quinta-feira, 21 de novembro de 2019

The Intercept Brasil

Fui a 4 países denunciar Bolsonaro
No início de novembro eu saí do Brasil para uma série de eventos nos Estados Unidos, na Noruega, Suíça e França. Conversei com brasileiros expatriados mas também com pessoas de vários países sobre os horrores da política bolsonarista. Não que esses horrores fossem novidades para alguém: a destruição em marcha da Amazônia, a corrupção no judiciário para proteger a própria família, o enfraquecimento da nossa democracia. Em poucos países do mundo democrático o presidente tem seu nome envolvido em um caso de assassinato.
Ouvi também relatos de colegas jornalistas de todo o mundo, de Oslo a Lagos. Pedro Molina, o maior cartunista da Nicarágua – que hoje vive nos Estados Unidos por causa dos horrores de seu próprio país – balançava a cabeça e sorria tristemente enquanto assistia à minha apresentação na Universidade do Texas, em Austin. Quando eu disse que Bolsonaro havia ameaçado Glenn de expulsão; quando eu disse que parlamentares pediam o fechamento do Intercept; quando eu disse que a própria ONU pediu providências do governo brasileiro contra as ameaças a nossos jornalistas (e foi ignorada), notei que era um roteiro que ela já conhecia. Molina me disse depois, em uma mesa com jornalistas de outros países: “Somos todos pacientes com a mesma doença em graus diferentes de contágio”. Mais de 440 pessoas foram mortas nas ruas do seu país até julho do ano passado, a maioria, manifestantes que foram assassinados a tiros.
Ilustração de Pedro Molina, cartunista da Nicarágua.
Em todos os eventos que participei, pude perceber que as pessoas sabem de uma coisa: seja em Genebra, seja em Kampala, sem a imprensa, a vida de todos fica muito pior. 
Países que respeitam direitos, que prezam pela liberdade de expressão e que apostam na diversidade – e não no ódio e na censura – têm mais imprensa, e não menos. Onde a imprensa está enfraquecida, o horror tomou conta. É por isso que em todos esses eventos falei, ao final, sobre nosso programa de financiamento coletivo. Jornalistas não costumam fazer isso, mas o momento que estamos vivendo não pede moderação nesse caso. Eu não tenho vergonha de dizer que precisamos desse dinheiro para seguir trabalhando.
Quero dividir com você algumas curiosidades que vi e ouvi em cada parada da viagem. Segue o fio:
  • Minha primeira atividade foi em Austin, nos Estados Unidos. No Knight Center for Journalism in the Americas da Universidade do Texas falei sobre “Mídia e democracia nos tempos de cólera e da polarização digital na América Latina”. Lá, estive com jornalistas da Venezuela, México, Argentina, Equador, Chile e Nicarágua. Só as histórias da Nicarágua ganham do Brasil atual. É difícil para a plateia acreditar nas coisas que contamos do cotidiano brasileiro por conta do tamanho dos absurdos. 
  • Saí dos EUA com a sensação de que as pessoas sabem quem é Jair Bolsonaro, têm dimensão do seu autoritarismo e do perigo que representa. O que mais repercutiu por lá foram as queimadas na Amazônia e a crise generalizada no ministério do Meio Ambiente. Pude contar um pouco da nossa cobertura, como demos com exclusividade o falso currículo de Ricardo “Yale” Salles, e desmascarar sua agenda com os destruidores do planeta. Falei também sobre o plano alucinado dos militares para “ocupar” a Amazônia.
  • Em seguida fui a Oslo. No dia em que o Augusto Nunes covardemente agrediu Glenn Greenwald eu estava ao lado de dois jornalistas turcos. Aproveitei e contei a eles como, ao longo do ano, fomos agredidos por congressistas, figuras públicas e outros jornalistas. Um deles me disse: “Começou assim na Turquia. Hoje temos 100 jornalistas presos. Cuidado.” 
  • Fui à Genebra dias depois para uma atividade do Coletivo Grito, de brasileiros que moram por lá: “Autoritarismos em Marcha - O Caso Brasileiro”. Pude conversar com muitos brasileiros na Suíça, inclusive com o mais ilustre deles, o escritor Paulo Coelho, com quem jantei. Paulo me disse que está vendo coisas no Brasil de hoje que não viu nem mesmo durante a ditadura militar, pela qual foi torturado. Notei que há enorme disposição para que se crie um movimento internacional para denunciar a gangue que tomou conta do país. Isso é muito positivo!
  • Meu último destino foi Paris onde conversei com colegas de mídias independentes e dei uma entrevista à Rádio France Internacional. Contei sobre a realidade brasileira e tratei de alternativas para compartilhar o que produzimos por aqui. Aprendi um pouco sobre sustentabilidade de alguns veículos de lá. Fiz reuniões com colegas que também não vivem de anúncio ou investidores, mas conseguem com a participação intensa dos leitores furar a bolha e gerar dinheiro suficiente para fazer algo que a gente sabe que é custoso e não dá lucro: o jornalismo que muda a vida das pessoas.
Desculpa pelo e-mail mais longo do que o normal, mas achei importante compartilhar essas notas da viagem para que você tivesse dimensão do que estamos fazendo. Nosso trabalho no Intercept passa por apurar informações, dar furos, investigar. Mas ele também tem uma inegável dimensão política e eu não tenho vergonha de assumir isso. Política com P maiúsculo. Porque está cada vez mais claro que se a gente tiver vergonha de apontar o dedo, de denunciar para o mundo o que está rolando por aqui e de dar nome às coisas, vamos ser esmagados pelas forças autoritárias. 
Voltei cheio de ideias e com fome para investigar aqueles que querem nos calar, tirar mais direitos, deixar a vida ainda mais precária. O remédio contra isso? Mais jornalismo! Mais imprensa! 
FAÇA PARTE DO TIB →

