quinta-feira, 1 de agosto de 2019

De Volta à FUNAI


STF impõe derrota a Bolsonaro e mantém demarcações indígenas com Funai

Rosinei Coutinho/Divulgação/STF
Imagem: Rosinei Coutinho/Divulgação/STF
Felipe Amorim
Do UOL, em Brasília
01/08/2019 16h16
Em sessão na tarde de hoje, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu manter na Funai (Fundação Nacional do Índio) a atribuição para demarcar terras indígenas.
Em junho, o relator, Luís Roberto Barroso, havia se colocado contra as medidas provisórias do presidente Jair Bolsonaro (PSL) que transferiam as demarcações para o Ministério da Agricultura. A decisão de Barroso foi referendada por unanimidade pelos demais nove ministros do STF. Apenas Alexandre de Moraes não participou da sessão.
O principal argumento para barrar a transferência das demarcações foi o de que o presidente da República não pode editar duas vezes no mesmo ano legislativo medidas provisórias tratando do mesmo tema, já que isso é proibido pela Constituição Federal.

O que dizem as MPs

O governo Bolsonaro já publicou duas medidas provisórias retirando as demarcações da Funai. A primeira foi alterada pelo Congresso Nacional para manter com a Funai a atribuição de definir as terras indígenas.
A segunda medida provisória, publicada após os parlamentares contrariarem os planos do governo, foi o alvo da decisão do ministro Barroso, que suspendeu a mudança em liminar.
Posteriormente, o ponto da segunda medida provisória que retirava as demarcações da Funai também teve a tramitação barrada por decisão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que preside também o Congresso Nacional.
Em voto, Celso de Mello afirma que reedição de MP é "inaceitável"
UOL Notícias
Para Celso de Mello, ministro há mais tempo em atividade no STF, a edição de duas medidas provisórias com a tentativa de retirar as atribuições da Funai demonstra "autoritarismo" e "transgressão" à Constituição Federal.
"O comportamento do atual presidente revelado na atual edição de medida provisória rejeitada pelo Congresso no curso da mesma sessão legislativa traduz uma clara, inaceitável, transgressão à autoridade suprema da Constituição Federal e uma inadmissível e perigosa transgressão ao princípio fundamental da separação de Poderes", disse Celso.
"Parece ainda haver na intimidade do poder hoje um resíduo de indisfarçável autoritarismo", afirmou o ministro na sessão de hoje.
No julgamento, o STF não chegou a analisar o mérito das ações contra a medida do governo, ou seja, não foi julgado se a retirada da Funai da atribuição de demarcar terras indígenas contraria a Constituição Federal.
O que foi julgado, e rejeitado, foi a possibilidade de o governo editar uma segunda medida provisória para tentar se sobrepor à decisão do Congresso.
O tema poderá voltar a ser analisado pelo STF para julgar a questão central das ações: a legalidade de se retirar essas atribuições da Funai.

CRIMES DE BOLSONARO

DESVIO DE FINALIDADE

 

O que a expressão “desvio de finalidade” quer dizer.

 

O GESTOR PÚBLICO NÃO FAZ APENAS O QUE QUER

Isso são para bolsonaro (com “b” minúsculo mesmo), seu clã e seus cúmplices.
Gerir a coisa pública não é o mesmo que gerir uma empresa privada, a casa ou a própria vida. Podem até existir muitas divergências no direito sobre isso, assim como existem na política, mas todos concordariam quanto a esse ponto. Uma das características típicas da gestão pública é a necessidade de que o gestor motive suas decisões e suas atitudes enquanto administra a coisa pública (Res publica "coisa do povo", “coisa pública”). Ele tem que justificar o que faz e por que faz.
Mas, nem toda justificativa serve para motivar adequadamente uma decisão ou ação do gestor. Essa justificativa deve ser compatível com o nosso direito, com o que encontramos nas leis e na Constituição. Por exemplo, se o gestor vai adquirir uma caneta para a repartição, ele não pode comprar montblancs de R$ 3.000,00 e justificar a compra afirmando que ela é necessária por tratar-se da única caneta compatível com o nível social das pessoas que trabalham ali. E demagogicamente “mostrar”, se “justificando”, que ele, por ser ele, usa uma bic...
A justificativa, em si, não é absurda. Há pessoas, em sua vida privada, que guiam suas escolhas dessa forma, sem problemas. No mundo privado, essa forma de escolha é indiferente para o direito. No mundo privado (das pessoas, famílias e empresas), em suma, a regra é a liberdade. Mas, enquanto GESTOR PÚBLICO, não FAZ APENAS O QUE QUER. não-pode fazer-só-o-que-quer!! infelizmente, bolsonaro, como tal, claramente faz-só-o-que-quer. para isso, não fala nem age como presidente eleito para administrar uma república (Res publica, "coisa do povo", “coisa pública”), fala e age como dono de uma casa, de uma empresa, de uma propriedade, de um negócio privado. isso é desvio de finalidade!! isso é crime!!

MOTIVAR

 

motivar É MESMO TÃO IMPORTANTE na “coisa pública”?


