sábado, 22 de março de 2014

Vivemos do que nosso intelecto consegue captar

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Muitos se dão por satisfeitos com restos...
Vivemos daquilo que nosso pobre intelecto consegue captar,
pois a falta de conhecimento e de discernimento do correto
nos torna mortos em vida...
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______________________ Paulo Ursaia
imagem não exibida

Educação sitiada - por Paulo Kautscher


Educação sitiada: Escolas à serviço da militarização das cidades

Especial produzido em parceria entre o Centro de Referências em Educação Integral e o Portal Aprendiz
Por volta de 700 a.C., na Grécia Antiga, Esparta treinava meninos para se tornarem guerreiros. Marcado por conquistas de territórios e conflitos entre povos, o período histórico demandava da cidade-estado indivíduos fortes, disciplinados, obedientes e prontos para o combate. A agoge – como é conhecida a educação espartana – dividia os aprendizes em ciclos, que variavam de acordo com a idade, e tinham por objetivo desenvolver a excelência física e o domínio emocional e psicológico para lidar com as adversidades da guerra. Os garotos passavam toda a infância e adolescência afastados da família e do convívio social.

O anúncio de que até o final de 2014, sob o pretexto de diminuir a violência e melhorar o desempenho dos alunos, ao menos 19 escolas públicas do estado de Goiás serão repassadas à Polícia Militar, trouxe a educação para o centro do debate sobre a militarização da sociedade.

Criadas a partir de uma parceria técnico-pedagógica entre as Secretarias Estaduais de Segurança Pública e Educação, envolvendo também as subsecretarias regionais de ensino, as escolas atendem estudantes do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, em todos os períodos, a partir de uma estrutura pedagógica rígida, baseada na disciplina individual e coletiva.

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Inseridas em cidades com altos índices de violência – Valparaíso, por exemplo, ocupa o segundo lugar entre os municípios de Goiás, com 80,9 mortes a cada 100 mil habitantes – as instituições de ensino militares são uma promessa do estado para controlar episódios de indisciplina e desvios de conduta, além de ocorrências mais graves dentro ou no entorno das escolas.

Para concretizar essa proposta, o projeto pedagógico das escolas prevê que os militares lecionem as disciplinas de “Educação Física” e “Noções de Cidadania”. Esta última aborda temas como a “ordem unida”, orientações de trânsito, Constituição Federal, meio ambiente, etiqueta social, prevenção às drogas e educação religiosa. Além disso, o uso de farda é obrigatório e atrasos às aulas, assim como qualquer desrespeito às regras, geram desconto na chamada “avaliação disciplinar”.

Entenda o funcionamento dos colégios militares de Goiás

Formação versus Adestramento

Para o professor de Ética e Filosofia Política da Universidade de São Paulo, Renato Janine Ribeiro, a militarização das escolas indica a falência do sistema de ensino brasileiro. “Em um período fundamental de formação, ao invés de educar, você adestra e disciplina. O que o governo de Goiás está fazendo é renunciar à formação dos sujeitos.”

Essa renúncia engloba ainda, segundo o advogado e coordenador do Programa de Justiça da ONG Conectas Direitos Humanos, Rafael Custódio, a falta de incentivo à reflexão, ao debate de ideias, à criatividade e à tolerância, “saudáveis” na formação de qualquer ser humano e “incompatíveis” com instituições rigidamente hierarquizadas, como é o caso da Polícia Militar.

“Escolas militarizadas podem deixar pouquíssimos espaços de discussão, de divergência e até de tolerância para que seus alunos possam se manifestar como bem entenderem. Acho que devemos nos perguntar se queremos escolas que criem cidadãos de fato, não apenas cumpridores de ordens”, afirma Custódio, que vê na formação baseada em valores bélicos o oposto do que se espera de uma sociedade mais tolerante e que respeita a diversidade.

A diretora do Instituto Sou da Paz, Melina Risso, lembra porém que a rigidez, a hierarquia e o excesso de disciplina presentes no ambiente militar estão presentes em muitas escolas – inclusive aquelas que não são administradas pela polícia. A falta de espaços de diálogo, gestões centralizadas e fechadas para a comunidade, apesar de ferirem determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), são comuns no ensino brasileiro.

“A escola é um universo muito fechado. Em muitos casos, a relação dos alunos com o corpo docente e com a direção é praticamente inexistente. Existem poucos elementos de construção coletiva. Ampliando a visão do que significa esse movimento, podemos dizer que há várias escolas com ambiente militarizado”, aponta Melina.

Militarização para quem?

Um aspecto que chama a atenção é a aplicação do modelo militar estar voltado aos jovens pobres que frequentam a rede pública de ensino, já que são eles as principais vítimas da militarização que acontece fora dela. O coordenador de Educação da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO), André Lázaro, vê no sistema das escolas de Goiás mais uma forma de “criminalizar” a juventude pobre.

A educação poderia ser um caminho para a mudança desse paradigma, mas acaba por endossá-lo. É o que acredita Douglas Belchior, que trabalha há anos como educador na rede de cursinhos populares da Uneafro e já conviveu com milhares de estudantes oriundos da rede pública de ensino.

“Vivemos num país racista, desigual, com mais de 500 mil presos. A escola poderia caminhar contra essa lógica punitiva e violenta, dando formação para que os estudantes pensem sobre o mundo em que vivem, tomem decisões. Mas na prática, ela vira um ambiente de reprodução de autoritarismo. Há que se procurar o respeito e o diálogo. Porque os alvos dentro do muro são sempre os mesmos alvos da PM do lado de fora.”

Em consonância com os projetos de militarização encontrados nas cidades – e respondendo à demanda social por soluções rápidas e eficazes para os problemas da educação – o fenômeno parece ter encontrado nas escolas uma oportunidade não apenas de expressar-se, mas também de gerar novos reprodutores dessa lógica.

A professora do departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Vera Telles, se diz impressionada com as “escolas-fortalezas”, que parecem defender as crianças de inimigos exteriores. “Isso acaba por não formar cidadãos, mas indivíduos preparados para enfrentar uma guerra.”

Segundo a professora, essa gestão evoca a ideia de guerra urbana, na qual as dificuldades da vida cotidiana são tratadas de forma bélica. “Essa lógica dialoga com tendências contemporâneas de militarização do conflito urbano nas metrópoles. As tecnologias de controle vêm em pacotes globais, com zonas de exclusão, drones, vigilância e gestão de multidão.” Para ela, a Copa do Mundo e as Olimpíadas são exemplos de vetores d...

Cidades militarizadas

Vera identifica nas escolas militares de Goiás uma faceta do que ela chama de “urbanismo militarizado”, fenômeno que transfere a lógica da guerra para o controle do espaço público. Segundo ela, nesse processo, diversos dispositivos de exceção são inseridos na ordem jurídico institucional e aparecem como “normalidade”, mas são “gambiarras de exceção” que suspendem direitos e acionam o poder discricionário do Estado.

“O Estado tem o monopólio da violência legítima; isso é um axioma da formação das sociedades modernas. Mas ele tem que desativar essa lógica, não fomentá-la. O Estado brasileiro costuma se comportar como operador da vingança, do esculacho, do assassinato de ‘suspeitos’, da violência, do terror”, avalia.

No Brasil, a linha que separa o que é civil do que é militar é frequentemente borrada por pegadas de coturnos. A emblemática frase atribuída a Washington Luís, de que a questão social é uma questão de polícia, nunca deixou de carregar sua verdade com o passar dos anos. No entanto, Vera acredita que o militarismo de hoje não é apenas uma atualização do passado.

“O mais aterrador de tudo isso é que as pessoas, ao terem sistematicamente seus direitos negados, perdem a capacidade de imaginar outras possibilidades de vida, como se fosse a única alternativa enxergar o Outro como um inimigo a ser eliminado”, conclui Vera.

Reportagem: Ana Luiza Basílio, Danilo Mekari, Jéssica Moreira, Julia Dietrich, Pedro Ribeiro Nogueira, Raiana Ribeiro e Roberta Tasselli

Arte: Vinícius Savron e Mayara Barbosa


Fonte: http://portal.aprendiz.uol.com.br/2014/02/26/educacao-sitiada-escol...


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A Cidade de Governador Edson Lobão


sexta-feira, 21 de março de 2014


DIFERENÇA ENTRE ENSINAR E EDUCAR - E UM PERFIL DA EDUCAÇÃO SECULAR E CRISTÃ NO BRASIL

Origem das palavras


    A palavra educar vem do latim educare, por sua vez ligada a educere, verbo composto do prefixo ex (fora) + ducere (conduzir, levar), e significa literalmente “conduzir para fora”, ou seja, preparar o indivíduo para o mundo.
    É interessante observar que o termo “educação” em português possui uma conotação não encontrada na palavra education do inglês. Enquanto que em português a palavra pode ser associada ao sentido de boas maneiras, principalmente no adjetivo “educado”, em inglês educated refere-se unicamente ao grau de instrução formal.

