terça-feira, 15 de julho de 2014

SER SACERDOTE

 
Alexandre Filho
SER SACERDOTE

Ser SACERDOTE é acima de tudo, não esperar recompensas.
Mas ficar feliz, caso e quando cheguem.
É saber fazer o necessário por cima e por dentro da incompreensão.
É aprender a tolerância com os demais e exercitar a dura intolerância (mas compreensão) com os próprios erros.
Ser SACERDOTE é aprender errando, a hora de falar e de calar.
É contentar-se em ser reserva, coadjuvante, deixado para depois.
Mas jamais falar no momento preciso.
É ter a coragem de ir adiante, tanto para a vida quanto para a morte.
É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.
Ser SACERDOTE é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez.
É esperar.
É SABER QUE EXPERIÊNCIA SÓ ADIANTA PARA QUEM A TEM, E SÓ SE TEM VIVENDO.
Portanto, é agüentar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.
Ser SACERDOTE é saber e calar.
Fazer e guardar.
Dizer e não insistir.
Falar e dizer.
Dosar e controlar-se.
Dirigir sem demonstrar.
É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, na alma, lhe corrói.
Ser SACERDOTE é ser bom sem ser FRACO.
É jamais transferir aos filhos a quota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão.
Ser SACERDOTE é aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar.
É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida.
Ser SACERDOTE é aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão.
Mas ir às lágrimas quando chegam.
Ser SACERDOTE é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição.
É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho.
É saber brincar e zangar-se.
É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem o demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.
Ser SACERDOTE é saber receber raiva, incompreensão, antagonismo, atraso mental, inveja, projeção de sentimentos negativos, ódios passageiros, revolta, desilusão e a tudo responder com capacidade de prosseguir sem ofender; de insistir sem mediação, certeza, porto, balanço, arrimo, ponte, mão que abre a gaiola, amor que não prende, fundamento, enigma, pacificação.
Ser SACERDOTE é atingir o máximo de angústia no máximo de silêncio.
O máximo de convivência no máximo de solidão.
É, enfim, colher a vitória exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer já, dele, não necessita para viver.
É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.
ISSO É SER SACERDOTE !

o mito do livre mercado

capitalReescrever a história. Este sempre foi o impulso daqueles que alcançaram o poder. Hoje, as nações mais desenvolvidas do planeta impõem aos que buscam um lugar ao sol o receituário neoliberal, seja através dos economistas do mainstream, seja através da “Trindade Profana” — FMI, Banco Mundial e OMC. Dizem eles que foi seguindo as regras do livre-mercado que se tornaram ricos. Mas nós vamos desmascarar a história secreta por trás do sucesso destes países, mostrando que eles fizeram tudo ao contrário do que defendem hoje para os países menos desenvolvidos.

O neoliberalismo

A economia neoliberal surgiu nos anos 60 e se tornou a visão econômica dominante a partir dos anos 80. É uma versão atualizada do liberalismo do século XVIII e XIX defendido pelos economistas clássicos, como Adam Smith e David Ricardo. Basicamente, defende a não-intervenção do Estado, a privatização de empresas estatais, a desregulamentação da economia e a abertura do comércio para o lucro e o investimento estrangeiro.

Coreia do Sul e Japão, sucesso com outra receita

Hoje a Coreia do Sul e o Japão são inegavelmente países com economias altamente desenvolvidas, e os teóricos do sistema capitalista afirmam que esse sucesso se deve à adesão ao modelo neoliberal. Mas a história mostra que a verdade é totalmente diferente.
samsungA Samsung, por exemplo, hoje uma das maiores empresas de produtos de alta tecnologia do planeta, começou como exportadora de peixe, vegetais e frutas, numa época em que a Coreia era colônia do Japão e um dos países mais miseráveis do planeta. Até os anos 70, a empresa ainda estava no ramo de refinamento de açúcar e tecelagem. Quando, em 1983, ela declarou sua intenção de concorrer com as grandes indústrias de semicondutores dos Estados Unidos, poucos a levaram a sério. Segundo os defensores do livre-comércio, eles ganhariam mais se continuassem naquilo em que eram bons, ou seja, trabalhar com produtos primários, e deixar a indústria complexa com quem tinha “vocação” para isso — naturalmente, os países mais ricos, conforme a clássica tese de Smith.
Se o governo da Coreia do Sul tivesse seguido o conselho dos “entendidos” de economia estrangeiros, hoje o país provavelmente ainda estaria vivendo de exportar peixes e peruca de cabelo humano, suas principais fontes de receita de décadas atrás. No entanto, ele seguiu o caminho inverso: ajudou as indústrias do país a crescer com proteção tarifária e subsídios, até que elas estivessem fortes o suficiente para competir no mercado internacional.
Hoje a Samsung é o retrato mais bem acabado da intervenção do Estado na economia e de que para ter sucesso e competir no mercado internacional, os governos devem jogar a receita da Trindade Profana no lixo.

