quinta-feira, 12 de março de 2015

COM QUE E COM QUEM SE IDENTIFICA AECIO NEVES

Perspectivas do comércio Rússia-Brasil caso Aécio vença Dilma


Observadores russos discorrem sobre as perspectivas do comércio russo-brasileiro após o fim das eleições no Brasil. Enquanto alguns receiam que o candidato do PSDB se oriente mais para os EUA do que a atual presidente, outros rejeitam a ideia de grandes mudanças em relação ao cenário de hoje. 

O primeiro turno das eleições no Brasil eliminou a hipótese mais indesejável para as autoridades russas – Marina Silva, que vinha sendo encarada pela imprensa russa como “a protegida dos Estados Unidos”. O candidato Aécio Neves, que agora acompanha Dilma Rousseff na corrida para o segundo turno, é visto como um político liberal e “mais pró-brasileiro” nos círculos russos, embora também orientado para a cooperação com os EUA.

“Conheço muito bem o candidato Aécio Neves. Ele pertence a uma dinastia política bem conhecida no país, e posso caracterizá-lo como um político pró-brasileiro”, disse à Gazeta Russa Serguêi Vassíliev, presidente do Conselho Empresarial Rússia-Brasil, acrescentando que a eleição de Aécio não influenciará negativamente as relações comerciais com a Rússia. “Pelo contrário, poderá impulsionar nas áreas do investimento e tecnologias. Também não prevejo nenhuma mudança nos Brics decorrente dos resultados eleitorais.”


O vice-diretor geral da Companhia Regional de Investimentos, Oleg Duchin, mostra menos otimismo com a possibilidade de vitória do candidato do PSDB. “Todas as impressões sobre este político decorrem do seu programa tipicamente liberal. O desejo da direita é liberalizar a economia, hoje sob a tutela do Estado”, diz Duchin, ao reiterar a certeza de que Aécio ficará mais condicionado aos EUA do que Dilma. “O que não é de se admirar no caso de um liberal.”

Caso Aécio seja eleito, o especialista acredita que o Brasil pode perder peso perante os demais países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). “Mas, verdade seja dita, Aécio não fez, por enquanto, declarações antirrussas. Além do mais, não devemos esquecer que a China, também membro dos Brics, é um dos parceiros importantes tanto do Brasil, como da Rússia.”

Os sinais de estagnação na economia brasileira levam os críticos de Dilma a reverem as atuais relações com os países em desenvolvimento, inclusive com a Rússia, e a concentrarem atenção nos países desenvolvidos, sobretudo nos EUA. “Essa reorientação pode significar o esfriamento da cooperação entre nossos países, tendo em vista a posição intransigente dos EUA em relação à Rússia”, alega Elena Chíchkina, analista da companhia de investimentos Zerich. “A reeleição de Dilma não é do agrado dos EUA, tendo em vista sua influência regional.”

Sem alarde

Apesar das relações Brasil-EUA terem se deteriorado por causa do escândalo das escutas da CIA, os últimos acontecimentos testemunham uma certa normalização. Após a apresentação de um pedido forma de desculpas do governo americano, os dois Estados assinaram, em setembro passado, um acordo para evitar a duplicação de impostos.

Além disso, a disputa provocada pela subvenção dos EUA aos produtores de algodão, que já dura dez anos, parece em vias de solução. “Vendo tudo isso, podemos crer que, se Aécio for eleito, o Brasil preservará sua proximidade aos Brics. No entanto, em relação à questão ucraniana, o país estará mais próximo da UE e dos EUA”, conclui Duchin.


Vitáli Derbedéniev, diretor geral da FOC, ressalta que, apesar de Aécio defender o fortalecimento das relações com os EUA, a relação entre os países é raramente definida pelas simpatias que possa haver entre os seus presidentes. “Esse relacionamento se assenta nos interesses de ambos países. Hoje em dia, a Rússia e o Brasil estão interessados no fortalecimento de suas relações bilaterais. Os dois, juntamente com outros países em desenvolvimento, têm a intenção de criar um centro de influência política e econômica”, reforça Derbedéniev. 

Por esse motivo, especialistas como Dmítri Kipa, chefe da secção analítica da QB Finance, não esperam alterações consideráveis nas relações russo-brasileiras, independentemente dos resultados eleitorais. Em primeiro lugar, ele aponta que as relações com a Rússia não são – e nem serão – prioridade da agenda política brasileira. Além disso, Rússia e Brasil não são concorrentes diretos em áreas estratégicas, e ambos enfrentam dificuldades econômicas semelhantes, como a prevalência das exportações, estabilização cambial etc. 

“Por todos esses motivos, é fácil encontrarem pontos comuns no campo diplomático. Acima de tudo, o mercado russo se tornou bastante atrativo com a implantação das contrassanções, que abriram muitas oportunidades. Qualquer candidato tentará aproveitá-las para dar suporte aos negócios brasileiros”, arremata Kipa.

Você acredita que uma possível mudança de governo teria grande impacto nas relações Rússia-Brasil?

Víktor Kuzmin, especial para Gazeta Russa

Ação terrorista do governo dos EUA no Brasil com a conivencia de governo e politico brasileiro


Terrorismo ianque em Alcântara

“Eles queriam que desistíssemos do VLS. Respondi que não havia ido lá para negociar o VLS, mas para começar a negociar lançamentos a partir de Alcântara com uso de tecnologia americana protegida”

Ministro Ronaldo Sardenberg, revista Veja, edição de 12 de setembro de 2001
Em julho de 2000, sugeri pela Internet — e foi publicado pelo jornal eletrônico da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) — uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar e relatar as sabotagens diretas e indiretas que vinha e vem enfrentando o Programa Espacial Brasileiro, com o claro propósito de sepultá-lo definitivamente, para facilitar e justificar a entrega da base aeroespacial de Alcântara-MA ao controle internacional.
A sabotagem direta, praticada pelo Pentágono e seus soldados “brasileiros” da coluna do general Mola, hoje não passa de um “Segredo de Polichinelo”.
Mera coincidência, o embaixador do Brasil nos EUA, grande articulador e um dos ferrenhos defensores do “Acordo Sardenberg-USA”, no dia 11 de setembro de 2001 tinha um almoço agendado no Pentágono. Só não compareceu ao encontro por que um “avião” havia explodido por lá pela manhã (Fonte: Folha de São Paulo).
Porém, a sabotagem indireta é o ataque silencioso e perverso que o Brasil e o seu Programa Espacial vêm sofrendo, sem tréguas, nos últimos 20 anos.
Este é o pior tipo de agressão que uma nação pode sofrer, porque se trata da agressão generalizada e institucionalizada através da lei orçamentária, de medidas provisórias, de portarias ministeriais, de emendas à Constituição, de tratados e “acordos” internacionais espúrios, etc.
A princípio, não existem forças armadas no mundo que possam defender seus territórios contra este tipo de ataque, porque ele vem de dentro, através da quinta coluna cooptada pelo agressor nas fileiras do próprio Estado.

Prova disso:

  • Aeromóvel: pérola da genuína tecnologia brasileira para o transporte coletivo urbano elevado, movido a ar e desenvolvido no Rio Grande do Sul pela Coester S/A na década de 80: destruído1.
  • Tanque de combate Osório: destruído2.
  • Engesa S/A: destruída3.
  • Bomba atômica: desintegrada4.
  • Submarino nuclear: em fase final de destruição5.
  • Embraer/Militar: semidestruída6.
  • Veículo Lançador de Satélite da Força Aérea Brasileira (VLS): sob intenso ataque e agora com 21 brasileiros mortos.
  • Petrobrás: sob intenso ataque.
  • Telecomunicação: totalmente nas mãos do agressor.
  • Energia elétrica: ainda sobram Itaipu, Copel e Furnas, mas sob ataque.
  • Produção de nitrocelulose: destruída. Se o Brasil entrar em guerra com a França (de onde compra a pólvora), não vai dispor desse material para lutar.
  • Sistema de Saúde: em ruínas, com milhares de mortos.
  • Sistema educacional: em ruínas, com milhões de analfabetos e pseudo-alfabetizados.
  • Embrapa: em ruínas.
  • Forças armadas: em ruínas.
  • Fontes de água potável: sob ataque constante.
  • Nióbio: saqueado e contrabandeado diuturnamente.
Face ao covarde e criminoso ataque terrorista perpetrado contra o Brasil às suas Forças Armadas e a 21 cidadãos civis no dia 22 de agosto de 2003 na base aeroespacial de Alcântara, urge a instalação de uma comissão de investigação séria, patriótica e com seus constituintes escolhidos a dedo — excluindo dela os já conhecidos “internacionalistas” que fazem parte da “escola do sr. Ronaldo Sardenberg” — para que, ao menos desta vez, em nome das vítimas, a verdade prevaleça.
Para isso, o trabalho tem que ser iniciado pelo “ponto zero”, ou no mínimo o mais próximo dele possível.
Assim, forneceremos aqui algumas pistas que deveriam ser investigadas, não só por alguma comissão ou comissões que venham a ser estabelecidas, mas também pelo Ministério Público Federal.
1985
O governo brasileiro pede a presença norte-americana em toda a Amazônia por intermédio da Administração Nacional de Aeronáutica e Espaço Aéreo dos EUA (Nasa), através do LBA (The Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia), inclusive com a instalação de uma estação transmissora e receptora em Alcântara.
1986
Correu a notícia de que em fevereiro, um grupo armado invadiu as instalações do CTA (Centro Tecnológico de Aeronáutica), de onde subtraiu informações sobre o VLS. Após este ato, ao ser surpreendido, o grupo fugiu trocando tiros com a segurança do Centro.
1989
O brigadeiro Paulo Roberto Camarinha declarou para a Folha de São Paulo: “Nem em 2089 o satélite sai”.
Nesta época, já vinham à tona os primeiros nomes dos inimigos declarados da Missão Completa Espacial Brasileira, que tramavam nos bastidores a contratação para lançamento do primeiro satélite brasileiro, o SSR 1, em um vôo experimental de um foguete norte-americano, o Pegasus, da Orbiter, em detrimento do VLS, cujo desenvolvimento já estava atrasado por falta de verbas e pelo boicote internacional ao programa.
1991
Por “pressão” do governo norte-americano, Fernando Collor rejeita excelente oferta russa de transferência total de tecnologia espacial para o Brasil, através da Elebra, e fecha negócio com a Orbiter americana, desviando assim US$ 18 milhões do programa para o desenvolvimento do VLS (fonte: revista Veja e Folha de São Paulo)
1993
Lançado o primeiro satélite brasileiro por um foguete Pegasus norte-americano.
1995
O governo de FHC submete o Brasil ao MTCR (Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis) por imposição de Washington.
1994
O governo dos Estados Unidos da América confisca os primeiros vasos dos motores do VLS que tinham sido enviados para lá, a fim de se submeterem a um tratamento térmico em uma siderúrgica ianque. Neste caso o “tiro saiu pela culatra” porque, em função da arbitrariedade do Tio Sam, o CTA descobriu que a Villares S/A poderia fazer aqui o mesmo serviço e assim é feito até hoje (esta informação foi confirmada por Gylvan Meira Filho, o primeiro Presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), por e-mail).
1994
Durante os primeiros testes dos motores S-43 do VLS em São José dos Campos houve uma explosão, investigada pelo Serviço de Inteligência da Aeronáutica, foi classificada como sabotagem (fonte: Internet).
1995
Fernando Henrique Cardoso cria a AEB por determinação de Washington (fonte: Folha de São Paulo) e nomeia como seu presidente Gylvan Meira Filho, homem com fortes ligações com a Nasa (fonte: Spacenews).
1997
Através da AEB, o Brasil assina contrato com a Nasa para participar da construção da Estação Espacial Internacional Americana, por intermédio do qual administração Cardoso desviou mais US$ 150 milhões do seu programa espacial próprio.
1997
O primeiro protótipo do Veículo Lançador de Satélites brasileiro foi lançado pela Força Aérea da Base Aeroespacial de Alcântara, as 09:25 horas do dia 2 de novembro de 1997, para colocar em órbita o satélite de sensoriamento remoto do INPE com (N) dias de atraso, sem a presença do presidente da República, Cardoso, ou alguns de seus ministros.

"As potências do Primeiro Mundo boicotam,
o governo desdenha e corta verbas, mas eles não desistem.
Esperamos que vençam pela teimosia”

{mospagebreak}  O primeiro estágio, composto por quatro motores-foguete S-43 da FAB, de combustível sólido, acoplados simetricamente ao redor do motor do segundo estágio, idêntico aos quatro primeiros, foi acionado com parcial sucesso, porque o motor-foguete D inexplicavelmente não acendeu. Por isso, 29 segundos após decolar da mesa de lançamento, e não suportando a crescente carga dinâmica provocada pelo grande ângulo de ataque se auto-destruiu a uma altitude de 3.250 metros, a uma velocidade de (X) quilômetros por hora7, voando no rumo (X) e a uma distância de (X) quilômetros da rampa de lançamento. A parte superior do veículo foi teledestruída 65 segundos após a decolagem e caiu no mar a uma distância de 1.920 metros da mesa de lançamento.
João Stainer, astrofísico e funcionário do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), que foi o indicado pelo governo como especialista oficial para descrever e dar detalhes sobre o lançamento para a TV Clora, que transmitia ao vivo para todo o Brasil (quando na verdade deveria ter sido designado um oficial da Aeronáutica, destacado no IAE ou CTA), já demonstrava cabalmente em suas palavras quais eram as verdadeiras intenções de Cardoso para com o futuro da Base de Alcântara e do Programa Espacial Brasileiro ao dizer, sorrindo, minutos apos a explosão do VLS: “(...) o problema não foi com a Base, foi com o foguete. Foi com um motor do primeiro estágio do foguete e não com a Base. E a Base tem uma perspectiva muito grande para se tornar uma Base, um Espaçoporto Internacional, onde muitos países poderiam se beneficiar lançando os foguetes...”
O diretor-Geral do DEPED (Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da Aeronáutica), tenente-Brigadeiro-do-Ar José Marconi de Almeida Santos, constituiu uma Comissão de Investigação para, no prazo de trinta dias, realizar uma análise das causas do acidente.
Conclusão: “Dos dados levantados e dos ensaios realizados com componentes similares aos utilizados na rede pirotécnica de ignição do VLS1-PT01, pode-se afirmar que o motivo do não acendimento do motor-foguete D foi a dupla falha na transmissão da ordem pirotécnica, entre os detonadores e os reforçadores do Dispositivo Mecânico de Segurança (DMS).”
Como podemos constatar, o documento em questão só demonstra o óbvio, sem apresentar suas causas e os seus responsáveis. O relatório contempla muito pouco a atuação e a responsabilidade do fator humano pela causa da “falha”.