Você pode se perguntar: motivar é mesmo tão importante em se tratando de “coisa pública”, “coisa do povo”? O importante não é resolver os problemas do cidadão, seja lá como for? Bom, não é segredo que o Brasil é um país de raiz amplamente patrimonialista. Isso é para evitar que a máquina pública seja usada como uma extensão da cozinha de casa que serve essa obrigação de motivar.
Não que essa obrigação seja uma exclusividade brasileira. Na verdade, ela não nasceu aqui, no Brasil, foi importada. Nós importamos, também, o que ficou conhecido como teoria dos motivos determinantes. Segundo essa teoria, todos os atos do gestor público devem ser justificados.
Nessa justificativa, devem constar as razões de fato e de direito (fundamento legal) que levaram o gestor público a decidir ou atuar daquela determinada maneira. Se esses motivos não forem compatíveis com o que foi decidido ou feito, ou se for descoberto posteriormente que aqueles motivos expostos pelo gestor não eram reais, o ato do gestor deve ser considerado inválido.

O QUE É, ENTÃO, O DESVIO DE FINALIDADE?

Feitas essas breves considerações, você já pode entender com clareza o que é desvio de finalidade. Desvio de finalidade é a situação na qual um gestor público age ou decide fora das finalidades que a lei e a constituição estabelecem para a máquina do Estado.
Ele pode haver deixado de expor os motivos dos seus atos. Ele pode ter exposto motivos incompatíveis com as decisões e ações tomadas. Os motivos (mesmo que não tenham sido explicitados pelo gestor público) podem ser, ainda, incompatíveis com as leis e com a constituição. Em todos esses casos, a decisão ou o ato mal fundamentado não têm validade, quer dizer, não produzem efeitos.

COMO COMBATER, então, O DESVIO DE FINALIDADE?

E, o que podemos fazer contra esse tal de desvio de finalidade? Bom, se concordamos que o desvio de finalidade deve ser combatido, o direito brasileiro nos dá diversas ferramentas para atacá-lo. Vamos destacar uma delas, porque é a que pode ser usada por todos: a ação popular.
A ação popular foi criada pela Lei Federal n° 4.717, ainda em 1965. Já é, portanto, uma idosa senhora. Através dela, qualquer cidadão pode pedir à Justiça que anule um ato que padeça de desvio de finalidade, que é definido pela lei como aquela situação em que “o agente [público] pratica ato visando um fim diverso daquele previsto, implícita ou explicitamente” nas leis e na Constituição.

Além disso, o Ministério Público tem seus instrumentos próprios de ação. Se souber de algo errado, algum ato de gestor público que padeça de desvio de finalidade, denuncie ao Ministério Público.

Moro e Deltan foram apenas os “laranjas”.

Por que Moro ainda não caiu? Por Jessé Souza
GGN31 de julho de 2019 15:51


Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) realiza audiência pública interativa para ouvir o ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, sobre informações e esclarecimentos a respeito das notícias veiculadas na imprensa relacionadas à Operação Lava Jato. À mesa, ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. | Foto: Pedro França/Agência Senado

Por que Moro ainda não caiu?