    Educar, segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis, “ formar a inteligência, o coração e o espírito. O indivíduo educado, além de estar instruído, ensinado, é identificado como alguém delicado e cortês. Portanto, receber o ensino e o conhecimento pode dar a uma pessoa a capacidade de desenvolver e até absorver diversas atividades, conduzindo-a a realização profissional e também pessoal, porém o caráter pessoal associado à ética, a moral e aos bons costumes demonstrar-se-á através das ações se recebido e praticado a boa educação. Na interpretação do professor Rubem Alves, “educar não é ensinar respostas, educar é ensinar a pensar.”

    Ensinar deriva da palavra ensignar.  
    Ensinar é repassar (a alguém) ensinamentos sobre (algo) ou sobre como fazer (algo); doutrinar, lecionar. 1.1. p. ext. transmitir experiência prática a; instruir (alguém) por meio de exemplos; 1.2. tornar (algo) conhecido, familiar (a alguém); fazer ficar sabendo; 1.3. dar lições a, instruir; 1.4. mostrar a alguém as conseqüências ruins de seus atos; 2. mostrar com precisão, indicar.
    Embora a palavra educar também esteja inserida na definição de ensinar e em alguns dicionários, como o respeitado “Houaiss” também compreenda que educar é sinônimo de ensinar, instruir, o ensino apresenta instruções que não obrigatoriamente irão conduzir a uma boa educação.  Ratificando este pensamento, o professor ANTUNES DE FRANÇA, mestre em Filosofia, declara:

(...) “educar é: defender o direito à vida, justiça, igualdade social, paz entre as nações; crer na capacidade de todas as pessoas de aprender e de ensinar e de proporcionar meios para que elas sejam melhores do que nós; rejeitar todo tipo de acepção e de preconceitos; promover a pessoa humana por sua essência e excelência; valorizar a caridade, a misericórdia, a compaixão e o senso de empatia; propagar o valor da amizade, da honestidade, da hombridade, da felicidade para todos; desenvolver a crença num mundo melhor, mais justo, igualitário e ético, sem utopismo, paternalismo e conformismo; asseverar coisas, embora a princípio rejeitáveis, mas necessárias para a proteção e a integridade da vida e do interesse coletivo; apregoar o benefício da sociabilidade, da diversidade e da diferença.” (...)

    Claramente é evidenciado no filme “O Clube do Imperador” que a inteligência e o conhecimento adquirido das diversas áreas do saber, podem, ou não, ter um resultado benéfico à sociedade. Educar excede o ensinar quando o sentido refere-se à conduta exemplar. O compromisso de transmitir o ensino, por vezes não será suficiente para uma educação satisfatória, exceto haja disciplina regida pela doutrina para coibir a desordem. Infelizmente, o próprio sistema judiciário beneficia quem, comprovadamente, tem mais escolaridade, isto é, quem esteve por mais tempo nas salas de aulas e conseguiu chegar ao nível superior, com um tratamento diferenciado caso venha a ser encarcerado – ainda que o mesmo apresente um grau elevadíssimo de periculosidade. Paradoxalmente, aquele que teve menos oportunidades de estudo e cometido um delito bem menos agravante é passivo de punição mais rigorosa.
    Consiste um grande desafio para o verdadeiro professor, ao que ama a profissão e atribui mais importância à qualidade do formando que seu ganho mensal, exercer critérios que vão de encontro à própria política da educação secular, reprovando os inaptos e agindo com imparcialidade.
  
    Em nosso país, os intelectuais e defensores da moralidade e de um ensino compatível com as renomadas Academias do mundo estão assistindo indiferentes aos estímulos do governo em reformular a educação, dando ênfase à quantidade representando o sucesso através dos números em detrimento à qualidade. Certamente ouviremos ao final deste governo a célebre frase: “Nunca houve na história deste país um número tão expressivo de pessoas formadas em nível superior.” No atual sistema educacional, sob a égide dos direitos humanos e assistência dos psicólogos, além da sobrevivência das instituições privadas, o professor que mais reprova é o que menos interessa à administração – independente do motivo. O escritor e conceituado membro da Academia de Letras, Arnaldo Niskier, assistia a uma formatura de jornalistas ao lado do acadêmico Abgar Renaut, ex Secretário de Educação de Minas Gerais, e ficou indignado com a multidão de asneiras, segundo ele, que ouviu daquele que, supostamente, seria o melhor aluno da turma. Fato que inegavelmente aumenta em todas as Cadeiras Universitárias, não somente pela reduzida qualidade intelectual dos alunos, mas, sobretudo pelo desinteresse e talvez desqualificação de alguns do corpo docente. 

    A máxima empregada no início do filme “O Clube do Imperador” retrata a conseqüência daquela trama e também do cotidiano: “O fim depende do começo.” Caracterizando bem o comprometimento do mestre com os discípulos, formadores e formandos. Na contra mão da Sociedade está, ou deveria estar, a Igreja Cristã no Brasil, ensinando que “Nem todo que diz Senhor, Senhor entrará no reino do céu, mas o que faz a vontade do Pai”. Jesus também ensinou acerca dos fariseus que deveriam fazer o que eles mandavam, mas não em conformidade com as suas obras - certamente as suas obras eram más, embora soubessem o certo. A educação empregada nas igrejas tem por objetivo introduzir a conscientização da responsabilidade que cada um tem de ter uma vida idônea. Assim sendo, o caráter é moldado com base nas Escrituras Sagradas. Adquirindo o padrão preestabelecido por Deus o ser humano busca a comunhão com o seu Criador, na linguagem bíblica, a santificação. Método este, que não podemos afirmar ser utilizado nos chamados colégios cristãos, visto que, na sua grande maioria, precisa se adequar ao sistema educacional secular. 
      Com o surto de escolas cristãs pelo Brasil, devemos inquirir com mais precisão o que é que faz uma escola cristã diferente das demais. Comecemos com a pergunta, “O que é educação cristã?” Como o nome já indica, educação cristã é aquela educação feita do ponto de vista do cristianismo. Com isto, não podemos referir à simples inclusão no currículo escolar de disciplinas que tratem da Bíblia ou de temas do Cristianismo. Nem ainda contratar professores evangélicos para dar disciplinas regulares de um currículo, nem providenciar para os alunos serviço de capelania, devocionais e cultinhos durante a semana. Assim, escolas cristãs não são simplesmente aquelas ligadas a uma igreja ou denominação, aplicando regras evangélicas de conduta. Todas estas coisas são boas e importantes, mas a escola cristã deve ir além disto.


    O ato de educar, como disse o professor Benedito Luciano A. de França, vai além de ensinar simplesmente, “está intrinsecamente associado aos valores, normas, atitudes, ações e procedimentos universalmente válidos, éticos e morais; baseia-se, com efeito, em comportamentos, valores e princípios que visam o aperfeiçoamento da vida e da dignidade do ser humano.” A liderança cristã nesta nação e pedagogos submissos à palavra de Deus tem a grande oportunidade de preparar aqueles que estarão em eminência e criarão ou zelarão por leis para desenvolvimento da pátria. Temos a obrigação de ensinar que a ética, a justiça e a solidariedade podem e devem sobrepujar a corrupção e o senso comum até então estabelecido de que o fim justifique os meios – em se tratando de finalidades anticristãs.

    Em concordância com o pensamento do nobre professor e escritor Marcos Tuler, a educação secular, compromissada com a seriedade, ensina que todo ser humano deve ser preparado inteiramente – espírito, alma, corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético e responsabilidade moral, ética e espiritual. Outrossim, ensina que os jovens precisam aprender a elaborar pensamentos autônomos, críticos, e formular os próprios juízos de valores, para decidirem por si mesmos, como agir em diferentes circunstâncias da vida.
A educação cristã, por sua vez,  vai além das raias da simples valorização do ente. A Palavra de Deus nos instrui que não devemos pensar apenas em nós mesmos, no que somos, julgamos ou podemos ser. Temos de pensar na valorização do outro – no ser do outro. Não há como ser sem o outro. Todavia, para valorizarmos o outro é necessário nos valorizarmos a nós mesmos. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39).
Outra coisa importante é que o cristão nunca deixa de aprender a ser. Ele está sempre crescendo nesse sentido, porque a aprendizagem da fé está no fato de o crente ser e saber ser uma pessoa em constante busca de seu aperfeiçoamento moral, ético e espiritual.