“(...) se nós expormos as verdadeiras razões
acabamos por ir frontalmente contra o governo”

Análise da Falha do DMS: “Os aspectos essenciais do DMS são o alinhamento e o espaçamento induzidos nas duas interfaces pirotécnicas em seu interior. No rotor do DMS se alojam duas cargas pirotécnicas denominadas reforçadores que, na posição ‘armado', devem ficar alinhados com os detonadores de um lado e com os Estopins Detonantes Confinados (EDC) do outro. A verificação do alinhamento é feita por pessoal experiente e conferida por inspetor também experiente.” (Fonte: IAE/CTA).
Face a tantas contradições quem realmente pode nos garantir que o rotor do DMS do motor D foi corretamente alinhado ou, se, até, na última hora, desalinhado intencionalmente? Outra informação intrigante e a de que o perfeito funcionamento do ejetor não garante o acendimento do combustível do motor.
1999
A Gazeta Mercantil de setembro e a Galileu de outubro trazem graves denúncias contra o governo Cardoso e seu ministro da C&T (Ciência e Tecnologia), hoje embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), Ronaldo Sardenberg, por suas ações contra o Programa Espacial Brasileiro. O primeiro demonstra cabalmente os artifícios usados para a demolição das equipes tecno-científicas do IAE/CTA e o segundo afirma: “As potências do Primeiro Mundo boicotam, o governo desdenha e corta verbas, mas eles não desistem. Esperamos que vençam pela teimosia.”
1999
O segundo protótipo do VLS 01 foi lançado pela Forca Aérea Brasileira da Base Aeroespacial de Alcântara sem a presença do presidente da República ou alguns de seus ministros, às 16:39 horas do dia 11 de dezembro de 1999, para colocar em órbita o satélite de aplicações cientificas, SACI 2 do INPE, com (N) dias de atraso. O primeiro estágio, composto por quatro motores-foguete S-43 da FAB, de combustível sólido, acoplados simetricamente ao redor do motor do segundo estágio, idêntico aos quatro primeiros, foi acionado com sucesso e funcionou perfeitamente por 55,4 segundos, quando o motor do segundo estágio foi aceso por ordem do computador de bordo. Porém, 5 décimos de segundo após a sua ignição, explodiu a uma altitude de (X) mil metros, a uma velocidade de (X) quilômetros por hora, voando no rumo (X), e a uma distância de (X) quilômetros da rampa de lançamento.
A explosão de 7 toneladas de combustível sólido desacoplou intempestivamente o conjunto formado pelo motor do terceiro estágio da baia de equipamentos, do quarto estágio e da coifa com o satélite do resto do foguete. Entretanto, a forte explosão não causou danos ao conjunto superior, que continuou voando sem propulsão e controle em uma trajetória balística até aos 119 segundos, quando o computador de bordo comandou a ignição do motor do terceiro estágio, a uma altitude de (Y) mil metros, a uma velocidade de (Y) quilômetros por hora, voando no rumo (Y), numa atitude ligeiramente picada de (Y) graus, e a uma distância de (Y) quilômetros da rampa de lançamento.

“Os americanos queriam que nós desistíssemos do VLS para eles assinarem o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas”
Brigadeiro Reginaldo dos Santos para o Grupo Guararapes e seus convidados em 23 de Janeiro de 2002, em Fortaleza

O terceiro estágio funcionou em condições normais pelo tempo previsto, seguindo uma trajetória anômala, mas dentro de uma área que não infringia a segurança, até aos 189 segundos, conforme o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), e até aos 200 segundos, de acordo com a Agência Espacial Brasileira, a uma altitude de (Z) mil metros, a uma velocidade de (Z) quilômetros por hora, voando no rumo (Z), numa atitude de (Z) graus, e a uma distância de (Z) quilômetros da rampa de lançamento.
A equipe de segurança de vôo comandou a teledestruição do quarto estágio ao notar que a trajetória seguida pelo conjunto estava se deslocando para fora da área de segurança. O ponto de impacto dos destroços do satélite, assim como os restos do conjunto, se deram a (H) quilômetros da rampa de lançamento no Oceano Atlântico, a (H) graus de latitude, e a (H) graus de longitude, (H) segundos após o lançamento. São 19 incógnitas que o governo, através da AEB, se recusa a responder.
Após a explosão do segundo VLS em 11/12/99, que colocaria em órbita o satélite SACI 2, passei a acompanhar pela Internet e pela imprensa os seus desdobramentos. A partir daí, percebi que as notícias divulgadas eram contraditórias com os fatos e com as declarações dos responsáveis pelo lançamento. Por isso, passei a investigar o assunto, questionando os diversos órgãos envolvidos, até que recebi um e-mail de um integrante de um dos órgãos envolvidos na questão que diz: “(...) infelizmente, não posso divulgar outras informações além das que estão disponíveis na Internet, as quais foram cuidadosamente elaboradas e abalizadas antes de serem postas no ar. (...) se nós expormos as verdadeiras razões acabamos por ir frontalmente contra o governo (...)”
Em princípio, quais eram essas contradições? No dia do lançamento, o Brigadeiro Tiago da Silva Ribeiro, então diretor do CTA, disse para todos os canais de TV que cobriam o evento: “o VLS foi teledestruido aos 3 minutos e 20 segundos de vôo porque o motor do segundo estágio não acendeu.” A AEB, pela Internet, (www.agespacial.gov.br) confirmou essa informação. Em seguida, a própria AEB, ainda mantendo a primeira versão do fato, divulgava que o segundo estágio do VLS explodiu aos 56 segundos de vôo, mas o foguete continuou voando normalmente até ser teledestruido aos 200 segundos.
Sete toneladas de combustível sólido explodem e o foguete continua voando normalmente? Como? As imagens apresentadas na época pela TV como a da teledestruição do terceiro estágio, eram, na verdade, a da suposta explosão do segundo estágio e não mostram o característico “chuveiro” (formado por milhares de pequenos pedaços de propelente queimando) quando da detonação de motores que queimam combustível sólido.
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Entre o fato de o motor não acender e explodir, existe uma grande diferença, mesmo para um leigo. Passei essas indagações para a SBPC, que as publicou no seu jornal eletrônico em 4 de julho de 2000, com o título: Agência Espacial Brasileira divulga falso relatório sobre a falha do VLS. Após essa publicação, o brigadeiro Tiago e o Coronel Aviador Mozart M. Louzada Jr., até então Diretor do Instituto de Aeronáutica e Espaço, alertados pela empresa Brazsat Commercial Space Services (www.brazsat.com) sobre a denúncia, convidam-me para uma visita ao CTA e ao IAE, onde dariam todas explicações necessárias. O coronel Louzada, por sua vez, ainda prometeu me enviar um e-mail respondendo item por item todos os meus justos questionamentos.
O que provocou toda essa reação? Por que um cidadão leigo no assunto e totalmente desconhecido recebeu tanta atenção? A Brazsat, por sua vez, através de seu presidente João Vaz, (jvaz@airwaysintl.com) convidou-me para assistir em 08/09/00, como convidado VIP, o lançamento da nave Atlantis em Cabo Canaveral. Por quê?
O coronel Louzada cumpriu o que prometeu. Enviou as respostas às minhas perguntas, mas as contradições só aumentaram, o que chamou ainda mais a minha atenção.
Segundo o coronel, “o vôo não pôde prosseguir, pois o motor do segundo estágio não acendeu (ele teve o início de acendimento, mas apagou-se em seguida, quase que imediatamente)”. Neste ponto a explicação virou num mar de contradições. O coronel disse também que os técnicos do CLA recuperaram parte do envelope do motor do terceiro estágio. Como? Pois se os fatos aconteceram conforme descrevem os relatórios, os seus destroços devem ter caído entre 60 a 130 km da costa.
O coronel ainda informou que as fitas de vídeo, sem cortes, com a sequência do vôo que solicitei ao IAE não precisariam ser fornecidas, já que as imagens divulgadas pelas TVs comerciais eram semelhantes às gravadas pelo CLA, porque eles também não dispunham de câmaras de altíssima resolução como as da NASA para registrar o vôo. Entretanto, no relatório elaborado pela Comissão que investigou a falha, está escrito que foram feitas imagens com câmeras de altíssima velocidade. Se foram investidos R$ 1,6 bilhões no programa, iriam deixar de comprar pelo menos uma câmera especial para registrar opticamente os vôos?
A descrição oficial da causa da falha apresentada pela Comissão de Investigação não é conclusiva. A hipótese da sub-câmara confederada, a mais provável, tal como está descrita no Relatório, não é lógica, e chega a ser infantil. Considera a possibilidade de ter existido dentro da câmara de combustão do motor do segundo estágio uma pequena zona com pressão muito superior à prevista para todo o resto do mesmo vaso, provocando a sua ruptura naquele ponto. A hipótese, que também consta do relatório oficial diz: “Os sistemas de destruição do veículo (teledestruição ou autodestruição) foram acionados intencional ou intempestivamente.”

“Washington nunca engoliu a idéia de que o Brasil pudesse desenvolver o foguete VLS”
Jose Monserrat Filho, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Direito Espacial, na página da AEB
Tendo em vista todas essas absurdas contradições, podemos formular outra hipótese: os sistemas de destruição foram acionados intencionalmente por um sinal transmitido aos 55,9 segundos de vôo por alguém fora do centro de lançamento de Alcântara. Em 24 de fevereiro de 2002, o Deputado Helio Costa (PMDB-MG) deu uma entrevista à rádio CBN, onde falou sobre a presença de um navio norte-americano, tipo Pueblo, navegando na costa do Maranhão em 11 de dezembro de 1999, que também estava rastreando o lançamento do VLS. O segundo estágio do VLS pode ter sido teledestruido por um sinal enviado por esse navio.

Prova disso:

1Palavras do Ministro Ronaldo Sardenberg para a revista Veja na sua edição de 12 de setembro de 2001: “Sabe qual era a posição inicial dos EUA? Eles queriam que desistíssemos do VLS. Respondi que não havia ido lá para negociar o VLS, mas para começar a negociar lançamentos a partir de Alcântara com uso de tecnologia americana protegida. E conseguimos.”
2Palestra do brigadeiro Reginaldo dos Santos para o Grupo Guararapes e seus convidados em 23 de Janeiro de 2002, na cidade de Fortaleza: “Os americanos queriam que nós desistíssemos do VLS para eles assinarem o Acordo de Salvaguardas Tecnológicas.”
3Palavras de Jose Monserrat Filho, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Direito Espacial, na página da AEB: “Washington nunca engoliu a idéia de que o Brasil pudesse desenvolver o foguete VLS.”
4 Havia também uma câmara de TV acoplada na parte externa superior do VLS apontada para baixo, filmando e transmitindo em tempo real o funcionamento dos motores do primeiro estágio e, portanto, deve ter registrado a explosão do segundo estágio assim que ela ocorreu. Então, porque afirmar, intempestivamente, num primeiro momento que o motor não acendeu?
5 O terceiro estágio foi teledestruido aos 200 segundos de vôo, de acordo com a AEB, e aos 189 segundos, conforme o IAE. Porque esta diferença de 11 segundos entre um e outro informante?
6 O relatório do coronel Louzada comenta: “Vale ressaltar que recebemos vários comentários de outras agências externas ao Brasil, confirmando os resultados apresentados.” Que outras agências são essas? Como tiveram acesso às informações do CLA para análise da falha? Através da AEB? Quem são estes estrangeiros bonzinhos?
A revista Galileu nº 99 (outubro de 1999) já publicava: Suzel Tunes relata as dificuldades e a abnegação dos cientistas de nosso programa espacial em sua luta para colocar nos ares o foguete brasileiro.
“As potências do Primeiro Mundo boicotam, o governo desdenha e corta verbas, mas eles não desistem. Esperamos que vençam pela teimosia”, disse Ronaldo Sardenberg. Se as potências do Primeiro Mundo boicotam o programa, como elas aparecem agora interessadas em salvá-lo?
Não é preciso ser um especialista para concluir que alguma coisa está errada.
O Diretor-Geral do DEPED, Tenente-Brigadeiro-do-Ar José Marconi de Almeida Santos, constituiu uma Comissão para, no prazo de trinta dias, proceder à investigação do insucesso no vôo do VLS-1 V02.
Conclusão Oficial: “A ocorrência de penetração de chama na interface do propelente com a proteção térmica, na região do domo dianteiro do motor-foguete, foi, mais provavelmente, a causa de sua explosão e insucesso da missão de colocação em órbita do Satélite Saci 2 do INPE” (Fonte: IAE/CTA).
Mais uma vez, foi apresentada uma “conclusão inconclusiva” sem indicar responsabilidade. Os membro indicados para compor essa última são praticamente os mesmos que integraram a “Comissão” que investigou a primeira falha.
Curiosidades: O Dr. Múcio Dias, ex-presidente da AEB, fez parte das duas Comissões citadas anteriormente e o Dr. Jorge Bevilaqua, atual presidente da AEB, compôs a última. Será que também vão fazer parte da terceira?
2000
Brasília, 18 de abril. Na calada da noite, quatro meses após a explosão do segundo VLS, o Ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenbeg, assina o “Acordo de Salvaguardas Tecnológicas”, que passa o controle da base aeroespacial de Alcântara aos ianques.
2002
Dezembro: Gylvan Meira Filho, logo após ser exonerado da presidência da Agência Espacial Brasileira, foi condecorado pela Nasa pelos bons serviços prestados para aquela agência estrangeira (Folha on-line).
2002
A nova guerra total (Correio Braziliense, em 22 de julho): “(...) general Charles E. Wilhelm, do Comando de Forças Conjuntas dos EUA, disse no Centro de Informações para Defesa, que a estratégia de guerra de seu país autoriza ‘a realização de Operações Decisivas Rápidas (RDO), na área psicológica, econômica e cibernética'. Nessa, admite ‘invadir computadores inimigos para impedir lançamento de mísseis e proteger interesses americanos'.”
2003
Janeiro: o governo dos Estados Unidos apresenta uma nova arma ao mundo: “a bomba de microondas”. Trata-se de um artefato, a ser operado de aviões, mísseis cruzeiro, navios, satélites, etc., que emite um potente pulso eletromagnético orientado que, em princípio, interfere e destrói todo tipo de equipamento eletrônico em foguetes, radares, aviões, navios, satélites, etc. para o qual é apontado.
2003
22 de agosto: o terceiro protótipo do VLS 01 não foi lançado pela Forca Aérea Brasileira da Base Aeroespacial de Alcântara, porque às 13:30 horas o motor S-43-A do primeiro estágio, de combustível sólido, foi acionado intempestivamente com o VLS ainda dentro do hangar de integração sendo preparado para a decolagem, que deveria acontecer no dia 25. Trágica e covarde sabotagem: 21 brasileiros assassinados.
Alcântara, não ceder para não perder.

1 Seu inventor foi o técnico em aeronáutica Oscar Coester. Uma primeira linha piloto foi instalada em Porto Alegre, onde demonstrou durante anos todas as suas potencialidades. O Ministro Tarso Genro, então prefeito, garantiu em entrevista à TV Globo, que em função das suas excepcionais características, iria concluir o primeiro trecho operacional do sistema. Não concluiu. Com a palavra o Ministro.
2 Tanque pesando 41 toneladas, desenvolvido na década de 80 pela Engesa S/A para suprir o Exército Brasileiro e o da Arábia Saudita através de uma concorrência internacional. Disputou com o “Abraham” americano, o tanque francês e o inglês. Venceu a todos. Chegou a ponto de ir desencalhar um “Abraham” no deserto saudita. Ganhou, mas não levou. O governo americano impôs que a Arábia Saudita comprasse o seu tanque. O governo brasileiro fingiu ignorar o caso.
3 Como a Engesa tinha apostado todas as suas fichas no desenvolvimento do Osório, cuja venda para a Arábia era tida como certa, contraiu uma divida de US$ 53 milhões. Os sauditas “puxaram o tapete” e Fernando Collor deu a “cama de gato”, não encomendando nenhuma unidade para as nossas Forças Armadas. Assim, a Engesa desapareceu. Recentemente, os dois últimos exemplares, que faziam parte da massa falida da Engesa, depois de uma campanha cívica, foram incorporados ao Exercito Nacional.
4 Fernando Collor, logo que assumiu o governo, foi com José Goldenberg, seu assessor de Ciência e Tecnologia, até a área militar de Cachimbo onde, em frente às câmeras de TV, mandou cimentar os poços com 600 metros de profundidade, que serviriam de local de teste para os primeiros artefatos nucleares brasileiros.
5 Projeto da Marinha do Brasil, muito maior, sofisticado e importante que o do VLS. Parado totalmente por corte de verbas. A tecnologia do ciclo completo para a produção de urânio 235 enriquecido foi dominada. A metalurgia para o reator também, que já está em fase final de construção. US$ 1 bilhão já foram investidos no projeto —menos do que o Cacciola levou de uma só vez para a Itália com auxilio do BC. Previsão oficial para a conclusão do submarino: 2017.
6 O governo norte-americano está subsidiando a construção da nova fabrica da Embraer, em Jacksonville, Flórida.
7 Não forneceram dados.

