quinta-feira, 4 de junho de 2020

BOLSONARO NÃO É MERA COINCIDÊNCIA

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5 CARACTERÍSTICAS DE UM LÍDER FASCISTA

O fascismo é muito mais do que uma figura ou um regime, mas muitas de suas características estão explícitas no comportamento de seus representantes
ISABELA BARREIROS PUBLICADO EM 04/06/2020, ÀS 07H00
Os líderes Benito Mussolini e Adolf Hitler
Os líderes Benito Mussolini e Adolf Hitler - Getty Images
Adolf Hitler não era levado a sério antes de chegar ao poder na Alemanha. Era um ex-militar de baixo escalão que, durante a década de 1920, começou a ficar famoso devido ao seu discurso contra muitas minorias. Mas poucos realmente acreditavam no que ele dizia de forma aberta.
Quando Benito Mussolini decidiu criar uma organização para expor o pensamento que denominaria “fascio”, não tinha mais de cem pessoas ao seu redor. O Partido Nacional Fascista (PNF), em 1922, tinha apenas 35 dos mais de 500 membros do parlamento italiano, e por volta de 7% a 8% da população estava filiada.
Se não tinham devida popularidade como, então, os dois foram eleitos? Em janeiro de 1933, Hitler se tornou chefe de governo na Alemanha. Mussolini, ainda antes, já em outubro de 1922, começou a ocupar o cargo de primeiro-ministro da Itália.
A verdade é que os cidadãos estavam procurando exatamente isso: alguém que não fosse parte do sistema político tradicional da época, um “anti-político”. Eles tinham perdido a fé na política, e buscavam uma figura de fora desse meio que, finalmente, trouxesse as medidas que esperavam. Não que não se incomodassem com o radicalismo de Hitler, por exemplo, mas as coisas não poderiam permanecer do jeito que estavam.
fascismo é muito mais do que um líder ou um regime: ele tem política, economia e cultura. E pode se mostrar ainda nos dias de hoje, a partir de características que são demonstradas por seus líderes e nomeadas — ou não — como parte de tal ideologia. A seguir, apresentamos cinco atributos de líderes fascistas, do século 20 ou 21.
Mussolini visto em seu trem blindado pelo colega alemão Adolf Hitler, 1937 / Crédito: Getty Images


1.Ultra-nacionalista
Essa característica, sozinha, não pode definir um governo fascista. Porém, é muito importante para classifica-lo. O líder fascista tem um discurso de união nacional, e escolhe uma figura ideal na qual a população deve se inspirar: normalmente, um homem branco e viril. É possível dizer que ele “não vê” classes sociais, pois esses conflitos deverão ser superados em nome da unidade nacional.
É por isso que o fascista considera o fim do diferente essencial. Para conseguir unir o país, ele deverá acabar com o multiculturalismo que está presente em seu território. Hitler escolheu os judeus, os ciganos, os homossexuais, os comunistas, e quem mais discordasse dele. Mussolini, no começo, não era antissemita, mas passou a persegui-los com muito afinco depois de se associar à Alemanha Nazista. Antes disso, seu alvo era todos aqueles que não parecessem com o italiano padrão em seus olhos.

2.Tradicionalista
Como quer que a nação alcance seu ideal etnocêntrico, o líder fascista apela ao seguimento da tradição para conseguir alcançar seus objetivos. Para o filósofo italiano Umberto Eco “basta olhar para o currículo de todo movimento fascista para encontrar os principais pensadores tradicionalistas. A gnose nazista foi nutrida por elementos tradicionalistas, sincretistas e ocultos”.
Ainda assim, estabeleceu-se uma relação ambígua com as novas ciências que estavam surgindo, como o eugenismo. “A ‘limpeza étnica’ nazista tomou como base os impulsos purificadores da medicina e da saúde pública do século 20, a ânsia dos eugenistas em erradicar os defeituosos e impuros, a estética do corpo perfeito e uma racionalidade científica que rejeitava os critérios morais”, explicou o cientista político e historiador estadunidense Robert Paxton em A anatomia do fascismo (2004).