CONCLUSÃO


    Embora a palavra conscientização já tenha se tornado um lugar comum no linguajar acadêmico, ainda é a alavanca que pode içar essa estrutura combalida que é a verdadeira educação no Brasil. Com base nos quatro pilares da educação, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser, compreendemos que profundas mudanças precisam ocorrer, tanto no sistema de ensino secular quanto no cristão.
Certamente, pode levar algum tempo para aceitarmos que só se aprende participando, vivenciando, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos.
    Inquestionavelmente, não se ensina só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada. Exemplos e atitudes que falam mais alto que muitas palavras proferidas pelos orientadores. Desta maneira, o Mestre dos mestres, o Senhor Jesus investiu insistentemente para que o conhecimento transmitido moldasse também o caráter dos discípulos.

             Pastor EDNILSON PEDRO SOBRINHO



BIBLIOGRAFIA
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Editora Objetiva 2001
MICHAELIS, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, Seleções Ed. Melhoramentos
SEREBRENICK, Salomão. 70 Segredos da Língua Portuguesa. Ed. Bloch – Rio de Janeiro
SITE:  http://www.sk.com.br/, acesso em 09/08/2009
            http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/, acesso em 09/08/2009
            TEIXEIRA, Gilberto. Professor e Doutor (FEA/USP)
            http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp.Benedito L. Antunes de França
            http://www.ipb.org.br/
            http://pt.wikipedia.org

ENSINAR E APRENDER


Colaboração, Trabalho em equipe e as Tecnologias de Comunicação:
Relações de Proximidade  em Cursos de Pós-Graduação.Capítulo I

ENSINAR E APRENDER: As Duas Faces da Educação
A educação escolar e a colaboração são ações que estão intrinsicamente ligadas. Ensinar e o aprender são o verso e o reverso de uma mesma medalha, a educação, e implicam em uma ação colaborativa, participativa e de construção conjunta. É essencial a percepção dessa relação para o entendimento desta tese.