Um abraço e até mais.

Leandro Demori
Editor Executivo, The Intercept Brasil

Fake news a R$ 25 mil por mês: como o Google treinou e enriqueceu blogueiros antipetistas

Rodrigo Ghedin, Tatiana Dias, Paulo Victor Ribeiro
Grupo de blogueiros aproveitou a onda do impeachment e as instruções da empresa para lucrar com anúncios.

Vazamento inédito revela os detalhes da espionagem do Irã no Iraque

Tatiana Dias, Rafael Moro Martins, Andrew Fishman, Paula Bianchi
Mais de 700 telegramas do serviço secreto iraniano revelam como o país se aproveitou do caos após a queda de Saddam Hussein para influir no Iraque.

‘Se eu me debatesse, eles poderiam me dar um tiro': a história da advogada presa durante audiência

Valéria Santos
Todo advogado negro é vítima de racismo, mas muitos não falam nada. Desde o primeiro dia de aula no curso de Direito até o ponto de ser algemada e arrastada na frente de uma cliente.
Recebeu este e-mail encaminhado por alguém? Assine! É grátis.

Obrigado por nos ler! Que tal nos dizer o que achou?
Siga-nos em nossas redes sociais:
Facebook
Twitter
Instagram
YouTube
Website

GRAMSCI

A mensagem principal dos Cadernos do Cárcere escritos por Gramsci talvez seja a necessidade de uma revisão nos métodos empregados para alcançar o socialismo. Em vez da revolução armada, Gramsci prega uma gradual revolução cultural. Em vez da liderança do operário, a do intelectual. Em vez de um líder máximo, o partido político. Na construção de uma sociedade comunista, a economia deixa de ser protagonista e divide o espaço com a educação.
TOPBUZZ.COM
No Brasil, o autor italiano Antonio Gramsci (1891-1937) parece ser mais citado por seus detratores do que por seus adeptos. Mas o que de fato ele pensava e

O CAOS SE APROXIMA

Guedes e Bolsonaro empurram a Passos Largos o Brasil no desfiladeiro do Caos nas Ruas. Daí pro Inferno de Dante.



