quinta-feira, 30 de abril de 2020

VIVA A MORTE!!! MORTE AOS POBRES!!!

Filósofa francesa defende que método de seleção aplicado nos campos de concentração nazistas está na base da estratégia neoliberal implementada em escala mundial 

A solução final capitalista
Laymert Garcia dos Santos

Há dez anos, o poeta e dramaturgo alemão Heiner Müller deixou claro, numa entrevista, que não via Auschwitz como um desvio ou exceção, mas sim como altar do capitalismo, último estágio das Luzes e modelo de base da sociedade tecnológica. Auschwitz seria o altar do capitalismo porque ali o homem é sacrificado em nome do progresso tecnológico, porque o critério da máxima racionalidade reduz o homem ao seu valor de matéria-prima, de material; seria o último estágio das Luzes ao realizar plenamente o cálculo, por elas inaugurado; e, finalmente, seria o modelo de base da sociedade tecnológica porque o extermínio em escala industrial consagra até mesmo na morte a busca de funcionalidade e eficiência, princípios fundamentais do sistema técnico moderno. O comentário de Müller volta com força total à mente quando se lê o último livro de Susan George, que acaba de ser publicado na França, traduzido do inglês. "Le Rapport Lugano" (O Relatório Lugano) mostra que a lógica da "solução final" não se dissolveu com o fim dos campos de concentração; muito ao contrário, ela está aí, mais atual do que nunca, maquinando a estratégia neoliberal implementada em escala planetária. A aproximação pode parecer abusiva, mas não é: Müller sabia que a estratégia nazista de aceleração total, tanto econômica quanto tecnocientífica, obedecia ao princípio da seleção, isto é, do direito do mais forte; George sabe que a estratégia neoliberal repousa sobre esse mesmo princípio, ao colocar a mesma questão totalitária: quem tem o direito de sobreviver, quem está condenado a desaparecer. Ambos odeiam e combatem a seleção porque ela conduz ao genocídio.
 

Perspectiva sem complacência
Susan George percebeu o caráter genocida implícito na estratégia global do neoliberalismo quando, constatando que o sistema atual é uma máquina universal de destruição do ambiente e de produção de perdedores, procurou colocar-se na posição daqueles que mais lucram com ela e descobriu que eles estavam inquietos. "(O presidente do Banco Central dos EUA) Alan Greenspan se inquietava com a exuberância irracional do mercado, (o megainvestidor) George Soros se inquietava com os excessos do capitalismo, o principal economista do Banco Mundial se inquietava com o impacto e a severidade dos programas de ajuste estrutural nos países pobres, o diretor responsável pela economia mundial do banco Morgan Stanley se inquietava com "o impiedoso confronto pelo poder entre o capital e o trabalho" que se anunciava, e muitas pessoas se inquietavam com a polarização social e o desmoronamento do ambiente. Entretanto ninguém parecia fazer a ligação entre todos os aspectos dessa situação, pelo menos em público." Se fosse tão rica e poderosa quanto eles, pensou então George, daria tudo para obter uma perspectiva do processo global traçada sem complacência, já que, por uma questão de sobrevivência, os senhores da terra precisam de um diagnóstico do sistema e de recomendações para assegurar o controle de sua evolução futura. Ora, se tal estudo existisse, seria feito por esses "policy intellectuals" que transitam entre as universidades de prestígio e as altas esferas governamentais. É muito provável que tais análises existam, mas elas, evidentemente, jamais viriam a público. George decidiu então escrever o que precisaria saber, se fizesse parte do seletíssimo clube que decide a estratégia de sobrevivência da "classe express"; e, para poder escrever, concebeu um recurso literário extremamente instigante: imaginou que alguns incógnitos membros da elite global encomendaram a um grupo de trabalho formado por especialistas de todas as ciências humanas um estudo sigiloso destinado a "definir os dados estratégicos que permitirão manter, desenvolver e reforçar o domínio da economia capitalista liberal de mercado e os processos que o termo "globalização" resume de modo eficiente". Reunido em Lugano, pacato e belo refúgio suíço de milionários, o grupo de trabalho teria então elaborado o seu diagnóstico e, em novembro de 1999, entregue o "Relatório Lugano", que tem por título oficial "Assegurar a Perenidade do Capitalismo no Século 21".
 

