quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Bolsonaro e seu discurso na ONU

UOL CONFERE

Uma iniciativa do UOL para checagem e esclarecimento de fatos

Veja em que pontos Bolsonaro errou e acertou durante o discurso na ONU

Lucas Borges Teixeira
Colaboração para o UOL, em São Paulo
24/09/2019 13h37Atualizada em 24/09/2019 15h11
Em discurso na Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) na manhã de hoje, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticou governos anteriores, disse que tirou o país do socialismo, afirmou que o Brasil tem compromisso com o meio ambiente e comparou a agricultura no país com países europeus. O UOL checou algumas das declarações. Confira o resultado abaixo:
Apresento aos senhores um novo Brasil, que ressurge depois de estar à beira do socialismo

FALSO: Brasil não estava à beira do socialismo

Não há registro de que o Brasil estivesse prestes a virar um país socialista. Desde a redemocratização, em 1985, todas as eleições presidenciais foram realizadas nas datas e anos marcados (a cada quatro anos a partir de 1989).
Entre os eleitos, houve presidentes sociais-democratas, de esquerda e de direita. Dois deles, Fernando Collor (1990-1992) e Dilma Rousseff (2011-2016), sofreram impeachment segundo rito previsto na Constituição Federal.
Durante os anos de governo petista (2003-2016), não houve qualquer tentativa de golpe por parte do Executivo ou do Exército, tanto que Jair Bolsonaro, assumidamente de direita, foi eleito democraticamente em 2018 e assumiu a Presidência em 2019.

Em 2013, um acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos sem nenhuma comprovação profissional

FALSO: Médicos cubanos tinham, sim, formação profissional

De acordo com o TCU (Tribunal de Contas da União), em 2017, dos 18.240 médicos participantes do Mais Médicos, 29% (5.274) eram formados no Brasil, 8,4% (1.537) tinham diplomas do exterior e 62,6% (11.429) eram cubanos e faziam parte do acordo de cooperação com a Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).
De acordo com a lei que criou o programa, todos os cubanos tinham de apresentar seus diplomas de medicina com faculdades validadas pela Opas.
Dos mais de 4 milhões que fugiram do país, uma parte migrou para o Brasil, fugindo da fome e da violência

VERDADEIRO: Mais de 4 milhões de pessoas deixaram a Venezuela

número de venezuelanos que deixaram o país já passou de 4 milhões. De acordo com a OIM (Organização Mundial para as Migrações) e a Acnur (Agência das Nações Unidas para os Refugiados), Brasil recebeu pelo menos 168 mil deles.
Ela [a Amazônia] não está sendo devastada e nem consumida pelo fogo, como diz mentirosamente a mídia

FALSO: Desmatamento e queimadas aumentaram sob Bolsonaro

Durante os sete primeiros meses do governo Bolsonaro, o desmatamento na Amazônia Legal cresceu mais do que 67% se comparado ao mesmo período do ano anterior. Só em agosto, aumento foi de 222% se comparado a 2018.
O mesmo se dá com as queimadas, que, de acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), aumentaram em cinco biomas da Amazônia neste ano.
A França e a Alemanha, por exemplo, usam mais de 50% de seus territórios para a agricultura

VERDADEIRO: França e Alemanha usam mais de 50% de suas terras para a agricultura

Segundo números do FFA (Fórum para o Futuro da Agricultura), a França tem a maior área dedicada à agricultura na Europa, com 54% do território.
Já a Alemanha, de acordo com a Agência de Nacional de Conservação Natural do país, destinava 51,4% do território para o setor em 2014. Além disso, de acordo com o Banco Mundial, a Alemanha tem apenas 37,38% do seu território preservado, enquanto a França apresenta um percentual ainda menor: 26,34%.
O Brasil usa apenas 8% de terras para a produção de alimentos

IMPRECISO: Dados sobre território destinado à produção de alimentos são conflitantes

Um estudo da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), de 2017, confirmado pela Nasa (a agência espacial norte-americana), aponta que lavouras ocupam apenas 7,6% do território nacional.
Mas, segundo informações da secretaria executiva do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de outubro do ano passado, o país destina cerca de 30,2% do seu território para a produção de alimentos. Procurado, o Mapa não quis se pronunciar sobre o número.
61% do nosso território é preservado

IMPRECISO: Brasil tem mais de 61% de vegetação nativa, mas não em área preservada