*Ronaldo Schlichting é administrador de empresas
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Quando FHC decidiu alugar um pedaço do Brasil para os EUA

O dia em que tentaram implantar um crachá para brasileiro andar no Brasil

publicado em 26 de outubro de 2010 às 13:40
O dia em que FHC decidiu alugar um pedaço do Brasil
do Viomundo antigo
Atualizado em 07 de setembro de 2009 às 13:31 | Publicado em 24 de março de 2008 às 23:21
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SÃO PAULO – Um dos papéis mais importantes da internet é o de ajudar a disseminar informação. Ainda que muita gente se divirta com os bate-bocas eletrônicos, eu particularmente acho que essa é uma ferramenta essencial para a educação. E isso se deve a um fator muito específico: a internet fez com que o custo de transmissão e armazenamento de informações despencasse.
Graças à internet podemos, por exemplo, ter informações completas sobre um dos episódios mais patéticos da História recente do Brasil, que se deu em 18 de abril de 2000: a assinatura de um acordo entre o então ministro da Ciência e Tecnologia, Ronaldo Sardenberg, e o então embaixador dos Estados Unidos em Brasília, Anthony Harrington.
O acordo viria a ser anulado, diante da reação de políticos e militares. Tratava do uso, pelos Estados Unidos, da base de lançamento de foguetes de Alcântara, no Maranhão. Na época ainda era possível fazer acordos de bastidores em Brasília sem que a maioria da população brasileira soubesse de nada. Hoje a maioria prefere acompanhar o Big Brother, mas ao menos tem a oportunidade, se quiser, de saber o que se passa.
Tendo morado 17 anos nos Estados Unidos, sei exatamente como funcionam os americanos. São pragmáticos. Se você der um dedo, eles querem os 20. Se oferecer a mão, querem o corpo inteiro. Não é preciso emitir qualquer opinião a respeito do acordo. É só ler o texto. Revela uma postura inacreditável do governo de Fernando Henrique Cardoso em relação à soberania nacional e ao próprio território brasileiro. Subserviência com assinatura embaixo.
Do artigo III, Disposições Gerais, letra E, sobre a República Federativa do Brasil:
Não utilizará os recursos obtidos de Atividades de Lançamento em programas de aquisição, desenvolvimento, produção, teste, liberação, ou uso de foguetes ou de sistemas de veículos aéreos não tripulados (quer na República Federativa do Brasil quer em outros países).
Ou seja, o Brasil não poderia usar o dinheiro do aluguel de uma base estratégica para investir em seu próprio programa espacial.
Do artigo IV, Controle de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e Dados Técnicos, número 3:
Em qualquer Atividade de Lançamento, as Partes tomarão todas as medidas necessárias para assegurar que os Participantes Norte-ameircanos mantenham o controle sobre os Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e Dados Técnicos, a menos que de outra forma autorizado pelo Governo dos Estados Unidos da América. Para tal finalidade, o Governo da República Federativa do Brasil manterá disponível no Centro de Lançamento de Alcântara áreas restritas para o processamento, montagem, conexão e lançamentos dos Veículos de Lançamento e Espaçonaves por Licenciados Norte-americanos e permitirá que pessoas autorizadas pelo Governo dos Estados Unidos da América controlem o acesso a estas áreas.
Brasileiros teriam que pedir autorização dos Estados Unidos para se locomover em território nacional.
Do artigo VI, Controles de Acesso, número 5:
O Governo da República Federativa do Brasil assegurará que todos os Representantes Brasileiros portem, de forma visível, crachás de identificação enquanto estiverem cumprindo atribuições relacionadas com Atividades de Lançamento. O acesso às áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3, e aos locais e áreas que tenham sido especificamente reservados exclusivamente para trabalhos com Veículos de Lançamento, Espaçonaves e Equipamentos Afins será controlado pelo Governo dos Estados Unidos da América ou, como autorizado na(s) licença(s) de exportação, por Licenciados Norte-americanos, por meio de crachás que serão emitidos unicamente pelo Governo dos Estados Unidos da América ou por Licenciados Norte-americanos, se autorizados pelo Governo dos Estados Unidos da América, e incluirão o nome e a fotografia do portador.
Brasileiro teria que usar crachá emitido pelo governo dos Estados Unidos para ter acesso a um pedaço do território brasileiro, uma espécie de passaporte interno, guardadas as devidas proporções.
Do Artigo VII, Procedimentos para Processamento, letra A:
Todo transporte de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e de Dados Técnicos para ou a partir do território da República Federativa do Brasil deverá ser autorizado antecipadamente pelo Governo dos Estados Unidos da América, e tais itens poderão, a critério do Governo dos Estados Unidos da América, ser acompanhados durante o transporte por agentes autorizados pelo governo dos Estados Unidos da América.
Letra B:
Quaisquer Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, e/ou Dados Técnicos transportados para ou a partir do território da República Federativa do Brasil e acondicionados apropriadamente em “containers” lacrados não serão abertos para inspeção enquanto estiverem no território da República Federativa do Brasil. O Governo dos Estados Unidos da América fornecerá às autoridades brasileiras competentes relação do conteúdo dos “containers” lacrados, acima referidos.
Equivale à abolição parcial da Alfândega brasileira. Parece ficção, mas o acordo que inclui os trechos reproduzidos acima foi assinado por um ministro do governo de Fernando Henrique Cardoso, em 2000.
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Julgue você mesmo:
ACORDO ENTRE O GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL E O GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA SOBRE SALVAGUARDAS TECNOLÓGICAS RELACIONADAS À PARTICIPAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA NOS LANÇAMENTOS A PARTIR DO CENTRO DE LANÇAMENTO DE ALCÂNTARA
O Governo da República Federativa do Brasil
e
O Governo dos Estados Unidos da América (doravante denominados “as Partes”),

Desejando expandir a bem sucedida cooperação realizada sob a égide do Acordo-Quadro entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América sobre a Cooperação nos Usos Pacíficos do Espaço Exterior, assinado em 1º de março de 1996,
Levando em conta a política estabelecida pelo Governo da República Federativa do Brasil de promover o uso comercial do Centro de Lançamento de Alcântara,
Comprometidos com os objetivos da não-proliferação e controle de exportação, como contemplado nas Diretrizes do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, e
Acreditando que a colaboração continuada na promoção de seus interesses mútuos concernentes àproteção de tecnologias avançadas poderia servir como uma reafirmação do desejo comum de desenvolver ainda mais a cooperação científica e tecnológica e a cooperação entre suas respectivas empresas afins do setor privado.
Acordam o seguinte:

ARTIGO I
Objetivo
Este acordo tem com objetivo evitar o acesso ou a transferência não autorizados de tecnologias relacionadas com o lançamento de Veículos de Lançamento, Espaçonaves por meio de Veículos de Lançamento Espacial ou Veículos de Lançamento e Cargas Úteis por meio de Veículos de Lançamento a partir do Centro de Lançamento de Alcântara.

ARTIGO II
Definições
Para fins deste Acordo se aplicarão as seguintes definições:
1. “Espaçonaves” – quaisquer espaçonaves, grupos de espaçonaves, sistemas ou subsistemas de espaçonaves, componentes de espaçonaves (incluindo satélites, grupos de satélites, sistemas ou subsistemas de satélites e/ou componentes de satélites), e/ou motores de transferência orbital autorizados para exportação pelo Governo dos Estados Unidos da América e utilizados para executar Atividades de Lançamento.
2. “Veículos de Lançamento” – quaisquer veículos lançadores, propulsores, adaptadores com sistemas de separação, coifas para carga útil e/ou respectivos componentes que tenham sido autorizados para exportação pelo Governo dos Estados Unidos da América e utilizados para realizar Atividades de Lançamento.
3. “Cargas Úteis” – quaisquer espaçonaves, grupos de espaçonaves, sistemas ou subsistemas de espaçonaves, componentes de espaçonaves (incluindo satélites, grupos de satélites, sistemas ou subsistemas de satélites, e/ou componentes de satélite), e/ou motores de transferência orbital autorizados a serem exportados para a República Federativa do Brasil por outro governo que não o Governo dos Estados Unidos da América, para lançamento em Veículos de Lançamento Espacial a partir do Centro de Lançamento de Alcântara.
4. “Veículos de Lançamento Espacial” – quaisquer veículos lançadores, propulsores, adaptadores com sistemas de separação, coifas para carga útil e/ou respectivos componentes que tenham sido autorizados para exportação para a República Federativa do Brasil por um governo que não o Governo dos Estados Unidos da América para lançamento a partir do Centro de Lançamento de Alcântara.
5. “Equipamentos Afins” – equipamentos de apoio, itens subsidiários e respectivos componentes e peças sobressalentes que tenham sido autorizados para exportação pelo Governo dos Estados Unidos da América e necessários para realizar Atividades de Lançamento.
6. “Dados Técnicos” – informação, sob qualquer forma, incluindo a oral, que não seja publicamente disponível, necessária para o projeto, a engenharia, o desenvolvimento, a produção, o processamento, a manufatura, o uso, a operação, a revisão, o reparo, a manutenção, a modificação, o aprimoramento ou a modernização de Veículos de Lançamento, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins. Tal informação inclui, dentre outras, informação no formato de plantas, desenhos, fotografias, materiais de vídeo, planos, instruções, programas de computador e documentação.
7. “Atividades de Lançamento” – todas as ações relacionadas com o lançamento de Espaçonaves por meio de Veículos de Lançamento ou Veículos de Lançamento Espacial e o lançamento de Cargas Úteis por meio de Veículos de Lançamento, desde as discussões técnicas inicias até o lançamento e retorno dos Equipamentos Afins e dos Dados Técnicos da República Federativa do Brasil para os Estados Unidos da América, ou para outro local aprovado pelo Governo dos Estados Unidos da América e, na eventualidade de o lançamento ter sido cancelado ou falhado, até o retorno dos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, Dados Técnicos e/ou quaisquer Componentes e/ou Escombros, recuperados e identificados, de Veículos de Lançamento, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins para os Estados Unidos da América ou para outro local aprovado pelo Governo dos Estados Unidos da América.
8. “Planos de Controle de Tecnologias” – quaisquer planos desenvolvidos por Licenciados pelo Governo dos Estados Unidos da América, em consulta com Licenciados pelo Governo da República Federativa do Brasil, os quais são aprovados pela agência ou agências competentes das Partes, antes da entrega de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, ou Equipamentos Afins no território da República Federativa do Brasil, e que delineiem as medidas de segurança a serem implementadas durante as Atividades de Lançamento, inclusive em situações de emergência.
9. “Participantes Norte-americanos” – quaisquer Licenciados pelo Governo dos Estados Unidos da América, seus contratados, subcontratados, empregados, ou agentes, quer sejam cidadãos dos Estados Unidos da América quer de outros países, ou quaisquer servidores do Governo dos Estados Unidos da América ou contratados, subcontratados, empregados, ou agentes, quer sejam cidadãos dos Estados Unidos da América quer de outros países que, em função de uma licença de exportação emitida pelos Estados Unidos da América, participem de Atividades de Lançamento, e que estejam sujeitos à jurisdição e/ou ao controle dos Estados Unidos da América.
10. “Representantes Brasileiros” – quaisquer pessoas, que não Participantes Norte- americanos, quer cidadãos da República Federativa do Brasil quer de outros países, que tenham ou possam ter acesso a Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e/ou Dados Técnicos, e que estejam sujeitos à jurisdição e/ou ao controle da República Federativa do Brasil.
11. “Licenciados Norte-americanos” – quaisquer pessoas para as quais for(em) emitida(s) licença(s) de exportação, de acordo com as leis e regulamentos norte-americanos para exportação de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, e/ou Dados Técnicos.
12. “Licenciados Brasileiros” – quaisquer pessoas que sejam identificadas nas licenças de exportação pertinentes emitidas pelos Estados Unidos da América e que sejam autorizadas, em conformidade com as leis e regulamentos da República Federativa do Brasil, a executar Atividades de Lançamento.
ARTIGO III
Disposições Gerais
1. A República Federativa do Brasil:
A) Não permitirá o lançamento, a partir do Centro de Lançamento de Alcântara, de Cargas Úteis ou Veículos de Lançamento Espacial de propriedade ou sob controle de países os quais, na ocasião do lançamento, estejam sujeitos a sanções estabelecidas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas ou cujos governos, a juízo de qualquer das Partes, tenham dado, repetidamente, apoio a atos de terrorismo internacional.
B) Não permitirá o ingresso significativo, qualitativa ou quantitativamente, de equipamentos, tecnologias, mão-de-obra, ou recursos financeiros, no Centro de Lançamento de Alcântara, provenientes de países que não sejam Parceiros (membros) do Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis, exceto se de outro modo acordado entre as Partes.
C)Assegurará que nenhum Representante Brasileiro se apodere de quaisquer equipamento ou tecnologia que tenham sido importados para apoiar Atividades de Lançamento, exceto se especificado de outra maneira pelo governo do país exportador.
D)Tomará todas as medidas necessárias para assegurar que projetos relacionados às Atividades de Lançamento, ou itens importados para utilização em tais projetos, não sejam empregados para outros propósitos, exceto se acordado entre o Governo da República Federativa do Brasil e o governo do país exportador.
E) Não utilizará recursos obtidos de Atividades de Lançamento em programas de aquisição, desenvolvimento, produção, teste, liberação, ou uso de foguetes ou de sistemas de veículos aéreos não tripulados (quer na República Federativa do Brasil quer em outros países). O disposto neste parágrafo não impede o uso de tais recursos para o desenvolvimento, aprimoramento ou manutenção de aeroportos, portos, linhas férreas, estradas, sistemas elétricos ou de comunicações no Centro de Lançamento de Alcântara, ou a este direcionados, que beneficiam diretamente os lançamentos de Veículos de Lançamento ou Veículos de Lançamento Espacial, a partir daquele Centro.
F) Firmará acordo juridicamente mandatórios com os outros governos que tenham jurisdição ou controle sobre entidades substancialmente envolvidas em Atividades de Lançamento. O objetivo principal e os dispositivos de tais acordos deverão ser equivalentes àqueles contidos neste Acordo, exceto no que se refere a este Artigo e se de outra forma acordado entre as Partes. Particularmente, esses acordos deverão obrigar tais outros governos a exigir de seus Licenciados que cumpram compromissos em sua essência equivalentes aos previstos nos Planos de Controle de Tecnologias, pelos quais o Governo dos Estados Unidos da América assegura que os Participantes Norte-americanos cumpram o estabelecido no parágrafo 4 do Artigo IV deste Acordo.
2. Para cada Atividade de Lançamento, as Partes deverão nomear uma entidade para supervisionar o intercâmbio de Dados Técnicos entre as autoridades operacionais brasileiras do Centro de Lançamento de Alcântara e entidades não-brasileiras envolvidas naquela Atividade de Lançamento.
3. Será intenção do Governo dos Estados Unidos da América, em consonância com as leis, regulamentos e políticas oficiais dos Estados Unidos da América, bem como os dispositivos deste Acordo, aprovar as licenças de exportação necessárias à execução de Atividades de Lançamento. Entretanto, nada neste Acordo restringirá a autoridade do Governo dos Estados Unidos da América para tomar qualquer ação com respeito ao licenciamento da exportação, de acordo com as leis, regulamentos e políticas dos Estados Unidos da América.
ARTIGO IV
Controle de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e Dados Técnicos
1. Este Acordo estabelece os procedimentos de salvaguarda de tecnologias a serem seguidos para Atividades de Lançamento, incluindo os procedimentos para controlar o acesso a Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, Dados Técnicos, e às áreas onde estejam tais itens no Centro de Lançamento de Alcântara. Este Acordo se aplicará a todas as fases das Atividades de Lançamento, incluindo as atividades em todas as instalações dos Licenciados Norte-americanos, as atividades em todas as instalações sob jurisdição e/ou controle da República Federativa do Brasil, bem como as atividades dos Representantes Brasileiros e dos Participantes Norte-americanos. Este Acordo também se aplicará a todas as fases do transporte dos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, e/ou Dados Técnicos.
2. Com exceção do previsto no Artigo VI e no Artigo VIII (3) deste Acordo, ou do que tenha sido autorizado antecipadamente por meio de licenças de exportação emitidas pelo Governo dos Estados Unidos da América, ou de outra maneira autorizado antecipadamente pelo Governo dos Estados Unidos da América, o Governo da República Federativa do Brasil tomará todas as providências necessárias para prevenir o acesso desacompanhado ou não monitorando, inclusive por qualquer meio técnico, de Representantes Brasileiros a Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, Dados Técnicos e/ou às áreas restritas, referidas no parágrafo 3 deste Artigo.
3. Em qualquer Atividade de Lançamento, as Partes tomarão todas as medidas necessárias para assegurar que os Participantes Norte-americanos mantenham o controle sobre os Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e Dados Técnicos, a menos que de outra forma autorizado pelo Governo dos Estados Unidos da América. Para tal finalidade, o Governo da República Federativa do Brasil manterá disponível no Centro de Lançamento de Alcântara áreas restritas para o processamento, montagem, conexão e lançamento dos Veículos de Lançamento e Espaçonaves por Licenciados Norte-
americanos e permitirá que pessoas autorizadas pelo Governo dos Estados Unidos da América controlem o acesso a essas áreas. Os limites dessas áreas deverão ser claramente definidos.
4. Cada Parte assegurará que todas as pessoas sob a jurisdição e/ou controle do respectivo Estado que participem ou de outra maneira tenham acesso às Atividades de Lançamento acatarão os procedimentos especificados neste Acordo. O Governo dos Estados Unidos da América exigirá que os Licenciados Norte-americanos envolvidos nas Atividades de Lançamento no Centro de Lançamento de Alcântara elaborem um Plano de Tecnologias, que reflita e inclua os elementos pertinentes a este Acordo. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará que os Representantes Brasileiros cumprirão com as obrigações estabelecidas nos Planos de Controle de Tecnologias. O Governo dos Estados Unidos da América assegurará que os Participantes Norte-americanos cumprirão com as obrigações estabelecidas nos Planos de Controle de Tecnologias. Em caso de conflito entre os dispositivos deste Acordo e os dispositivos de qualquer Plano de Controle de Tecnologias, prevalecerão os dispositivos deste Acordo.
5. O Governo dos Estados Unidos da América envidará seus melhores esforços para assegurar a continuidade da(s) licença(s) norte-americanas com vistas ao término das Atividades de Lançamento. Se o Governo dos Estados Unidos da América concluir que qualquer dispositivo deste Acordo ou dos Planos de Controle de Tecnologias para quaisquer Atividades de Lançamento tenha sido violado, poderá suspender ou revogar qualquer (quaisquer) licença(s) de exportação relacionada(s) a tais lançamentos.
A) No caso de qualquer (quaisquer) licença(s) de exportação ser(em) suspensa(s) ou revogada(s), o Governo dos Estados Unidos da América deverá prontamente notificar o Governo da República Federativa do Brasil e explicar as razões dessa decisão.
B) Caso o Governo dos Estados Unidos da América revogue suas licenças de exportação, o Governo da República Federativa do Brasil não deverá interferir nessa decisão e, se necessário, deverá facilitar o retorno imediato aos Estados Unidos da América, ou a outro local aprovado pelo Governo dos Estados Unidos da América, em conformidade com o estabelecido na licença de exportação emitida pelos Estados Unidos da América, dos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e/ou Dados Técnicos que tenham sido internados no território da República Federativa do Brasil.
6. O Governo da República Federativa do Brasil envidará seus melhores esforços para garantir a continuidade da(s) licença(s) brasileira(s) para o término das Atividades de Lançamento. Se o Governo da República Federativa do Brasil concluir que qualquer dispositivo deste Acordo ou dos Planos de Controle de Tecnologias para Atividades de Lançamento tenha sido violado, poderá suspender ou revogar qualquer (quaisquer) licença(s) relacionadas(s) a tais lançamentos.
7. No caso de qualquer (quaisquer) licença(s) ser(em) suspensa(s) ou revogada(s), o Governo da República Federativa do Brasil deverá prontamente notificar o Governo dos Estados Unidos da América e explicar as razões dessa decisão.

