sábado, 17 de maio de 2014

O “Cantadô”

Lindo! O Peregrino no estilo do cordel nordestino com Roberto Diamanso

Danilo FernandesemGenizah - Há uma hora
Este homem tirou o meu fôlego. O “Cantadô”, poeta, caminhante Roberto Diamanso apresentava a sua arte cheia de poesia e brasilidade. Ritmos nordestinos – baião, xote, xaxado, repentes e outros (vejam na playlist) e lá pelas tantas ele nos surpreende com a espetacular declamação do poema O Peregrino no estilo do cordel nordestino. Num fôlego só e sem "cola". O povo pirou! Nos eventos de sábado pela manhã na Galeria Cultura Bíblica Fique ligado na agenda deles. Vale a pena. Genizah Persiga o @genizahvirtual no Twitter

INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA LATINA

GEA Cipriano Barata
Novo artigo do blog. Nesse artigo falando sobre AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA LATINA. Curtam , compartilhem e comentem. http://geaciprianobarata.blogspot.com.br/2014/05/pensando-as-independencias-na-america.html
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PENSANDO AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA LATINA
Muitas vezes, os processos de independência da América Latina não são abordados de forma adequada nas aulas de histór...

PENSANDO AS INDEPENDÊNCIAS NA AMÉRICA LATINA

Muitas vezes, os processos de independência da América Latina não são abordados de forma adequada nas aulas de história, seja pela falta de tempo, seja pela complexidade do conteúdo – que pode causar algumas confusões.

Este texto, tem a pretensão de fornecer um apoio a estudantes e professores que tem dificuldade de abordar, estudar e compreender o período das independências, que, na maioria das vezes, acaba sendo resumido à ação de alguns “personagens heróicos”, como Bolívar, na Venezuela, e San Martín, na Argentina.

Mapa antigo da América Latina

Neste texto será abordado apenas as independências da América Latina de colonização espanhola. Visto que, estas são, muitas vezes, relegadas a um “segundo plano” frente a independência das Treze Colônias inglesas e a do Brasil.

1. Contradições internas e externas.

Geralmente, ao se tratar das independências da América Latina, é colocada a tradicional contradição dos elementos locais, os criollos, contra os elementos externos: funcionários e governantes (corregidores e vice-reis) vindos da Espanha. Embora esta situação seja, de fato, verídica, ela sozinha não explica os motivos e o posterior desenvolvimento dos movimentos.

Os criollos eram a classe dominante na América Colonial. Eram donos de terras e minas, de trabalhadores escravizados e de indígenas submetidos a trabalhos servis. É bem verdade que os criollos eram incomodados pelos funcionários coloniais – muita vezes corruptos. 

As reformas boubônicas (século XVIII), tentaram adequar algumas ideias iluministas de racionalidade às práticas de monopólio mercantilistas – reforçando assim o poder colonial. Os criollos passaram a ser vigiados de perto pelos funcionários espanhóis: o objetivo era evitar o contrabando e assegurar o máximo de controle possível às atividades produtivas exercidas pelos criollos; garantindo à Coroa os tributos vindos de impostos cobrados nas colônias. Sendo assim, as reformas boubônicas podem ser analisadas no sentido de “dividir para manter a dominação”: uma vez que dividiu as colônias em novos vice-reinos e com  novos portos abertos ao comércio (comércio feito dentro da lógica do exclusivo metropolitano  – que muitos chamam de “pacto colonial”[1]).

A rivalidade entre criollos e funcionários metropolitanos era, em última análise, um conflito “externo”: pois envolvia basicamente as relações de comércio entre os criollos, entre metrópole e outros países. As ideias liberais estavam surgindo e os criollos não suportavam mais ser asfixiados pelos sistema colonial.