3.Militarista
A exaltação do Exército é uma das características principais do fascismo. Eles geralmente procuravam soluções militares para problemas que, na verdade, eram políticos. A imagem do militarismo é muito clara quando se pensa sobre os regimes da Segunda Guerra Mundial.
Além disso, os valores considerados imprescindíveis a um soldado do Exército passam a ser ideais para o cidadão esperado na nação. A disciplina se torna um dos maiores princípios do fascismo — Umberto Eco considera que, no fascismo, “discordância é traição”. A virilidade do homem também ecoa do discurso, envolvendo sacrifício em prol da nação e coragem para enfrentar o que for preciso.

4.Simplista
Para Robert Paxton, “os programas [do fascismo] eram informais e fluidos” — “aquele era um movimento que “desprezava o pensamento”. Hitler, por exemplo, possivelmente percebeu que os discursos de políticos tradicionais contavam demais com a burocracia da fala, e, assim, passou a usar um linguajar simples e espalhar informações falsas nos seus.
"Todos os livros escolares nazistas ou fascistas usavam um vocabulário empobrecido e uma sintaxe elementar, a fim de limitar os instrumentos para um raciocínio crítico e complexo", explica Umberto Eco. É possível apreender, portanto, que se esperava que os cidadãos tivessem o mínimo de pensamento crítico, para, assim, não duvidar das palavras do líder.

5.Autoritário
Por último, mas não menos importante, é preciso lembrar que a principal lógica do fascismo é autoritária. Os líderes desse pensamento são montados em um pensamento patriarcal — até mesmo no sentido sexista. Eles consideram incontestáveis e são intransigentes até mesmo com o próprio círculo interno.
Por isso, a figura principal do fascismo mostra-se como um regulador dos hábitos cotidianos. Ele proíbe e desarticula organizações políticas que são contra o regime, usando a violência como sua principal arma de estabelecimento do status quo, além de perseguir de maneira sistemática os próprios indivíduos que fujam à norma estabelecida pelo Estado autoritário.

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segunda-feira, 25 de maio de 2020

ESTOU CONDENADO A MORTE POR BOLSONARO!!!!!!