ARTIGO V
Dados Técnicos Autorizados para Divulgação
1. Este Acordo não permite, e o Governo dos Estados Unidos da América proibirá, que os Participantes Norte-americanos prestem qualquer assistência aos Representantes Brasileiros no concernente ao projeto, desenvolvimento,produção, operação, manutenção, modificação, aprimoramento, modernização, ou reparo de Veículos de Lançamento, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins, a menos que tal assistência seja autorizada pelo Governo dos Estados Unidos da América. Este Acordo não permite a divulgação de qualquer informação referente a veículos lançadores, propulsores, adaptadores com sistemas de separação, coifa para carga útil, Espaçonaves, Equipamentos Afins, e/ou componentes norte-americanos, por Participantes Norte-americanos ou qualquer pessoa sujeita àlei norte-americana, a menos que tal divulgação seja especificamente autorizada pelo Governo dos Estados Unidos da América;
2. O Governo da República Federativa do Brasil não repassará e proibirá o repasse por Representantes Brasileiros de quaisquer Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e/ou Dados Técnicos sem prévia autorização por escrito do Governo dos Estados Unidos da América. O Governo da República Federativa do Brasil não utilizará e tomará as medidas necessárias para assegurar que os Representantes
Brasileiros não utilizem Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, e/ou Dados Técnicos para propósitos outros que não os especificados na licença de informação emitida pelos Estados Unidos da América e/ou autorização do Governo dos Estados Unidos da América para transferir informação proveniente dos Licenciados Norte-americanos aos Licenciados Brasileiros;
3. O Governo dos Estados Unidos da América tomará as medidas necessárias para que os Licenciados Norte-americanos forneçam aos Licenciados Brasileiros a informação necessária relacionada às licenças norte-americanas e/ou à autorização de repasse emitida pelo Governo dos Estados Unidos da América, incluindo informações sobre a natureza sigilosa de itens fornecidos de acordo com tal licença ou autorização. O Governo da República Federativa do Brasil tomará as medidas necessárias para assegurar que os Licenciados Brasileiros forneçam ao Governo da República Federativa do Brasil a informação acima mencionada.
ARTIGO VI
Controles de Acesso
1. Para quaisquer Atividades de Lançamento, as Partes supervisionarão e acompanharão a implementação dos Planos de Controle de Tecnologias. O Governo da República Federativa do Brasil permitirá e facilitará a supervisão e o acompanhamento das Atividades de Lançamento pelo Governo dos Estados Unidos da América. Se o Governo dos Estados Unidos da América decidir não implementar qualquer dos controles referidos neste Artigo ou no Artigo VII em circunstâncias específicas, deverá notificar o Governo da República Federativa do Brasil.
2. As Partes assegurarão que somente pessoas autorizadas pelo Governo dos Estados Unidos da América controlarão, vinte e quatro horas por dia, o acesso a Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, Dados Técnicos e às áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3, bem como o transporte de equipamentos/componentes,construção/instalação, conexão/desconexão, teste e verificação, preparação para lançamento, lançamento de Veículos de Lançamento/Espaçonaves, e o retorno dos Equipamentos Afins e dos Dados Técnicos aos estados Unidos da América ou a outro local aprovado pelo Governo dos Estados Unidos da América.
3. Servidores do Governo dos Estados Unidos da América que estejam presentes no Centro de Lançamento de Alcântara e estejam ligados a Atividades de Lançamento terão livre acesso, a qualquer tempo, para inspecionar Veículos de Lançamento, Espaçonaves e Equipamentos Afins nas áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3 e nas instalações exclusivamente reservadas para trabalhos com Veículos Lançadores e Espaçonaves, bem como para verificar, nessas áreas e instalações, os Dados Técnicos que sejam fornecidos pelos Licenciados Norte-americanos aos Representantes Brasileiros. O Governo dos Estados Unidos da América envidará esforços para notificar tempestivamente o Governo da República Federativa do Brasil ou Representantes Brasileiros dessas inspeções ou verificações. Tais inspeções e verificações no entanto poderão ocorrer sem prévio aviso ao Governo da República Federativa do Brasil ou aos Representantes Brasileiros. O Governo dos Estados Unidos da América terá o direito de inspecionar e monitorar, inclusive eletronicamente por meio de circuitos fechados de televisão e por outros equipamentos eletrônicos compatíveis com as condições de preparação e lançamento de Veículos de Lançamento e compatíveis com os requisitos de segurança de lançamentos: as áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3, e todas as áreas definidas nos Planos de Controle de Tecnologias, onde Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e Dados Técnicos estejam localizados, inclusive a “sala limpa” para trabalhos com Espaçonaves após as Espaçonaves serem integradas aos Veículos de Lançamento. O Governo dos Estados Unidos da América terá o direito de que Participantes Norte-americanos acompanhem os Veículos de Lançamento e/ou as Espaçonaves ao longo do trajeto que os Veículos de Lançamento com as Espaçonaves a eles integradas seguirão até a plataforma de lançamento. O Governo dos Estados Unidos da América assegurará que os Licenciados Norte- americanos coordenarão com os Licenciados Brasileiros as especificações e características técnicas de quaisquer equipamentos de monitoramento eletrônico.
4. O Governo da República Federativa do Brasil dará tempestivamente informação ao Governo dos Estados Unidos da América sobre quaisquer operações que possam criar conflito entre controles de acesso e requisitos de observação especificados pelas Partes, de modo que entendimentos adequados possam ser acordados para salvaguardar Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e Dados Técnicos. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará que não serão negados aos Licenciados Norte-americanos o controle, o acesso e a monitorização das áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3, e dos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e Dados Técnicos e que tal controle e verificação não sejam interrompidos em momento algum.
5. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará que todos os Representantes Brasileiros portem, de forma visível, crachás de identificação enquanto estiverem cumprindo atribuições relacionadas com Atividades de Lançamento. O acesso às áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3, e aos locais e áreas que tenham sido especificamente reservados exclusivamente para trabalhos com Veículos de Lançamento, Espaçonaves, e Equipamentos Afins será controlado pelo Governo dos Estados Unidos da América ou, como autorizado na(s) licença(s) de exportação, por Licenciados Norte-americanos, por meio de crachás que serão emitidos unicamente pelo Governo dos Estados Unidos da América ou por Licenciados Norte-americanos, se autorizados pelo Governo dos Estados Unidos da América, e incluirão o nome e a fotografia do portador.
6. O acesso a áreas, instalações e locais do Centro de Lançamento de Alcântara que não estejam situados nas áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3, ou não estejam especialmente reservados para trabalhos exclusivamente com os Veículos de Lançamento, Espaçonaves, e/ou Equipamentos Afins, serão controlados pelo Governo da República Federativa do Brasil, conforme disposto neste Acordo, e será autorizado de conformidade com informação incluída em crachás emitidos pelo Governo da República Federativa do Brasil. Em qualquer instância, na qual Veículos de Lançamento, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins estejam presentes em instalações ou áreas controladas pela República Federativa do Brasil, as Partes assegurarão que os Veículos de Lançamento, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins serão acompanhados e vigiados por Participantes Norte-americanos aprovados pelo Governo dos Estados Unidos da América.