Do ponto de vista interno, na dinâmica das próprias colônias, além dos criollos, que são a elite da sociedade, existem os já mencionados índios, trabalhadores escravizados, e uma grande massa de mestiços que tinha seu acesso restrito em muitos lugares (como igrejas por exemplo) e certas profissões. A maioria dos indígenas era submetida a trabalhos servis (nas fazendas e nas minas, a mita). Africanos eram submetidos a escravidão no Brasil, Colômbia (na época colonial Nova Granada), Venezuela e, principalmente nas Antilhas. Os mestiços, marginalizados, trabalhavam onde podiam: em geral viviam de empregos assalariados nas grandes cidades ou como peões nas regiões de pecuária extensiva (Rio da Prata – Argentina, Uruguai – e Rio Grande do Sul, principalmente). Todos estes grupos sociais vivendo em um mesmo espaço gera tensão. Volta e meia esta tensão virava revolta: tal como o movimento indígena de Tupac Amaru em fins do século XVIII. Tupac Amaru (que embora índio, era de uma antiga família da nobreza inca e foi educado no melhor estilo europeu em uma universidade do Peru) liderou um poderoso exército de indígenas que matou um governador chamado Arriaga.

Tupac Amaru 
A revolta de Tupac Amaru é bastante reveladora sobre as tensões sociais. Ao mesmo tempo que pregava um “retorno ao passado”, das velhas tradições incaicas, também mostrava a ojeriza aos elevados impostos do sistema colonial. O que explica a brutalidade com que a revolta de Tupac Amaru foi dizimada pelos exércitos criollos (Tupac teve a língua cortada e foi esquartejado em praça pública) é a participação popular de índios, mestiços... e até mesmo de alguns criollos, mais pobres e insatisfeitos.

Nesta complexa contradição interna-externa, os movimentos de independência na América espanhola se iniciam um tanto quanto “caducos”. Basta citarmos o exemplo do levante de Francisco Miranda na Venezuela em 1806. Miranda, um criollo de ideias radicais que lutou nos Estados Unidos e na França, conseguiu apoio inglês e desembarcou na costa da Venezuela. Ele e seus seguidores acreditavam que ao brabar um grito de independência, o povo iria se juntar à sua causa. Mas o que ocorreu foi o contrário: o povo não se manifestou; os criollos reagiram e o movimento de Miranda foi logo debelado.

Um exemplo que ilustra muito bem esta contradição interna entre criollos e as classes perigosas (como eram chamados indígenas, negros e mestiços) nos processos de independência é o que ocorreu em Quito (atual Equador) em 1810. Neste ano, enquanto os criollos se reuniam numa Junta de Governo e debatiam a possibilidade de uma emancipação, índios e mestiços se revoltaram contra a Junta. Os criollos exploravam diretamente os indígenas, e não o rei da Espanha – que vivia longe, do outro lado do imenso oceano... Se havia algum culpado pela sua miséria, eram os criollos, pensavam indígenas e mestiços. A partir daí, podemos perceber como o próprio sistema colonial criava estas contradições internas. Também é conveniente lembrar do movimento de José Tomas Boves, um dos grandes inimigos de Bolívar. Boves, que era espanhol e pertencia a uma categoria social de fazendeiros criadores de gado (llanos) reuniu uma massa de camponeses, pobres, mestiços e negros que em nome do rei da Espanha ocupou terras e as distribuiu para seus seguidores miseráveis. O movimento de Boves é um autêntico movimento de pobres contra ricos.

Ainda podemos citar o exemplo do primeiro movimento de independência do México (Nova Espanha) liderado pelo padre Miguel Hidalgo. Agregando camponeses – em sua maioria indígenas ou mestiços – Hidalgo formou um exército de cerca de 80 mil pessoas com o objetivo de chegar a Cidade do México. Seu lema era “viva o rei, abaixo o mal governo!”. Seu estandarte era a Virgem de Guadalupe. E seu objetivo era dar terra aos indígenas e por fim ao regime de castas. Mais uma vez os criollos não poderiam deixar o povo tomar as rédeas da independência e o movimento de Hidalgo foi temporariamente abalado; ressurgindo mais tarde com um de seus seguidores, o também padre José Maria Morelos.

2. Influências

Os livros didáticos geralmente apontam como as grandes influências dos movimentos de independência a Revolução Francesa de 1789 e o pensamento iluminista. A elite criolla, urbana e bem instruída nas universidades americanas e europeias, tinha acesso a leituras iluministas e aos seus principais expoentes (Voltaire, Rousseau, Montesquieu, Smith). Os criollos mais radicais, tinham sua admiração por Marat, Robespierre e Saint-Just. O fato é que a independência das Treze Colônias em 1776 e a Revolução Haitiana (1794-1804) devem ser considerados como influências muito mais decisivas do que a Revolução Francesa.