De acordo com outro estudo disponibilizado pela Embrapa em 2017, 66% do território nacional está coberto por vegetação nativa. Isso não representa, no entanto, o território destinado a áreas de preservação nas chamadas Unidades de Conservação.
Nesta época do ano, o clima seco e os ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas

FALSO: Fogo espontâneo não existe na Amazônia

Fogo espontâneo na Amazônia não existe. O gerente do Programa Amazônia do WWF Brasil, Ricardo Mello, afirma que, no caso da região amazônica, não há um processo natural que provoca queimadas, como o calor que atinge o cerrado.
"Todo fogo [na região amazônica] é de alguma forma iniciado pelo ser humano. Então, é diretamente causado pela ação do homem", afirma.
Medidas foram tomadas e conseguimos reduzir em mais de 20% o número de homicídios nos seis primeiros meses de meu governo

VERDADEIRO: Número de homicídios diminuiu 23%, mas Bolsonaro não é único responsável

Em junho, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública informou queo número de homicídios diminuiu 21,2% nos primeiros quatro meses de 2019 em comparação ao mesmo período do ano passado. O levantamento foi feito pelo governo com base no Sinesp (Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública, Prisionais e de Rastreabilidade de Armas e Munições, e sobre Material Genético, Digitais e Armas).
No entanto, de acordo com especialistas que analisaram os dados a pedido do UOL em junho, a redução não se deve apenas a ações de Bolsonaro, mas outros fatores, como integração de governos promovida por Michel Temer, iniciativas de governos federais e trégua entre facções criminosas.
O Foro de São Paulo, organização criminosa criada em 1990 por Fidel Castro, Lula e Hugo Chávez para difundir e implementar o socialismo na América Latina, ainda continua vivo e tem que ser combatido.

FALSO: Foro de São Paulo não é organização criminosa

O Foro de São Paulo surgiu por meio de uma iniciativa do PT em 1990, após a queda do Muro de Berlim, na Alemanha. A primeira reunião foi realizada em São Paulo sob o nome de "Encontro de Partidos e Organizações de Esquerda da América Latina e do Caribe", com a presença de 48 partidos latino-americanos de esquerda, dos quais oito eram brasileiros (além do PT, havia PDT, PSB, PCB, PCdoB, PPL, PPS e PSB).
Todos os encontros desde então foram feitos legalmente e não há registro de que organizações criminosas façam parte dele. Na sua carta de compromisso, a "Declaração de São Paulo", o grupo fala em reestruturar o socialismo e combater o imperialismo capitalista, mas também se compromete a respeitar a vontade soberana de cada povo.
Hoje, o Foro ainda existe com mais de cem partidos e está longe de ser um grupo que pretende ou tem influência para implantar um bloco socialista no continente. Dos brasileiros, só o PSB não é mais signatário.
Bolsonaro na ONU: Veja a íntegra do polêmico discurso
UOL Notícias
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LUPA no discurso de bolsonaro na ONU


Bolsonaro na ONU: checamos o discurso do presidente na Assembleia Geral

Rio de Janeiro | lupa@lupa.news
24.SET.2019 | 12H07 |
   
ATENÇÃO: O conteúdo produzido pela Lupa é de inteira responsabilidade da agência e não pode ser publicado, transmitido, reescrito ou redistribuído sem autorização prévia.
O presidente Jair Bolsonaro abriu, nesta terça-feira (24), a 74ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York, com um discurso duro. Ao longo de aproximadamente 30 minutos, atacou diferentes países – entre eles, Cuba, Venezuela e França. Em seguida, criticou a postura do G7, o grupo das nações mais ricas do mundo, com relação às queimadas na Amazônia e afirmou que o mundo não conhece a verdade sobre o Brasil. Bolsonaro também agradeceu o apoio, em especial, dos Estados Unidos e de Israel.
A Lupa acompanhou a fala do presidente e conferiu o grau de veracidade de algumas de suas frases. A assessoria do Palácio do Planalto foi procurada eafirmou que não comentaria as checagens. O conteúdo a seguir pode ser atualizado a qualquer momento e faz parte de uma aliança internacional para verificar discursos feitos por políticos na ONU ao longo desta semana. Leia a seguir a avaliação de Bolsonaro e acompanhe a hashtag #UNAssemblyFacts nas redes sociais.
“Em 2013, o acordo entre o governo petista e a ditadura cubana trouxe ao Brasil 10 mil médicos”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
EXAGERADO
Em agosto de 2013, quando o programa Mais Médicos começou, apenas 391 profissionais cubanos foram enviados ao Brasil, segundo dados disponíveis no Sistema Integrado de Informação Mais Médicos, mantido pela Organização Panamericana de Saúde (Opas). Com o avançar do tempo, o número cresceu gradualmente. Em dezembro daquele ano, chegou a 5,3 mil médicos vindos de Cuba. 
O total só ultrapassou os 10 mil citados por Bolsonaro na ONU em março de 2014, quando o Mais Médicos chegou a ter 11,1 mil profissionais cubanos. Essa quantidade foi mantida, com pequenas variações, até abril de 2016. 
Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT), em maio de 2016, e sua substituição por Michel Temer (MDB), o total de médicos de Cuba começou a cair. 
A linha do tempo registra uma queda brusca em junho de 2016, para 10.129 profissionais, e outra em dezembro de 2016, quando o total de médicos caiu para 8.562. O número acabou se estabilizando em pouco mais de 8 mil até o encerramento da cooperação internacional, em novembro de 2018. Na época, o programa contava com 8,3 mil médicos cubanos.