Aos ex-amigos, cúmplices da barbárie

Juca Kfouri
24/05/2020 23h02
POR JOSÉ EDUARDO GONÇALVES*


"Não sei quando tudo isso começou. Quando foi que pessoas que eu gostava, convivia, conversava afetuosamente e, em alguns casos, até admirava pelo exercício talentoso de seus ofícios, se transformaram em seres irracionais, irresponsáveis e levianos, defensores de ideias autoritárias, mesquinhas, rasas , preconceituosas, medievais e, em muitos casos, até fascistas. Quando foi, afinal, que pessoas que tinham uma conduta social equilibrada e pareciam olhar o mundo pela mesma janela que você – cada um à sua maneira, claro – viraram esta coisa esquisita que já não reconheço como próxima de alguma civilidade? Em Kafka, um sujeito acorda pela manhã transformado em um inseto asqueroso. A família reunida, cada um em seu papel, mas o filho surge como uma anomalia, de um dia para o outro, sem qualquer explicação. Kafka foi muito mais fundo nessa história do que esse filme de quinta categoria ao qual estou me referindo, mas confesso que não vi como a coisa se deu, apenas acordei um dia e vi como o meu mundo anda cheio de insetos repugnantes. De radicais defensores de ideias tão obtusas quanto irresponsáveis. Também não foi assim tão de repente, a coisa vem acontecendo há um bom tempo, é verdade, mas hoje sinto como se esses bichos escrotos tivessem se consolidado à minha frente. Eu os enxergo em toda a sua pequenez.
O estopim desta clarividência – em relação à abjeta transformação de certos seres humanos – foi o vídeo da fatídica reunião ministerial do dia 22 de abril, em que o presidente reuniu sua claque para tratar do enfrentamento da crise da pandemia, assunto sobre o qual não se falou durante mais de duas horas de sandices, agressões e exibição de ideias golpistas. O vídeo é assustador, mas não é dele que quero falar, não em primeiro lugar. É da reação de pessoas que, voltando ao primeiro parágrafo, revelaram-se pior do que o farsesco personagem central da trama. Faço um voo no tempo. Em 1993, como bem lembrou aqui um querido amigo, eu escrevi uma crônica na IstoÉ Minas que começava assim: "Não posso reclamar dos meus amigos: são os mais estranhos que eu poderia arrumar". No texto, falo de alguns, invento outros (que são, na verdade, bem reais), presto meu tributo à esquisitice de tantos. O fato é que gosto de gente estranha, diferente, só para ficar claro que não me compraz apenas a companhia de gente normal. Eu diria, até, que os normais me interessam pouco. Só que uma coisa é ser estranho – e outra é ser estranhamente nocivo.
Muito bem, de ontem pra hoje me peguei lendo opiniões de muita gente sobre o tal vídeo onde se pregou a desobediência sanitária na base da porrada, a prisão de representantes eleitos pelo povo, a desqualificação de adversários, a intromissão na Polícia Federal para proteger os entes queridos, o desmantelamento das leis ambientais na calada da noite etc etc etc. Um monte de gente reagiu dizendo que o vídeo é o passaporte para a reeleição do Ogro. No meio desta gente que aplaude e acha adequado esse conjunto de sandices há pessoas que conheço. Tem artista, designer, arquiteto, advogado, fotógrafo, médico, engenheiro, empresário, gente da moda etc etc. Pessoas com quem já convivi, conversei, compartilhei opiniões. Pessoas que, em alguns casos, cheguei a admirar. Que chamei de amigos. Como é que essas pessoas se tornam, de repente, cúmplices de uma barbárie colossal?
Convivo com conservadores e até com pessoas de uma direita civilizada, educada, capaz de divergir sem agredir. Os ex-amigos não se colocam no campo da direita civilizada. Porque Bolsonaro não é isso. Não é um conservador, nem um bocó simplesão, um sujeito sem modos e sincerão, que gosta das coisas direitinhas. Um sujeito que quer o bem do país. Ele está longe desse figurino. Ele não é nem da direita. Bolsonaro é o radical fundamentalista da extrema direita em sua pior versão (não esqueçamos: ele já defendeu publicamente o fechamento do Congresso e o fuzilamento de adversários políticos, em entrevista a uma emissora de televisão, em 1999 – "para dar jeito no Brasil, só matando uns 30 mil", o que incluiria, no caso, até mesmo o então presidente Fernando Henrique Cardoso). Ele tem como herói o único torturador reconhecido e condenado como tal no Brasil.
Mas isso é história já sabida.
Voltemos ao vídeo estarrecedor, tal o seu caráter pedagógico ao revelar, com clareza euclidiana, o que pensam os bolsonaristas e o que eles estão tramando, em todas as frentes – na saúde, na educação, na segurança pública, na questão ambiental, na diplomacia internacional, na convivência com a democracia. Está tudo lá, sem retoques. E há quem diga: "antes do vídeo eu era 100% Bolsonaro, agora sou 500% Bolsonaro". E daí?