Em primeiro lugar, a Espanha era aliada da França. Foi somente quando o absolutista Fernando VII subiu ao trono, após uma trama palaciana, que o governo francês (na época a ditadura militar de Napoleão) resolveu invadir o país para não correr o risco de perder um aliado. A solução que Napoleão encontrou foi colocar no trono da Espanha seu irmão, José, em 1808. Assim, ele garantia um país aliado na Europa e também as colonias espanholas na América como possível área de dominação francesa. Por isso que após 1808 os movimentos de independência ganham força. Ao mesmo tempo que os espanhóis passam a guerra aberta contra os invasores franceses e o “rei” francês no trono de seu país. 
Mapa das Treze Colonias.

A independência das Treze Colonias é um fato que influênciou não só na América mas também a própria Revolução Francesa. Ocorre que, após os Estados Unidos consolidarem sua independência, eles adotaram uma postura “isolacionista”, enquanto a França, fazia questão de expandir seus ideais para o mundo. Mas a postura isolacionista dos Estados Unidos, não impediu que se tornasse um exemplo para os criollos, principalmente aqueles que queriam uma “independência sem mudanças”: o país rompeu com a Inglaterra e continuou com a escravidão. Uma independência que começou radical, mas terminou com um acordo entre elites (Constituição de 1787, ainda hoje em vigor, com várias emendas).

Por outro lado, a Revolução Haitiana, que se estende de 1794 até 1804, é um exemplo radical. Negros escravizados levantaram-se contra os brancos proprietários de terra pra proclamar, ao mesmo tempo, a independência e o fim da escravidão! Todos os países da América conheceram a escravidão e o pesadelo de qualquer dono de escravizados é a revolta destes trabalhadores contra sua autoridade. O lema do Haiti é “a união faz a força” e, de fato, se escravizados se unissem, teriam força o suficiente para pôr abaixo qualquer sistema colonial. Não é a toa, que a Revolução Haitiana resultou num “bloqueio continental americano” ao Haiti. De acordo com Jacob Gorender: "As dificuldades do Haiti não se deveram, com o passar do tempo, somente ao domínio da agricultura de subsistência e à ausência de perspectivas econômicas elevadas. Deveram-se também, e não menos, à quarentena, que lhe impuseram até mesmo as nações latino-americanas recém-independentes"[2] 

3. Os projetos de independência

As independências se desenvolvem num longo e complexo processo que vai de (mais ou menos) 1808 até 1824 (batalha de Ayachuco – vitória final dos criollos contra os exércitos espanhóis na Bolívia/Alto Peru). No decorrer destes anos, os criollos não esboçaram apenas um, mas vários projetos de independência. 

Primeiramente, temos que considerar que haviam vários “graus” de criollos. Havia, obviamente, os mais abastados, donos de terras e minas que possuíam levas de mão de obra a sua disposição (escravizados, livres e servis como a maioria esmagadora dos indígenas). Mas também havia os criollos, que embora tenham um pedaço de terra, não eram tão ricos e viviam modestamente. 

Esta situação, muitas vezes aproximava alguns criollos às classes perigosas e isto fez com que projetos “alternativos” ao “independência sem mudanças” da elite criolla, se tornassem um problema maior para os ricos do que a própria resistência espanhola na época das guerras de independência.

Exemplos não nos faltam. Um deles é o projeto de Hidalgo e Morelos, ao qual acabamos de nos referir. Ambos eram padres do clero secular, sendo assim tinham contato com os mais desfavorecidos pelo sistema colonial, explorados pelos ricos criollos. Hidalgo foi morto em 1811, mas seu discípulo, Morelos, continuou seu projeto de independência no México. Um projeto radical e socializante, que pregava a distribuição de terras, o fim da escravidão e dos tributos e, principalmente, a soberania popular.