por Jessé Souza

em seu site

O escândalo da “Vaza Jato”, provocado pelo The Intercept e pela extraordinária coragem de Glenn Greenwald, desmascarou a hipocrisia do jeito brasileiro de fazer política que já vem acontecendo há mais de cem anos. A Lava Jato não é, afinal, uma história de cinco anos que começa em 2014 com o “escândalo da Petrobras”, mas sim uma história que vem desde 1930, quando Getúlio toma da “elite do atraso” o poder de Estado. Foi aí que se construiu a ideia estapafúrdia de que a “corrupção só da política”, usando o conceito de patrimonialismo como contrabando, é a raiz de todos os problemas brasileiros. A construção dessa ideia ridícula como suposta explicação central para os problemas brasileiros “coincide” com a ascensão de Vargas ao poder político contra as elites do dinheiro. Como a elite do dinheiro tem que “moralizar” sua rapina, desde então seus inimigos são perseguidos e sistematicamente depostos do poder com falsas acusações de irregularidade pelo uso supostamente “patrimonialista” e corrupto do Estado e da política.
Como nenhum fato isolado se explica por si só, é necessário articular conscientemente a cadeia entre as causas. Toda exploração econômica tem que se servir de um “álibi”, ou seja, de um recurso simbólico que torne o fato da exploração invisível enquanto tal, para poder ser exercida de modo que os próprios explorados a considerem aceitável ou inevitável. O caso brasileiro é, no entanto, um caso limite. Alguma forma de distorção da realidade está sempre presente em todos os casos de sociabilidade humana conhecidos na história. No caso do nosso país, como o escândalo da “Vaza Jato” mostra tão bem, a capa de moralidade não é mera distorção da realidade vivida. Aqui, tal realidade é “invertida” e posta de cabeça para baixo, o que explica o caráter patológico e neurótico para quem vive a conjuntura política atual.
Afinal, a descoberta irrefutável de uma quadrilha funcionando dentro do aparelho de Estado, usando os cargos públicos não apenas para enriquecimento e vantagens pessoais, mas também como uma forma despudorada de manipular a opinião pública e minar todos os pressupostos da democracia com fins partidários, não levou – ainda –sequer à perda dos cargos nem à prisão dos responsáveis. A lei parece não se aplicar aos desmandos de Moro e sua quadrilha, muito menos para as fontes de renda misteriosas da família Bolsonaro. Será que é porque esse pessoal assegura, por outro lado, o saque do Estado e das riquezas nacionais pela elite endinheirada? Quem ainda possuir dois neurônios intactos saberá responder.
Mas, e como fica a necessidade de se criar uma capa de moralidade e de falseamento da realidade para legitimar os desmandos? A Lava Jato funcionou como articulação explícita para a “corrupção real”, a da apropriação por agentes privados de empresas públicas a preço de banana, o mesmo que, aliás, aconteceu recentemente com a BR Distribuidora, pelos bancos que tiveram uma reunião secreta com Fux e Deltan. Ao que parecia, a questão era que o PT não podia ser alçado ao poder para não melar os “bons negócios”. Então, com uma corrupção tão descarada como essa, como ninguém dos “camisas amarelas” vai às ruas para pedir que a honestidade volte?
Ora, só pode ser porque a maior parte dos “camisas amarelas” nunca esteve de fato interessada em combater a corrupção. O que, de resto, apenas comprova a tese do falso moralismo do “combate à corrupção”, visto que só vale para partidos populares. A dificuldade geral, especialmente para a elite e a classe média, é a perda do único “álibi” existente para mascarar seu ódio e desprezo pela população negra e mais humilde sob a forma da falsa criminalização dos seus representantes. É a compreensão intuitiva disso, o que explica também as idas e vindas de órgãos da elite, como a Veja e a Rede Globo, na cobertura do caso. Eles precisam manter um vínculo com a realidade, agora desmascarada, sob o risco de perder qualquer legitimidade, até para a parte mais esclarecida do próprio público. Por outro lado, estão envolvidos até o pescoço na manipulação desse mesmo público. O jogo havia sido controlado de cima pela elite e sua imprensa venal. Moro e Deltan foram apenas os “laranjas”, os pequenos oportunistas que ficam com as sobras do negócio grande. Tudo indica que a parte mais esclarecida da classe média já desceu do barco. Reinaldo Azevedo e outros arrependidos falam para esse público.
É Bolsonaro e sua base de poder infensa a argumentos racionais que permite a continuidade da farsa. O seu público não precisa de legitimação porque seu protesto radicalizado está vincado em sentimentos irracionais como ressentimento, inveja social e preconceitos racial e de classe. Inveja e ressentimento contra os de cima, o que explica os ataques à arte, à cultura e ao conhecimento em geral. Também a vingança, há muito esperada, contra séculos de desprezo dos “doutores” contra os remediados entre os pobres, a base real de Bolsonaro, muitos dos quais são brancos e, por isso, se acham no direito “racial” de um futuro melhor do que de fato possuem. Contra os de baixo, por sua vez, a raiva se volta para os negros e mestiços pobres que tiveram a ousadia de ascender socialmente no período recente e de chegar ainda mais perto deles. É difícil saber o que causa mais revolta nestes 20% da população brasileira que são a base real da força de Bolsonaro: a raiva contra os de cima ou contra os de baixo. Esse é seu público cativo, os 20% que sempre apostaram nele mesmo antes da “fakeada”.
Para esse pessoal, a democracia não é mais do que uma palavra odiada, afinal ela nunca lhes serviu para nada. Ela só parece vantajosa para os já privilegiados e para a população negra e humilde que ascendeu com o PT. Por causa disso, Bolsonaro lhes parece o “vingador” perfeito. O discurso contra as elites, utilizado para a arregimentação dos “bolsominions” para o último dia 26 de maio, mostra o sequestro do tema da luta de classes pela direita, já que a esquerda foi covarde e incapaz de qualquer protagonismo nessa área. Por outro lado, a única política pública informal efetiva do bolsonarismo é armar milícias e polícias para a chacina indiscriminada dos negros, índios e pobres, o que alimenta seu desprezo e o de seu público pelos mais frágeis. Da mesma forma que a distância em relação à “cultura” os inferioriza, a violência aberta contra os mais frágeis os torna “aparentemente” poderosos. A destruição da cultura e do conhecimento satisfaz sua inveja. A destruição dos fragilizados satisfaz seu desprezo e seu medo deles. É tudo aparência para mentes doentias, mas a aparência pode ser tudo para quem não tem mais nada.
Essa “minoria barulhenta” pressente que o momento da vingança chegou. Ela se tornou abertamente fascista porque é ela que diz: não importa se é ou não verdade o que diz a “Vaza Jato”. O que importa é o que é “necessário” para se sentir melhor do que se é. São pessoas em boa parte frustradas na vida privada, que usam a política como forma de dar sentido a uma vida vazia e sem direção. O “bolsominion” típico é um pobre remediado, na maioria um “lixo branco” sem cultura e sem grandes esperanças na vida, que, de repente, pode se ver como protagonista de alguma coisa. Ao se definir como conservador e de direita, se sente como alguém que “protesta”, um pequeno herói, supostamente contra as tendências de seu tempo, que ao se identificar com o tirano que “tira onda” de poderoso, se sente igualmente poderoso. Como é incapaz de compreender uma realidade complexa, refugia-se em bravatas estereotipadas e finge conhecer muito do que nada conhece.
Para essas pessoas, Moro é, hoje, tanto seu herói quanto Bolsonaro. Os “likes” de Moro desceram a escala social, embora ele não tenha a menor ideia disso. Acredita-se onipotente. Como sua valia para Bolsonaro era ser uma ponte com a classe média estabelecida pseudomoralista, toda a sua base de apoio mudou ou está mudando. Os 20% de supostos “empoderados” barulhentos é a única sustentação real do atual arranjo de poder. Bolsonaro, por sua vez, também depende de Moro. Afinal, a mentira da Lava Jato se alongou na própria mentira. Sem a Lava Jato não existiria Bolsonaro. Os dois são carne da mesma carne e sangue do mesmo sangue. A solução não é simples para ninguém neste jogo. Ver a “casa cair” é o que o “bolsominion” mais quer. Enquanto isso, a elite mais saqueadora quer a grana fácil das grandes mamatas e sequer se dá conta do perigo. Bolsonaro institucionaliza o roubo pequeno e miliciano do botijão de gás sem bandeira. Esses são, hoje em dia, os apoios efetivos da Lava Jato. Os 80% restantes observam bestializados um mundo que não mais compreendem.
e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Bolsonaro veio do Fundão das trevas.