A crise se deve ao fracasso da política econômica de Paulo Guedes
Não é mais possível esconder o fracasso da política econômica do governo. As sucessivas quedas do índice Bovespa nas últimas semanas, a disparada do dólar – alcançando o maior valor nominal desde o plano Real –, o fracasso do leilão do pré-sal, a retirada de bilhões de dólares de investimentos estrangeiros – a maior desde a crise de 2008 –, a queda das reservas internacionais em apenas cinco meses no valor de US$ 22 bilhões, a permanência de milhões de desempregados, são claras evidências que as projeções de crescimento da economia feitas em janeiro estavam absolutamente equivocadas. Tudo indica que o aumento do PIB deve ficar abaixo de 1%, menos da metade do que tinha sido estimado pelas consultorias econômicas, que, como de hábito, erraram feio. E, no horizonte de curto prazo, as perspectivas são sombrias. Em 2020 o crescimento do PIB deve ser próximo ao de 2019. Se há preocupações com o mundo exterior, como na turbulenta relação entre China e Estados Unidos, com os acontecimentos de Hong Kong, as permanentes tensões no Oriente Médio – os protestos no Irã podem se alastrar –, o retorno da América do Sul ao antigo caminho de governos instáveis e questionados nas ruas, como na Bolívia, Equador, Peru e Chile, especialmente; são fatores internos que explicam e determinam fundamentalmente a estagnação econômica. No caso dos nossos vizinhos, basta recordar os anos 1960-1970 quando viveram graves crises – marcadas por sucessivos golpes de Estado – isto não significou para o Brasil algum tipo de interferência direta na economia. Pelo contrário, neste período o país chegou a crescer mais de dois dígitos ao ano.
Mesmo neste cenário preocupante, Paulo Guedes continua a apresentar projetos e emendas constitucionais em enorme profusão. Como se o sucesso da gestão desse a ele um cacife político ao estilo Delfim Netto nos anos do milagre. Não é o caso. Sua gestão é muito fraca. Os resultados são pífios. Não pode reclamar do presidente da República. Tudo o que pediu, acabou recebendo. Agora insiste em propostas que vão desmontar o pouco que existe de um Estado de bem-estar social no Brasil. Sabiamente o Congresso Nacional rejeitou parcela da reforma da Previdência que era nociva aos mais pobres. O fim do abono do PIS, da aposentadoria rural, do BPC, por exemplo, atingia diretamente os despossuídos e também os pequenos municípios e o comércio voltado às classes populares. A suposta economia para o erário significava jogar na miséria milhões de brasileiros. E não podemos esquecer do engodo da capitalização que seria a base da “Nova Previdência”. Guedes e seus sequazes insistiram durante meses apresentando as benesses da capitalização e davam como exemplo positivo o Chile. Sim, o Chile. Diziam que a previdência chilena era excelente. Que todos lá estavam satisfeitos com a aposentadoria recebida (em caso de dúvida, basta acessar os registros da Comissão especial da Previdência da Câmara dos Deputados). Era engodo. Desejava a capitalização para retirar do Estado a administração dos recursos e transferi-los para os especuladores do sistema financeiro, de onde ele veio, registre-se. O mesmo Guedes – aquele que optou por ser professor no Chile, sob o tacão do ditador Pinochet, numa universidade sob tutela militar – disse com ares de profeta do caos que se a reforma não atingisse R$ 1,3 trilhão de economia para o Tesouro, o Brasil iria quebrar. A economia será de R$ 800 bilhões, cerca de 70% do previsto. O Brasil quebrou?
Agora Guedes, para esconder o fracasso da sua gestão, apresentou quase ao final do ano legislativo, um conjunto de projetos de leis e propostas de emendas constitucionais. O pacote não tem um fio condutor. Mas tem um claro objetivo: destruir o Estado edificado pela Constituição de 1988. Aos quatro ventos, o ministro propalou que vai refazer o pacto federativo. Deve desconhecer que o que está propondo deveria necessariamente ser objeto de uma nova assembleia constituinte, algo inimaginável nas atuais circunstâncias. Entre os desvarios, o ministro advoga que a jornada de trabalho dos funcionários públicos seja reduzida, isto em um país onde o Estado presta serviços insuficientes para a maioria da população – os pobres, entenda-se. Ou seja, o que já é precário deve, de acordo com Guedes, piorar. Não satisfeito deseja reduzir o pagamento de salários dos funcionários. Isto mesmo, reduzir. No Executivo, os funcionários não recebem reajuste – reajuste e não aumento de salário – há mais de 4 anos. Sendo assim, os funcionários que, em ternos reais, já ganham menos, vão receber um salário ainda menor. Ah, não terão também mais promoções. Ou seja, só falta transformá-los na casta dos impuros.
Paulo Guedes prepara sua saída do governo, preferencialmente no primeiro semestre de 2020. Dirá que o Congresso não deu os instrumentos para enfrentar a crise. Falácia. Faz parte do show. Dele, claro.
Fonte: https://www.topbuzz.com/a/6761672169429664261?app_id=1197&c=fb&gid=6761672169429664261&impr_id=6761744083944655110&language=pt&region=br&user_id=6629035091002032134

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

O tripé da Sociologia: Durkheim, Weber e Marx (ft. Tese Onze)

A vida de Gramsci – trajetória intelectual e política | Marcos Del Roio ...