Morelos representava um perigo tão grande para a elite criolla, que estes acabaram adotando um modelo conservador de independência semelhante ao do Brasil, com um imperador: o militar Agustín Iturbide. Só para citar um exemplo, Morelos convocou uma assembleia constituinte para o México, o que despertou a fúria da elite criolla. Ao invés de adotar a constituição de Morelos (redigida sob inspiração dos ideais citados acima: distribuição de terras, o fim da escravidão, dos tributos e soberania popular), os criollos resolveram adotar a constituição espanhola de 1813!

O movimento mais organizado e radical, que representou a mais original alternativa às independências conservadoras da elite criolla, foi a Liga Federal de José Artigas.

José Artigas era um criollo de origem modesta que conseguiu entrar numa milicia chamada corpo de blandengues. A função dos bandengues era policiar as terras da Banda Oriental (atual Uruguai) contra os indígenas. Mas ao entrar em contato com os indígenas, Artigas e sua tropa passaram a mediar conflitos e não mais expulsa-los das terras. Assim, ele percebeu que faltava terra para os índios... e terra para eles havia, sempre houve.

Quando o movimento de independência iniciou em Buenos Aires (1810), Artigas foi até a capital do vice-reino da Prata (que na época agregava o Paraguai, Uruguai, Bolívia, além da própria Argentina) lutar contra os espanhóis. Quando volta para a Banda Oriental, requisita auxílio dos buenairenses para libertar Montevidéu dos monarquistas. Mas a ajuda não vem. Artigas acaba formando um exército – de criollos, mestiços, negros e índios – que lutam juntos contra o poder colonial. Por fim, os artiguistas tomam Montevidéu, mas inicia a reação contra seu movimento.

De 1813 até 1820, Artigas e seus seguidores formam a Liga Federal dos Povos Livres. Uma república federativa que englobava as províncias do norte da atual Argentina, o Uruguai e parte do Rio Grande do Sul. Artigas distribuiu terras. O seu lema era “que os mais necessitados sejam os maiores beneficiados”. Mas era difícil por em prática suas ideias, isto porque, Artigas e seus seguidores, lutavam paralelamente contra as tropas de Buenos Aires, contra os luso-brasileiros e contra os exércitos da Espanha! Podemos dizer que a independência da Argentina (só proclamada em 1816) é uma reação contra Artigas.

Embora estes projetos alternativos não tenham tido uma continuidade, falar sobre as independências sem cita-los, é, no mínimo, ocultar uma parte essencial deste período da história americana.

***

Os tópicos e as analises acima, são apenas recortes. Foram feitos desta forma para facilitar a compreensão dos processos; e assim dar um subsídio empírico para se pensar os movimentos e projetos de independência. Outras leituras, de outros historiadores, são possíveis, sem dúvida. Cabe, neste sentido, levar em conta a criatividade de cada professor/historiador.

É importante que se diga que o conteúdo das independências da América Latina (de colonização espanhola) é um conteúdo que permanece relegado a um segundo plano. Muitos livros didáticos contribuem para isto, principalmente porque adotam a velha “história dos grandes personagens”. Bolívar é geralmente o mais citado, mas pouco se compreende a complexidade deste personagem – que serviu, por muito tempo de modelo ao pensamento conservador da Venezuela, até ser “ressuscitado” numa leitura de esquerda por Hugo Chavez.

Tratar com maior abrangência dos processos de independência da América, como um todo, é apenas uma parte da luta contra o eurocentrismo na história – principalmente na sala de aula. 


Notas:

[1] O termo “pacto colonial”, disseminado por uma historiografia antiga, mas ainda cheia de força, não é condizente com a situação objetiva das relações metrópole-colônias. Isto porque a ideia de “pacto” sugere que havia um acordo amigável entre colonos/criollos e os governantes metropolitanos. Uma vez que a colonização europeia da América está dentro das práticas mercantilistas, em que o governo (o Estado Absolutista) se esforçava para manter o controle sobre todas as atividades econômicas, não se pode dizer que houve um “pacto amigável” e sim uma “imposição” característica da própria lógica mercantilista: os colonos tinham a função de enriquecer a metrópole, nada além disso – essencialmente não era algo aberto a negociações. Sendo assim, o termo mais correto a ser utilizado é sistema colonial, uma vez que “pacto” da a ideia de “unidade”, enquanto que “sistema” parece abranger de forma mais adequada a situação das diversas práticas que mantinham as relações metrópole-colônias. Ademais, esta questão de “pacto colonial” pode ser debatida nas salas de aula e nos grupos de estudo.