jornal Folha de S. Paulo, que apoiou o golpe de 2016 e a inabilitação do ex-presidente Lula, contribuindo portando para a ascensão do neofascismo no Brasil, publica nesta quarta-feira seu mais duro editorial contra Jair Bolsonaro. “

Folha diz em editorial que Bolsonaro é um personagem boçal e infame, que poderá ser derrubado
Ceilândia em Alerta31 de julho de 2019 12:05


“A insistência na agressão e na boçalidade revela uma personalidade sombria que parece se reconhecer, com júbilo, nas trevas dos porões da ditadura militar”, diz o editorial mais duro já publicado até agora pela Folha de S. Paulo sobre Jair Bolsonaro31 de julho de 2019, 05:57 h
O jornal Folha de S. Paulo, que apoiou o golpe de 2016 e a inabilitação do ex-presidente Lula, contribuindo portando para a ascensão do neofascismo no Brasil, publica nesta quarta-feira seu mais duro editorial contra Jair Bolsonaro. “Se no início de mandato declarações e medidas estapafúrdias ainda podiam, com boa vontade, ser vistas como tentativa de satisfazer o eleitorado mais fiel e ideológico, o que se verifica agora é um padrão de atitudes que ofendem o Estado de Direito, reforçam preconceitos e aprofundam as divisões políticas. Além de expor o despreparo do chefe do Executivo para desempenhar suas funções num quadro de coexistência com as diferenças, a insistência na agressão e na boçalidade revela uma personalidade sombria que parece se reconhecer, com júbilo, nas trevas dos porões da ditadura militar”, aponta o texto.PUBLICIDADE
editorial sugere ainda um possível processo de impeachment contra Bolsonaro, por falta de decoro. “Com índices de aprovação aquém dos obtidos por seus antecessores em igual período do mandato, o presidente desperta crescente apreensão quanto a seu desempenho nos anos vindouros. Para alguns analistas, os destemperos verbais já começam a fornecer munição para um eventual enquadramento em crime de responsabilidade, por procedimentos incompatíveis com a dignidade, a honra e o decoro do cargo. Não se vê nenhum movimento nesse sentido, e a perspectiva de reforma da Previdência dá fôlego ao governo. Entretanto a recente espiral de infâmias não poderá se perpetuar sem consequências.
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Bolsonaro é a banalização do mal, do cinismo, do escravagismo, do ódio pelo ódio.

Bolsonaro é uma aberração sob o ponto de vista humanista e civilizatório, mas seu governo é mais do que isto; trata-se de um bloco de forças sociais, empresariais e burocráticas, neoliberal e autoritário, com relações internacionais, disposto a muito para consolidar seu poder e riqueza.

Há mais coisas no céu do que Bolsonaro e Mourão
Brasil de Fato31 de julho de 2019 16:39