O gado passa

sabemos que explosões sociais não desaguam necessariamente em transformações. Mudanças qualitativas no ânimo e na disposição das massas também precisam ser pacientemente construídas, para que uma explosão social não seja apropriada pelo inimigo ou rapidamente esmagada.


Os bois de piranha de Bolsonaro e o vôo de galinha da economia
brasildefato20 de novembro de 2019 14:19


Bolsonaro governa dirigindo-se exclusivamente para sua base social, seguindo o roteiro do fascismo clássico em construir seu próprio partido / Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O presidente atrai nossas atenções enquanto a "boiada atravessa o rio"
A expressão é bem conhecida e tornou-se um clichê em comentários políticos. Para atravessar o gado em rio com piranhas, a sabedoria popular ensinou os vaqueiros a escolher um animal velho ou doente e colocá-lo na água em local acima ou abaixo do ponto de travessia. Enquanto as piranhas devoram o boi escolhido, os demais passam pelo rio e seguem a caminhada sem dificuldade.
Neste comentário as piranhas entretidas, somos nós, as forças populares.
Pouco a pouco vamos nos dando conta que o diversionismo causado diariamente por Bolsonaro e seus filhos, tal os truques de mágicos, atrai nossas atenções enquanto a "boiada atravessa o rio".
Bolsonaro governa dirigindo-se exclusivamente para sua base social, seguindo o roteiro do fascismo clássico em construir seu próprio partido.
Enquanto ocupa o cenário, brigando com todos, principalmente seus aliados, as medidas econômicas são aprovadas pelo Congresso e o Diário Oficial complementa uma ofensiva profunda, simultânea e acelerada do desmonte das bases nacionais.
Que representação política poderia ser mais valiosa para o bloco no poder?
O programa econômico e social, cuja agenda vem sendo rigorosamente cumprida, numa velocidade inaudita é quem solidifica a unidade entre as várias frações de classe da burguesia que conformam o bloco no poder.
E como anda essa unidade? Dá sinais de fratura ou de vitalidade?
Mesmo com o relativo fiasco no mega-leilão das bacias de petróleo, as privatizações seguem seu curso, prometendo a entrada de mais recursos. A redução do déficit fiscal com os valores obtidos no leilão do petróleo, leva o governo a enviar ao Congresso uma mensagem para modificar o orçamento do ano que vem e ampliar o espaço para despesas, liberando R$ 14 bilhões para gastos.
Já se prevê a possibilidade de um "vôo de galinha" na economia, à custa da venda de nosso patrimônio público, gerando uma situação favorável aos investidores, que, sem dúvida, ajuda a solidificar a unidade das diversas frações burguesas.
Também contribui para manter a unidade burguesa a acelerada continuidade do desmonte dos direitos trabalhistas e previdenciários. Somente na última semana, a medida provisória que cria o "Programa Verde e Amarelo" eleva a um novo patamar o desmonte dos contratos de trabalho assegurados pela CLT, além de taxar o seguro-desemprego, retirando direitos históricos dos bancários, como a jornada de seis horas e reduzindo os juros e a correção das ações trabalhistas.
A manutenção da unidade das frações burguesas exerce um forte pólo de atração para os setores médios, especialmente a pequena burguesia, cada vez mais ameaçada com o fantasma da proletarização. Ainda que amplie sua frustração com o governo são os setores que mais se deixam levar pela aparências da cena política, facilmente atraídos nas disputas ideológicas e principais vítimas das encenações políticas.
Não é fácil desvincular nossas análises da realidade de nossos desejos e simpatias. Da mesma forma é igualmente desafiador compreender o cenário do teatro político sem se deixar absorver pelas meras representações das forças sociais, quase sempre engajadas no esforço de nos enganar sobre seu objetivo papel de classe.
É fundamental compreender as classes e suas respectivas frações, identificando seus interesses e contradições. E, principalmente, a posição que assumem enquanto forças sociais. Porem, o mais complexo, por envolver uma apreciação subjetiva é avaliar a disposição de luta por seus interesses. Uma dinâmica que não é estática e constantemente gera aparências que podem nos induzir a erros.
Sem compreender esse processo, cada novo fato que implica em derrota ou vitória política será interpretado como uma mudança na correlação de forças, ainda que não tenha alterado a qualidade do enfrentamento e a dinâmica das lutas.
A questão crucial que pode alterar a atual correlação de forças é a dinâmica de luta das classes trabalhadoras. Para buscar compreender sua atual paralisia, que é sempre contraditória e aparente, precisamos responder o que a determina.
Se a hipótese principal é que estamos diante de uma paralisia determinada materialmente pela gigantesca ofensiva em curso, que desestrutura as formas de trabalho e as organizações sindicais, concluiremos que esse impacto das transformações na realidade imprime no comportamento dos trabalhadores as mudanças correspondentes para favorecer sua autopreservação, impondo um necessário período para recompor sua capacidade de luta e construir as ferramentas organizativas adequadas.
Prossegue a desindustrialização e a capacidade de produção industrial amplia a ociosidade, perdendo terreno nos investimentos em inovações tecnológicas e reduzindo os ganhos de produtividade.
O salto repentino na precarização, impulsionado pela terceirização irrestrita, pode se converter em regra para a juventude, com o chamado "Programa Verde e Amarelo". Um processo que se combina com índices elevados de desemprego, uberização das relações de trabalho e uma estrutura sindical repentinamente privada de sua sustentação econômica.
É fácil perceber o desespero dos trabalhadores em lidar com uma ofensiva tão avassaladora que desmonta as perspectivas e obriga a concentrar todas energias na sobrevivência.
Evidente que a classe trabalhadora, como um todo, não ficará indene a estes ataques e, todo o ganho de renda das classes dominantes vai semeando uma seara vermelha que terá sua colheita sob a forma de tensões e convulsão social em algum momento.
Porém, sabemos que explosões sociais não desaguam necessariamente em transformações. Mudanças qualitativas no ânimo e na disposição das massas também precisam ser pacientemente construídas, para que uma explosão social não seja apropriada pelo inimigo ou rapidamente esmagada.
Sem compreender o processo em curso, seguiremos atônitos, apostando em iniciativas messiânicas, fadados a novas frustrações enquanto a boiada vai passando.