[2] O épico e o trágico na história do Haiti. Estudos Avançados 18 (50), 2004, p. 301.
  


Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 

a medicina não foi dada por deuses aos homens

RiberScience Neves:
Hoje a medicina evolui cada vez mais,mas no passado já foi uma tortura com crendices,isso prova que a medicina não foi dada por deuses aos homens mas sim a curiosidade do querer saber e conhecer.
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HISTÓRIA ::. MEDICINA NA IDADE MÉDIA
Na Idade Média, as cirurgias eram procedimentos grosseiros, que exigiam 1. dos pacientes, a capacidade de suportar a ...

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sexta-feira, 16 de maio de 2014

Os professores somos realmente coitadinhos, estropiados e maltratados?



Os professores somos realmente coitadinhos, estropiados e maltratados?
Romério Gaspar Schrammel Professor Português/Ensino Médio na Colégio Evangélico Alberto Torres Principal contribuidor
Normalmente escrevo esta coluna pensando nos leitores que nada têm a ver com o setor educacional. Faço isso, em primeiro lugar, porque creio que a educação brasileira só vai avançar (e com ela o Brasil) quando houver demanda pública por melhorias. E,...

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PROFESSORES, ACORDEM!

12/05/2014 22:18
Normalmente escrevo esta coluna pensando nos leitores que nada têm a ver com o setor educacional. Faço isso, em primeiro lugar, porque creio que a educação brasileira só vai avançar (e com ela o Brasil) quando houver demanda pública por melhorias. E, segundo, porque nos últimos anos tenho chegado à conclusão de que falar com o professor médio brasileiro, na esperança de trazer algum conhecimento que o leve a melhorar seu desempenho, é mais inútil do que o proverbial pente para careca. Não deve haver, nos 510 milhões de quilômetros quadrados deste nosso planeta solitário, um grupo mais obstinado em ignorar a realidade que o dos professores brasileiros. O discurso é sempre o mesmo: o professor é um herói, um sacerdote abnegado da construção de um mundo melhor, mal pago, desvalorizado, abandonado pela sociedade e pelos governantes, que faz o melhor possível com o pouco que recebe. Hoje faço minha última tentativa de falar aos nossos mestres. E, dado o grau de autoengano em que vivem, eu o farei sem firulas.
Caros professores: vocês se meteram em uma enrascada. Há décadas, as lideranças de vocês vêm construindo um discurso de vitimização. A imagem que vocês vendem não é a de profissionais competentes e comprometidos, mas a de coitadinhos, estropiados e maltratados. E vocês venceram: a população brasileira está do seu lado, comprou essa imagem (nada seduz mais a alma brasileira do que um coitado, afinal). Quando vocês fazem greve — mesmo a mais disparatada e interminável —, os pais de alunos não ficam bravos por pagar impostos a profissionais que deixam seus filhos na mão; pelo contrário, apoiam a causa de vocês. É uma vitória quase inacreditável. Mas prestem atenção: essa é uma vitória de Pirro. Porque nos últimos anos essa imagem de desalento fez com que aumentassem muito os recursos que vão para vocês, sem a exigência de alguma contrapartida da sua parte. Recentemente destinamos os royalties do pré-sal a vocês, e, em breve, quando o Plano Nacional de Educação que transita no Congresso for aprovado, seremos o único país do mundo, exceto Cuba, em que se gastam 10% do PIB em educação (aos filocubanos, saibam que o salário de um professor lá é de aproximadamente 28 dólares por mês. Isso mesmo, 28 dólares. Os 10% cubanos se devem à falta de PIB, não a um volume de investimento significativo).
Quando um custo é pequeno, ninguém se importa muito com o resultado. Quando as coisas vão bem, ninguém fica muito preocupado em cortar despesas. E, quando a área é de pouca importância, a pressão pelo desempenho é pequena. No passado recente, tudo isso era verdade sobre a educação brasileira. Éramos um país agrícola em um mundo industrial; a qualificação de nossa gente não era um elemento indispensável e o país crescia bem. Mas isso mudou. O tempo das vacas gordas já era, e a educação passou a ser prioridade inadiável na era do conhecimento. Nesse cenário, a chance de que se continue atirando dinheiro no sistema educacional sem haver nenhuma melhora, a longo prazo, é zero.