“[Médicos cubanos que integravam o Mais Médicos chegaram ao Brasil] Sem nenhuma comprovação profissional”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
FALSO
A Lei 12.871/2013, que instituiu e regulava o programa Mais Médicos, exigia que todos os médicos formados no exterior – incluindo os cubanos – apresentassem “diploma expedido por instituição de educação superior estrangeira” e “habilitação para o exercício da Medicina no país de sua formação”.
Essa não é a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro afirma que os médicos cubanos que participaram do Programa Mais Médicos não tinham comprovação profissional. Em 14 de novembro de 2018, Bolsonaro concedeu uma coletiva e disse o seguinte:“não temos qualquer comprovação de que eles (os médicos cubanos) sejam realmente médicos e estejam aptos a desempenhar a sua função”. Na época, a Lupaverificou essa informação e constatou que ela era falsa.
Os profissionais estrangeiros que foram contratados pelo Mais Médicos foram dispensados de fazer o Revalida, exame de revalidação do diploma. Entretanto, ao contrário do que o presidente repete, tiveram – sim – que comprovar sua formação.

“[Os médicos cubanos que participavam do programa Mais Médicos] Foram impedidos de trazer cônjuges e filhos”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
FALSO
A Lei 12.871/2013, que instituiu e regulamentou o programa Mais Médicos indica que “o Ministério das Relações Exteriores poderá conceder o visto temporário (…) aos dependentes legais do médico intercambista estrangeiro, incluindo companheiro ou companheira, pelo prazo de validade do visto do titular”. Além disso, não existe nenhum acordo entre os governos brasileiro e cubano que impeça médicas cubanas de trazer seus filhos para o Brasil caso venham a participar do Mais Médicos. Essa informação foi confirmada pela  Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), queapoia ações do Mais Médicos.

“61% do nosso território é preservado”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
VERDADEIRO, MAS
Em janeiro deste ano, a Embrapa divulgou um estudoque mostrou que o Brasil tinha 632 milhões de hectares de vegetação nativa, o que significa que  66,3% do território era preservado e protegido. Segundo a entidade, a título de comparação, essa área correspondia, a “43 países e 5 territórios da Europa.” 
Em dezembro de 2017, um levantamento feito pela Nasamostrou dados semelhantes. Na época, o Brasil preservava e protegia 66% de seu território. Por fim, o último dado divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontava que o Brasil preservava 58,9% de seu território em 2016. De todos estudos consultados pela Lupa, esse é o mais antigo.
 Embora o país conserve a maior parte de seu território é importante destacar que as áreas de preservação vêm diminuindo nos últimos 32 anos. O projeto MapBiomas mostra que o Brasil teve uma perda líquida (perda total com a subtração da recuperação) de 71 milhões de hectares de vegetação nativa. A floresta natural brasileira correspondia a 594 milhões de hectares em 1985 e este total caiu para 523 milhões de hectares em 2017. Segundo o Observatório do Clima, a área de preservação perdida equivale aos estados de São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos. 