1.1 Educação, direção de desenvolvimento
TOFFLER (1970), POSTMAM(1995), LÉVY(1993), DE MASI(1998 rt), CONTU (1998 rt), MACHADO(1997) são alguns dos que apontam para a educação como um caminho para a preparação e adaptação dos indivíduos em uma sociedade em constantes transformações, mas uma adaptação que seja proativa, não reativa e acomodada. Uma educação pluralista que se volte para a orientação do desenvolvimento de habilidades e técnicas de adaptação, de escolha e de tomada de decisões a partir de projeções de alternativas, possibilidades e probabilidades do futuro; uma educação que se dedique à formação de indivíduos "tecnicamente inteligentes", que ensine aos jovens como "utilizar os instrumentos práticos e mentais indispensáveis para poder viver, trabalhar, e sobretudo não se sentirem estranhos, nessa sociedade fortemente competitiva" (CONTU, 1998,12:1 rt); uma educação que privilegie a diversidade tendo uma base de técnicas comuns para a integração social, e que propicie a negociação, o trabalho em equipe, o viver e o relacionar-se com o outro.
A educação pode ser promovida nos mais diferentes ambientes sociais, mas neste trabalho, limito-me a tratar da educação, em cursos de pós-graduação em Educação, com a perspectiva de formação de professores. Dessa forma, toda a reflexão aqui desenvolvida acontece com o objetivo de fazer professores e alunos de pós-graduação experienciarem, analisarem e refletirem sobre a educação escolar como ensinantes e aprendizes. Não trato de cada fase da educação escolar, mas lembro-lhes que não podemos ensinar em um curso de graduação com a mesma postura e as mesmas crenças que portamos ao ensinarmos em um curso do Ensino Médio. Entretanto, temos que lembrar que os alunos de graduação poderão ser professores do Ensino Fundamental e Médio e que há inúmeras questões que são comuns à toda educação escolar e devem sempre estar presentes no momento do planejamento de suas ações nesses níveis. .
Educar é, pois, visto aqui como uma ação direcionadora, resgatando o passado e projetando-se no futuro, portanto, com uma historicidade própria.
Educar é tornar o homem consciente de si mesmo, de seus deveres e direitos, de sua responsabilidade para com sua espécie. Educar é tornar o homem capaz de pensar em si e nos seus relacionamentos com os outros de modo a perceber que é impossível que ele se nutra autonomamente (EMERENCIANO, 1996:140) Educar é mostrar que a inter-relação, a parceria, a colaboração são fundamentais para o crescimento pessoal e da comunidade. Educar é despertar no homem a possibilidade da ação comprometida com o interpessoal e a consciência de que toda ação tem reflexo para além do pessoal e atinge os que estão ao seu redor.
Educar é permitir, aos interlocutores educativos, a dúvida, o erro, a possibilidade de revisar e alterar posições - a partir de argumentação sólida.
O que assistimos, entretanto, como educação, no âmbito escolar, em geral, não se configura dessa forma. Muitas escolas permanecem como que impermeáveis às mudanças que afetam tanto a sociedade estruturalmente quanto as atividades de produção e de trabalho. As novas gerações freqüentam uma escola semelhante aquela que nossos avós freqüentaram. Na Europa, na América do Norte, na Austrália, ou na América do Sul, em particular no Brasil , as discussões centram-se, em geral, no tipo de currículo, na quantidade de períodos ou horas dos cursos, e deixam de lado esses objetivos. A escola moderna tal como se apresenta é um sistema integrado, coerente e efetivo para a realidade que a gerou, e na qual a tecnologia de comunicação por excelência era o texto impresso. Assim, a educação escolar tem se baseado na transmissão e na difusão do conhecimento através da linguagem escrita. A ênfase é dada à aprendizagem simbólica-reconstrutiva, que "utiliza a linguagem escrita de forma substancialmente autoritária e autosuficiente" dessa forma o pensamento linear fundamental para a clareza e distinção de conceitos vê-se ameaçada a ser deixada de lado diante de novas formas de interação humana baseadas no som, na imagem e na palavra falada. A educação escolar se dá conta muito lentamente que há uma espécie de volta à oralidade e um culto à imagem.. Essa oralidade é aquela mediada pelo vídeo, na qual o interlocutor está do outro lado e não pode ser sentido nem tocado, através de uma imagem sintética, plana que se alterna e envolve emocionalmente. Não tem memória, é fluida e transitória.
Crianças, jovens e adultos estão rodeadas por estimuladores dos sentidos, pelo rádio, pela TV, pelo vídeo, pelo cinema e recebem informações em diferentes linguagens e se vêem diante de uma outra forma de aprendizagem, esquecida na escola tradicional, a sensório-motora ou "perceptivo-motora", que se realiza observando, tocando, modificando, observado os resultados" (ANTINUCCI, 1998,13:4-5 rt).
Antes da escola sistematizada sobre a escrita, a aprendizagem se dava na experiência direta, e não só desenvolvendo habilidades, mas também, conhecimentos complexos como os de engenharia que permitiam aos romanos construírem os sistemas hidráulicos dos aquedutos romanos; o professor que não se apresentava como provedor de conhecimento, "mas como operador especialista que se observava e com o qual se interagia na utilização efetiva e concreta do conhecimento. a transmissão era indireta, aí participava de maneira substancial e determinante a experiência observativa e operativa dos alunos; era verbal apenas em parte e, neste caso, numa forma muito diferente a da verbalização 'em presença' (em presença da tarefa e da experiência factual) muito diferente daquela totalizante do texto escrito que é tomado 'em ausência' (ANTINUCCI., 13:5 rt).
Com o advento da sistematização escrita, a possibilidade de se transmitir conhecimento através do texto escrito, detalhado e compreensível por todos, apareceu como condição básica para a transmissão de conhecimento em larga escala, a escola se organizou exclusivamente sobre o modo simbólico-reconstrutivo, deixando passivo o modo perceptivo-motor (forma natural, menos cansativa e mais "divertida").
Na atualidade, constatamos que crianças, adolescentes e jovens se familiarizam de forma surpreendente com as novas tecnologias de comunicação, e, em quaisquer níveis sociais, há a expressão de sua criatividade através dessas tecnologias. Na periferia dos centros urbanos, encontram-se rádios comunitárias, ou programas de rádio, nos intervalos das aulas nas escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio, em que adolescentes e jovens, compondo equipes criadoras, são os produtores, operadores, redatores, etc.
Os professores continuam a ser preparados utilizando os recursos tecnológicos que privilegiam a escrita. Mesmo ao participarem de oficinas ou cursos de atualização sobre as tecnologias eletrônicas recebem uma formação teórica apenas e não são expostos à experimentar, manusear e manipular essas tecnologias. Não aprendem a trabalhar com as tecnologias eletrônicas como mediadoras, não percebem que os alunos fora da escola estão envoltos em um mundo de som, imagem, de virtualidade e que a televisão e, hoje, a Internet, são janelas para o mundo que pode lhes dar uma visão distorcida da realidade. Não percebem que há interações comunicativas entre telespectadores e produtores dos programas televisivos que levam a "incorporações de imagens televisivas, de vivências e dos conhecimentos fragmentados" que podem ser articulados na escola, mas para isso é necessário que esses meios estejam presentes não só na vida cotidiana de alunos e professores, mas também nas ações educativas que esses professores realizam com seus alunos resgatando de sua memória essa experiência com as diversas mídias, estejam ela presentes ou não nas sala de aula (KENSKI, 1996:138). Atualmente, cada vez mais a televisão está sendo integrado às redes de comunicações, sua programação e muitos dos seus programas já podem ser acompanhados pela Internet. Os canais de TV a cabo se preparam para permitir acesso à Internet através do mesmo canal televisivo. Assim as crianças, jovens e adultos, e hoje até mesmo os idosos, estão acessando um mundo ainda maior de imagens, sons e informações que cada vez mais precisarão ser trabalhadas e sistematizadas em uma aprendizagem continua quer presencialmente, na sala de aula, quer através de orientações a distância que poderão ser emitidas por essas mesmas mídias.
Como a tecnologia eletrônica permite inventar uma realidade, é importante que nós, professores, percebamos que podemos ensinar nossos alunos a utilizá-la de modo a expressarem e produzirem bens culturais. Não vamos abandonar a leitura e a escrita verbal, ao contrário, vamos integrá-la à leitura e a escrita audiovisual e digital. Enquanto esta permite um ir e vir que responde aos impulsos imediatos do leitor e tem um significado instântaneo e volátil que atende à aprendizagem sensório-motora ou "perceptivo-motora", não descartamos aquela, que exige concentração, seqüência, lógica, concatenação de idéias expressas em frase, períodos e parágrafos necessárias à aprendizagem simbólica-reconstrutiva. Ambas abordagens possibilitam a conjunção de diversos tipos de inteligência e as diferentes competências individuais de forma colaborativa e integradora
Nos campi universitários, os cursos que demonstram um maior envolvimento nos projetos são os que não têm a forma de aprendizagem simbólico-reconstrutiva como exclusiva, mas aliam-na à aprendizagem perceptivo-motora, Ainda mais, com o advento do computador e da Internet, o universo perceptivo-motor se amplia com possibilidade de um maior desempenho e competência de adolescentes e jovens na manipulação das tecnologias interativas, como o computador, independente do nível social e de escolaridade.
O homem do futuro precisa ser rápido na identificação de novos relacionamentos, crítico nos seus julgamentos, isto é, cada indivíduo precisa ter habilidades e competência para aumentar sua capacidade de adaptação às mudanças contínuas. Além de compreender o passado e o presente, o homem necessita antever o futuro e antecipar mudanças, através de pressuposições, precisa saber definir, debater, sistematizar e atuar (TOFFLER, 1970). E educação escolar não pode esquecer essas competência uma vez que cada vez mais a educação se dá não apenas na escola, mas também na família, na comunidade, com profissionais e ao longo de toda a vida, não de maneira isolada e solitária, mas através das relações com outros estudiosos, com outros cidadãos, com outras pessoas.
Se a postura se modifica, se não ignorarmos a forma de aprendizagem perceptivo-motora e a integrarmos à simbólica-reconstrutiva, poderemos incluir novo saber e novo "sentir" . Assim, a construção dos conhecimentos sobre Arte, sobre os Meios de Comunicação, sobre Informática, promoverá a internalização de conceitos, hábitos e atitudes e permitirá a criação e a expressão artística, mediadas pelos meios de comunicação e/ou pela Informática.
Há uma necessidade da educação escolar retomar objetivos como a descentralização da posse dos saberes e sua difusão e a interpenetração da escola com a comunidade característica da pedagogia de C. Freinet (1896-1966). Atitudes positivas em relação às formas de aprendizagem precisam a ser consideradas e integrar o perceptivo-motor ao simbólico reconstrutivo, que não só permite a absorção de conteúdos disciplinares num sistema fechado, como também estimula a "formação para o método e para o conhecimento, desenvolvendo habilidades e capacidades, fornecendo elementos-chave e instrumentos, e não soluções e digestões de corpus predefinidos e preparados de materiais," (ANTINUCCI, 1998, 13:8 rt).
Precisa desenvolver atitudes que permitam maior conexão com a realidade do aluno e novas técnicas para se lidar com o desconhecido, com o inesperado e com o possível Essas atitudes possibilitam aprender a fazer, aprender a aprender, encarar problemas de vários pontos de vista, desenvolver relacionamentos interpessoais (aprender a viver com os outros) e a liberdade de escolha (currículo diversificado). É fundamental que se prepare o indivíduo para fazer escolhas apropriadas, para projetar o futuro com tempo suficiente de análise antes da tomada de decisão.
A escola não deve deixar ter como o objetivo o saber, atendendo às necessidades culturais e de construção do conhecimento, mas precisa desenvolver também o saber fazer, o fazer e o refletir sobre o fazer. O conhecimento deixa de ser um corpus fixo e sedimentado para ser um corpus de novos conhecimentos, em constante transformação e móvel, presente em um ciberespaço que permite a interconectividade, a multimediação e a virtualidade para as quais a escola deve habilitar e capacitar o indivíduo (CONTU, 1998, 12:2 rt).
Nesta Sociedade de Comunicação, em que os jovens estão ofuscados pela multimídia, pelos computadores e pela Internet, a aprendizagem informal, não sistematizada acontece em casa (televisão interativa, videogames, computadores), nos locais de trabalho ( geralmente informatizado), nos centros comerciais e nas rua (outdoors eletrônicos, digitalizados, quiosques interativos, sistemas automáticos). Privilegia essa forma perceptivo-motora mas não ignora a simbólico-reconstrutiva (jornais, revistas, livros especializados ou literatura).