Vocês foram gananciosos demais. Os 10% do PIB e os royalties do pré-sal serão a danação de vocês. Porque, quando essa enxurrada de dinheiro começar a entrar e nossa educação continuar um desastre, até os pais de alunos de escola pública vão entender o que hoje só os estudiosos da área sabem: que não há relação entre valor investido em educação — entre eles o salário de professor — e o aprendizado dos alunos. Aí esses pais, e a mídia, vão finalmente querer entrar nas escolas para entender como é possível investirmos tanto e colhermos tão pouco. Vão descobrir que a escola brasileira é uma farsa, um depósito de crianças. Verão a quantidade abismal de professores que faltam ao trabalho, que não prescrevem nem corrigem dever de casa, que passam o tempo de aula lendo jornal ou em rede social ou, no melhor dos casos, enchendo o quadro-negro de conteúdo para aluno copiar, como se isso fosse aula. E então vocês serão cobrados. Muito cobrados. Mas, como terão passado décadas apenas pedindo mais, em vez de buscar qualificação, não conseguirão entregar.
Quando isso acontecer, não esperem a ajuda dos atuais defensores de vocês, como políticos de esquerda, dirigentes de ONGs da área e alguns “intelectuais”. Sei que em declarações públicas esse pessoal faz juras de amor a vocês. Mas, quando as luzes se apagam e as câmeras param de filmar, eles dizem cobras e lagartos.
Existem muitas coisas que vocês precisarão fazer, na prática, para melhorar a qualidade do ensino, e sobre elas já discorri em alguns livros e artigos aqui. Antes delas, seria bom começarem a remover as barreiras mentais que geram um discurso ilógico e atravancam o progresso. Primeira: se vocês são vítimas que não têm culpa de nada, também não poderão ser os protagonistas que terão responsabilidade pelo sucesso. Se são objetos do processo quando ele dá errado, não poderão ser sujeitos quando ele começar a dar certo. Se vocês querem ser importantes na vitória, precisam assimilar o seu papel na derrota.
Segunda: vocês não podem menosprezar a ciência e os achados da literatura empírica sempre que, como na questão dos salários, eles forem contrários aos interesses de vocês. Ou vocês acreditam em ciência, ou não acreditam. E, se não acreditam — se o que vale é experiência pessoal ou achismo —, então vocês são absolutamente dispensáveis, e podemos escolher na rua qualquer pessoa dotada de bom-senso para cuidar da nossa educação. Vocês são os guardiães e retransmissores do conhecimento acumulado ao longo da história da humanidade. Menosprezar ou relativizar esse conhecimento é cavar a própria cova.
Terceira: parem de vedar a participação de terceiros no debate educacional. É inconsistente com o que vocês mesmos dizem: que o problema da educação brasileira é de falta de envolvimento da sociedade. Quando a sociedade quer participar, vocês precisam encorajá-la, não dizer que só quem vive a rotina de “cuspe e giz” é que pode opinar. Até porque, se cada área só puder ser discutida por quem a pratica, vocês terão de deixar a determinação de salários e investimentos nas mãos de economistas. Acho que não gostarão do resultado...
Quarta: abandonem essa obsessão por salários. Ela está impedindo que vocês vejam todos os outros problemas — seus e dos outros. O discurso sobre salários é inconsistente. Se o aumento de salário melhorar o desempenho, significa que ou vocês estavam desmotivados (o que não casa com o discurso de abnegados tirando leite de pedra) ou que é preciso atrair pessoas de outro perfil para a profissão (o que equivale a dizer que vocês são inúteis irrecuperáveis).
O respeito da sociedade não virá quando vocês tiverem um contracheque mais gordo. Virá se vocês começarem a notar suas próprias carências e lutarem para saná-las, dando ao país o que esperamos de vocês: educação de qualidade para nossos filhos. Gustavo Ioschpe - Revista Veja - 11/05/2014 - São Paulo, SP/lido em 12/05/2014 em< clipping educacional clipping@editau.com.br