ARTIGO VII
Procedimentos para Processamento
1. Transporte de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, e de Dados Técnicos, incluindo procedimentos alfandegários.
A. Todo transporte de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e de Dados Técnicos para ou a partir do território da República Federativa do Brasil deverá ser autorizado antecipadamente pelo Governo dos Estados Unidos da América, e tais itens poderão, a critério do Governo dos Estados Unidos da América, ser acompanhados durante o transporte por agentes autorizados pelo Governo dos Estados Unidos da América.
B. Quaisquer Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins, e/ou Dados Técnicos transportados para ou a partir do território da República Federativa do Brasil e acondicionados apropriadamente em “containers” lacrados não serão abertos para inspeção enquanto estiverem no território da República Federativa do Brasil. O Governo dos Estados Unidos da América fornecerá às autoridades brasileiras competentes relação do conteúdo dos “containers” lacrados, acima referidos.
C. O Governo dos Estados Unidos da América exigirá dos Licenciados Norte-americanos que forneçam garantias por escrito de que os “containers” lacrados referidos no parágrafo 1.B deste Artigo não contém nenhuma carga ou equipamento não relacionado a Atividades de Lançamento.
D. Os Participantes Norte-americanos se submeterão ao controle de imigração e alfândega na República Federativa do Brasil, de acordo com os procedimentos estabelecidos pelas leis e regulamentos brasileiros.
E. O Governo da República Federativa do Brasil envidará seus melhores esforços para facilitar a entrada no território da República Federativa do Brasil dos Participantes Norte-americanos envolvidos em Atividades de Lançamento, inclusive agilizando a expedição dos respectivos vistos de entrada no País.
2. Preparativos no Centro de Lançamento de Alcântara
A. O Governo da República Federativa do Brasil permitirá aos Representantes Brasileiros participarem no descarregamento de veículos transportando Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins ou Dados Técnicos e entregando “containers” lacrados nas áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3, e nas áreas de preparação de Veículos de Lançamento e de Espaçonaves, somente se estas áreas estiverem sob a supervisão de Participantes Norte-americanos. O Governo da República Federativa do Brasil não permitirá o acesso de Representantes Brasileiros às áreas restritas referidas no Artigo IV, parágrafo 3, ou às áreas de preparação de Veículos de Lançamento ou de Espaçonaves, em qualquer hipótese, enquanto os Veículos de Lançamento, Espaçonaves ou quaisquer Equipamentos Afins estejam sendo montados, instalados, testados, preparados, e/ou integrados, a menos que estejam acompanhados a todo o tempo por Participantes Norte-americanos ou sejam especificamente autorizados pelo Governo dos Estados Unidos da América.
B. As Partes permitirão somente os Participantes Norte-americanos abastecer de propelentes os Veículos de Lançamento e Espaçonaves, bem como testar Veículos de Lançamento e Espaçonaves. As Partes concordam que os Veículos de Lançamento, Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins serão acompanhados por Participantes Norte-americanos durante e após a integração de Espaçonaves aos Veículos de Lançamento e enquanto Veículos de Lançamento e/ou Espaçonaves integradas a Veículos de Lançamento estejam sendo transferidos para plataformas de lançamento.
3. Procedimentos Pós-Lançamento As Partes assegurarão que somente aos Participantes Norte-americanos será permitido desmontar Equipamentos Afins.As Partes assegurarão que tais equipamentos, juntamente com os Dados Técnicos, retornarão a locais e em veículos aprovados pelo Governo dos Estados Unidos da América, e que tais equipamentos e Dados Técnicos poderão ser acompanhados por agentes autorizados pelo Governo dos Estados Unidos da América. Equipamentos Afins e outros itens sujeitos ao controle de exportação pelos Estados Unidos da América que permaneçam no Brasil, em razão de projeto não mais vinculado às Atividades de Lançamento no Centro de Lançamento de Alcântara, serão destruídos no local ou removidos da República Federativa do Brasil, a menos que de outra maneira venha a ser acordado pelas Partes.
ARTIGO VIII
Atraso, Cancelamento ou Falha de Lançamento
1. Atraso de Lançamento
Na eventualidade de atraso no lançamento, as Partes assegurarão que o acesso aos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e/ou Dados Técnicos será monitorado por Participantes Norte-americanos. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará que Participantes Norte-americanos estejam presentes se as Espaçonaves estiverem expostas ou forem removidas do Veículo de Lançamento após tais Espaçonaves terem sido integradas ao Veículo de Lançamento. As Partes assegurarão que tais Veículos de Lançamentos e Espaçonaves serão monitorados e acompanhados por Participantes Norte-americanos durante seu transporte desde a plataforma de lançamento até a área de preparação do Veículo de Lançamento e/ou Espaçonaves, onde, se necessário, os Veículos de Lançamento e/ou Espaçonaves serão reparados e aguardarão a reintegração. O disposto no Artigo VII deste Acordo será aplicado a qualquer Atividade de Lançamento subseqüente.
2. Cancelamento do Lançamento
Na eventualidade de cancelamento do lançamento, as Partes assegurarão que aos veículos participantes Norte-americanos será permitido monitorar o acesso aos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e/ou Dados Técnicos. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará a presença de Participantes Norte-americanos se as Espaçonaves estiverem expostas ou forem removidas dos Veículos de Lançamento, após tais Espaçonaves terem sido integradas aos Veículos de Lançamento. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará que os Veículos de Lançamento e/ou Espaçonaves serão monitorados e acompanhados por Participantes Norte-americanos durante seu transporte desde a plataforma de lançamento até a área de preparação dos Veículos de Lançamento e/ou Espaçonaves, onde eles aguardarão retorno para os Estados Unidos da América, ou para outro local aprovado pelo Governo dos Estados Unidos da América. As Partes assegurarão que o carregamento de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e/ou Dados Técnicos em um veículo será monitorado por Participantes Norte-americanos e que esse veículo seja aprovado pelo Governo dos Estados Unidos da América.
3. Falha do Lançamento
A. Na eventualidade de falha do lançamento, o Governo da República Federativa do Brasil permitirá que Participantes Norte-americanos auxiliem na busca e recuperação de qualquer ou de todos os componentes e/ou escombros dos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, e/ou Equipamentos Afins, em todos os locais dos acidentes sujeitos à jurisdição ou controle da República Federativa do Brasil. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará que agentes governamentais norte-americanos pertencentes a equipes de busca(s) de emergência tenham acesso ao local do acidente. Existindo razão que leve a crer que a busca e a recuperação de componentes e/ou escombros dos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, e/ou Equipamentos Afins afetarão interesse de um terceiro Estado, as Partes consultarão imediatamente o governo daquele Estado, no que concerne à coordenação de procedimentos para realizar as operações de busca, sem prejuízo dos direitos e obrigações de todos os estados envolvidos, em conformidade com o Direito Internacional, incluindo o disposto no Acordo sobre o Salvamento de Astronautas e Restituição de Astronautas e de Objetos Lançados ao Espaço Cósmico, datado de 22 de abril de 1968.
B. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará que uma “área de recuperação de escombros”, controlada por Participantes Norte-americanos, para armazenamento de componentes ou escombros identificados do Veículos de Lançamento, de Espaçonaves e/ou Equipamentos Afins seja reservada no Centro de Lançamento de Alcântara e/ou em outra localidade acordada pelas Partes. O acesso a esta(s) área(s) será controlado, no que couber, como estabelecido no Artigo VI deste Acordo. O Governo da República Federativa do Brasil assegurará a imediata restituição aos Participantes Norte-americanos de todos os componentes e/ou escombros identificados dos Veículos de Lançamento, Espaçonaves, e/ou Equipamentos Afins recuperados por Representantes Brasileiros, sem que tais componentes ou escombros sejam estudados ou fotografados de qualquer maneira.
C. O Governo da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da América acordam em autorizar os Licenciados Brasileiros e os Licenciados Norte- americanos, respectivamente, por meio de licenças ou permissões, a proporcionar, na medida em que os interesses nacionais de segurança e de política externa dos respectivos Estados o permitam, as informações necessárias para determinar a causa do acidente.
ARTIGO IX
Implementação
1. As Partes, anualmente, realizarão consultas para rever a implementação deste Acordo, com particular ênfase na identificação de qualquer adequação que possa ser necessária para manter a efetividade dos controles sobre transferência de tecnologia.
2. Qualquer controvérsia entre as Partes concernente àinterpretação e àimplementação deste Acordo será dirimida por consultas através dos canais diplomáticos.

ARTIGO X
Entrada em Vigor, Emendas e Denúncia
1. Este Acordo entrará em vigor mediante troca de notas entre as Partes, confirmando que todos os procedimentos e requisitos internos pertinentes para que este Acordo entre em vigor tenham sido observados.
2. Este Acordo poderá ser emendado por meio de acordo, por escrito, entre as Partes. Quaisquer emendas acordadas entrarão em vigor mediante troca de notas entre as partes, confirmando que todos os procedimentos e requisitos pertinentes àsua entrada em vigor tenham sido observados.
3. Este Acordo poderá ser denunciado por qualquer das Partes mediante notificação escrita à outra Parte de sua intenção de denunciá-lo. A denúncia terá efeito um ano após a data da notificação.
4. As obrigações das Partes, estabelecidas neste Acordo, concernentes à segurança, à divulgação e ao uso da informação, e àrestituição aos Estados Unidos da América, ou a outro local aprovado pelo Governo dos Estados Unidos da América, de Veículos de Lançamento, Espaçonaves, Equipamentos Afins e/ou Dados Técnicos decorrentes de lançamento atrasado ou cancelado, ou de componentes ou escombros dos Veículos de Lançamento,Espaçonaves, e/ou Equipamentos Afins, resultantes de falha em lançamento, continuarão a ser aplicadas após a expiração ou término deste Acordo.
Em testemunho do que, os abaixo assinados, devidamente autorizados pelos respectivos Governos, firmaram este Acordo.
Feito em Brasília, em 18 de abril de 2000, em dois exemplares originais, nos idiomas português e inglês, sendo ambos os textos igualmente autênticos.
Ronaldo Sardenberg Ministro de Estado da Ciência e Tecnologia PELO GOVERNO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Anthony S. Harrington Embaixador dos Estados Unidos da América PELO GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

LEMBRAR... PARA EVITAR ESQUECIMENTO DO ACIDENTE DO VLS BRASILEIRO

Dez anos após o acidente com o Veículo Lançador de Satélites

Por Pedro Antônio Cândido, no Portal Luis Nassif

Matérias do Jornal do SindCT (Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial)

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Decisão de remover DMS levou 21 à morte

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No dia 22 de agosto de 2013, completou 10 anos o acidente com o Veículo Lançador de Satélites (VLS-1), que para todos os efeitos práticos marcou o fim da Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), que consistia em colocar em órbita um satélite fabricado no Brasil fazendo uso de um foguete brasileiro lançado do solo nacional. Os satélites de coleta de dados SCD- 1 e SCD-2, partes da MECB, chegaram ao espaço por meio do foguete Pegasus americano, nos anos de 1993 e 1998.
O Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) entrou em operação em 1989 e de lá foram realizados dois lançamentos do VLS-1, em 1997 e 1999. A terceira tentativa de lançamento ocorreria em agosto de 2003. Infelizmente, uma ignição intempestiva de um dos propulsores do primeiro estágio causou uma catástrofe que vitimou 21 técnicos civis que trabalhavam na integração no VLS-1 na Torre Móvel de Integração (TMI) do CLA.
Desde então, inúmeras previsões sobre o próximo lançamento do VLS-1 têm sido feitas, mas há razões concretas para se duvidar de que tal ocorrerá um dia. O acidente ocorrido em 2003 teve profundo impacto nacional e repercussão internacional. Em fevereiro de 2004 foi divulgado o relatório de investigação do acidente, tornando público muito daquilo que aqueles que trabalhavam no programa já sabiam: recursos humanos insuficientes, recursos financeiros desprezíveis, administração autocrática e burocrática, menosprezo aos riscos inerentes à atividade e graves limitações na infraestrutura do CLA.
Muito embora o relatório tenha causado impacto no cenário nacional, um detalhe foi desprezado: “As características do acidente permitem concluir que a existência de uma barreira mecânica de segurança no sistema de ignição dos propulsores do primeiro estágio, após os detonadores, poderia ter impedido o acidente.”
Trata-se do Dispositivo Mecânico de Segurança (DMS), item de segurança que, por falha, impediu o acendimento de um dos motores do primeiro estágio do VLS-1, quando do lançamento em 1997. Em função dos limitados recursos disponíveis e da urgência em se efetuar um novo lançamento em curto intervalo de tempo, a então Gerência do Programa VLS-1 tomou a decisão de remover esse dispositivo, fato sem paralelo em projeto de veículos do porte do VLS-1.

Essa decisão levou à morte dos 21 civis no dia 22 de agosto de 2003. Além de trazer à luz o modus operandi do projeto VLS-1, o relatório da investigação do acidente interrompeu a carreira de um brilhante e honrado militar da Força Aérea Brasileira (FAB). Trata-se do brigadeiro do ar Marco Antonio Couto do Nascimento, presidente da investigação.
À época vice-diretor do CTA, o brigadeiro Couto foi designado para investigar o acidente com o VLS-1, cuja operação de lançamento, denominada Operação São Luís, tinha como responsável ninguém menos que o seu superior hierárquico no CTA, o major brigadeiro do ar Tiago da Silva Ribeiro. Além de diretor do CTA, o major brigadeiro Ribeiro era o número um na linha de comando da Operação São Luís.
Esse nítido conflito de interesses causou desconforto na opinião pública e demonstrou uma tentativa da Aeronáutica de resolver o assunto dentro da caserna. Em função de pressões da sociedade civil, o ministro da Defesa da época, José Viegas, determinou que compusessem a Comissão de Investigação quatro entidades: Sociedade Brasileira de Física (SBF), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Brasileira de Ciências (ABC), além de um representante dos familiares dos 21 civis mortos. O brigadeiro Couto honrou a sua brilhante carreira na Aeronáutica liderando o dificílimo trabalho de investigar e produzir um relatório suficientemente detalhado do acidente.
No entanto, findas as investigações, ele não resistiu às pressões corporativas e optou pelo seu pedido de reserva na FAB. Ainda sob a comoção pela morte dos 21 civis, o então presidente Lula prometeu, entre lágrimas, apoio às famílias, bem como ao projeto VLS-1, que, segundo ele, seria lançado até 2006.
O Comando da Aeronáutica contratou especialistas russos para auxiliarem na investigação do acidente e, posteriormente, na condução de uma revisão técnica do projeto. A ideia era a de que, com a ajuda daqueles que iniciaram a Era Espacial em 1957 com o lançamento do Sputnik, o caminho brasileiro rumo ao espaço se tornasse menos difícil.
Em setembro de 2004 a Aeronáutica contratou o Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação (GEOPI) da Unicamp para elaborar um Projeto de Reorganização Institucional do CTA. Para tanto, foram criados grupos de trabalho, envolvendo servidores e militares com formações diversas e oriundos de diferentes setores para que pudessem identificar problemas críticos, elaborar diagnóstico, propor linhas de ação e, finalmente, apresentar os Planos Diretores para o CTA e para cada um dos seus institutos que, em princípio, permitiriam, ao longo de sua fase de implementação, redirecionar o futuro da organização.
Dezenas de civis e militares empenharam-se nessa atividade por quase dois anos. Dentre as recomendações desse trabalho estava a de separar as atividades de aeronáutica e espaço, a cargo do IAE, voltando ao cenário anterior a 1991, quando as atividades de aeronáutica eram desenvolvidas s pelo Instituto de Pesquisas e Desenvolvimento (IPD) e as de espaço pelo IAE. Infelizmente, nem essa nem as outras recomendações foram atendidas pelo Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (Deped), à qual o CTA era subordinado.
O encaminhamento dado pela FAB foi o de trocar o nome de Deped para Comando-Geral de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (CTA), transferindo sua sede de Brasília para São José dos Campos. Não tardou para que o recém-nascido CTA fosse transformado em DCTA, Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial. Passada uma década do acidente, vários dos óbices levantados pelo relatório de investigação do acidente e pelo Projeto de Reorganização Institucional do CTA continuam vigentes, e o projeto VLS-1 jamais retomou o seu rumo.

