagine agora com o “direito” de tê-las.

    No livre-arbítrio de quem se acha no “direito” de ter armas significa ter o “DIREITO” DE MATAR!!

    Foi garantido no ano que findou, por vontade sua, diz o assassino genocida bolsonaro, autor das iniciativas para a “legalidade” de tua vontade em ter o “direito”, agora, de ter armas (posse, porte de,) para você combater e se defender da violência, segundo ele, (mas que é de responsabilidade do estado, portanto dele enquanto “presidente”, e não tua como ele o diz) não é diferente de quando a escravidão por aqui também já foi um “direito legal” e comercializada por quem tinha condições para isso.

    O “direito” de você ter armas (posse, porte de,) é como o de você ter escravos. Por isso é indiscutível, inquestionável por você, “cidadão de bem”, que acha que não é problema nenhum você, o outro, todos terem amas, porque todos armados estarão seguros, justificando o que tem dito por você, o assassino genocida bolsonaro, até o dia em que venha o atirador, ou, os atiradores, e promova(m) um tiroteio, dois, três, quatro... e..., aí, você é a vítima, ensanguentada, estirada no chão, agonizando, senão já sem vida, morta mesmo!! Ou você Vendo, pode ser em teus braços, um(a) ente querido(a), amado(a); um(a) vizinho(a), um(a) conhecido(a)... Uma criança, um(a) menino(a) dar seu último suspiro. Vendo a luz se apagando nos olhos dele(a), como milhares já o viram. E, aí... Nessa hora... A discussão... O discurso... O direito... se acaba...

    É quando os argumentos se acabam... É quando o debate chega ao fim...

    Nessa hora, o debater termina. E, aí, o teu filho, a tua filha; teu esposo, tua esposa; teu pai, tua mãe estar morto(a). Ou, um parente, um(a) amigo(a); um(a) vizinho(a); um(a) conhecido(a)... morto(a). Ou você mesmo(a)...

    E o assassino genocida bolsonaro lucrando com isso em parceria com quem vende as armas e o fabricante das mesmas!!

    E você, seu imbecil, quantas vai deixar que morram por tua ignorância, por tua estupidez, por tua pura maldade, por teu pura mau caráter?!!

    Pense em teus familiares. Pense em teus(uas) filhos(as), em teus(uas) netos(as). Não é preciso que pense em ti!!

    Pense ao menos na metade dos motoristas armados no transito no horário de pico!!

    Pense na metade das tais torcidas organizadas com seus psicossócio-patas armados!! Na metade dos que estão armados em uma festa, num baile.

    Pense na metade de uma escola com seus alunos e alunas, funcionários e funcionarias armados(as) e, lembre que filho(s), filha(s), esposa(o), mãe, pai estão dentro da escola!!

    Coisas boas acontecem não só com o(s) outro(s).

    Coisas ruins, desastres... também acontecem não só com o(s) outro(s).

    Como não sou cristão como vocês dizem ser, posso desejar imensamente, sem pecar, que cada uma das futuras vítimas de atirador(es) seja cada uma dos imbecis, idiotas, canalhas que defendem o uso de armas... Que defendem o assassino genocida bolsonaro pelo o teu “direito” de... E que não tem noção alguma do que é perder alguém ao menos próximo, vítima de um atirador.

    Num canto, de um lugar qualquer, em 02 de janeiro de 2020.
    Professor (de Professar...), Pedagogo, Filósofo e Radio-Jornalista
    Não-evangélico e, óbvio, não-evangelista; Não-Cristão!!

    DEFENSOR E ATIVISTA AMBIENTAL