Daí que não suporto gente assim. Fui capaz de entender aqueles que se desapontaram com os rumos da economia e com as revelações sobre corrupção no centro do poder, prática secular no país. Mas era preciso optar pelo esgoto, pela escuridão, a ignorância e a truculência? Eu divirjo respeitosamente de conservadores. De fascistas, torturadores e retrógrados eu quero distância. Não fui eu que tachei Bolsonaro de o pior líder mundial da atualidade. Nem foi a mídia esquerdista ou comunista que afirmou que ele é hoje a maior ameaça ao mundo. Quem está chocado com o Ogro são eles, os jornalões da direita global. É o The Economist, a Bíblia dos liberais da economia. É a maior referência do jornalismo econômico no mundo – o Financial Times. É o The Guardian. O New York Times. É a grande mídia conservadora do mundo que está assustada com o baixíssimo nível de quem ocupa a presidência no Brasil.
A reunião ministerial de 22 de abril de 2020 está fadada a entrar para a história da República brasileira. Um registro cru dos intestinos da gente que nos governa. Um acinte de tal ordem que não cabe mais qualquer dúvida: quem é Bolsonaro que assuma, de uma vez por todas, o ônus de carregar o pacote de ideias que ele encarna. Sem mimimi. Não tem mais disfarce ou joguinho de cena. Depois de ver aquelas imagens podres não há saída: ou se está de um lado ou de outro. Ou se defende aquelas ideias ou se é contra. Simples. Mas necessário.
Necessário porque o mundo é uma construção coletiva, queiram ou não. E o mundo no qual eu acredito e pelo qual luto é imperfeito e cheio de defeitos, mas é um mundo de razoável civilidade. De valores consagrados universalmente. E até de razoável otimismo. Só os muito cretinos ou intelectualmente falsos são capazes de negar que, aos trancos e barrancos, a sociedade brasileira vinha construindo um percurso de avanços desde a redemocratização. Estão aí conquistas como a criação do SUS, a estabilização da moeda, a universalização do ensino, o avanço dos direitos humanos, os programas de redução da desigualdade social (como o Bolsa Família), entre tantas outras. Hoje vivemos a ameaça da degringolada geral. A ordem é destruir o que está aí. É interromper o fluxo que nos impelia a ser melhores do que tínhamos sido até então.
Não quero este mundo medíocre que tentam nos empurrar goela abaixo, definitivamente. Confesso a minha impossibilidade de conviver sadiamente com quem quer me matar e aos meus semelhantes. Aos que continuam apoiando o genocida de plantão, um convite à coragem. Isso mesmo, assumam que Bolsonaro os representa em seus valores e ideias. Aos que aplaudiram as infâmias ditas no vídeo, sugiro que façam camisetas com os seguintes dizeres:
EU SOU BOLSONARO E EU APOIO:
– A tortura e os torturadores
– O povo armado contra as medidas de controle da epidemia
– A prisão de governadores e ministros do Supremo
– O uso da Polícia Federal para proteger minha família e meus amigos
– A quebra das leis de proteção ambiental
– Qualquer ataque à cultura, às artes e aos artistas
– O sucateamento da universidade pública e da ciência
– O extermínio dos povos indígenas
– A milícia e os heróis milicianos
– A censura à produção intelectual
– As hostilidades contra a Imprensa e os jornalistas
Façam isso, ex-amigos e conhecidos. Saiam às ruas (sem máscaras, obviamente) com esses dizeres estampados em suas camisetas e faixas ornadas de patriotismo. Pois é isso, de fato, o que vocês estão defendendo. Quem apoia Bolsonaro é cúmplice desse pacote de horror. Nessa altura da nossa história, não existe meio termo. Ou você é ou não é a favor dessas ideias.
No momento em que escrevo o Brasil é o segundo país do mundo em casos confirmados de contaminação pelo coronavírus. São quase 350 mil infectados e mais de 22 mil mortes (amanhã serão muito mais). Enquanto isso, o presidente que os traidores da democracia elegeram cospe seus perdigotos defendendo que se arme a população para lutar contra as medidas de contenção da epidemia. Se isso não é a barbárie, então o que seria?".
*José Eduardo Gonçalves é jornalista.
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SOBRE O AUTOR

Juca Kfouri é formado em Ciências Sociais pela USP. Diretor das revistas Placar (de 1979 a 1995) e da Playboy (1991 a 1994). Comentarista esportivo do SBT (de 1984 a 1987) e da Rede Globo (de 1988 a 1994). Participou do programa Cartão Verde, da Rede Cultura, entre 1995 e 2000 e apresentou o Bola na Rede, na RedeTV, entre 2000 e 2002. Voltou ao Cartão Verde em 2003, onde ficou até 2005. Apresentou o programa de entrevistas na rede CNT, Juca Kfouri ao vivo, entre 1996 e 1999 e foi colaborador da ESPN-Brasil entre 2005 e 2019. Colunista de futebol de “O Globo” entre 1989 e 1991 e apresentador, de 2000 até 2010, do programa CBN EC, na rede CBN de rádio. Foi colunista da Folha de S.Paulo entre 1995 e 1999, quando foi para o diário Lance!, onde ficou até voltar, em 2005, para a Folha, onde permanece com sua coluna três vezes por semana. Apresenta, também, o programa Entre Vistas, na TVT, desde janeiro de 2018.

Colunas na Folha: https://blogdojuca.uol.com.br/lista-colunas-na-folha/

Blog do Juca Kfouri