Afastar o presidente excêntrico antes da hora poderia, paradoxalmente, estabilizar esse bloco no poder e seu programa de exploração / Foto: Marcos Corrêa/PR
Nos últimos dias a ideia do impedimento constitucional de Jair Bolsonaro, o impeachment, cresceu e transitou pelos mais variados setores, até mesmo foi citado como uma alternativa por liberais arrependidos ou assustados, entre os quais alguns conservadores e golpistas.
Não é sem motivo aparente. O conjunto de declarações e medidas do governo dá a dimensão de um presidente nada afeito à democracia e não submisso a Constituição Federal. Além do envolvimento com milícias criminosas, defesa de nepotismo, quebra de decoro diplomático e intervenção em universidades federais; declarações homofóbicas, racistas e preconceituosas, incentivo ao armamento, proselitismo autoritário e apologia ao crime de tortura inundaram a política brasileira e correram o mundo em uma desconstrução sem precedentes dos avanços mínimos conquistados neste país, sejam eles econômicos, políticos e éticos. Bolsonaro é a banalização do mal, do cinismo, do escravagismo, do ódio pelo ódio. Trata-se, como se referiu Hannah Arendt acerca de Adolf Eichmann, de um homem comum na sua mediocridade e excentricidade que encontrou as condições políticas para a banalização e mitificação do ódio e do mal. Pois é sobre essa condição política, a que permite o ressurgimento do reacionarismo fascista, que devemos nos debruçar e investir o melhor das energias democráticas para reverte-la e não parecer acreditar que a simples remoção do homem banal e excêntrico, do homem mal, mudará o quadro.
Bolsonaro jogou o país em uma luta ideológica entre a barbárie e a civilização. Ele consolidou um campo de sustentação baseado em uma articulação entre valores e políticas reacionárias e fascistas com o ultra neoliberalismo.
Exatamente por isso não podemos incorrer no erro de reduzir o debate político e ideológico ao tema do impeachment de Bolsonaro. Seria dar “cancha” livre para esse bloco, ultrarreacionário, implementar um programa de eliminação de direitos sociais e trabalhistas com nova legitimidade, descartando seu presidente excêntrico e banal. Jair Bolsonaro é uma aberração sob o ponto de vista humanista e civilizatório, mas seu governo é mais do que isto; trata-se de um bloco de forças sociais, empresariais e burocráticas, neoliberal e autoritário, com relações internacionais, disposto a muito para consolidar seu poder e riqueza.
O impeachment é uma ferramenta própria da democracia, prevista na Constituição do Brasil, mas sua utilização não pode se prestar, como no caso da deposição da Presidenta Dilma, a servir de peça de manobra para golpistas consolidarem seu poder a despeito da soberania popular. Uma movimentação para afastar Bolsonaro sem base popular organizada pode acabar consolidando o bloco reacionário neoliberal que poderia desejar tal desfecho, ainda mais legitimado na “opinião pública”, sempre tão efêmera quanto manobrável. A proposta de impeachment desassociada de uma nova correlação de forças e de um movimento democrático ascendente, assim, incorre em dois erros. O primeiro deles é uma má interpretação do que representa Bolsonaro com a decorrente confusão sobre o verdadeiro adversário dos interesses populares, e o segundo repousa em um crença ingênua no caráter republicano e neutro das instituições estatais do sistema político.
Em que pese a tentação, não podemos reduzir Bolsonaro a sua excentricidade, a sua dimensão individual mas considera-lo a partir de sua condição política. É a “pessoa jurídica” e não física que deve ser enfrentada. Ele é hoje a expressão articulada de um bloco de forças distintas mas que converge na necessidade de redução da democracia no Brasil, para implementar medidas de subtração da riqueza do trabalho e da soberania nacional. As duras medidas de espoliação do trabalho, como a reforma trabalhista e da previdência, somente são possíveis em um ambiente hegemônico onde as causas democráticas, de defesa dos pobres e dos trabalhadores e de conceitos igualitaristas estejam na defensiva. Esse bloco é inteiramente subordinado e, portanto, apoiado e sustentado pelo capital financeiro internacional, totalmente interessado no esbulho da riqueza contida no Brasil, inclusive da riqueza da capacidade de trabalho da classe trabalhadora.
O afastamento de Bolsonaro não implicaria na mudança do bloco dirigente no Brasil. Afastar o presidente excêntrico antes da hora poderia, paradoxalmente, estabilizar esse bloco no poder e seu programa de exploração.
A correlação de forças não indica uma reação dos setores democráticos, nacionalistas, de valores humanistas e no sentido de um novo governo de caráter, ao menos, nacional e distributivista. Portanto, a política do impeachment não estaria assentada em uma alteração da hegemonia política e da correlação de forças em favor da maioria e da democracia; mas estaria assentada na ilusão de uma certa “reabilitação” do caráter republicano das instituições estatais como o STF e Congresso Nacional. Uma espécie de ilusão na restauração da neutralidade dessas instituições.
Ora, o Estado não é neutro, tampouco a democracia. Eles respondem à hegemonia dominante e suas classes dirigentes. Essas instituições estatais cumpriram um papel fundamental para a legitimação da ascensão ao governo de bloco reacionário e neoliberal. A correlação de forças indica que essas instituições atuarão para a estabilização desse programa e desse bloco, mesmo que para isso seja necessário o impeachment de Bolsonaro para substituí-lo por alguém mais equilibrado e articulado para dirigir um governo com essas tarefas. Seria pouco provável que as instituições que deveriam zelar pela Constituição Federal, como o STF e o Congresso Nacional, garantissem a convocação de eleições como está na norma, para falar objetivamente do que deveríamos defender.
O resultado mais plausível para se projetar a partir do impeachment precipitado seria o da reorganização desse bloco reacionário neoliberal com maior capacidade dirigente, a partir de uma rearticulação do empresariado, da burocracia e da maioria conservadora no Congresso. Não há condições, hoje, de se imaginar que o fim da presidência de Bolsonaro fosse seguido pela convocação de eleições no Brasil, mas sim por mais um golpe contra a Constituição Federal, através de um novo acordo entre as elites que levaria sua substituição por um quadro mais preparado, do mesmo campo, para o que já se apresentam o Vice-Presidente da República e o Presidente da Câmara dos Deputados. Seria a forma de atingir a construção de um governo passando ao largo de eleições justas e limpas. O impeachment funcionaria como uma espécie de lavagem constitucional do golpe político continuado, aberto em 2015; exatamente em um momento que o impeachment da Dilma, a operação Lava-Jato e a prisão de Lula sofrem seus mais profundos questionamentos. O impeachment precipitado pode ter um efeito reverso, ser a chave para a derrota definitiva da narrativa sobre o golpe e a deslegitimação dos processos da Lava-Jato.
A defesa dos interesses nacionais, de seu patrimônio e de suas riquezas, e dos interesses dos trabalhadores, como a reversão da reforma trabalhista e previdenciária e o descontigenciamento de recursos públicos, precisa ter outra tática política. É preciso derrubar não o presidente, mas as bases políticas do bloco reacionário e neoliberal que sustenta o governo Bolsonaro. Precisamos desconstituir as bases populares e as alianças que sustentam o governo para então projetar novo governo de caráter não neoliberal e mão o inverso. A denúncia da operação Lava-Jato, o desmascaramento do papel da burocracia golpista, a denúncia das privatizações, a luta pela obstaculização das reformas trabalhistas e previdenciária, o combate ao monopólio da mídia privado, estão entre essas tarefas centrais e são chaves para alterar a correlação de forças na sociedade. É preciso questionar e lisura das últimas eleições e a legitimidade de seu resultado, o que afeta todo o governo e não somente seu presidente. A mobilização em defesa da universidade pública, dos direitos fundamentais, da sustentação das denúncias da Vaza-Jato, continuam a ser as movimentações com maior capacidade aglutinadora e de constituição de uma frente anti reacionária. É preciso derrotar esse governo no conjunto. O centro de ação do campo popular neste país deve ser a denúncia dos fatores e sujeitos que sustentam a super exploração do trabalho e o crescimento do fascismo e do reacionarismo.
A amplitude e simbolismo do ato de desagravo ao Glenn Greenwald, neste 29 de julho, mostram que as revelações sobre o processo farsesco e fraudulento da Lava Jato tem grande capacidade aglutinadora de um novo campo político em formação no país e que novas revelações sobre ainda poderão ampliar essa frente e, em um ambiente de grave crise econômica e de emprego e trabalho, modificar essa correlação de forças.
A queda de Bolsonaro deve ser a queda do bloco que o sustenta e não só do presidente, caso contrário o bloco reacionário terá mais legitimidade e, portanto, força para implementar suas medidas e avançar na situação autoritária. É preciso expor suas bases ilegítimas para substituí-lo através da restituição da soberania popular, nas eleições gerais, sem golpe continuado.