Comentários
9 comentários
Maria Asuncion
professora de matemática na Prefeitura municipal de Salvador
De fato a demenda pública ajudaria muito,contudo temos que pensar.Semana passada fizemos uma reunião de pais e os convidamos para irem a sala dos filhos.Na sala um professor falou em cantar o hino nacional,uma mãe se levantou e disse:não quero minha filha cantando hino ele não é gado.Se dirigiu a filha e falou se colocarem você para cantar hino não cante.
Resumindo todos sabem da importancia da educação mas nem todos sabem como se faz para educar.
Mirtha Lizandra R. gostou disto.
WAGNER
diretor na secretaria da educação
Professor, bom dia.
Concordo que não somos uns coitadinhos. Que temos a faca e o queijo nas mãos, porém não sabemos usar. Precisamos sim da ajuda dos pais para melhorar o ensino público para quem mais precisa dele.
Nas escolas públicas das periferias realizamos quase de tudo: ensino, comportamento, saúde e higiene, inclusive bucal, cidadania, eleição... e não enumerar todos os serviços, inclusive limpar aluno.Isso porque a carência é tanta que se não realizarmos estas tarefas não conseguimos concretizar nossa tarefa, que é o de ensinar e ensinar com qualidade, apesar de salas lotadas e sem infra estrutura adequada.
Aí deparamos com políticas educacionais desastrosas, principalmente no Estado de São Paulo que é o mais rico da federação que nos incentiva com bônus e não com salário.
Precisamos, sim, professor de ótimos salários, de condições dignas de trabalho como consta no nosso Estatuto e não é respeitado. Precisamos de segurança para implantar nas escolas um espaço adequado de educar, com garantias que poderemos voltar para casa com segurança.
Renata N. gostou disto.
Ivan
Presidente do Instituto Interactor-Cyber RV; Voluntário na Forum de Transformação e Movimento Cidadão
Caro Romério
Caros Maria e Wagner
Excelentes artigo e comentários. Com pequenas divergências.

Após 40 anos de magistério, recebendo desde R$400,00 por mes (durante 4 anos) de uma faculdade de boa avaliação, até US$600,00 por hora de corporações para 1 mes de trabalho, agora acrescidos de 8 anos de voluntariado no segundo grau, percorri quase todos os segmentos da educação. Estou aposentado com "gorda" seguridade pública de R$765,00 reais por mes. Apenas 40 vezes menor que a de um Juiz. E modesta "aposentadoria privada" potencialmente variável entre R$2.000,00 a R$6.000,00 por mes, constituída de poupanças investidas. Posso me considerar, na média, um professor feliz.

Se não tivesse poupado, investido e praticado pequenos negócios em economia familiar por 40 anos, estaria passando fome hoje.

Concordo com a visão de pequenez das lideranças educacionais. Sindicatos e Governo. Não acho que os problemas levantados esgotem o tema. O buraco pode ser bem mais em baixo. E não há sinal de solução endógena. Podem investir o dobro e dobrar salários que vai continuar do mesmo jeito. A questão é cultural. Como bem definido, a "cultura do coitadinho". Mesmo sendo o segmento que "engole" uma das maiores proporções do PIB em investimento.

Tenho por mim que a Educação vai ser o último da fila a ser inserido na Era do Conhecimento. O que é contraditório e ridículo.

Começo a me convencer de que o Sistema Educacional vai apodrecer por dentro até desaparecer. Levando consigo Sindicatos pelêgos e Governos incompetentes. Enquanto vai sendo comido, muito lentamente, pelas beiradas, através da Tecnologia da Informação e Comunicação. Quando os professores acordarem, o chamado Sistema Educacional não vai mais existir. Foi. Ou vai ser substituído.

O que vai existir no lugar?
Os que pagarem para ver, vão sair na frente.
Com as NetAulas mostrando que o custo de 30 professores de uma pequena escola serão o dobro do preço de manutenção de uma equipe moderna. E que o miserável piso salarial ora reinvidicado como solução, vai ser 1/3 do salário do professor moderno.