O DCTA continua uma organização burocrática e com baixo índice de realizações. Apesar de se queixar dos parcos recursos que recebe, tem enormes dificuldades para gastá-los, razão pela qual deixa de recebê-los no ano seguinte, alimentando assim um ciclo vicioso. Este quadro não condiz com a rica e brilhante história do CTA em prol do desenvolvimento técnico- -científico brasileiro.
Mas não se deve atribuir responsabilidades somente ao DCTA, uma vez que, dentro da estrutura governamental, as atividades espaciais desenvolvidas pelo DCTA, subordinado ao Ministério da Defesa, encontram-se sob a responsabilidade da Agência Espacial Brasileira (AEB), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. No ano que antecedeu ao acidente, o orçamento de todo o Programa Espacial Brasileiro foi de apenas US$ 15 milhões.
Corroborando a queda de importância do PEB na agenda nacional, em 10 de janeiro de 2003, por meio do Decreto 4.566, a AEB foi desvinculada da Presidência da República e vinculada ao então Ministério da Ciência e Tecnologia. Como que a coroar a todo este processo, em julho e outubro de 2003 a Câmara dos Deputados e o Senado Federal aprovaram o Acordo de Salva- -Guardas Brasil-Ucrânia, visando à criação da ACS (Alcântara Cyclone Space) e do CEA (Centro Espacial Alcântara).
O orçamento destinado ao Programa Espacial Brasileiro foi incrementado após o acidente de Alcântara. No entanto, houve poucas mudanças no orçamento destinado ao VLS-1. Os projetos da ACS e do CEA foram as opções preferenciais da AEB. Embora os militares da Aeronáutica se queixem dessa nova opção da AEB, o que se observa na prática é o apoio tácito do Coman d o da Aeronáutica ao devaneio e desperdício de dinheiro público representado pela ACS e pelo CEA.
A cúpula da ACS é formada por brigadeiros da reserva da Aeronáutica, dentre os quais o major brigadeiro Ribeiro, ex-gerente do VLS-1 e comandante da Operação São Luís. A cerimônia de posse do atual diretor brasileiro da ACS, brigadeiro Reginaldo, foi prestigiada pelo comandante da Aeronáutica e pelo então diretor do DCTA.
A situação é ainda mais grave pelo fato de que a Aeronáutica não está cumprindo um dos principais itens da Estratégia Nacional de Defesa (END), a qual estabelece que o acesso ao espaço por meios próprios (o destaque é nosso) é estratégico para o país.
Até janeiro de 1994 os recursos do VLS-1 eram provenientes da Comissão Brasileira de Atividades Espaciais (COBAE), controlada por militares. Em fevereiro daquele ano, o governo brasileiro decidiu pela criação da Agência Espacial Brasileira (AEB) , à época subordinada à Presidência da República, sob comando civil. A AEB surgiu em decorrência de pressões internacionais e do desejo do governo brasileiro de reafirmar os propósitos civis do seu programa espacial, que até então tinha também um programa nuclear. Apesar disso, o desenvolvimento dos veículos lançadores ficou nas mãos da Aeronáutica e, sob o ponto de vista orçamentário e organizacional, pouco mudou. Por ocasião da criação da AEB, o INPE já tinha desenvolvido o projeto dos Satélites de Coleta de Dados, que, junto com o VLS-1 e o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), era parte do único Programa Espacial Brasileiro de que se tem notícia. O SCD-1 foi lançado em 1993 e o SCD-2 em 1998.
Também antes de a AEB ser criada, o Brasil assinou, em 1988, acordo com os chineses para o desenvolvimento dos satélites de sensoriamento remoto da série CBERS, que seriam lançados por foguetes chineses.
Este fato marca uma diáspora na MECB, quando INPE e DCTA tomaram rumos divergentes, sem que a AEB tenha conseguido realizar a gestão do programa. Portanto, quando da criação da agência, IAE e INPE já tinham traçado os seus planos, restando pouco à AEB. Talvez incomodada com a sua situação e preocupada em marcar sua existência, legitimando-se como órgão formulador da política espacial brasileira, a AEB decidiu tomar a sua primeira grande iniciativa na área espacial, inserindo o Brasil no projeto de construção da Estação Espacial Internacional (ISS).
Em resposta às críticas oriundas da sociedade civil, a AEB afirmava que a participação brasileira na ISS traria enormes benefícios à indústria nacional e, por conseguinte, ao Brasil. Essa participação brasileira dar-se-ia no contexto da parte norte-americana do projeto, representada pela NASA, e tinha um custo estimado de US$ 120 milhões. Para contextualizar, vale registrar que entre 1998 e 2003 o investimento total da AEB no Programa Espacial Brasileiro foi de cerca de US$ 130 milhões, o que demonstra a falta de noção da AEB em levar adiante o projeto da ISS. Para liderar o esforço brasileiro na ISS, a Embraer foi escolhida como prime contractor.
Como premio de consolação o INPE também foi envolvido nessa viagem rumo ao nada, enquanto a Aeronáutica ganhava o direito de escolher dentre os seus oficiais pilotos um candidato a astronauta para ser treinado na NASA.
Foi nesse contexto que surgiu o astronauta brasileiro Marcos Pontes. Como a Embraer não era Muito embora os militares da Aeronáutica se queixem da AEB, o Comando da Aeronáutica apoia tacitamente o devaneio e desperdício de dinheiro público representado pela binacional ACS, cuja cúpula é formada por brigadeiros da reserva, dentre eles o major brigadeiro Tiago Ribeiro Figura extraída do PNAE 2012-2021 10 Setembro de 2013 no Jornal do SindCT capaz de desenvolver os componentes para a ISS, optou-se pela contratação da Boeing americana para auxiliar na especificação e construção das partes.
A pedido da SBPC, um grupo de especialistas produziu em 2001 uma avaliação do Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE). Sobre a participação brasileira na ISS o documento registra (http://goo.gl/mDpYlp): “Para começar, o conteúdo tecnológico dos subsistemas contratados ao Brasil é baixo e não apresenta nenhuma coerência com a capacitação industrial envolvida nos programas anteriormente mencionados.
Toda a inteligência do programa está sendo conduzida pela empresa americana Boeing, sendo as empresas brasileiras subcontratadas para fabricação de componentes de baixo valor agregado. Como acontece em projetos desta magnitude, os orçamentos estão sendo continuamente majorados, de tal forma que a participação brasileira (originalmente prevista para US$ 120 milhões) está atualmente orçada em mais de US$ 300 milhões, onde uma parte substancial será contratada no Exterior.” De fato, feitas as contas, constatou-se que os valores necessários para confecção das peças brasileiras pelos americanos eram muito superiores aos US$ 120 milhões inicialmente previstos. Mas a viagem rumo ao nada continuou, assim como críticas públicas a ela.
Em artigo escrito em 2003 para o Jornal da Ciência (http://goo.gl/6ijVa1), Rodrigo Guedes, então doutorando da Unicamp, elabora e responde à pergunta do por que o Brasil participar da ISS. Disse ele: “Porque ela responde de forma rápida e eficiente ao vazio de legitimação do programa espacial brasileiro.”
Quatro anos depois (2007), o especialista americano John Logdson declarou ao jornal O Estado de S. Paulo, sobre a participação brasileira na ISS: “O País mostrou entusiasmo, mas não cumpriu nenhum dos compromissos que assumiu. Depois deu meia volta e decidiu fazer o voo do astronauta (Marcos Pontes) com a Rússia” (http://goo.gl/akcycf). Envergonhando o nome do Brasil no cenário internacional, a AEB jamais assumiu junto à NASA a sua desistência. As ações brasileiras na ISS representam desperdício de recursos públicos, danos à imagem do Brasil e crime de lesa-pátria. Por tudo isso, os agentes públicos responsáveis por levarem a cabo essa desventura deveriam ter seus atos investigados pelo Ministério Público e pessoalmente responder pelos seus atos.
Porém, se a AEB não conseguiu êxito no cenário internacional, no cenário nacional o quadro é ainda mais grave. Ao longo dos seus 19 anos de história, a agência produziu várias versões do Plano Nacional de Atividades Espaciais (PNAE).
Sobre o penúltimo, referente ao período 2005-2014, vale registrar que a AEB não conseguiu cumprir quaisquer de suas grandes metas, conforme revela o quadro Metas da AEB. Nem por isso, deixou de produzir mais uma versão do PNAE, que desta feita contempla o período 2012-2021.
Em que pese incluir o ano de 2012, o documento só foi publicado em dezembro daquele ano, e sua distribuição à sociedade só ocorreu em 2013. Em que pese novíssimo, parte do PNAE 2012-2021 já virou letras e números mortos. Os recursos previstos para a área de foguetes de sondagem e do VLS-1 não foram contemplados em 2012. O mesmo quadro se repete em 2013 e, ao que tudo indica, essa será a tônica dos próximos anos e o Road map de Acesso ao Espaço previsto no atual PNAE (vide figura) não será cumprido. No que se refere ao quadro das Missões Espaciais, o lançamento do satélite CBERS-3 (inicialmente previsto para 2011) ainda não ocorreu.
Quanto ao CBERS-4 e ao Amazonas 1 é muito pouco provável que os seus lançamentos ocorram em 2014 e 2015, respectivamente, conforme previsto. Quanto aos demais satélites, não é possível afirmar com certeza os seus destinos, mas o histórico das atividadesespaciais brasileiras sob a batuta da AEB parece indicar que ficarão para o próximo PNAE A AEB prossegue com os seus planos desvairados.
Segundo dados da própria agência, em 2011 metade do orçamento do Programa Espacial Brasileiro foi destinado à ACS e ao CEA (http://goo.gl/ YZ9VUU). O descalabro repetiu-se em 2012 e, de acordo com o PNAE 2012-2013, repetir-se-á em 2013. A situação atual permite afirmar que o outrora Programa Espacial Brasileiro foi substituído por um conjunto de atividades espaciais desconexas entre si.
O PNAE 2012-2021 é a prova documental disso. E depois algumas dessas autoridades, civis e militares, ainda têm a coragem de dizer que as atividades espaciais brasileiras são objeto de boicote internacional.
Diante do descaso com que tratam o PEB, não custa perguntar-lhes: e precisa de boicote internacional? Do ponto de vista do Estado brasileiro também se percebe a desconexão entre as suas intenções e ações.
A Estratégia Nacional de Defesa (END), de 2008, estabelece o domínio completo dos ciclos de produção de satélite, lançamento e comunicação. O Plano Plurianual (PPA 2012/2015) prevê o desenvolvimento de oito satélites e o lançamento de 40 foguetes suborbitais e de treinamento. Quem está no controle disso tudo?

Dez anos após a tragédia de Alcântara, VLS é dúvida. Programa espacial patina

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Shirley Marciano e Pedro Pomar
Há dez anos, no dia 22 de agosto, na base de Alcântara, no litoral do Maranhão, engenheiros e técnicos civis empenhavam-se nos ajustes e preparativos na Torre Móvel de Integração (TMI) em que seria realizado o teste de lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS). Era um dia de expectativa para todos os envolvidos, pois faltavam apenas três dias para o lançamento do foguete de 19,5 metros e cerca de 50 toneladas, em torno do qual girava o Programa Espacial Brasileiro (PEB).
Porém, a ignição inesperada de um dos motores do foguete provocou uma enorme explosão, que matou os 21 homens que ali trabalhavam, experientes funcionários do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE). A TMI transformou-se numa impressionante sucata retorcida. A tragédia, certamente a maior da história mundial dos programas espaciais em número de mortes, deixou sequelas de todo tipo.
A TMI demorou uma década para ser reconstruída — foi oficialmente entregue apenas em 2013. A perda do conhecimento dos funcionários que faleceram ainda não foi superada, pelo contrário: os números evidenciam uma redução do quadro de pessoal nas áreas ligadas ao programa VLS.
Por outro lado, persistem a duplicidade e a descontinuidade de comando na gestão do programa espacial (ver p. 9 e 12). Outra questão a ser resolvida diz respeito à indenização das famílias das vítimas. Durante o velório, o presidente Lula anunciou que enviaria ao Congresso Nacional um projeto de lei propondo uma indenização de reparação às famílias. Contudo, o valor pago a cada família pelo governo federal, em 2004, foi de 100 mil reais, a título de antecipação. Os familiares entendem que têm direito a um valor que seja mais compatível com o que as vítimas ganhariam ao longo da vida profissional.
Entraram na Justiça para pleitear esta correção, mas o processo já dura nove anos e nada foi definido. “Estamos pedindo 3 milhões de reais por família, que equivale a dois terços da remuneração por mês que faltava para que a pessoa vitimada completasse 70 anos”, explica José Roberto Sodero, advogado dos parentes das vítimas. Além das indenizações, as famílias fazem jus a pensões mensais proporcionais ao salário de cada vítima. Entretanto, por absurdo que pareça, o governo ameaça descontar 50% do valor das pensões.
“Já não basta ter perdido meu marido, agora querem retirar a pensão?”, questiona, indignada, Aparecida Garcia, viúva de Gines Ananias Garcia. Como ocorre desde 2004, na data da tragédia os familiares realizaram uma emocionante homenagem às vítimas, no Memorial Aeroespacial Brasileiro (MAB). Vinte e um tiros de rojão foram desfechados pontualmente às 13h26, horário do acidente. Logo após, viúvas, irmãos e filhos leram textos escritos há nove e dez anos (ver p. 4 e 5).
Sem culpados?
O relatório oficial da investigação, divulgado em fevereiro de 2004 pela Comissão de Investigação, não atribui responsabilidades individuais pelo acidente, limitando-se a explicar o conjunto de falhas que culminou na grande tragédia. Elenca fatores de ordem técnica, meteorológica, humana e operacional. O então vice-diretor do Centro Técnico Aeroespacial (CTA, hoje DCTA) e chefe da comissão, brigadeiro Marco Antônio Couto, afirmou à época que não houve uma causa única para o acidente e sim uma somatória de fatores, dentre eles o corte de orçamento, a redução dos testes e também do número de funcionários. A investigação concluiu, por exemplo, que o radar do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) estava inoperante desde 1989, data em que chegou, porque não havia um profissional para operá-lo.
O problema é associado a outro fator apontado no relatório: a falta de recursos financeiros e humanos. Tudo isso, combinado, teria ocasionado aquilo que a Comissão de Investigação definiu no relatório final como “diminuição da capacidade de consciência situacional”, ou seja, a redução das condições de percepção de risco.
Em outras palavras, embora houvesse se instalado um ambiente de grande vulnerabilidade e alto risco, a equipe operacional do VLS não se deu conta do perigo que estava correndo. No entender do engenheiro e professor universitário aposentado Luciano Magno Costalonga Varejão, irmão de uma das vítimas, César Augusto Varejão, e membro da Comissão de Investigação, os erros determinantes foram as falhas de segurança: “Com o dispositivo de ignição (espoleta) já no lugar, as normas de segurança determinavam que apenas seis pessoas poderiam estar no ambiente da torre de lançamento do VLS, três para executar as tarefas e outras três para verificar se as executavam segundo as normas de segurança”, esclareceu.
O relatório também registrou que no CLA havia problemas de ordem operacional, que impediram um gerenciamento de risco mais criterioso e maior aperfeiçoamento na gestão de qualidade, mas não identificou culpados. “Algumas perguntas ainda estão sem respostas”, afirma a Associação dos Familiares das Vítimas em artigo publicado nesta edição: “Por que tantos funcionários trabalhando ao mesmo tempo e, pior, com os dispositivos [de ignição dos motores] instalados? Por que os dirigentes da missão não receberam punição?” O então diretor do CTA, major-brigadeiro Tiago da Silva Ribeiro, não foi encontrado pelo Jornal do SindCT para comentar as críticas.
“IAE é competente”
Além das vidas perdidas, o Programa Espacial Brasileiro sofreu um impacto significativo, pois não houve um novo lançamento, embora o então presidente Lula tenha se comprometido a lançar a versão 4 do VLS até 2006. De lá para cá, surgiram apenas novidades preocupantes, como a criação da binacional Alcantara Cyclone Space (ACS), fruto de um acordo com a Ucrânia, destinada a lançar satélites comerciais. Como explicar tudo isso? “Em 2010, visitei o IAE, que havia sofrido o trauma do acidente.
A organização da pesquisa me pareceu completamente recuperada. É uma instituição de pesquisa competente, apesar do nocivo isolamento em que é colocada. Do ponto de vista técnico, não me parece haver problema algum. No INPE, também não. Os erros foram bastante bem equacionados, descritos no relatório da comissão de investigação”, diz o professor Paulo Murilo, do Instituto de Física da Universidade Federal Fluminense.
“O problema do Programa Espacial Brasileiro não está em São José dos Campos (IAE e INPE) nem em Alcântara. Mora em Brasília. A falha é do gerenciamento, este não foicorrigido”, avalia Murilo, que representou a comunidade científica na Comissão de Investigação. “Até a primeira providência de estabelecer um comando único do programa como um todo, que deveria ter sido tomada há muito tempo para permitir a correção dos problemas específicos, não foi efetivada até hoje”.
“Revisão crítica completa”
Visão oposta defende o tenente- coronel Alberto Walter da Silva Mello Junior, atual gerente do Projeto VLS-1 e coordenador de Projetos Espaciais do IAE. No tocante à segurança, ele garante que houve “uma revisão crítica completa e passou-se a adotar a cultura de certificação, melhorando a garantia da qualidade dos produtos”.
Engenheiro aeronáutico, doutor em Engenharia Aeroespacial pela Universidade do Texas, o oficial mostra otimismo com o programa espacial: “De 2003 até hoje, houve 24 lançamentos de veículos suborbitais, todos com sucesso. Exporta-se VSB-30 para a Europa.
O VS-40, composto pela parte alta do VLS-1, também será utilizado por parceiro internacional. Todo esse trabalho já coloca o Brasil entre os países mais desenvolvidos na área espacial. O Veículo Lançador de Microssatélites-1 (VLM-1), concebido nesse período, será um projeto conjunto entre Brasil e Alemanha”.
Quanto ao cronograma do projeto, ele informa que em 2014 haverá duas operações: Santa Bárbara, para testes dos sistemas embarcados, e a de lançamento do VSisnav, ou Veículo Lançador do Sisnav, Sistema de Navegação do VLS-1 (ver texto “Projeto VLS hoje, segundo seus gestores” na p. 8). O PEB remonta aos anos 1980. A etapa de produção de satélites e o seu controle em solo já foi alcançada pelo INPE nos anos 1990.
Contudo, para que os objetivos iniciais do programa sejam plenamente atingidos, falta ainda o lançamento com sucesso do VLS, levando ao espaço um satélite de fabricação nacional. As tentativas de lançamento de protótipos do VLS realizadas em 1997 e 1999 foram mal sucedidas. A de 2003 resultou na tragédia que trouxe imensa dor e deixou cicatrizes nas instituições envolvidas e nos projetos em curso.