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Governadores lançam Consórcio Nordeste


Após insulto de Bolsonaro, governadores lançam Consórcio Nordeste




Flávio Dino: “enquanto alguns querem criar conflitos, nós queremos trabalho, ação e resultados" (Valter Campanato/Agência Brasil)
Dez dias após o presidente Jair Bolsonaro ter azedado a relação com governadores do Nordesteao insultá-los em um café da manhã com jornalistas, o que foi respondido com uma carta de repúdio assinada pelos líderes estaduais, nesta segunda-feira, 29, os nove estados que compõem a região deverão formalizar um pacto batizado de Consórcio Nordeste.
A iniciativa, que já havia sido anunciada e estava sendo aprovada nas assembleias estaduais, visa uma maior cooperação política, econômica e social para alavancar o crescimento da região.
Além do lançamento oficial do Consórcio que neste primeiro ano será presidido pelo governador Baiano Rui Costa (PT), a ideia do encontro desta segunda-feira é dar os primeiros passos para decidir o plano de trabalho do pacto que foi anunciado no mês de março.
Com o acordo, os governadores da região esperam realizar projetos conjuntos, atrair mais investimentos e criar fundos de financiamento e captação de recursos.
A iniciativa prevê, por exemplo, fazer grandes licitações conjuntas entre os estados para a compra de materiais, assim reduzindo os custos que seriam praticados em aquisições de menor escala. Também será possível a realização de parcerias em áreas como educação, turismo, troca de tecnologia e ações de preservação ambiental.
  • BRASIL 23 jul 2019 - 13h07
O encontro que será sediado na Bahia deve tratar das recentes polêmicas envolvendo o presidente Jair Bolsonaro. Essa será a primeira vez que todos os governadores da região irão se reunir após terem assinado uma carta de repúdio às falas de Bolsonaro.
Numa gravação vazada durante um café da manhã com jornalistas há dez dias, Bolsonaro disse ao ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que “daqueles governadores de ‘paraíba’, o pior é o do Maranhão”, se referindo a Flávio Dino, do PCdoB. “Paraíba” é um termo pejorativo usado no Rio de Janeiro para se referir a nordestinos.
Após a declaração, o governador da Bahia, Rui Costa, que encabeça a liderança do Consórcio que será lançado hoje, deixou de comparecer à inauguração de um aeroporto em Vitória da Conquista, evento que contou com a presença de Bolsonaro.
Ao portal de notícias UOL, o alvo do presidente, Flávio Dino, declarou que “enquanto alguns querem criar conflitos, nós queremos trabalho, ação e resultados. É isso que vamos procurar distinguir, então a reunião vai ser marcada sobretudo pela agenda do Consórcio Nordeste”, disse.
Para o governo federal, a iniciativa pode trazer um complicador na tramitação da reforma da Previdência, que ainda precisa ser votada em segundo turno na Câmara e depois no Senado.
Embora não tenha ingerência sobre suas bancadas, os governadores nordestinos já conseguiram tirar estados e municípios do texto, e podem fazer pressão por novas alterações. O Nordeste tem 151 deputados (29% do total) e 27 senadores (33% do total).

Moro não é diferente do nazista Himmler ao legalizar os abusos no processo legal

"Ter abatido essa gente toda de uma só vez e mantermo-nos pessoas decentes foi isso que nos fortaleceu."