Bolsonaro é Laranja

Bater nas ideias criminosas de Bolsonaro está longe de ser uma postura de radicalismo semelhante ao que pensam e dizem os brucutus da ultradireita. Se existe polarização, é o confronto entre civilização e ímpetos totalitários. Não por acaso, o inquilino do Planalto lança seu próprio


A falsa polarização: Bolsonaro não representa o pensamento conservador
cadaminuto19 de novembro de 2019 17:14


Na manhã de hoje ouvi de um interlocutor acidental um relevante ponto de vista sobre as “afinidades” entre Bolsonaro e o pensamento conservador no Brasil. Segundo minha fonte inesperada, os “verdadeiros conservadores” querem distância de toda essa calamidade pública que é o conjunto ideológico do bolsonarismo. O conservador “tem vergonha” de se ver associado à escória da política, ao que há de mais obscuro nos debates que tocam fogo no país. O presidente é só um populista adepto da prática de tortura.
Sendo assim, portanto, não é cabível falar em afinidades entre Jair e os princípios e valores da chamada direita clássica. Que eu saiba, ser conservador nunca foi sinônimo de atos e falas ultrajantes, como a celebração de chacinas e o desprezo a minorias e a movimentos sociais. O que um mequetrefe que exalta assassinos e milicianos tem a ver com correntes intelectuais da política?
É isso aí. O discurso da tal polarização de que tanto se fala no Brasil de hoje tem uma boa dose de falácia. Quando Lula saiu da prisão e atacou as ligações perigosas do presidente com o universo das milícias, ao contrário do que berrou a grande imprensa, não houve na fala do petista nada de “radicalização”. Ninguém está pregando ódio nenhum ao apontar essas investidas autoritárias.
Bater nas ideias criminosas de Bolsonaro está longe de ser uma postura de radicalismo semelhante ao que pensam e dizem os brucutus da ultradireita. Se existe polarização, é o confronto entre civilização e ímpetos totalitários. Não por acaso, o inquilino do Planalto lança seu próprio partido, com um manifesto que é mais tacanho do que os ideais da Arena, a legenda da ditadura militar.
Os ministérios foram distribuídos a uma tropa escandalosamente medíocre. A “meritocracia” que levou essa gente ao poder é toda baseada num reacionarismo que beira a patologia. Os caras conseguem uma combinação horrenda entre ignorância e desprezo pelos valores mais caros à democracia. Mais uma vez, condenar tudo isso não pode ser confundido com postura intolerante.
Forçar a barra para igualar Lula a Bolsonaro é o jogo de boa parte da imprensa – que fez o diabo a quatro para tomar a Presidência na marra, com um processo de impeachment cheio de exotismos e pirotecnia retórica. Apesar de toda a operação arrasadora, o sapo barbudo está de volta, como a maior liderança de oposição ao governo do capitão desqualificado. Fora disso, é torturar os fatos.
Em entrevista publicada pela Folha, o filósofo Mangabeira Unger foi direto ao ponto. Professor de Harvard, ele faz uma análise que me parece precisa sobre o que o país tem hoje no comando e o tipo de casamento entre governo e elite. Qual o papel de Bolsonaro no jogo do poder jogado pela turma do alto da pirâmide? O que esse ex-deputado do baixíssimo clero entrega aos donos do dinheiro?
Atenção para a resposta do pensador brasileiro na Folha: Um banqueiro com doutorado em economia não vai se eleger presidente da República. A elite não consegue que a maioria das pessoas vote nele, então tem que arranjar um laranja. Para que o laranja seja eleito e entregue o poder de fato ao banqueiro e ao tecnocrata. Como diriam dez entre dez jornalistas: simples assim.
Em outras palavras, acrescenta este blogueiro, Bolsonaro não foi o candidato dos conservadores. Ele foi o candidato dos rentistas, do mercado financeiro, dos especuladores, dos banqueiros, dos imperadores da agiotagem multinacional. Esse papo de família, bons costumes e moralidade é diversão para doentinhos que seguem a seita. São fanáticos, usados pra atacar instituições.
A quadra do bolsonarismo duro é o lado extremo da extrema direita, o fundo do esgoto tomado por faniquitos fascistoides. Com um conservador – direi o óbvio – conversamos eu, você e qualquer um. Com uma gentalha que festeja assassinatos, como o da vereadora Marielle Franco, aí não. Porque isso não tem nada a ver com ideologia. É apenas o sinal definitivo de uma degradação sem remédio.