“Em apenas oito meses, concluímos (..) [os acordos de livre comércio]: Mercosul e União Europeia, Mercosul e EFTA [Associação Europeia de Livre Comércio]”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
EXAGERADO
No dia 28 de junho, Mercosul e União Europeia fecharam o acordo de livre-comércio que estava sendo negociado desde 1992. Entretanto, isso não significa que o processo tenha sido concluído. Para entrar em vigor, o acordo ainda precisa ser aprovado pelo Conselho e pelo Parlamento europeu e pelos parlamentos dos países do Mercosul. Vale ressaltar, por exemplo que, na semana passada, o parlamento da Áustria aprovou uma moção determinando veto ao acordo.
O mesmo vale para o acordo entre Mercosul e EFTA, grupo formado por quatro países europeus que não fazem parte da União Europeia: Suíça, Noruega, Liechtenstein e Islândia. O tratado, cujas conversas se iniciaram em 2017, foi concluído no dia 23 de agosto.

“O Foro de São Paulo, organização criminosa criada (…) para difundir e implementar o socialismo na América Latina”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
FALSO
O Foro de São Paulo é uma aliança internacional de 120 partidos políticos e movimentos sociais de esquerda, de 26 países latino-americanos. No Brasil, são seis partidos políticos que fazem parte deste grupo: PDT, PCB, PCdoB, PPL, Cidadania e PT. O PSB deixou a organização no mês passado em protesto ao apoio da organização ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela. O Cidadania (antigo PPS), embora siga listado como um membro da organização, diz não participar dos debates desde, pelo menos, 2004.
Não há qualquer evidência que qualifique a organização, em si, como criminosa, embora partidos de países ditatoriais, como o Partido Comunista de Cuba e o Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV, de Nicolas Maduro), estejam entre os membros. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) chegaram a participar de reuniões, mas nunca foram consideradas formalmente parte do grupo – o PT, inclusive, tentou impedir sua participação, segundo relatos de dirigentes da guerrilha colombiana.
A organização não tem como finalidade “implantar o socialismo” na América Latina. Há partidos de vertentes progressistas não-marxistas na organização, incluindo partidos humanistas e trabalhistas.
Organizações internacionais de partidos não são ilegais, e são relativamente comuns em todos os espectros da política. O PSDB, como observador, e o DEM, por exemplo, fazem parte da Internacional Democrata Centrista (CDI, da sigla em inglês). 73 partidos fazem parte, hoje, da Internacional Conservadora, que reúne movimentos conservadores, liberais e de centro-direita.

“A França e a Alemanha, por exemplo, usam mais de 50% de seus territórios para a agricultura (…)”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
VERDADEIRO
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), os dois países citados usam mais de 50% de seu território para a produção agropecuária. Na França, são 28,7 milhões de hectares para esse fim, de um total de 54,8 milhões de hectares de área terrestre, o equivalente a 52,4% do total. Desses 28,7 milhões, 19,4 milhões são para plantações (em alguns casos, com uso temporário para pecuária) e outros 9,2 milhões permanentemente para a pecuária.
Já na Alemanha, 18,1 milhões de hectares são usados para a produção agrícola. Isso representa 51,7% da área terrestre total do país, que é de 34,9 milhões de hectares. 12 milhões são para lavouras, em alguns casos com uso temporário para pecuária, e 4,7 milhões para a produção de animais. Os dados são de 2017.

“(…) O Brasil usa apenas 8% do seu território para a produção de alimentos”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
FALSO
O número citado por Bolsonaro não se refere ao uso da terra para a produção de alimentos, mas sim ao uso da terra para lavouras. Esse número não inclui o território utilizado para a pecuária ou para pomares e plantações permanentes.
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o Brasil usa 235,9 milhões de hectares para a agropecuária. Isso representa 28,2% da área terrestre do Brasil, calculada em 835,8 milhões de hectares – ou 8,35 milhões de quilômetros quadrados. A maioria desse território é utilizado para a pecuária: 172,6 milhões hectares, ou 20,6% do total. Outros 63,4 milhões de hectares, ou 7,6% do território nacional, são usados para plantações. Os dados são de 2017.

“Nossa Amazônia (…) permanece praticamente intocada”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
FALSO
Segundo a plataforma MapBiomas, projeto que monitora por satélite a cobertura vegetal e o uso do solo nos biomas brasileiros, a Amazônia brasileira tem 411 milhões de hectares de área terrestre. 59,1 milhões, ou 14,4% total, não está, atualmente, com sua cobertura vegetal original. Isso inclui áreas de produção agrícola, ocupação urbana, mineração e outros fins. Os dados são de 2018.
Em 1985, primeiro ano da série histórica, apenas 3% do território amazônico se encaixava nessas categorias. Em apenas 34 anos, a Amazônia perdeu 47,4 milhões de hectares de floresta, área maior que a Suécia, o terceiro maior país da União Europeia.