Moro vai mais longe do que o nazista Himmler ao legalizar os abusos no processo legal
Luiz Muller28 de julho de 2019 15:03


Sérgio Moro e sua ‘solução final’
.Por Sandro Ari Andrade de Miranda.“A maior parte de vós deve saber qual o aspecto de cem cadáveres estendidos lado a lado, ou de quinhentos, ou até mil. Ter abatido essa gente toda de uma só vez e mantermo-nos pessoas decentes foi isso que nos fortaleceu. Essa é uma página de glória como foi escrita e nem voltará a escrever-se na nossa história”. (Heinrich Himmler, discurso de Posen, para oficiais da SS Nazista, em 04/10/1943)
(foto fabio pozzebom ag brasil e reprodução)
Comparar Sérgio Moro com Heinrich Himmlernão é nenhum exagero. Ambos possuem o mesmo perfil, buscam o poder, parecem racionais e pedantes ao mesmo tempo, não demonstram limites morais para as suas ações e nutrem um fanatismo gigantesco em torno do seu projeto de poder pessoal, ao ponto de adotar medidas políticas absurdas.
Himmler foi o grande arquiteto da “Solução Final”, na qual pretendia levar 11 milhões de judeus e ciganos para as câmaras de gás. Não atingiu a sua meta. Mas na mais otimista das avaliações, exterminou, em processo industrial, 6 milhões de vidas apenas nesta ação. Isto sem contar os 3 milhões de soldados e civis soviéticos que foram mortos em campos de concentração e das milhares de execuções colocadas em prática pela SS e pela Gestapo sobre o comando do “leal Heinrich”.
Se o fascismo é um movimento de desumanização, o nazismo foi o seu ponto culminante.Nunca, em nenhum momento da história, tantas pessoas tiveram as suas vidas ceifadas com tamanha frieza. Em termos de escala, o genocídio executado pelos nazistas só possui a concorrência do massacre dos povos nativos americanos pelos europeus.
Em termos de compressão do tempo (apenas 7 anos) e de métodos, não existe comparação. O nazismo foi o primeiro movimento genocida que planejou e executou um processo de extermínio adotando métodos de racionalidade industrial. Interessante lembrar que as primeiras experiências de Himmler foram realizadas com asfixia individual e fuzilamento. Depois ele mesmo achou que o método poderia “baixar a moral das tropas”, então preferiu a estratégia científica da “câmara de gás”. Os cadáveres já saiam sem vida para as covas coletivas, sem que os soldados alemães presenciassem o sofrimento daqueles cujo os pulmões eram devorados por ácido venenoso.
Mas não pensem que as ações de Himmler se limitavam aos campos de concentração. Ele também conduziu a “limpeza ideológica” dentro das escolas alemãs. Antes dos campos de concentração virarem a regra, milhares de intelectuais considerados como oposicionistas foram mandados para Dachau já com a certeza de morte. Nisto foram acompanhados por mendigos, deficientes físicos, doentes mentais, homossexuais e todos aqueles que fossem considerandos como potenciais ameaças ao arquétipo da raça ariana. O massacre e perseguição dos intelectuais tinha uma motivação: “recontar a história, mudar a narrativa para um mundo idealizado nos delírios nazistas, no qual os alemães eram descendentes da figura mitológica dos arianos”.
Se fizermos uma viagem no tempo e traçarmos um comparativo entre o fascismo da década de 1930 e o atual, vamos notar diferenças e muitas semelhanças.
Na atualidade, muitas das formas de opressão já estão inseridas no contexto simbólico de dominação. O marketing da violência é o maior exemplo. Se Himmler viveu a época da grande industrialização em espaços concentrados, do fordismo, hoje possuímos uma descentralização produtiva, muitas vezes levadas para o ambiente doméstico e o uso de métodos de controle virtuais. Além disto, o grande aparato de mídia permite recontar histórias e transformar chacinas em atos de defesa da população. Pois é exatamente isto que representa a criação de excludentes de ilicitude legitimando a violência policial.
Os números são claros, os resultados práticos da legitimação desse tipo de conduta aberrante já são sentidos nos primeiros dias de 2019. Em São Paulo as vítimas de autos de resistência aumento em 24,89% apenas em Janeiro. Já em Santa Catarina, este índice saltou 250% para cima apenas nos primeiros 40 dias do ano.
Na mesma semana em que Sérgio Moro apresentou o seu projeto de pseudo-combate à violência, a polícia do Rio de Janeiro chacinou 13 pessoas em ação no Morro de Santa Teresa. Se o Brasil já possui números de guerra civil em termos de mortes violentas, a tendência é que estes indicadores saltem em progressão geométrica no ano de 2019 e sem perspectivas de queda.
A verdade é que Sérgio Moro adaptou os métodos de Himmler para a hiper-realidade contemporânea. Se o nazismo utilizava a força para impor o seu regime de terror, Moro pretende utilizar a legitimação do abuso de poder e a violação de direitos fundamentais como instrumento principal para por em prática a sua solução final.O fascismo contemporâneo se impõe pelo uso de símbolos e de estigmas como instrumentos de destruição ou de autodestruição.
Os cidadãos armados, jogados uns contra os outros e policiais orientados para a eliminação sumária de suspeitos, são apenas uma parte da estratégia, aplicada no varejo da violência com o genocídio já existentes de jovens pobres, em sua maioria negros, estigmatizados por uma perfilhação criminal racista.