Lula solto. Para o quê?

Tal qual como os chilenos, os brasileiros necessitem de trinta anos de neoliberalismo pra entender que o tal “Estado mínimo” é máquina de moer gente pobre. Não há pedagogia mais eficiente do que a experiência.



Por que Lula foi solto? Para que Lula está solto?
revistaforum19 de novembro de 2019 23:09




Desde 7 de abril de 2018. 580 dias preso. Cheguei a pensar que Lula morreria na cadeia. Até a primeira entrevista no cárcere, no final de abril de 2019, acreditei que jamais ouviria Lula falar outra vez.
A coalizão de forças que investia na criminalização do Partido dos Trabalhadores parecia mais poderosa que nunca. Sérgio Moro era herói nacional. A vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais sacramentou a aliança entre os dois principais herdeiros do antipetismo: o lavajatismo e o bolsonarismo.
Moro e Bolsonaro no poder. Não, não era nenhum absurdo acreditar que Lula morreria na cadeia, silenciado, mudo.
Mas como nas crises o mundo gira e capota, muita coisa mudou e Lula foi solto no último dia 8 de novembro, sendo beneficiado pela decisão do STF, que em nova jurisprudência proibiu a execução penal após condenação em segunda instância.
É óbvio que a libertação de Lula, assim como foi a prisão, não é apenas uma questão técnica, jurídica. É fato político de primeira importância. Tudo que envolve Lula é fato político de primeira importância. Lula é a maior instituição política da história do Brasil.
Por que Lula foi solto?
Primeiro, algo tão óbvio quanto a existência do sol: não foram as ruas que libertaram Lula. Se dependesse da mobilização popular, Lula, de fato, morreria na cadeia. Temos aí um grande dilema para a esquerda brasileira: como, diante do ataque aos direitos sociais promovido pelo governo de Bolsonaro, as pessoas não estão nas ruas se organizando, se defendendo? O que falta para o Brasil seguir a via chilena de mobilização popular?
É difícil responder. Talvez as pessoas ainda creditem a crise aos governos petistas. Talvez os brasileiros não saibam na prática o que significa a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista, o fim do DPVAT, a PEC dos gastos. Talvez, tal como os chilenos, os brasileiros necessitem de trinta anos de neoliberalismo pra entender que o tal “Estado mínimo” é máquina de moer gente pobre. Não há pedagogia mais eficiente do que a experiência.
Essa é discussão pra mais de metro.
Fato mesmo é que Lula foi solto por uma costura palaciana provocada por um realinhamento de forças. Os vazamentos dos chats privados dos operadores da Lava Jato, sem dúvida, reorientaram os rumos da crise. Não foi uma reorientação drástica, estrutural, como esperavam os mais ansiosos. Afinal, até o momento em que escrevo este texto, Moro ainda é Ministro da Justiça. Bolsonaro ainda é Presidente. Mas Lula está solto e isso não é pouca coisa.
Em janeiro de 2019, Moro chegou à esplanada dos Ministérios como superministro, como fiador do governo de Bolsonaro. O ex-juiz trazia a cabeça de Lula numa bandeja de prata e, agigantado, se apresentava como o principal vencedor das eleições.
Rosangela, a conje, se animou a tal ponto que deixou escapar uma confissão: “Já estou começando hoje a campanha de 2022”. Naquele momento, Moro era o principal adversário de Bolsonaro. Talvez fosse o único.
Em junho, o site Intercepet Brasil começou a vazar os chats privados da Lava Jato, trazendo à luz do dia toda a sorte de ilegalidades que atravessam o processo que resultou na condenação de Lula. Conspiração entre promotor e juiz, ofensa às autoridades, xingamentos aos Ministros do STF. Gilmar foi chamado de brocha. Carmén Lúcia de frouxa.
Dallagnol chegou ao ponto de pedir, informalmente, quebra de sigilo financeiro de Dias Toffoli. O Intercept vazou a notícia. Imaginem, leitor e leitora, os ministros do STF sabendo disso.
Os vazamentos enfraqueceram institucionalmente a Lava Jato. Aqui está a principal explicação para a libertação de Lula.
Sérgio Moro foi o principal atingido. Bolsonaro, que de bobo não tem nada, aproveitou a oportunidade para subverter a hierarquia previamente estabelecida. Agora é ele quem avaliza Moro, quem intercala declarações de apoio com manifestações de autoridade. “Todos os ministros têm ingerência minha”, disse Bolsonaro em agosto, ao mesmo tempo em que trocava, por conta própria e sem consultar o ministro da Justiça, o diretor-geral da Polícia Federal.