E a "cola"? Vcs sabem o que é a cola?
Em ICT são os burocratas inúteis que incham as folhas de pagamento sem agregar valor ao produto. Devem consumir mais que o salário somado de TODOS OS PROFESSORES do país.
A eliminação da "cola" vai ser um ganho da sociedade. Seja para reduzir o custo educacional. Seja para melhorar ainda mais a condição das escolas e professores remanescentes. Sendo o saldo investido em pesquisa e desenvolvimento.
Dentro ou fora do sistema de ensino.

É o modesto esboço de minha visão de futuro.
O Véio.
Renata N. gostou disto.
WAGNER
diretor na secretaria da educação
Prof Ivan, tudo bem?

Adorei suas colocações, pois é bem por aí mesmo, bem legítimas.
Não sou contra a Copa de futebol no Brasil, porém, foram investidos muitos recursos, estatal e privados, pois vai gerar lucro imediato, porém a boa educação gera lucros futuros muito melhor e eficaz para nossa população.
Meu medo agora é a aprovação do PDE e dos 10% do PIB para a educação. Onde vai parar esse dinheiro? Será que vai chegar na sala de aula, na merenda do aluno, no bolso do professor?
Ivan K. gostou disto.
Suely
Técnico Administrativo em Educação
Não sou professora, sou mãe hoje de dois adultos que quando crianças e adolescentes já precisaram estudar num colégio público. Me preocupo sim com a educação no nosso país. Concordo em parte com o texto do Sr. Romerio, sei que muitos professores são aquém realmente do que esperamos deles, mas também sei que em muitas escolas não são dadas infraestrutura adequadas para receberem seus alunos. Escolas com banheiros quebrados, ventiladores que mal funcionam no calor de 40 graus, onde deveriam ter ar condicionados, torneiras que não funcionam, tetos caindo, buracos, etc. Além disso deparamos com a falta de professores em certas disciplinas, que com certeza não se sentem atraidos pelos "grandes" salários. Falta de comunicação com os pais, falta de profissionais adequados para fazerem essa comunicação. Precisamos de gente qualificada para trabalharem nas escolas e para gente qualificadas tem que se oferecer atrativos como bons salários, beneficios, ambientes saudáveis e seguros. A partir do momento que você oferece isso, você pode e deve cobrar a contrapartida. Só assim poderemos ter uma educação de qualidade. Com toda sociedade fazendo a sua parte. Governo, pais, professores, profissionais e alunos.
Ivan
Presidente do Instituto Interactor-Cyber RV; Voluntário na Forum de Transformação e Movimento Cidadão
Tudo bem Wagner
Vc explanou bem. Mas eu acho que prevalecerá a estatística da ONU sobre Assistência Social. A cada 5 dólares investidos, apenas 1 chega ao usuário final. O resto vasa no caminho, e como diz Suely gera os buracos, tetos caindo, banheiros quebrados, etc.

Apenas fico me perguntando. O que nasceu primeiro? O ovo ou a galinha?
Em minha juventude nos perguntávamos.
Vamos trabalhar bem e exigir remuneração compatível?
Ou vamos esperar remuneração compatível para trabalhar bem?

Eu optei pela primeira. E o patrão que não me remunerou bem, eu demitia.
Será que tomei a opção errada?
Sei lá. Não sou rico mas estou feliz.
E vivendo modestamente bem.
Mirtha Lizandra
Coordenadora
O certo é que a educação precisa de elementos efetivos na sua prática.Até porque evoluir é sinal que nossa geração precisa estabelecer subsídios de ações na nossa cultura e valorizar o docente em sua real presença de transformação da sociedade e assim conquistar o respeito e reconhecimento da arma que dispomos nessa luta:"A educação de qualidade".
Ivan K. gostou disto.
WAGNER
diretor na secretaria da educação
Oi Ivan, tudo bem?

Gostei quando disse que mandou o patrão embora. Mas não consigo, sou obrigado a continuar com este e acho que vou aposentar com eles.
Mas gostei da idéia.
Ivan K. gostou disto.
Ivan
Presidente do Instituto Interactor-Cyber RV; Voluntário na Forum de Transformação e Movimento Cidadão
Patrão ruim é igual cônjuge safado.
Tem que levar pé na bunda.
Ou então
Mete chifre nele. kkkkk