Governo, pais e professores enfatizam a necessidade da educação preparar para uma nova sociedade com uma ação mais solidária e inclusiva. A escola não pode esquecer que é formada por cidadãos-alunos e cidadãos-professores. Sendo uma das instituições que presidem a difusão coletiva do "Saber Público", não pode abrir mão de sua função de "mediação cultural entre as gerações, para ser adequada ocasião de aprendizagem e de desenvolvimento de métodos e de 'saber-fazer' que constróem, a partir de informações difusas, conhecimentos estruturados (...) A escola deve por um lado projetar novos percursos de formação, mas de outra parte, conservar conscientemente todas as suas particularidades próprias; ser academia - onde se experimenta e se exercita - e refinaria, onde se reelabora e se aperfeiçoa " (GUASTAVINA, 1997, 9:3 rt). A metáfora da refinaria é muito interessante, no sentido em que a escola como tal dá possibilidade à reconstrução do conhecimento, à reelaboração e/ou aperfeiçoamento do saber prévio, do indivíduo e do grupo, devolvendo à sociedade um novo produto, transformado, melhorado.
Desta forma, tem que se ter clara a noção do que é educar para uma sociedade em transformação. MORAES(1998:6) enfatiza a necessidade de se ter novos espaços educacionais que permitam uma valorização do indivíduo, em consonância com uma atuação colaborativa na coletividade em que vive e "incentivo à autonomia, à criatividade, à solidariedade, ao respeito, à iniciativa, à participação e à cooperação, condições fundamentais para que os indivíduos possam sobreviver no século XXI ". Daí que se faz essencial uma nova postura em relação à formação de professores, não só em relação à sua formação técnica mas, sobretudo, em relação à formação como agente social. KENSKI (1996:139) chama atenção para o cuidado que se deve ter com a preparação de professores para trabalhar com os alunos numa sociedade de comunicação em que a televisão tem sido um meio tecnológico tão importante que produz alterações comportamentais globais: "gestos, expressões faciais, movimentos gerais do corpo, sons, musicas unem-se a palavras para comunicar o novo aprendizado". À televisão, hoje, agrega-se a Internet e os professores parecem não estarem preparados, Continuam a trabalhar apenas no âmbito do cognitivo.
Estou totalmente de acordo com KENSKI (1996:141) quando a autora lembra que os professores também estão expostos à toda essa riqueza e diversidade de linguagens e "plenos de cores, sons, movimentos e informações adquiridos em suas interações com a televisão e outras tecnologias eletrônicas de comunicação e informação" o que lhes falta é a possibilidade de conversar e contar sobre suas vivências fora da escola. Os professores e os alunos precisam de ambiente para expressarem seus sentimentos, seus anseios, suas curiosidades e suas descobertas fazendo o melhor uso e integrando as tecnologias de comunicação disponíveis à sua volta, do lápis às luvas e óculos da realidade virtual.
É fundamental que o professor pratique a leitura e até mesmo a escrita dessas mídias eletrônicas para poder trabalhar com seu alunos "o conhecimento caoticamente retido através dos meios de comunicação de massa e das mais diversas tecnologias", permitindo que cada um construa o seu próprio conhecimento dando a sua contribuição para o conhecimento coletivo.
1.2 Educação, valores e atitudes
Ainda em consonância com o tema, mas não exclusivamente formal ou metodológico, há uma outra preocupação com a qual a formação de professores deve se preocupar para que a educação escolar em uma sociedade de comunicação aconteça de forma adequada. Não é este o espaço para se tratar mais profundamente de Educação e Cidadania, mas não podemos esquecer de que estão intimamente associadas e não se concebe uma sem a outra. Ao lembrarmos que o homem vive em sociedade e para isso ele necessita ter um rol de direitos e deveres como reguladores de sua convivência social, colocamos a educação como a mediadora tanto para a incorporação desses reguladores como para o desenvolvimento de uma capacidade crítica, criativa e reflexiva para transformação desses reguladores em resposta a novos momentos e novas realidades. Os objetivos de conservação e subversão que podem ser contraditórios são na verdade complementares, parte de uma "única narrativa que diz o que é o ser humano, o que significa ser cidadão, o que significa ser inteligente" (POSTMAN, 1996:60)
A educação escolar não é vista isoladamente, mas dentro de uma totalidade envolvendo não só o que acontece na escola, mas em todos os ambientes e relações que envolvem o ser humano desde seu nascimento. A partir dessa colocação, os valores e as atitudes são elementos indispensáveis à educação. Habilidades e conhecimento são preocupações conscientes mais da educação escolar do que da educação familiar ou desenvolvida em outras relações sociais. Valores e atitudes são fundamentais e passam desapercebidas tanto na família quanto na sociedade e tornam-se raras, podendo ser consideradas como um dos elementos primordiais do fracasso escolar e da ausência de cidadania encontrados em grau preocupante nos dias atuais.
Muitos indivíduos, intuitivamente uns , ou outros, afortunadamente, por terem nascido em ambientes onde os valores positivos são desenvolvidos, têm o seu crescimento orientado pela solidariedade, honestidade, fidelidade, amizade, imparcialidade, gratuidade , amor e liberdade. Aprendem a se conhecer e a conhecer o outro; mais, a conhecer-se através do outro e respeitar o outro, conhecendo-o através dele próprio. Desenvolvem a tolerância porque o outro é outro e diferente de si, e entendem que a igualdade deve ser considerada em dimensões diferentes. A igualdade deve existir na oferta de condições de vida e desenvolvimento bem como na aplicação da justiça, mas há que se considerar que a diversidade tem que ser respeitada. Querendo tratar igualmente os desiguais, poderemos praticar uma grande injustiça. POSTMAN (1996) questiona, "pode um povo com diversas tradições, línguas, religiões, criar uma cultura unificada, coerente e estável?" ao que acrescento: a educação escolar pode ignorar essa diversidade e impor apenas uma cultura letrada ignorando as diversas "culturas" presentes na sociedade e, por conseguinte, presentes na escola? E quando se trata do Ensino Superior, é correto não trabalhar essa diversidade presente em muitos dos aspectos que o cidadão e o profissional encontrarão na sociedade como um todo e/ou na sua área profissional, em particular? Podemos desenvolver um trabalho colaborativo e participativo sem considerar essas questões?
Considero aqui a definição que Machado2 (1997:69-70 associa à educação, isto é, "a arte de conduzir a finalidades socialmente prefiguradas, o que pressupõe a existência e a partilha de projetos coletivos" buscando um "entrelaçamento, de uma fecundação mútua entre projetos individuais e coletivos". Assim como educar para a cidadania significa prover o indivíduo de instrumentos para a plena realização desta participação motivada e competente, desta simbiose entre interesses pessoais e sociais, desta disposição para sentir em si as dores do mundo; e semear um conjunto de valores universais que se realizam com o tom e a cor de cada cultura " (Machado2, 1997:106-107).
Assim, a existência do projeto é fundamental. O projeto de vida que anima, que dirige, que motiva e que empurra o indivíduo a seguir em sua lida, em sua pesquisa mesmo diante de muitos revezes, cansaço e obstáculos. Por outro lado, não se estimula, não se instiga, não se prepara nem na família, nem na escola, o indivíduo a ter seu próprio projeto e, a partir dele, participar de um projeto coletivo. Ao contrário, muitos pais e professores costumam impingir seus projetos frustrados para serem realizados pelos filhos e alunos.
Se os valores não são desenvolvidos e, portanto, não são parte da vida de adolescentes e jovens, se os projetos não são deles, e se a grande razão para se ir à escola é obter um diploma para "ter" um futuro confortável, esses jovens tornar-se-ão "cidadãos" passivos, manipuláveis e acomodados, por um lado, e frustrados, revoltados, intolerantes, propensos à violência, por outro. Professores que são indivíduos intolerantes, desiludidos, no sentido mesmo que não têm mais nenhuma ilusão e não querem mais participar do "jogo", provocam, em seus alunos, um desencanto não só em relação à escola como também em relação ao seu semelhante e à sociedade. Suas atitudes são de apatia, descaso, acomodação. Demonstram que não têm nenhum projeto pessoal, e não participam do projeto do grupo a que pertencem ou da instituição em que trabalham. Muitas vezes, colocam-se contra os que ousam ter um.
Há, ainda, muitos indivíduos competitivos, brilhantes, trabalhadores, mas movidos por um estímulo consumista que os compele a progredir, a pesquisar, a crescer em sua área de atuação para poder "ganhar" mais e "consumir' mais. Os valores que eles respeitam são os valores de mercado e as regras do jogo são feitas a partir do lema "os fins justificam os meios". Tanto do ponto de vista humano, quanto do ponto de vista profissional, impera a lei do mais forte e é isso que muitos professores deixam transparecer para seus alunos muitos dos quais assimilam não só os ensinamentos como também os conceitos de vida e passam a reproduzir a mesma postura, a mesma atitude e os mesmos valores.
Por outro lado, a tolerância e o respeito à diversidade ainda podem ser encontrados no Ensino Superior, assim como são presentes, projetos individuais ou coletivos baseados nos valores humanos que levam o homem a buscar a sua realização. Encontramos grupos de indivíduos que, silenciosamente, têm projetos coletivos dadivosos que incorporam projetos individuais e que buscam, através da colaboração e da ação participativa, solidária e transformadora, agir junto aos menos favorecidos, reconhecendo-os como pessoas e desenvolvendo-lhes a auto-estima, incorporando-os à sociedade e que não só lhes dão condições materiais, mas sobretudo desenvolvem atitudes baseadas em valores do ser com dignidade.
Essa preocupação que se demonstra, em geral, pelos menos favorecidos materialmente, deve ser considerada em relação aos jovens que têm todo o conforto material e, muito por causa disso, crescem sem projetos, sem valores, e, portanto, sem princípios - intolerantes e arrogantes - instigados apenas pelo ter cada vez mais. Os professores das escolas desses jovens, muitas vezes, se limitam a cobrir conteúdos e desenvolver habilidades operacionais. Reclamam da falta de valores e das atitudes não sociais e não colaborativas, mas não fazem nada, porque "isso já vem de casa" ou por que "na idade que já estão, atitudes e comportamentos " não são modificados. Muitos desses jovens limitam-se a freqüentar um curso superior e cumprir um ritual para continuar uma atividade já herdada do pai ou do avô, ou apenas para lhes entregar o diploma por eles desejados. Serão arquitetos, advogados, dentistas, engenheiros, médicos, etc diplomados que não exercerão a atividade ou já terão uma clientela "herdada", sem precisarem mostrar sua capacidade e competência para construir a suaprópria clientela. Por conseguinte, não serão sujeitos em processo de realização ou cidadãos críticos, proativos, criativos.
Nós, professores do Ensino Superior, precisamos ter projetos pessoais, integrá-los ao institucional, para nos sentirmos felizes, poderosos e confortáveis, para podermos seduzir nossos alunos a continuarem a sonhar e, a partir de seus sonhos, desenvolverem seus projetos individuais e criarem projetos coletivos; a serem colaboradores e participantes. Orientá-los a trabalhar e pensar reticular e significativamente, a usar a tecnologia e incorporá-la em vários níveis de atuação, como aplicação do conhecimento científico à solução de problemas e não se deixarem dominar pelo encantamento dos suportes tecnológicos que acabam hipnotizando o homem, escravizando-o. Orientá-los a trabalhar tendo como critério primordial a qualidade e a integridade. Dessa forma, poderemos ter futuros pais, futuros cidadãos, como indivíduos inteiros de corpo, mente e alma, solidários, criadores e transformadores.
1.2 Ensinar e Aprender
Tratei aqui, até agora, do educar como um processo que desmembro agora nas ações de ensinar e aprender. Antes de iniciar essas reflexões, deixo explicita o que é para mim o professor, aproveitando as palavras de BRAULT (1996:77):
É alguém que: a) sabe organizar um plano de ação pedagógica; b) que sabe preparar e organizar, concretizar e operacionalizar situações de aprendizagem; c) sabe regular o desenvolvimento da situação de aprendizagem e é capaz também de avaliar esse desenvolvimento; d) sabe gerenciar fenômenos operacionais; e) sabe fornecer uma ajuda metodológica; f) sabe favorecer a construção de projetos profissionais positivos pelos alunos, projetos de vida no início da escolaridade, projetos profissionais até o fim do 2o. grau; e finalmente, g) sabe trabalhar com parceiros(grifo meu).Dessa forma, estarei refletindo sobre ensinar e aprender em termos gerais e particularizando esse processo em cursos de pós graduação, tendo em mente um professor com essas características.O professor, profissional que deve estar em constante formação, desenvolve um trabalho que envolve duas ações que não podem ser pensadas separadamente: exatamente como em uma moeda, uma face está intrinsicamente ligada à outra e perde o valor se tomada isoladamente.
 