Em janeiro, tal ousadia seria impensável.
Lavajatismo e bolsonarismo até então aliados se divorciaram e hoje disputam hegemonia na extrema direita do espectro ideológico brasileiro. O antipetismo é alimento para ambos. Dois predadores brigando na unha e no dente pela mesma caça.
O enfraquecimento de Moro e da Lava Jato nos corredores das instituições criou ambiente político propício para que o STF revisasse o entendimento e proibisse a prisão após condenação em segunda instância. Ao que parece, o bolsonarismo não se esforçou para impedir a libertação de Lula.
Dias Toffoli, que desde outubro de 2018 é tutelado pelos militares, deu o voto de minerva em defesa da constituição. Se os militares não quisessem, Lula não seria libertado.
Uma crise econômica que já conta doze milhões de desempregados, sem horizonte próximo de melhora. Problemas envolvendo milícias. As investigações do assassinato de Marielle Franco batendo, literalmente, na porta de Jair Bolsonaro. Numa situação dessas nada melhor do que ter o antagonista na rua para distrair os sentidos e mobilizar a tropa.
Lula livre tem significados diferentes na extrema direita.
Para o lavajatismo, é constrangimento, é prova da ilegalidade, da violência aos ritos jurídicos do Estado democrático de direito.
Para o bolsonarismo, é janela de oportunidades, é possibilidade de reafirmação de sua natureza antissistêmica. Tudo que Bolsonaro precisa é continuar representando a tal “nova política”. Pra isso, é necessário colar em Lula a pecha da “velha política”, do protegido por instituições corruptas.
Para que Lula está solto?
Cabe a Lula e ao PT escaparem da armadilha e não dar a Bolsonaro o controle da narrativa. Lula não pode, de forma alguma, ser visto como símbolo da “velha política”. Ele precisa ser a personificação do Estado provedor de direitos sociais, do poder público que leva água potável e luz elétrica ao sertão, que garante três refeições diárias a todos os brasileiros e brasileiras.
Lula precisa representar o direito do trabalhador às férias remuneradas, ao 13° salário, à previdência pública. Será mesmo que o “Microempreendedor Individual”, o MEI, completamente vulnerável às flutuações de uma economia em crise, não prefere a estabilidade de um emprego formal, com todos os direitos da finada CLT garantidos?
Lula e o PT precisam evitar a tentação de travar uma guerra cultural com o bolsonarismo. Nesse campo, Bolsonaro joga em casa. A disputa não deve ser feita no plano do comportamento e nem pautada pelas agendas prioritárias da esquerda partidária.
A maior parte da população não gosta da esquerda, não tem nenhum compromisso com as agendas da esquerda.
Até que ponto o povão se incomoda com o envolvimento de Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro? Será que o grosso do eleitorado brasileiro está preocupado em saber quem matou Marielle?
Se o objetivo for enfrentar o bolsonarismo nas urnas, essas pautas não são estratégicas. Assim como a igualdade de gênero também não é. Sei que é difícil ler isso. Também não é fácil escrever.
O debate precisa estar centrado na materialidade da vida, em seu sentido econômico. Dinheiro no bolso, emprego, comida na mesa, consumo. Lula deve agir como indutor de memórias. O povão precisa lembrar que com Lula a vida era melhor, o prato estava mais cheio. Sobrava uma graninha pra comer pizza no shopping.
Sim, Lula foi solto por uma costura palaciana. Isso não quer dizer que ele não tenha um trabalho importante a fazer aqui, do lado de fora, em defesa dos mais pobres, que são as principais vítimas do bolsonarismo, ainda que não saibam disso.
Lula livre!!! Por uma questão de justiça. Mas, politicamente, a liberdade de Lula de nada servirá se não for para recuperar o quinhão do Estado perdido com o golpe parlamentar de 2016.
Lula está livre para liderar o retorno do projeto político popular e redistributivo ao governo. Pra isso, precisa vencer eleição. Essa é sua última missão. Talvez seja a mais difícil de todas.