A encomenda secreta
A invenção da encomenda secreta agora tornada pública é o único elemento ficcional dessa avaliação implacável -todo o resto é documentado por meio da massa de dados devidamente ponderados e apresentados na linguagem fria e imparcial da tecnocracia. Mas em vez de criar um efeito literário, a articulação entre ficção e realidade tem o poder de captar a dimensão monstruosa do processo em curso. Com efeito, tudo se passa como se Susan George tivesse recorrido à situação fictícia para pensar até o fim o pensamento dos neoliberais, para levar às últimas consequências suas premissas econômicas, políticas, comerciais, financeiras, ecológicas e demográficas. A primeira parte do "Relatório" é dedicada às ameaças que pesam sobre o sistema, ao papel das instituições internacionais de controle e ao impacto gerado pela atual relação explosiva entre consumo, tecnologia e população. Eis algumas das conclusões do grupo de trabalho: 1) Os governantes tentam convencer os governados de que a ordem econômica neoliberal pode incluir todo mundo em toda parte, por mais numerosos que sejam no presente e no futuro. Mas não há a menor possibilidade de integrar uma população mundial de 6 a 8 bilhões de pessoas. 2) Antes da globalização, os processos econômicos eram sobretudo nacionais e operavam por adição. Hoje, precisamente porque se tornaram internacionalizados, operam por subtração; é o chamado "downsizing", quanto mais se eliminam elementos humanos custosos (mão-de-obra), mais os lucros aumentam. 3) A cultura capitalista se caracteriza pela concorrência e pela "destruição criadora". Mas os países onde a economia mercantil deu forma a uma cultura capitalista dominante durante séculos constituem hoje apenas 10% da humanidade. Tal porcentagem é de muito mau augúrio para o futuro do sistema. 4) As condições mínimas para que o capitalismo global perdure e triunfe não podem ser satisfeitas nas atuais condições demográficas. Não se pode ao mesmo tempo apoiar o capitalismo e continuar tolerando a presença de bilhões de humanos supérfluos. 5) Uma população total do planeta mais reduzida é o único meio de garantir a felicidade e o bem-estar da maioria das pessoas. Tal opção pode parecer dura, mas é ditada pela razão e pela compaixão. Se desejamos preservar o sistema liberal, não há alternativa.
 

Limpeza social
Uma vez colocada a questão da redução de população, o "Relatório" passa a discutir as estratégias para "resolver" o problema dos excluídos por meio do que Müller chama de "limpeza social". De saída os sistemas genocidas como o Holocausto são considerados estratégias ruins por várias razões: apóiam-se em enorme burocracia, são caros demais e ineficientes, conferem demasiado poder e responsabilidade ao Estado, não passam despercebidos, atraem a ruína e o opróbrio a seus autores. Diz o relatório:
"O modelo de Auschwitz é o contrário do que precisamos para atingir o objetivo. (...) A seleção das "vítimas" não deve ser responsabilidade de ninguém, senão das próprias "vítimas". Elas selecionarão a si mesmas a partir de critérios de incompetência, de inaptidão, de pobreza, de ignorância, de preguiça, de criminalidade e assim por diante; numa palavra, elas encontrar-se-ão no grupo dos perdedores".
Definidos os objetivos e os quatro pilares que fundamentam a ambiciosa empresa, o pilar da ideologia e da ética, o econômico, o político e o psicológico, o "Relatório" propõe, como estratégias de redução da população, uma atualização concertada dos flagelos configurados pelos quatro cavaleiros do Apocalipse: a Conquista, a Guerra, a Fome e a Peste. Vistos nessa perspectiva, os conflitos regionais, as crises, as epidemias e os desmanches que assolam as economias e sociedades do Terceiro Mundo adquirem uma inteligibilidade espantosa, até então irreconhecível. Mas a produção de destruição não tem apenas inspiração bíblica: há também estratégias que nem São João de Patmos nem Malthus poderiam conceber, porque são preventivas e dependem da política e da tecnologia do século 20: aqui têm lugar os inibidores de reprodução, como as esterilizações em massa, a contracepção forçada etc.
Às duas partes do "Relatório" Susan George acrescenta um capítulo de comentários sobre as maneiras de reagir a ele e um posfácio, no qual revela como e porque inventou sua ficção. Leitora do antigo estrategista chinês Sun Tzu, ela simplesmente aplicou seu preceito:
não faça o que mais gostaria de fazer. Faça o que o seu adversário menos gostaria que fizesse.

Laymert Garcia dos Santos é professor livre-docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autor de "Tempo de Ensaio" (Companhia das Letras), entre outros.

Onde encomendar
O livro "The Lugano Report" (Ed. Pluto, 208 págs., US$ 14,95) pode ser encomendado, em SP, à livraria Cultura (tel. 0/xx/11/285-4033) e, no RJ, à livraria Leonardo da Vinci (tel. 0/xx/ 21/ 533-2237).