1.2.1 Ensinar: a face da responsabilidade pelo outro na educação
Ensinar é um processo que envolve indivíduos num diálogo constante, propiciando recursos temporais, materiais e informacionais para que se desenvolva a auto-aprendizagem e a aprendizagem com os outros ou a partir de outros (STOKROCKI, 1991). Não é apenas transmitir conhecimentos obedecendo a determinadas metodologias, cumprir os currículos de disciplinas estanques ou inter-relacionadas e "cobrir" determinados assuntos. Ensinar é fazer com que os alunos se comprometam num questionamento dialético de princípios fundamentais, desenvolvam estratégias de discussão de verdades estabelecidas É fazer com que analisem argumentos pró e contra e buscando a validação ou a contestação de hipóteses e crenças, com que estabeleçam novas hipóteses e novas crenças fundamentadas por pesquisa e reflexões sérias (CARR, 1997:325). Esse comprometimento não pode se dar apenas no âmbito individual, mas também coletivo.
Ensinar é instigar e orientar os alunos para que se apropriem de conhecimentos específicos de cada fase escolar para a "interiorização do saber sistematizado, historicamente acumulado"( LOPES, 1996:111).
Ensinar é criar condições para que os alunos desenvolvam as condições básicas de domínio das diversas linguagens, fundamentalmente a da escrita, de modo a poder sistematizar o conhecimento e expressar tanto suas dúvidas e incertezas quanto suas descobertas e criações. É, também, ajudá-los a desenvolver a reflexão, a saber fazer as perguntas certas e ir atrás das respostas adequadas
Em uma perspectiva sócio-inteacionista, é instrumentalizar os alunos para perceberem que já possuem um conhecimento que trazem de suas casas, para integrarem esse conhecimento com outro sistematizado na escola através de atos comunicativos com seus colegas e seus professores e para criarem novos conhecimentos individual ou coletivamente.
Ensinar, além de se caracterizar como uma atividade colaborativa entre professores e alunos, deve promover essa colaboração entre os próprios alunos, estimular o trabalho em equipe e proporcionar um espaço para que uns ensinem aos outros aquilo que dominam melhor. A investigação colaborativa propicia que os alunos se ajudem mutuamente na coleta e na análise de dados, e, na hora da interpretação, as vivências e as perspectivas individuais, podem produzir conclusões mais ricas.
Educadores, comunicadores, estudiosos mais atentos percebem que não se pode ter todo o conhecimento em sua área específica, e ainda mais, que esse conhecimento não é compartimentado, fragmentado em disciplinas estanques como a escola, em geral, continua a encarar.
É muito comum, no desenvolvimento da pesquisa durante os cursos de pós-graduação, depararrmo-nos com fontes e informações que podem interessar a nossos pares. À medida que encaminho essas descobertas a meus pares estou abrindo um caminho de volta de informações para a minha pesquisa. Para Dewey (apud Nassif:45), toda comunicação é educativa e o
"ser receptor de uma comunicação é ter uma experiência ampliada e alterada. Se se participa no que o outro pensou e sentiu, seja de modo restrito ou amplo, modifica-se a própria atitude. Da mesma forma, não deixa de ser afetado aquele que comunica".Concordo com KENSKI (1996:135) que "para ser eficaz como ato comunicativo é preciso que ocorra na atividade didática uma relação interativa, uma união entre as partes, no nosso caso, professores e alunos", decorrendo daí a necessidade de discussão, reflexão, aprofundamento sobre um conteúdo significativo.Assim, a comunicação educativa se faz cada vez mais necessária para que o trabalho colaborativo se instale. A colaboração permite um sem número de conexões no âmbito escolar constituindo uma experiência que pode ser transferida para outros ambientes em que o indivíduo vive. Para o trabalho colaborativo acontecer e essas conexões se tornarem significativas, há que se ter uma vivência da ação colaborativa, de participação ativa e de construção conjunta nos cursos de formação inicial e continuada de professores nas graduações específicas que os formam, como Pedagogia e as Licenciaturas e Institutos Superiores de Educação, no Ensino Médio, na modalidade Escola Normal (Magistério), nos projetos de Formação Continuada de Professores em serviço e nos cursos de Pós-Graduação. Ainda neste capítulo, há uma reflexão mais aprofundada do que vem a ser a colaboração, suas características fundamentais e sua importância na formação de ensinantes e aprendizes porque creio que essa formação precisa se desenvolver através de um trabalho individual e em grupo de reelaboração inovadora e de criação, incorporando o objeto de estudo nas mais diversas dimensões pessoais, como afirma MORAN em um dos textos encontrados em sua página na WWW ( rt ).
1.2.2 Aprender: a face da responsabilidade pessoal na educação
Aprender é construir "seus conhecimentos e sua afetividade na interação" com outros sujeitos e "por meio de influências recíprocas que vão estabelecendo cada sujeito constrói o seu conhecimento de mundo e o conhecimento de si mesmo como sujeito histórico" (LOPES, 1996:111).
Aprender significa ser capaz de reelaborar e reconstruir conhecimento através da formulação de questionamentos, de análise e síntese das descobertas. O indivíduo aprende é ao ser capaz de dialogar com o seu interlocutor, seja ele o professor, o livro, o jornal, o programa de TV, o vídeo ou a página da WWW. Dependendo do grau de escolaridade, aprender envolve saber questionar as verdades apresentadas, refletir, investigar suas dúvidas e elaborar nova síntese que lhe satisfaça a inquietação inicial.
Aprender significa ser capaz de pesquisar com olhos inquisidores, orientados por inquietações que tragam contribuições ao crescimento individual e coletivo. É um processo multifacetado e estimulante se interconectar diversas áreas do conhecimento mediadas pelas mídias impressa, audiovisual e digital em uma rede de relações interpessoais.
POSTMAN (1996:45) chama a atenção para o fato de só poder existir uma comunidade democrática e civilizada, se as pessoas que aí vivem, fazem-no de forma disciplinada como participantes de um grupo e que, portanto, precisam aprender a viver em grupo, onde as necessidades individuais estão subordinadas aos interesses do grupo. Aprender a conviver de forma colaborativa propicia o crescimento do grupo como um todo e, por conseguinte, o crescimento de cada um em particular.
Aprender implica na capacidade de construir significados, reconstruindo o passado e projetando o futuro. Se nós, professores, não temos muito claro, para nós mesmos, o que é o ensinar e o aprender e se não nos lançamos como navegadores nessa viagem estimulante, de volta ao nosso passado e nos projetamos para o futuro, como poderemos levar nossos alunos a empreender a viagem em busca do conhecimento, uma aventura que exige esforço, dedicação e que pode apresentar riscos e frustrações? Não são eles, jovens e adultos, seduzidos hoje pela mídia com "videogames" e viagens sedutoras embora alienantes?
Nós, professores, precisamos estar em constante aperfeiçoamento de nossa capacidade de reconstruir nosso conhecimento, de análise do nosso cotidiano, de questionamento da nossa prática individual e coletiva. Devemos estar alerta às constantes transformações que ocorrem no mundo para além das paredes da escola. Esse aperfeiçoamento e questionamento precisam ocorrer tanto no isolamento individual, quanto em equipes colaborativas que desenhem e realizem projetos conjuntos baseados na prática escolar. Não podemos ignorar a tecnologia que já está inserida no dia a dia do homem nesta sociedade tecnológica. Não podemos ignorar que temos uma história individual entrelaçada a uma história social.
Professores e alunos, precisamos praticar entre nós e com os outros o ato comunicativo, reconhecendo que esse ato é um ato de aprendizagem.
"... É preciso reconhecer que quero me comunicar, que quero trocar informações com alguém e que, nesta troca, vou me transformar, vou aprender" (KENSKI, 1996:135).O desenvolvimento em equipe implica em saber trabalhar de forma interdisciplinar, de modo que a interdisciplinaridade fique colada como marca d’água na nossa didática e na nossa prática escolar.A aprendizagem pode se dar através da linguagem, mas será mais completa e mais significativa se também ocorrer através da experiência, ainda que simulada. Aprender através da linguagem, via leitura dos mais diversos meios (texto impresso, vídeo, filmes, programas de rádio e de TV, programas de computador tutoriais ) ou via aulas ministradas por professores permite-nos uma leitura das idéias, dos pensamentos, das opiniões e dos conhecimentos de outras pessoas e de outras épocas assim como um confronto com as mesmas. Aprender através da linguagem implica em que se tenhamos um bom conhecimento da linguagem ou corremos o risco de não compreendermos o que "lemos" ou não sabermos "escrever" sobre o que "lemos" . A linguagem requer uma outra pessoa, a que observou, analisou, classificou, escreveu para podermos ler.
A aprendizagem por experiência nos coloca em contato direto com a realidade. Na escola, aprender por experiência ocorre nos laboratórios e, geralmente, tem a tecnologia como mediadora. Quanto maior a possibilidade de simulação maior a possibilidade o aluno tem de observar, de construir hipóteses e de testá-las para verificar se essas hipóteses estavam corretas. Aprender por experiência permite a manipulação da realidade, agindo e percebendo os resultados da nossa ação. Dessa forma, "podemos conhecer e compreender a realidade observando como ela responde às nossas ações" (Parisi, 1998, rt). É bastante raro podermos desenvolver esse tipo de aprendizagem na escola que privilegia o aprender pela linguagem escrita. Entretanto, se a escola tiver uma tecnologia que permita o uso de modelos simuladores que permitam que aquelas características obscurecidas pela linguagem escrita apareçam, as capacidades de abstração, de memória, de manipulação de símbolos e a habilidade lingüística serão complementadas pelo uso de outras capacidades como a de observar, reconhecer modelos, manipular, levantar e controlar hipóteses. Os alunos terão maior motivação para aprender e para estudar, pois com a experimentação e a simulação seguidas da reflexão estarão aprendendo mais do que apenas através da abstração. Em algumas situações estarão se divertindo, em outras estarão vivendo papéis diversos dos que vivem no seu cotidiano e, ainda, haverá situações em que serão desafiados a resolver problemas complexos.