Faísca gerou incêndio e explosão do VLS

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Fernanda Soares
O relatório de investigação do acidente que destruiu o VLS e a torre de lançamento de Alcântara em agosto de 2003, provocando a morte de 21 funcionários civis do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), foi concluído e apresentado oito meses depois.
A conclusão: uma faísca elétrica, resultante das condições adversas de trabalho provocadas pela falta de recursos, foi a principal causa do incêndio e imediata explosão do foguete. Durante a apresentação do relatório, em São José dos Campos, o então ministro da Defesa, diplomata José Viegas Filho, resumiu: “Muitos equipamentos ficaram guardados por falta de dinheiro para a manutenção, e a escassez de recursos materiais colaborou para a falta de condições de trabalho”.
Apesar de extenso e detalhista, o relatório não explica porque havia tantos funcionários trabalhando na Torre Móvel de Integração (TMI) no momento do acidente, quando as normas de segurança determinavam que o número máximo deveria ser seis. Inicialmente foi levantada pela imprensa a hipótese de sabotagem, que o major brigadeiro Tiago Ribeiro, à época diretor do CTA e principal responsável pelo lançamento, chegou a considerar como plausível, antes que o relatório da investigação fosse concluído. Contudo, não foi detectada na investigação nenhuma atividade externa ou criminosa que pudesse ter produzido o acidente.
O acidente

O incêndio no VLS, que causou a tragédia, teve início após a faísca elétrica ter acionado o detonador do motor “A” do primeiro estágio do foguete. Embora o sequenciamento das atividades seguisse um cronograma e fosse relatado minuciosamente em fichas preenchidas pelos chefes de equipes, nenhuma das fichas que constam do inquérito policial do caso relata quando o detonador foi instalado, sendo que, por segurança, este seria o último item a ser montado no VLS.
A investigação também constatou que o Dispositivo Mecânico de Segurança (DMS) que protege o ignitor do motor, impedindo seu acionamento acidental, havia sido removido do Projeto VLS. Em 1997, após o lançamento do protótipo VLS-1 V 01, o DMS havia sido apontado como a causa da falha no acionamento de um dos motores do primeiro estágio desse foguete.
Durante as investigações da falha do VLS-1 V 01, foi recomendada a revisão do DMS e seus componentes, além de alterações necessárias e nova qualificação para o voo. Porém, no período entre o lançamento do V 01 e a montagem do V02, o DMS não foi revisto, mas simplesmente retirado do VLS (ver p. 9). De acordo com o gerente do Projeto VLS, tenente- coronel Alberto Mello Junior, “devido ao fato de não ter sido possível determinar a causa primária que levou à ignição intempestiva de um dos motores, não se pode afirmar que a presença do DMS teria evitado o acidente.
A falta deste dispositivo foi apontada como fator contribuinte, no entanto, outros itens de segurança foram considerados quando foi tomada a decisão de não se utilizar o DMS que se tinha disponível à época no V 03”.
“Sucateamento”
O engenheiro Luciano Magno Costalonga Varejão, representante das famílias das vítimas na comissão que investigou o acidente, acredita que as investigações foram conduzidas com isenção e competência. “Apesar de não ter sido possível apontar exatamente qual a falha que de fato causou a combustão intempestiva dos motores do VLS, várias falhas foram detectadas que poderiam, isoladamente ou em conjunto, ter causado o acidente”. Além de “falhas gerais de segurança”, ele aponta “substituição de cabos blindados por cabos sem blindagem”, falta de documentação e aprovação para modificações efetuadas, “colocação da espoleta [detonador] sem comunicação aos funcionários que foram trabalhar no VLS e que acabaram sendo vítimas”, “colocação de proteção, contra chuva, de material não comprovado como seguro para aquele ambiente” e “gerenciamento deficiente das normas de segurança” (ver p. 7).
A presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Acidente com o VLS, Doris Maciel Cezarini, sustenta entendimento oposto ao de Varejão. Ela critica o relatório da investigação, que a seu ver é parcial e inconclusivo, principalmente por ter sido dirigido pelo Ministério da Defesa.
“Não se aprofundaram sobre o que realmente aconteceu. Tenho certeza de que foi sucateamento de tudo. Lembro do meu marido contando das coisas que estavam quebradas. Se fosse algo feito com responsabilidade, o acidente não teria acontecido”, afirma. Para as famílias, a não identificação de culpados e a impunidade dos responsáveis não deixa a dor da tragédia ser superada.
“Eles não foram acusados e nunca vão ser. Ao contrário, foram todos promovidos”, desabafa Doris. O brigadeiro Carlos Antônio de Magalhães Kasemodel, atual diretor do IAE, considera que não foi possível identificar a causa determinante, nem chegar-se a responsabilidades individuais: “Acidentes dessa natureza, da mesma forma que os acidentes aeronáuticos, em geral ocorrem pelo somatório de diversos fatores contribuintes, sendo muitas vezes impossível se chegar a uma única causa determinante do sinistro.
A investigação do acidente de Alcântara foi realizada por diversas comissões: oficiais, missões estrangeiras foram criadas para analisar as causas do acidente. Todas elas apontaram possíveis causas do acidente, e quando não se pode ir além do plano das hipóteses não é possível apontar inequivocamente um responsável. De qualquer modo, as investigações conduzidas cumpriram seu maior propósito que foi o de contribuir para a prevenção da reincidência futura de acidentes como o ocorrido em 2003”.

"Força Aérea não prestou atenção à Lei de Murphy e deu errado, 21 morreram!”

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“Força Aérea não prestou atenção à Lei de Murphy e deu errado, 21 morreram!”
Várias falhas de segurança foram identificadas na investigação das causas do acidente fatal com o VLS em 2003. É o que afirma Luciano Magno Costalonga Varejão, irmão de César Augusto Costalonga
Varejão, técnico civil morto na tragédia de Alcântara. Na condição de representante das famílias das vítimas, Luciano foi um dos membros da Comissão de Investigação constituída com a finalidade de apurar as causas do acidente. Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade de Minnesota, professor aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo, Luciano considera que a investigação foi conduzida “com isenção e competência” pelo brigadeiro Marco Antonio Couto do Nascimento, hoje reformado. O engenheiro fez estas declarações em resposta a questões que lhe foram encaminhadas peloJornal do SindCT.
Dez anos após a tragédia de Alcântara, qual é a sua avaliação do que ocorreu?
Principalmente falhas de segurança. Com o dispositivo de ignição (espoleta) já no lugar, as normas de segurança determinavam que apenas seis pessoas poderiam estar no ambiente da torre de lançamento do VLS, três para executar as tarefas e outras três para verificar se as executavam segundo as normas de segurança.
Na sua opinião, a Comissão de Investigação trabalhou com independência?
Sim. O brigadeiro Couto, que presidiu os trabalhos da Comissão, com isenção e competência, não poupou esforços para que os objetivos fossem atingidos.
Que erros conduziram à explosão?
Apesar de não ter sido possível apontar exatamente qual a falha que de fato causou a combustão intempestiva dos motores do VLS,várias falhas foram detectadas que poderiam, isoladamente ou em conjunto, ter causado o acidente. Dentre elas: 1) falhas gerais de segurança; 2) substituição de cabos blindados por cabos sem blindagem; 3) falta de documentação de modificações efetuadas; 4) falta de aprovação para modificações executadas; 5) colocação da espoleta sem comunicação aos funcionários que foram trabalhar no VLS e que acabaram sendo vítimas; 6) colocação de proteção, contra chuva, de material não comprovado como seguro para aquele ambiente; 7) gerenciamento deficiente no que tange ao cumprimento das normas de segurança; 8) alta rotatividade do gerenciamento geral do programa VLS — o cargo era usado como forma de progressão na carreira militar.
A Comissão identificou responsabilidades individuais?
É óbvio que havia alguém responsável pelo comando de toda a operação de lançamento do VLS. Esta pessoa, que não sei quem era, deve ter respondido pelas falhas de segurança que ocorreram. Se não respondeu, houve mais uma falha, falha jurídica.
O VLS e o programa espacial devem continuar sob controle militar?
Não tenho opinião formada a este respeito. Nada tenho contra militares. Um executivo que domine toda a complexidade do programa VLS, seja militar ou civil, tenho certeza que será muito bem vindo. Porém, o comando de um programa da envergadura do VLS não pode ser usado apenas como trampolim para promoções na carreira militar. Certamente, o tempo necessário para se conhecer toda a complexidade do programa VLS é muito superior ao tempo mínimo que um militar deve permanecer no posto apenas para contar pontos em sua carreira militar.
Uma queixa dos familiares das vítimas é que alguns dos maiores responsáveis diretos pela tragédia não sofreram qualquer punição, ao contrário, foram promovidos. O sr. concorda com essa avaliação?
Não acompanhei a carreira dos responsáveis pelo programa VLS, portanto não tenho como afirmar. O que soube é que o brigadeiro Couto (a quem passei a admirar pela integridade e competência), que presidiu com isenção e competência a Comissão que apurou as causas do acidente, da qual participei, não galgou degraus mais elevados em sua carreira militar. Também não sei o motivo da interrupção de sua carreira militar, ap nas espero que não tenha sido o fato de ter “incomodado” alguém por ter presidido e conduzido, com isenção e competência, os trabalhos da Comissão.
Os familiares receberam as devidas reparações de ordem material e de ordem simbólica, que pudessem compensar as perdas sofridas?
Se compararmos os valores recebidos pelas famílias das vítimas, com os valores recebidos por famílias de vítimas de acidentes semelhantes nos Estados Unidos da América, conclui-se que deveriam ter recebido reparações materiais de maior monta. Quanto à reparação de ordem simbólica, a melhor será o sucesso do programa VLS.
Encerrados os trabalhos da Comissão, restou para o sr. algum aprendizado pessoal, como resultado dessa experiência certamente difícil e dolorosa?
Sim. O mais óbvio aprendizado é de cunho humano. Perdas são irreparáveis, principalmente quando se trata de alguém tão cheio de vida, tão cheio de planos e projetos, de alguém com presença tão marcante em sua família como meu irmão Cesar. A morte de alguém que cumpriu todos os seus ciclos de vida, deixa saudades, mas é entendida como natural. Porém, a morte prematura de alguém, com ciclos de vida ainda a cumprir, não é sentida da mesma maneira. Fico sempre com a impressão de que meu irmão não deveria ter morrido, que não era a hora dele, que a missão dele aqui ficou incompleta, ele ainda tinha muito a fazer. Há também o aprendizado de ordem prática, que confirma o adágio conhecido como “Lei de Murphy”, capitão da Força Aérea Americana, que disse: “Se alguma coisa tem a mais remota chance de dar errado, certamente dará”. Ironicamente, o pessoal da Força Aérea daqui não prestou a devida atenção à Lei de Murphy e deu errado, 21 morreram!!!

Projeto VLS hoje, segundo seus gestores

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Fernanda Soares
Em que situação se encontra o Projeto VLS, dez anos após a tragédia de Alcântara? “O projeto sofreu uma revisão crítica completa”, explica seu gerente, tenente-coronel Alberto Mello Junior. “Novos dispositivos de proteção foram criados no ambiente da plataforma de lançamento, aprimorando a segurança operacional”.
Tudo está equacionado para o lançamento de um protótipo em 2014, garante ele. Outras informações são acrescentadas pelo diretor do IAE, brigadeiro engenheiro Carlos Antônio de Magalhães Kasemodel: “Os subsistemas de redes elétricas e redes pirotécnicas foram reprojetados. Ensaios realizados no passado foram repetidos.
Novos testes como, por exemplo, o de separação dos propulsores do primeiro estágio, foram especificados e realizados. Novos equipamentos de ensaios, alinhados com a tecnologia atual, foram adquiridos. Hoje, o VLS mantém a mesma aparência externa, mas internamente são muitas as diferenças”.
O Jornal do SindCT esteve no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) em julho de 2012 para visitar a base e conhecer a nova torre de lançamento (TMI) e o trabalho realizado na Operação Salina, que marcou o reinício das atividades relacionadas ao VLS-1 em Alcântara.
Objetivo da operação: realizar o transporte, preparação e integração mecânica de um mock-up estrutural inerte do VLS- 1 — estrutura real do veículo sem combustível a bordo — e ensaios e simulações para verificação da integração física, elétrica e lógica da TMI e dos meios de solo do centro de lançamento, associados à preparação para voo do foguete.
Durante os 26 dias de trabalho, os funcionários também passaram por treinamento e prevenção de acidentes, com simulação de um acidente com vítimas. Valderci Giacomelli, pesquisador que acompanhou a visita doJornal do SindCT, confessou: “Estava aqui quando aconteceu o acidente. Foi emocionante ver o VLS montado de novo na base”.
Atualmente, a equipe trabalha com o Vsisnav, ou Veículo Lançador do Sisnav, Sistema de Navegação do VLS-1. Antes nomeado VLS-1 XVT-01, o VSisnav é uma versão do VLS- 1 que será utilizada para ensaios de navegação em voo. O primeiro lançamento do VSisnav na nova TMI, somente com o primeiro e segundo estágios ativos, estava previsto para 2013, mas foi adiado.
O voo de teste tecnológico do VSisnav foi reagendado para 2014. Com Com poucos recursos, o Projeto VLS caminha lentamente, podendo ainda realizar testes, ensaios e preparação de equipe”. O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) prevê um
lançamento para 2015. Porém, embora os recursos destinados ao Projeto VLS no PNAE sejam da ordem de R$ 45 milhões a R$ 60 milhões anuais, valores modestos, efetivamente o projeto tem recebido menos ainda: R$ 15 milhões. “Um cronograma físico não resiste à falta de recursos”, lamenta Mello Junior. Também não houve a reposição de pessoal: “Estamos com problemas em alguns setores porque o pessoal já se aposentou”, reconhece o oficial. Leia a seguir os principais trechos das declarações do tenente-coronel ao Jornal do SindCT:
Quais avanços ocorreram no projeto VLS nestes últimos 10 anos?
O projeto sofreu uma revisão crítica completa e passou-se a adotar a cultura de certificação, melhorando a garantia da qualidade dos produtos. O veículo e os meios de solo do IAE e do CLA estão utilizando componentes compatíveis com o que há de mais moderno no mundo.
A revisão crítica levou à reestruturação co pleta das redes elétricas e redes pirotécnicas. Dados coletados durante os voos dos veículos V 01 e V 02 também foram minuciosamente analisados e soluções de amortecimentos foram implantadas visando melhorar a confiabilidade funcional dos sistemas embarcados. Novos dispositivos de proteção foram criados no ambiente da plataforma de lançamento, aprimorando a segurança operacional.
Há previsão de voltar a utilizar o DMS? Qual o status atual do projeto VLS?
Os próximos veículos contarão com todos os dispositivos necessários para garantia da confiabilidade dos sistemas, reduzindo-se qualquer risco de incidente para faixa de extremamente improvável. Este é o mesmo nível de segurança que se tem quando se embarca em um avião comercial. O DMS [dispositivo de segurança] a ser empregado já no VSisnav possui acionamento remoto, tendo sido amplamente testado.
A filosofia atual do projeto é a de se cumprir etapas. O orçamento previsto nos permite que se atinjam até o próximo ano duas metas bem definidas: o ensaio dos sistemas embarcados e o voo do VSisnav. Todo recurso necessário para essas duas metas já está assegurado. Para a continuidade do projeto, ou seja, lançamento do protótipo do VLS, o XVT-02, e do VLS V 04, será necessária complementação de verba. As autoridades em nossa cadeia de comando estão cientes e sensibilizadas com essa situação e buscam a solução para o problema. A segurança física, a qualidade do produto e o foco no cumprimento da missão jamais serão comprometidos. O projeto somente seguirá adiante com os recursos necessários para se cumprirem todos os processos do desenvolvimento seguro. Não há exceção.