Direitos Não São Ideológicos

Direitos não são "ideológicos", não são de Esquerda ou Direita.
Direitos Humanos, Previdenciários, Trabalhistas, Sociais, Culturais Sexuais, são apenas direitos. Desconfie se um partido ou espectro político "ideologizar" estes temas para obter vitórias eleitorais.
A estranha história do povo que votou contra seus próprios direitos
potiguarnoticias20 de novembro de 2019 02:39


Se a gente contar lá ´fora` o posicionamento (ou falta dele) do brasileiro médio em 2019, ninguém acredita.
Um dia ainda hão de estudar isso nas universidades do Brasil, se ainda houver universidades e se ainda existir Brasil, claro.
Sistematicamente de 2016 para cá, com intensidade maior a partir de janeiro e da posse do (des)governo, claro, o brasileiro vem tendo direitos e benefícios arrancados sutil ou claramente um a um.
Ainda com Temer houve a Reforma Trabalhista, que teve como relator o potiguar Rogério Marinho, ainda deputado federal, que iria "gerar mais empregos e aquecer a Economia". Não foi o que aconteceu.
Mais recentemente, a Reforma da Previdência, na qual brasileiros e brasileiras terão de trabalhar anos e anos a mais para poder se aposentar e em alguns casos com pagamentos menores do que na regra antiga.
Sim, os cidadãos e cidadãs elegeram um presidente e deputados e senadores para fazer com que todos nós trabalhemos anos a mais para ter direito a aposentadoria e que esta não fique a cargo do Estado, mas sim da iniciativa privada.
Há duas semanas Bolsonaro assinou MP que acaba com o DPVAT (Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por veículos automotores de via terrestre). Na prática, o DPVAT é o seguro que faz a cobertura de casos de morte, invalidez permanente ou despesas com assistências médica e suplementares por lesões de menor gravidade causadas por acidentes de trânsito em todo o país.
Elegeu-se um governo para que tire o seguro em caso de sinistros em acidentes de trânsito.
Como se elegeu um governo que não apenas não tem políticas de meio ambiente para com a Amazônia, como incentiva desmatamento e invasão de terras indígenas. O Mundo voltado para o Aquecimento Global e nós elegemos pessoas para tocarem fogo na Amazônia!
Poderia aqui neste texto escrever dezenas de parágrafos sobre direitos que foram ou estão sendo retirados.
Claro que há os arrependidos em ter eleito tal (des)governo, mas há quem pareça anestesiado, em estado de letargia em relação a isso tudo. Talvez porque tenha "comprado" o engodo da "luta ideológica".
Direitos não são "ideológicos", não são de Esquerda ou Direita.
Direitos Humanos, Previdenciários, Trabalhistas, Sociais, Culturais Sexuais, são apenas direitos. Desconfie se um partido ou espectro político "ideologizar" estes temas para obter vitórias eleitorais.
Na prática, optamos por perder muitos dos nossos direitos.
Muita gente ainda vai sentir isso tudo na pele. Ou, na parte mais sensível do corpo humano: o bolso.
É esperar para pagar. Ou, deveria dizer, pagar para ver.
E o preço poderá ser caro. Bem caro.