Incorporar de forma inteligente a tecnologia significa adotar uma postura positiva e interdisciplinar em relação à tecnologia e trabalhar com elas como elementos emancipatórios na nossa prática pedagógica. Podemos aprender com essas tecnologias que a aprendizagem se dá no envolvimento integral do indivíduo, isto é,
"o emocional e o racional; a análise lógica e o lado do imaginário e do intuitivo; a imagem e o som; a açào, a presença, a conversa, a interação, o desafio, a exploração de possibilidades, o assumir de responsabilidades, o criar e o refletir juntos sobra a criação" (KENSKI,1996:146).
   

Autora:   Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo
Colaboração, Trabalho em equipe e as Tecnologias de Comunicação: Relações de Proximidade  em Cursos de Pós-Graduação. Tese de Doutorado - Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2000. 
Orientadora: Profa. Dra. Vani Moreira Kenski .


     Sumário   Introdução  Capitulo I   Capitulo II   Capitulo III     Capitulo IV    Capitulo VBibliografia   Glossário     Anexos   Resumo 

Ensinar: Instruir sobre: ensinar matemática. Doutrinar: ensinar crianças. Educar. Mostrar, apontar: ensinar o caminho. Escarmentar, castigar: ensinar um atrevido.
Educar: Desenvolver as faculdades físicas, morais e intelectuais de. Instruir. Domesticar, adestrar. Aclimar
Instruir: Ensinar, leccionar, transmitir conhecimentos a. Adestrar: instruir recrutas. Informar: instruir alguém do que se passa. Documentar: papéis que instruem uma petição. Instruir uma causa, colocá-la em estado de ser julgada.
 In Dicionário Prático Ilustrado, Lello & Irmão Editores, 1977

oder-se-á dizer que aquele que está a fornecer, a transmitir um qualquer tipo de conteúdos a outrém (conteúdos que poderão ser bastante variados, desde competências e destrezas físicas a conhecimentos teoréticos ou regras de comportamento social) está a ensinar? Então, para que servirão as palavras educar e instruir? Ora bem, em minha opinião existe uma grande confusão entre estas três palavras, tal como atesta a definição das mesmas que eu retirei de um dicionário. Neste é usado, para definir a palavra ensinar, a palavra instruir; para definir a palavra instruir, é usada a palavra ensinar. E para definir educar, é usada mais uma vez a palavra instruir. Em que é que ficamos afinal? Poderemos então dizer que sempre que estamos a transmitir uma informação, qualquer que seja o conteúdo da mesma, estamos a instruir? Ou pelo contrário, estaremos a ensinar? Se calhar, vendo bem, devemos estar é a educar. Ora bem, vamos lá pôr os pontos nos is: nem todas as acções que consistem em transmitir um conteúdo (seja ele um conteúdo teórico, um comportamento social ou uma destreza corporal) serão por certo ensino, tal como não serão todas instrução, e muito menos educação. Portanto, considero deveras importante que se tente clarificar, e de uma vez por todas, os diferentes sentidos destas três palavras.

antes de começar a discutir este tema mais profundamente, proponho um pequeno exercício: vou aqui colocar umas quantas afirmações, ligadas com as três actividades acima descritas, e o leitor coloque-as na categoria que considerar mais apropriada (atenção, vou colocar a palavra ensino em todas as actividades, tal como provavelmente o leitor o faria no quotidiano, mas de certo nem todas as actividades mencionadas serão ensino!). No final de ler este pequeno ensaio, veja se ainda concorda com a distribuição que fez anteriormente. Talvez se aperceba melhor da confusão que existe entre estas três actividades...
Considere então as seguintes actividades:
 
1) Quem "ensina" alguém a conduzir um automóvel está a...
2) Quem "ensina" alguém a contar está a...
3) Quem "ensina" alguém a dançar está a...
4) Quem "ensina" que não se deve deitar um papel para o chão está a...
5) Quem "ensina" que não se deve falar com a boca cheia está a...
6) Quem "ensina" uma arte marcial está a...
7) Quem "ensina" como se pinta a óleo está a...
8) Quem "ensina" que não se deve faltar ao respeito com os mais velhos está a...
9) Quem "ensina" que Afonso Henriques foi o primeiro Rei de Portugal está a...
10) Quem "ensina" como se aperta um atacador está a...

á acabou? Muito bem. Quase aposto que sei o resultado deste seu exercício mental (ou não é verdade que encontrou algumas dificuldades em encontrar actividades que fossem instruir?). Ora bem, comecemos então pela palavra ensinar. O que poderemos nós considerar por ensinar? Bem, quando se fala em ensinar, vem-nos logo à cabeça a escola, o professor a ensinar aos alunos como se lê, a ensinar a fazer contas, a ensinar que Afonso Henriques foi o fundador de Portugal, e por aí fora. Ora bem, e o que é que se aprende na escola? Em princípio serão os conteúdos programáticos, os saberes temáticos e teoréticos, dos quais constam a Matemática, a Língua Portuguesa, a História, e por aí fora. Assim sendo, quais serão as principais figuras desta interacção? O aluno e o professor, decerto. Quando afirmo aluno e professor, não quero que se fique com a sensação que o ensino apenas se dá entre aluno e professor. Um pai pode muito bem ensinar ao seu filho de cinco ou seis anos como se fazem contas de somar, e isso não o intitula com o grau de professor. Mas o que gostaria de salientar aqui é que o que se ensina são saberes teoréticos, e é isso que distingue o ensinar das outras actividades acima mencionadas, o educar e o instruir. Assim sendo, o local privilegiado onde se dá este ensino será a escola.

o que quererá dizer a palavra educar? Mais uma vez, quando pensamos nesta palavra, uma outra figura vem-nos à cabeça. E essa figura não será muito diferente da que eu imaginei: um pai a dar um raspanete no filho, por este se ter portado mal. Assim sendo, quais serão os conteúdos da educação? Por certo serão os valores, regras de conduta, normas, atitudes, costumes e comportamentos sociais. E quem serão as figuras de tal processo? Por um lado, quem está a aprender, o educado. Por outro, quem educa. Esta actividade não decorre num lugar tão restrito como aquele inerente ao ensinar. A educação vai-se efectuando no nosso quotidiano, nos locais mais recônditos pelos quais nós passamos. Estamos a educar (e a ser educados, entenda-se...) em casa, na rua, ao ver televisão e a ouvir rádio, a ouvir o raspanete do senhor do talho por não termos respeitado a vez de sermos atendidos, e por aí fora. Assim, tal como esta educação pode tomar lugar nos sítios mais variados, também os responsáveis pela mesma são muito variados. Tal como os pais e os familiares são responsáveis pela educação (talvez em maior grau, é certo), também a televisão, o vizinho do lado, o amigo ou o empregado de balcão estão permanentemente a educar quem com eles interage.