Texto Anterior:
 Slavoj Zizek: Um empreendimento pré-marxista
Próximo Texto:
 + autores - Robert Kurz: Marx depois do marxismo
Índice
..........
Keane, John; Fairy Tales of London; Ferens Art Gallery
Publicado in
Folha de São Paulo, Caderno +mais!, domingo, 24 de setembro de 2000.
Nota: publicação original do livro de Susan George “The Lugano Report”, Ed. Pluto, 208 págs. Edição brasileira “O relatório Lugano”, Editora Boitempo, 2002, 224 pgs.
Imagem: Fairy Tales of London, John Keane.
Este post também está disponível em: Espanhol
..........


domingo, 26 de abril de 2020

Janaína Pascoal e o plano de afastamento do bolsofake

Janaína, explica o plano para quem acha que é teoria da conspiração... Janina Pascoal Eles têm pressa em tirar Bolsonaro, não estão a fim de passar por um demorado e desgastante processo de impeachment, ainda mais agora que a população acompanha e se revoltaria com os partidos que votassem para retirar o capitão. A única solução é gerar o caos e esvaziar o governo, forçando o pedido de 'demissão'. Fernando Henrique Cardoso pediu a mesma coisa. Entendeu? O alvo agora é o DEM forçando a saída da Ministra Tereza Cristina e um grupo liberal forçando Paulo Guedes a abandonar o barco, em troca de apoio político logo mais. Uma pena que Sérgio Moro aceitou o plano. Eis o texto postado por Janaína, “o plano”: “Nunca defendi pessoas. Sempre defendi e defendo ideias e ações. Nunca vocês me ouviram adjetivar quem quer que seja. Nós não votamos em Bolsonaro! Votamos em dois grandes compromissos! Os compromissos com a luta contra a corrupção e com uma política econômica liberal. Já durante a campanha, o compromisso com uma política econômica liberal foi personalizado no Ministro Paulo Guedes. Após a eleição, o compromisso com a luta contra a corrupção foi personalizado no Ministro Sérgio Moro. O país não precisa de Bolsonaro. Bolsonaro tem feito muito mal ao Brasil. O país precisa desses pilares. General Mourão foi eleito democraticamente! Ninguém pode acusá-lo de ser de esquerda. Se os Ministros Militares retirarem o apoio a Bolsonaro e Mourão garantir esses dois pilares, bem representados por Guedes e Moro, poderemos colocar o país no rumo rapidamente. Não há tempo para um processo de impeachment moroso e desgastante. Eu tenho experiência para falar. Bolsonaro precisa, ao menos uma vez, colocar o Brasil acima, retirando-se. Temos um vírus a combater, temos empregos a resgatar, precisamos de alguma estabilidade!” Fonte: DO JCO

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Sergio Moro demite-se do governo Bolsonaro