A outra proposta, e talvez seja a principal, é a morte em vida, com a destruição moral e da biografia dos adversários políticos e sociais. Além de jovens negros, pobres que moram no morro, já estão incluídos no perfil atacado pelo fascismo brasileiro os militantes sociais esquerdistas, indígenas que ocupam legitimamente as suas terras, feministas e “professores doutrinadores”.
Não existe nenhum impedimento para a execução concomitante dos dois métodos de extermínio, pois as mulheres já são vítimas das balas do feminicídio, os povos indígenas da ação dos jagunços dos ruralistas e os militantes sociais de emboscadas. Sempre lembrando, o Brasil é o campeão mundial de homicídios de militantes sociais e defensores dos direitos humanos, com 1 morte a cada 5 dias.
A atuação de Sérgio Moro na 13ª Vara Federal de Curitiba foi um laboratório para a violação de direitos humanos. Prisões cautelares sem provas, pressão para colaborações premiadas suspeitas, algumas flagrantemente ilegais e inválidas, e a tortura como prática de obtenção de confissões forçadas. Ou alguém acha que uma prisão cautelar, isolado, com o nome pessoal e da família sendo dilapidado diariamente por uma agenda estrutura de mídia não é uma forma de tortura?
A violência moral e simbólica é hoje a forma mais eficaz de tortura, pois destrói com a vida de pessoas antes de serem julgadas ou de existir qualquer tipo de prova ou indício para a acusação. Se o jornalismo investigativo sério ajuda a trazer muitas coisas escondidas para a verdade, a fabricação da notícia por agenda, como método de propaganda contra a moral individual ou de um grupo, tal qual executado pela 13ª Vara Federal de Curitiba, é sim uma forma de tortura.
Sabedor da eficácia deste método de violência, o ex-juiz paranaense tenta impor a sua estratégia de agressão e medo por meio de um projeto de lei que, supostamente, visa combater a corrupção e a violência. Na prática é um somatório de violações extremas da dignidade humana, de direitos fundamentais e a instalação formal do estado polícia, fiel ao método de Himmler.
Mas o aparato policialesco de Moro vai ainda mais longe. Se a aparência formal de uma democracia concorrencial diferencia os dois modelos de fascismos. Algumas estratégias são idênticas, e o maior exemplo é a anunciada perseguição de professores e intelectuais universitários.
O Protocolo firmado entre o MEC e o MJ, sob o ponto de vista jurídico, é absolutamente inútil, pois ambos são estruturas da administração direta da União. Contudo, a utilização deste ato como um instrumento de declaração de guerra aos intelectuais e de estigmatização política, tem grande força simbólica.
Os vilões, não são as milícias e o jagunços que executam civis inocentes pelo país, mas professores e pesquisadores. Assim como no nazismo alemão, no fascismo brasileiro é anti-intelectual, especialmente contrário às ciências sociais e humanidades (artes, literatura, etc.). Precisa destruir a história para a construção de uma falsa narrativa onde os torturadores e homicidas são heróis.
A violenta e moralmente duvidosa colaboração premiada vai ganhar uma nova parceira de tortura: a autoincriminação, clara violação da Convenção de San José da Costa Rica (proibição da produção de provas contra si mesmo) e do princípio do devido processo legal, consagrado tanto pela Constituição/1988 como pela Declaração de Direitos Humanos das Nações Unidas.
Em todos os países onde o método da autoincriminação foi utilizado, demonstrou-se um fracasso processual e ético, além de porta aberta para abuso de poder e tortura. Afinal, o que é preferível, ficar preso cautelarmente durante vários dias ou assumir a culpa e uma pena restritiva de direitos que não lhe impedirá de trabalhar, mesmo sendo inocente?
A autoincriminação é uma forma de estigma, assim como a criação de bancos de dados genéticos criminais de pessoas que sequer foram julgadas pela justiça. A simples prisão(especialmente se considerarmos que 40% dos presidiários brasileiros estão presos ilegalmente), não legitima o registro criminal de uma pessoa, pois todos são inocentes até que se prove o contrário. Logo, a apreensão de dados genéticos e pessoais em bancos de dados criminais é uma violação dos direitos constitucionais à liberdade, à honra e à intimidade.
Por fim, e não poderia ser diferente, além de legitimar mortes cometidas pelo estado e abuso de poder, Sérgio Moro tenta validar os seus próprios erros. Prova mais evidente do reconhecimento da ilegalidade de 25% das prisões que compõem o nosso sistema carcerário é a tentativa de restringir por lei a validade de dois recursos que são constitucionais: o especial e o extraordinário.
Estamos tratando das prisões ilegais de pessoas condenadas em segunda instância com pendência recursal. A proposta carece de base constitucional, assim como aquela que permite a retroatividade da lei penal. Nem Himmler foi tão longe na sua sanha pela eliminação de adversários políticos, ideológicos ou raciais. As leis nazistas criaram a estigmatização de pessoas, mas não limitaram o devido processo legal. Para isto, se utilizavam de sentenças fraudulentas em tribunais de exceção. Moro tenta ir mais longe, tentando legalizar os seus próprios abusos.