or fim, vem a instrução/iniciação. Talvez seja esta a categoria que mais dúvidas poderá levantar para o leitor desprevenido. Ora bem, pensemos mais uma vez numa imagem para a acção de instruir. Dificuldades? Eu ajudo. Pensemos num instrutor da condução a dar a respectiva aula, ou um pintor a ensinar como se pintam telas a óleo. Quais os conteúdos desta instrução (ou iniciação)? Será um saber fazer, uma destreza corporal, que o instrutor tenta passar ao aprendiz. No entanto, não vamos considerar a tarefa dos instrutores como sendo ensino. Pelo que já vimos anteriormente, no ensino os conteúdos são saberes teoréticos e temáticos, enquanto que na instrução são saberes-fazer (o savoir-faire dos franceses ou o know-how dos ingleses) e destrezas corporais. Assim, a grande diferença entre ambos é o tipo de conteúdo transmitido, o saber teorético versus o saber fazer. É a oposição entre a teoria e a prática. E onde se dá esta instrução? Ora bem, dá-se no ginásio, na oficina, no atelier de pintura, e por aí fora. Dá-se nos locais onde os conteúdos que são transmitidos são predominantemente práticos, são sobretudo competências corporais. E como se designam as figuras que participam nesta mesma actividade? Pode ser o instrutor, que instrui o seu aprendiz (tal como nas marcenarias existem os aprendizes de marceneiro, que aprendem com o instrutor), e pode ser o mestre, que instrui o seu discípulo (tal como o mestre de artes marciais instrui o seu discípulo na arte de combate).

stas três actividades (que, em princípio, já considera como sendo diferentes, algo que a início talvez não acontecesse), tal como apresentam diferenças nos conteúdos que são transmitidos, apresentam diferenças no modo como se faz a transmissão dos conteúdos e no modo de aprendizagem. Nas tarefas que podem ser designadas por ensino, o professor tem uma fala explicativa, expositiva e demonstrativa, para ensinar os saberes teoréticos aos alunos. Aliás, todos nós nos lembramos dos nossos professores que, no estrado em frente a toda a turma, explicam aos alunos como se deu a independência de Portugal, e que demonstram como se resolve uma equação do segundo grau. Por parte do aluno, o que ele faz (ou tenta fazer) é compreender, assimilar o que foi ensinado por parte do professor. Já na instrução, o mecanismo não funciona assim. O instrutor mostra como se faz determinada tarefa, fazendo-a ele próprio. Serve de pouco, de muito pouco, apenas dizer como se faz. É necessário que o instrutor dê o exemplo, que mostre como se faz. E aí o aprendiz, com muita atenção, observa o que o se instrutor faz, tentando em seguida imitar, repetir os gestos efectuados por este. É o que se passa, por exemplo, com o oleiro, que à medida que vai moldando um determinado pedaço de barro, tem ao lado o aprendiz, que vai tentando imitar o seu instrutor, fazendo os mesmos movimentos num outro pedaço de barro. E isto não se passa apenas com o oleiro, com o instrutor de karaté ou com o mestre da pintura: também nós somos instrutores, na medida em que instruímos os nossos filhos como lavar os dentes (atenção, não é porque se devem lavar os dentes, é como se devem lavar os dentes), como segurar o garfo e a faca à mesa, como apertar os sapatos, e por aí fora. Estamos a transmitir uma aptidão corporal, uma destreza física. Se estas duas actividades ainda têm algumas semelhanças no que diz respeito ao modo de transmissão do conhecimento, já com a educação o processo difere significativamente. O modo de transmissão é bastante variado: tal como se pode educar através da fala normativa (do tipo "tu deves fazer isto, tu deves fazer aquilo", uma fala maioritariamente de dever), educa-se também através do exemplo que se dá (o que faz com que estejamos permanentemente a educar, mesmo sem estarmos a fazê-lo conscientemente). Educa-se também através de mecanismos de punição/recompensa: é frequente os pais virarem-se para os filhos, e dizerem-lhes "Se te portares bem, dou-te um chupa-chupa" ou "voltas a fazer isso, e levas uma chapada". O próprio meio de aprendizagem, ligado com a educação, é significativamente diferente daqueles característicos do ensino e da instrução. Assim, quem está a ser educado está a obedecer àquilo que lhe é apresentado como modelo, está a aceitar o modelo, está a submeter-se ao que lhe é apresentado. O processo de educação é essencialmente um processo de aceitação, de submissão por parte do educado.

té o próprio espaço temporal inerente a estas três actividades é diferente. O ensino é descontínuo (na medida em que não estamos sempre a aprender saberes teoréticos); a instrução tanto pode ser contínua como descontínua (na medida em que só aprendemos como lavar os dentes uma vez na vida, mas por vezes, ao longo da existência, vamos aprendendo outras competências corporais, que anteriormente não possuíamos). Já a educação é um processo contínuo, pelo que afirmei anteriormente: estamos permanentemente a educar e a ser educados, mesmo que não façamos nada para tal, o que é significativamente diferente do ensinar: não estamos sempre a ensinar saberes teóricos.

ara finalizar, gostaria aqui de realçar que as fronteiras que dividem estas três actividades não são completamente estanques. Existem actividades que são elas próprias um misto de duas situações. Por exemplo, o "ensinar" a conduzir, que eu afirmei anteriormente que era instrução, também tem uma parte de ensino propriamente dita - o ensino do código da estrada, anterior à instrução da condução. Do mesmo modo, na escola não se está apenas a ensinar, está-se também a educar, na medida em que se incutem regras de comportamento social, e a instruir, com disciplinas como os Trabalhos Manuais ou a Educação Física, onde se transmitem destrezas corporais. E deparámo-nos agora com mais uma confusão do nosso quotidiano. Uma disciplina com o conteúdo da que é denominada por Educação Física, nunca deveria ter tal nome. Porque não se está a educar o corpo nessas mesmas aulas; está-se, isso sim, a instruir o corpo, a transmitir-lhe destrezas físicas (como se lança uma bola de basket, como se remata uma bola de futebol, como se faz o salto em comprimento, e por aí fora).

sta confusão reflecte-se nas definições presentes no dicionário. Definem educar como "desenvolver as faculdades físicas, morais e intelectuais de". Ora bem, nós já vimos anteriormente que estas três actividades são diferentes. Quando estamos a desenvolver as faculdades físicas de alguém, estamos a instruí-lo; quando estamos a desenvolver as faculdades intelectuais de alguém, estamos a ensiná-lo. Só quando estamos a desenvolver as capacidades morais de alguém é que estamos a educá-lo. Não se pode definir educar deste modo, uma vez que estas três actividades são diferentes (talvez não possamos dizer que são radicalmente diferentes, mas que existem diferenças entre elas é ponto assente). Tal como não é possível definir ensinar através das palavras instruir e educar, e muito menos doutrinar. Doutrinar significa transmitir, convencer alguém de uma posição política, religiosa ou filosófica. Como será possível afirmar que ensinar alguém é estar a doutriná-lo? Também não é possível dizer que a instrução é ensino - apesar de as actividades serem de facto semelhante, difere significativamente tanto o conteúdo daquilo que é transmitido, como os meio como são transmitidos e recebidos os conteúdos.
Para finalizar, repita agora o exercício anteriormente proposto, e compare com as respostas que foram anteriormente dadas.

1) Quem "ensina" alguém a conduzir um automóvel está a...
2) Quem "ensina" alguém a contar está a...
3) Quem "ensina" alguém a dançar está a...
4) Quem "ensina" que não se deve deitar um papel para o chão está a...
5) Quem "ensina" que não se deve falar com a boca cheia está a...
6) Quem "ensina" uma arte marcial está a...
7) Quem "ensina" como se pinta a óleo está a...
8) Quem "ensina" que não se deve faltar ao respeito com os mais velhos está a...
9) Quem "ensina" que Afonso Henriques foi o primeiro Rei de Portugal está a...
10) Quem "ensina" como se aperta um atacador está a...
Esperamos  que este jogo o tenha ajudado a clarificar estes três conceitos.
Este jogo foi criado por Nelson Gomes
Olga Pombo:  opombo@fc.ul.pt