URGENTE: Moro caiu The Intercept Brasil 24 de abril de 2020 12:43 Responder para: us11-7ffbfdc654-2d5314d746@inbound.mailchimpapp.net Para: institutouniversidadepanameria@gmail.com Responder | Responder a todos | Encaminhar | Imprimir | Excluir | Mostrar original Sexta-feira, 24 de abril de 2020 Sergio Moro está fora do governo Bolsonaro Estrela do ministério, convidado durante a campanha eleitoral quando ainda era juiz, anunciou há pouco sua saída numa entrevista coletiva no Ministério da Justiça. Sua cara era de total abatimento. Moro foi decisivo para a eleição de Jair Bolsonaro: vale lembrar que ele levantou o sigilo da delação podre de Antonio Palocci – levantamento que nem mesmo Deltan Dallagnol conseguiu defender. O ex-juiz sai do governo muito menor do que entrou. Deu a Bolsonaro parcela considerável da sua credibilidade junto à opinião pública, transferiu seu cacife político ao presidente. Em troca, recebeu seguidas humilhações de Bolsonaro e de seu entorno. Tiraram dele o Coaf, vetaram nomeações, interferiram na PF. Durante a coletiva de hoje, Moro disse que teve apoio de Bolsonaro em alguns projetos, “mas em outros não”. O estopim da queda foi a troca do diretor-geral da Polícia Federal. Ainda Moro, na coletiva: “o problema não é o nome, mas por que trocar?”. Moro não disse, mas o motivo é claro: proteger a família Bolsonaro dos casos de corrupção nos quais estão envolvidos. Sobre esse ponto, Moro elogiou o PT por ter mantido a autonomia da PF durante seus governos. Moro poderá sempre se dizer surpreendido pelo comportamento do agora ex-chefe. O que não muda é que jamais poderia ter sido ministro. Se tivesse qualquer apreço pela justiça e pela democracia não deveria ter aceitado o cargo, dado o histórico da família Bolsonaro, seu apreço por torturadores e desprezo pelas instituições democráticas. Além disso, em qualquer país sério, o juiz que tirou da corrida presidencial outro candidato com chances de ser eleito não assumiria um cargo no governo do candidato vencedor. Seria um escândalo, como foi. Mas a sede de poder de Moro ficou escancarada, como demonstramos inúmeras vezes nos arquivos secretos da Lava Jato. Chego então à Vaza Jato. Depois das revelações que fizemos, Sergio Moro não deveria ter permanecido no Ministério. As improbidades cometidas quando ocupava a 13ª Vara Federal de Curitiba são gravíssimas, interferiram na condução dos rumos da República e colocam em xeque todo o desenrolar da operação Lava Jato. Afinal, como aceitar que um juiz que evita investigar políticos para não "melindrar alguém cujo o apoio é importante" ocupe a pasta da Justiça? É isso o que chamam de bandido de estimação? O ciclo de Sergio Moro no Ministério se encerrou hoje. A vergonha da sua participação no governo Bolsonaro, no entanto, é eterna. E para que não esqueçamos também de que ele sempre teve apreço pelo autoritarismo e pelo desrespeito às instituições, vale a pena ver de novo os melhores momentos do ex-juiz na Vaza Jato: 1. O agora ex-ministro trabalhou em parceria com a força-tarefa de Curitiba sugerindo troca de fases da operação, interferindo nas investigações e dando pistas sobre elas. "Não é muito tempo sem operação?", ele questionou a Dallagnol em certa ocasião. 2. “Moro viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”. Eu também acho, mas quem disse isso foi a procuradora Monique Cheker em uma conversa onde vários membros da força-tarefa reclamavam das violações do ex-juiz e de sua possível ida para o governo Bolsonaro (sempre bom lembrar que Monique é Monique). 3. Acostumado a interferir nos rumos da política brasileira, Sergio Moro também sugeriu que os procuradores vazassem trechos de delação para interferir na política da Venezuela. “Talvez seja o caso de tornar pública a delação da Odebrecht sobre propinas na Venezuela”, sugeriu a Dallagnol numa clara demonstração de desrespeito a qualquer princípio democrático e diplomático. 4. Dallagnol já sabia que Moro estava se metendo numa enrascada ao aceitar o convite de Bolsonaro. Ninguém em sã consciência comprou a ideia de que Bolsonaro é um militante anticorrupção, né? "Seja como for, presidente não vai afastar o filho. E se isso tudo acontecer antes de aparecer vaga no supremo?”, profetizou Deltan. 5. Acostumado desde os tempos de Curitiba a interferir na PF, Moro certamente não gostou de ver Bolsonaro passando por cima da sua autoridade. O ex-juiz gosta do poder, e durante sua carreira na magistratura não só direcionou ações do MPF como também fazia dobradinha com a PF. Há muito mais coisas sobre as impropriedades de Moro durante a Lava Jato. O acervo é enorme e pode ser consultado aqui. É impossível saber o que a saída do ex-juiz significa para os rumos de um governo que vem desmoronando em praça pública. É certo que se não estivéssemos em meio a uma pandemia, Bolsonaro estaria hoje muito vulnerável a um processo de impeachment. O presidente se protege com o vírus. Chega a ser poético. Moro está fora, mas não se iludam: a campanha presidencial de 2022 começou, e Moro e Bolsonaro, bem,,, são uma coisa só. O ex-ministro continua sendo o político mais popular do Brasil, apesar de sair do ministério pela porta dos fundos – ele disse, na coletiva, que soube da exoneração de Valeixo pelo Diário Oficial, e que não assinou o documento, apesar de sua assinatura constar no pé de página. Se Moro diminuiu a ponto de ser chutado por Bolsonaro, certamente foi também pela força do jornalismo independente, que não se deixa seduzir por super-heróis e que não se comporta como porta-voz de autoridade. Um abraço, Leandro Demori Editor Executivo Quantas práticas ilegais, corruptas e injustas estariam ocultas sem o trabalho dos nossos jornalistas? Você tem a chance de nos ajudar hoje a expor ainda mais o que eles querem esconder. FAÇA PARTE DO TIB →