“A reserva Ianomâmi, sozinha, conta com aproximadamente 95 mil km² quadrados, o equivalente ao tamanho de Portugal e da Hungria (…)”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
VERDADEIRO
A terra indígena Ianomâmi, reserva citada por Bolsonaro, está localizada nos estados de Amazonas e Roraima e ocupa uma área de 96.649 quilômetros quadrados. Os dois países citados pelo presidente tem uma área ligeiramente menor do que a ocupada pela reserva indígena. Segundo o site da Embaixada Portuguesa, Portugal ocupa uma área de 92.212 Km².  Já o site da Embaixada da Hungria mostra que seu país tem93 030 km².

“(…) embora apenas 15 mil índios vivam nessa reserva [Ianomâmi]”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
SUBESTIMADO
As informações mais recentes sobre o total de indígenas que vivem na reserva Ianomâmi estão no Censo Demográfico 2010, produzido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na época, o grupo que se declarava ou se considerava indígena nessa área somava 25.719 pessoas, sendo 14.121 no estado do Amazonas e 11.598 em Roraima. O número de índios que vivem na reserva Ianomâmi é 71,5% maior que o citado pelo presidente Jair Bolsonaro. 
Em maio de 2019, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que a reserva Ianomâmi tinha aproximadamente nove mil índios. À época, a Lupa constatou que essa informação era falsa, pois o número correto superava o mencionado em mais de 100%.

“Somos um dos países que mais protegem o meio ambiente”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
FALSO
O Brasil teve resultado mediano e ficou na 69ª colocação no Índice de Desempenho Ambiental de 2018, estudo anual feito pelas universidades americanas de Columbia e Yale. O levantamento, que verifica 24 indicadores, compara a performance de 180 países em políticas públicas voltadas para essa área. A Lupa já havia checado uma frase semelhante, dita pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, em entrevista à GloboNews.
Numa escala que vai de zero a 100, o Brasil obteve 60,7 pontos. A Suíça, país mais bem avaliado no índice, recebeu nota 87,4. Já o Burundi, que ficou em último lugar, conseguiu apenas 27,4. Na América Latina, o Brasil foi superado por dez países: Costa Rica (30º), Trinidad e Tobago (35º), São Vicente e Granadinas (36º), Colômbia (42º), República Dominicana (46º), Uruguai (47º), Venezuela (51º), Cuba (55º), Panamá (56º) e Peru (64º).
Quando os indicadores são considerados isoladamente, o desempenho do Brasil varia bastante. Em Conservação de Florestas, por exemplo, o país ficou na 96ª colocação. Em Biodiversidade e Habitat, que leva em conta áreas e espécies protegidas, ficou no 46º lugar. Já em Conservação de Recursos Pesqueiros, ocupou a 6ª posição. O pior desempenho do país, o 157º lugar, ocorreu em Clima e Energia, métrica que analisa as emissões de dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e fuligem na atmosfera.

“Nesta época do ano, o clima seco e com ventos favorecem queimadas espontâneas e criminosas”
Jair Bolsonaro, presidente da República, no discurso de abertura da 74ª Assembleia Geral da ONU, em 24 de setembro de 2019
VERDADEIRO, MAS
Os meses de agosto a novembro são, de fato, o período do ano em que mais ocorrem queimadas na Amazônia. Segundo dados do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 81,3% das queimadas acontecem nesses quatro meses, sendo setembro o mês mais crítico. Entretanto, isso não explica o aumento das queimadas de 2018 para 2019, visto que a temporada seca deste ano está sendo mais chuvosa do que no ano passado.
Segundo nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), realizado em agosto de 2019, houve um aumento no número de dias com chuva na região amazônia neste ano. Mesmo assim, o número de queimadas cresceu. “O número de focos de incêndios, para maioria dos estados da região, já é o maior dos últimos quatro anos. É um índice impressionante, pois a estiagem deste ano está mais branda do que aquelas observadas nos anos anteriores”, explica a nota.   
Por essa razão, o instituto acredita que o desmatamento possa ser o “fator de impulsionamento” dos incêndios da Amazônia. Segundo a nota técnica, os 10 municípios amazônicos que mais registraram queimadas foram aqueles que tiveram a maior taxa de desmatamento.
Editado por: Natália Leal
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A Agência Lupa é membro verificado da International Fact-checking Network (IFCN). Cumpre os cinco princípios éticos estabelecidos pela rede de checadores e passa por auditorias independentes todos os anos
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