Homenagem emociona familiares e amigos

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Homenagem emociona familiares e amigos

Fernanda Soares
A homenagem foi bela, simples, mas acima de tudo emocionante. Exatos dez anos após a tragédia de Alcântara, que abalou a comunidade científica do IAE-DCTA e INPE e comoveu o país, as famílias das vítimas reuniram-se no Memorial Aeroespacial Brasileiro (MAB) para assinalar a data e relembrar seus entes queridos.
Vinte e um tiros de rojão foram disparados pontualmente às 13h26, horário do acidente. Logo após, viúvas, irmãos e filhos leram textos que foram escritos há nove e dez anos. Também compareceram amigos e colegas de trabalho, que não conseguiram conter as lágrimas. Os familiares se sentiram reconfortados ao compartilhar a dor que carregam nestes dez anos. Aparecida Garcia, viúva de Gines Ananias Garcia, diz que os dias ainda se alternam entre “altos e baixos”.
Seu objetivo é continuar trabalhando, “mantendo o foco” e vencendo um dia após o outro. “Sei que algumas viúvas já se casaram novamente, já se separaram... mas eu ainda não consigo. A gente tinha um vínculo de alma, não está sendo fácil viver sem ele”, revela. Cabelereira, Aparecida precisou se desfazer do salão após a perda do marido, pois não conseguia se concentrar no trabalho.
Hoje, ela presta serviços em outro salão. Rodrigo, seu filho, diz sentir falta dos momentos de conversa que tinha com o pai. “Eu tinha a impressão de que ele sempre sabia a coisa certa a dizer e os momentos em que eu não precisava ouvir nada, só precisava da presença dele. Ele era um cara bastante especial”.
Vinícius Pereira, filho de José Eduardo Pereira, não teve a oportunidade de conviver muito com o pai. Quando o acidente aconteceu ele tinha apenas dois anos. O que ele sabe do pai e de seu trabalho, portanto, é contado pelos familiares. Mesmo assim, a uma indagação sobre a homenagem ao pai, responde com rapidez: “Achei bem legal, porque é uma forma de falar para ele que estamos bem”.
Lúcia de Fátima Varejão, viúva de César Augusto Costalonga Varejão, enxerga nos quatro filhos do casal uma forma de superar a ausência do marido. “Eu vejo muito ele nos meus filhos e isso me deixa bem... Meu marido sempre ajudou muito na educação dos filhos e hoje eles estão bem, graças a ele. Seguem o que o pai ensinou e têm bom caráter”.
Pensão ameaçada
Não é apenas a dor das perdas que as famílias enfrentam. Recentemente, o governo questionou o valor das pensões pagas às viúvas e filhas. Após uma auditoria, o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) afirma que a pensão deveria ser de apenas 50% do salário do servidor. As famílias impetraram uma ação judicial, contestando a decisão. Caso percam, serão obrigadas a devolver todo o valor recebido “a mais” nestes 10 anos.
“Isso é um absurdo. Já não basta ter perdido meu marido, agora querem retirar a pensão?”, indaga Aparecida Garcia. Além da pensão mensal, as indenizações pelas mortes também são questionadas na justiça. Há dez anos, cada família recebeu R$ 100 mil do governo federal, a título de “antecipação da indenização”, até que o valor real fosse definido.
Mas, para receber a indenização pela morte, as famílias também precisaram impetrar ações. E os processos ainda não chegaram ao fim. “Tem gente que pensa que recebemos indenizações altas e estamos milionárias”, afirma Doris Cezarini, viúva de Antonio Sérgio Cezarini e presidente da Associação dos Familiares das Vítimas. Em um dos processos de indenização, foi determinado o valor de R$ 300 mil a ser pago à família.
Contudo, desse montante serão descontados, com a devida correção monetária, os R$ 100 mil antecipados. A viúva, que não quis se identificar, está revoltada. “Para a Justiça, a vida do meu marido só vale R$ 300 mil! E as pessoas que assistiram à reportagem na TV acham que eu recebi R$ 3 milhões”.
Punição dos culpados
Reunidas após a homenagem, as famílias são unânimes ao afirmar o que lhes falta: indenização justa e punição dos culpados pelo acidente. “Sei que é forte, mas sempre digo que meu marido foi assassinado e o culpado está solto”, protesta Doris, inconformada. A identificação dos responsáveis pela catástrofe, e as correspondentes punições, dariam conforto aos familiares e os ajudariam a superar a dor.
Texto escrito pela filha de Antônio Sérgio Cezarini, lido em 22/8
Pai
Saudade...
Saudade do teu sorriso
Das tuas palhaçadas...
Tua risada gostosa
Teu assovio quando estava perdido no
supermercado
Tua mão grossa
Teus olhos brilhosos
Tua orelhinha pequena
Saudades de quando você me cobria antes
de dormir
De quando me chamava de franguinha
Quando chamava a mãe de cuchinha
De quando perguntava como foi meu dia
na aula
Quando perguntava se eu tinha ballet...e eu
ficava brava, porque tenho ballet todo dia!
Saudade de ouvir o barulho da sua chave
chegando pra me buscar na academia
Saudade de te acordar e falar: pai você tá
roncando!
De brigar quando a filmagem não ficava do
jeito que eu queria
De ver a luz vermelha da sua câmera lá no
fundo...
Saudade de te acordar e falar: pai me leva
na aula!
De te ligar mais cedo e falar, me busca!
E você sempre ia!
Saudades de te atormentar porque tua
barriga estava ficando grande
De te ajudar a escolher uma roupa pra sair
De brigar pra você sair logo do computador
Pedir pra você parar de fumar
Saudade de sempre ver você descendo
daquele avião enorme e estar aliviada por
ter chegado bem
Saudades de ter a certeza de que você estava
ali quando eu precisasse
Saudades de você, pai... simplesmente de
você...
de sua filha, Bruna Cezarini

Trágica Interrupção

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Gino Genaro
O acidente com o foguete Veículo Lançador de Satélites (VLS), no centro de lançamento de Alcântara, no Maranhão, que vitimou 21 técnicos e engenheiros do então Centro Técnico Aeroespacial (CTA), acaba de completar dez anos. Além de ser um momento importante para se homenagear estes servidores que perderam suas vidas enquanto atuavam em missão oficial em prol do desenvolvimento tecnológico do país, é também um momento para se avaliar o que aconteceu de relevante nesta década no âmbito do Programa Espacial Brasileiro (PEB).
Em primeiro lugar é importante lembrar que, no período que antecedeu a tragédia de Alcântara, os recursos públicos destinados ao PEB sempre estiveram muito aquém da necessidade dos projetos, em particular ao longo da década de 1990.
Neste período, o orçamento médio anual destinado à execução do Plano Nacional de Atividades Espaciais (PNAE) não chegou a US$ 50 milhões, muito pouco se comparado ao orçamento de agências espaciais de países do porte do Brasil, como China, com um orçamento de US$ 500 milhões, e Índia, com US$ 815 milhões (apenas a título de referência, a agência norte-americana Nasa tem um orçamento anual de US$ 17 bilhões). Levando-se em conta que, deste total, apenas uma pequena parcela era destinada especificamente ao desenvolvimento do VLS, pode-se concluir que o projeto praticamente “vegetou” ao longo daquela década.
A partir de 2003, logo após o acidente com o VLS, o orçamento do PNAE sentiu uma melhora, atingindo nos últimos dez anos o patamar médio de US$ 100 milhões anuais, valor ainda muito distante da necessidade que um programa desta natureza exige.
Outro fato que merece destaque diz respeito à carência de recursos humanos nos institutos públicos de pesquisa responsáveis pela execução do programa espacial, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o DCTA. As décadas de contratações descontinuadas, com a abertura insuficiente de vagas para concursos públicos, além do crescimento do número de aposentadorias, levaram a uma dramática redução de pessoal, comprometendo diretamente a capacidade destas instituições de levarem a cabo sua missão.
“Atalho” duvidoso Mas o que dizer especificamente do desenvolvimento do VLS, tragicamente interrompido em 2003? O que mudou nestes dez anos? Infelizmente avançamos muito pouco, sendo que em alguns casos retrocedemos. Basta dizer que a reconstrução da torre de lançamento do foguete em Alcântara levou dez anos para ficar pronta. Nestes dez anos, nenhum outro voo de teste foi realizado com o VLS, e há fortes indícios de que um novo teste com o foguete completo dificilmente acontecerá nos próximos anos.
É importante que se diga que na história dos programas espaciais de países que assumiram o desafio de obter acesso autônomo ao espaço, não existe registro de algum que tenha levado tantas décadas para alcançar seu objetivo. Na tentativa de buscar um “atalho” para se obter acesso ao espaço, o governo brasileiro criou em agosto de 2006, em cooperação com o governo da Ucrânia, a binacional Alcantara Cyclone Space (ACS), com o objetivo de se fazer lançamentos comerciais de satélites de pequeno e médio porte utilizando-se um foguete ucraniano, lançado a partir da base de Alcântara.
Tal iniciativa, além de não prever a transferência de tecnologia para que o Brasil um dia possa desenvolver seu próprio veículo lançador — já que o tratado de salvaguardas celebrado entre os dois países proíbe explicitamente esta troca de conhecimento — ainda drena os parcos recursos do PEB destinados ao desenvolvimento do VLS. Só para se ter uma ideia, no período 2007-2013 os gastos diretos do governo federal com o programa espacial somaram US$ 900 milhões (ver gráfico na p. 9). Deste total, foram destinados ao VLS US$ 51,1 milhões.
Em contrapartida, neste mesmo período a ACS consumiu dos cofres públicos um total de US$ 220,8 milhões, utilizados na capitalização da empresa. Estes números evidenciam que, para o governo, o programa VLS perdeu sua importância, com a ACS levando quatro vezes mais recursos do que o projeto do foguete nacional. Rotatividade Por fim, há ainda as dificuldades relacionadas aos aspectos gerenciais e administrativos do programa VLS, em particular, e do programa espacial, em geral.
O programa VLS tem como órgão executor o DCTA, vinculado ao Comando da Aeronáutica. Por conta disso, a gerência do programa é exercida por militares durante curtos períodos de tempo, sendo constantemente substituídos à medida em que vão ascendendo na hierarquia da corporação.
Considerando que projetos complexos e de longa duração como o VLS requerem equipes perenes e experientes, em particular nos postos de comando, a rotatividade de cargos da carreira militar em nada contribui para o bom andamento do programa. O mesmo acontece com a própria Agência Espacial Brasileira, responsável pela condução do PEB.
Apesar de ser uma autarquia do governo federal comandada por civis, na prática vem servindo como moeda de troca junto aos partidos que compõem a base aliada do governo no Congresso Nacional. Isto explica o porquê de nestes dez anos a AEB já ter tido sete presidentes, com mandatos que têm durado, em média, um ano e meio cada. Mais do que nunca é preciso que o Estado brasileiro adote uma política clara e objetiva para a área espacial.
Além de investimento maciço e continuado de recursos e da abertura de concursos públicos para a recomposição das equipes técnicas, é preciso ter coragem e vontade política para se fazer as reformas administrativas que o programa necessita, assim como pôr fim às tentações de se buscar “atalhos”, que ao fim e ao cabo somente têm servido para desperdiçar recursos públicos e tirar o foco daquilo que é o mais importante, a autonomia do país no acesso ao espaço.
Ou o governo assume esta tarefa, ou estará passando um claro recado à sociedade de que, na prática, o sonho do VLS acabou, só restando discursos e parcos recursos.
Gino Genaro é doutor na área de radiação térmica, tecnologista do INPE e secretário de formação sindical do SindCT

Em memória de nossos companheiros

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Amintas Rocha Brito, Antonio Sergio Cezarini, Carlos Alberto Pedrini, Cesar Augusto Costalonga Varejão, Daniel Faria Gonçalves, Eliseu Reinaldo Moraes Vieira, Gil Cesar Baptista Marques, Gines Ananias Garcia, Jonas Barbosa Filho, José Aparecido Pinheiro, José Eduardo de Almeida, José Eduardo Pereira, José Pedro Claro Peres da Silva, Luis Primon de Araújo, Mario Cesar de Freitas Levy, Massanobu Shimabukuro, Mauricio Biella de Souza Valle, Roberto Tadashi Seguchi, Rodolfo Donizetti de Oliveira, Sidney Aparecido de Moraes, Walter Pereira Junior, 21 companheiros que se transformaram em monumento.
Heróis sem noção do ato heróico, protagonistas a quem coube segurar o estandarte da história desconcertante de um sonho, de um ideal, de uma inocência, de uma imaturidade em busca de realização, escolhidos pela trama da vida para estarem ali. Ironicamente, se o desfecho da operação São Luiz tivesse sido outro, se o VLS tivesse subido com atitude e determinação, com graciosidade e leveza, estes irmãos teriam voltado anônimos, felizes, aliviados, plenos da sensação da missão cumprida, mas definitivamente “servos inúteis”, que apenas teriam cumprido a obrigação da responsabilidade profissional, a qual se é pago com o salário mensal e nada mais.
Seguiriam heróis de seus filhos, de suas esposas e de seus amigos. Eles passaram, todos passaremos; dizem que à porta do cemitério de Paraibuna se pode avistar a inscrição fatídica: “Nós que aqui estamos, por vós esperamos”.
E agora, o que resta? Angustia- -me, nesta reflexão, o rescaldo da responsabilidade destes companheiros, cuja memória já desvanece. O VLS precisa ter sucesso, devemos isto a eles, aos seus, a nós mesmos, para que possamos seguir com entusiasmo e sinceridade de propósitos, confiantes na justiça telúrica de que sempre nos honraremos uns aos outros. Esta edição é especial porque honra a memória destes companheiros com palavras e deferências.
Os artigos finais se dignam a uma honraria objetiva, focando os problemas que o programa VLS enfrenta: falta de visão estratégica de estado, porque programa espacial não se produz com tibiez e falta de vontade política.