Governo japonês ajuda a Toyota

toyoda automatic loomAssim como a Samsung, a Toyota começou em outro ramo de negócios bem mais modesto: fabricante de máquinas têxteis (Toyoda Automatic Loom). Em 1933 ela passou a produzir carros, mesmo com a descrença do país e dos concorrentes, e para poder conseguir se estabelecer no meio de gigantes internacionais, o governo japonês simplesmente retirou do país a General Motors e a Ford em 1939, e viabilizou a Toyota com dinheiro do Banco Japonês em 1949, mesmo com toda a crise econômica do país no pós-II Guerra.
Toyota LexusSe o governo japonês tivesse seguido as regras do livre-comércio, hoje os carros da Toyota não seriam tão naturais para nós quanto o vinho francês ou o azeite português. A empresa japonesa provavelmente teria sido comprada por uma das grandes montadoras internacionais e simplesmente estaria extinta. E o Japão jamais seria a potência econômica que é hoje.
Você pode não estar ainda convencido, pensando que estes são exemplos isolados que não são a regra, porque outros países ricos de hoje seguiram o modelo de livre-mercado para o sucesso. Então na próxima postagem eu vou te mostrar que isso é apenas parte da verdade, porque esses países adotaram o livre-comércio apenas quando suas empresas já estavam plenamente desenvolvidas, contando com a ajuda de proteção econômica para isso. E nada melhor do que pegar como exemplo aqueles que são autoproclamados os líderes do mundo “liberal”: a Inglaterra e os Estados Unidos. 


capitalismo global

oligarchyDo ponto de vista da justiça social e da distribuição de riquezas, o capitalismo é um retumbante fracasso – e isso quem afirma cada vez mais são os próprios defensores do sistema e não os seus críticos contumazes. Tanto isso é verdade, que nesta última semana, grandes figuras da elite mundial se reuniram em Londres para debater uma forma de tornar o mercado livre menos destrutivo, depois dos comentários feitos pelo economista francês Thomas Piketty de que o capitalismo vem concentrando renda, em vez de distribui-la. 

É interessante notar que cada vez mais os governantes dos países, eleitos para representar os interesses dos seus povos, estejam alijados das discussões econômicas internacionais, efeito da globalização internacional que desprestigia os Estados nacionais. Na mencionada reunião, por exemplo, tivemos o príncipe Charles servindo como cicerone para figuras como o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton; Lynn Forester, CEO do conglomerado Rothschild; Madsen Pirie, fundador e presidente do Instituto Adam Smith, que defende o livre mercado, entre outras figuras da mesma estirpe. Nenhum representante do trabalho, nenhum presidente eleito pelo povo – apenas uma pequena elite global definindo os rumos de trilhões de dólares e bilhões de pessoas. 

Em 2008 o ex-subsecretário de relações internacionais do governo Clinton, David Rothkopf, já tinha escrito um livro chamado Superclasse – a elite que influencia a vida de milhões de pessoas pelo mundo, onde chamava a atenção dos perigos do crescimento dessa pequena elite global que paira acima dos governos nacionais – e que portanto, está fora do seu controle. 

Rothkopf estima que hoje existam cerca de 6 ou 7 mil pessoas ao redor do mundo (literalmente, uma em um milhão) com um poder de influenciar e decidir sobre a vida de milhões de pessoas. É uma elite global bastante diversificada, que conta com pessoas que vão desde megaempresários como Donald Trump, passando pelos líderes religiosos como o papa, artistas como Bono Vox até chegar em ex-presidentes que mantiveram a sua influência mundial, como o próprio Bill Clinton. Mas as que mais decidem na economia são os CEOs das maiores empresas do mundo, representantes dos banqueiros e figuras ilustres que representam o capitalismo mundial – somente o grupo de pessoas dessa reunião de Londres controla US$ 30 trilhões (R$ 67 trilhões) em ativos globais, ou cerca de 14 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. 

É fácil de entender que as pessoas que tentam melhorar as desigualdades provocadas pelo capitalismo e suas facetas políticas – democracia burguesa, globalização – são parte do problema, e não da solução. O capitalismo não sobreviverá com uma maquiagem social enquanto produzir o tipo de civilização dividida entre os ricos que dominam as riquezas mundiais e os despossuídos que vivem num mundo de injustiças e misérias. O primeiro passo para o resgate da soberania é a retomada das decisões globais no âmbito dos governos nacionais eleitos pelo voto dos seus eleitores. Ou cada vez mais, as eleições serão mesmo tomadas como uma grande farsa da democracia, tendo em vista que grande parte das decisões são tomadas em gabinetes fechados regadas a charutos e uísque. 


partidos brasileiros não são todos iguais

Não é fácil identificar, através do discurso dos políticos, as diferenças da linha ideológica que os partidos defendem. Muito menos se formos nos guiar pela nomenclatura dos partidos: partidos “progressistas” com atuação conservadora, partidos dos “trabalhadores” que atuam magistralmente a favor do patronato e do capital, e assim por diante. Por isso não é de admirar que muitas pessoas, levadas pelo senso comum, acreditem que os partidos brasileiros sejam todos iguais, o que não é e nunca foi verdade. 

Se alguém precisava de uma prova científica para mudar essa ideia, ela nos foi proporcionada pelo PoliGNU (Grupo de estudos de software livre da Escola Politécnica da USP) que realizou uma pesquisa na qual se faz uma comparação numérica sobre a atuação dos distintos partidos da Câmara de Deputados. (Veja detalhes do estudo AQUI). 

Tomando por base 92 votações na Câmara sobre os mais distintos assuntos, eles compararam como se posiciona em cada tema os diferentes partidos. O resultado pode ser visto no gráfico abaixo:
 
Tabela dos deputados
 
A partir do centro da imagem, que representa o centro do espectro político-ideológico, temos dois eixos e quatro direções básicas: direita, esquerda, situação e oposição. O eixo horizontal diz respeito ao apoio ao governo (situação ou oposição) e o eixo vertical corresponde à ideologia política (direita ou esquerda) Quanto mais afastado do centro, mais definido e coerente o partido se apresentou nas votações. 

Pelo gráfico, podemos tirar algumas sentenças: apesar de se dizerem progressistas, os representantes do PT e seus aliados votaram com uma agenda conservadora (que os posiciona na parte de baixo da linha horizontal, ou seja, no espetro político da direita; O PCdoB, quem diria, se posiciona mais à direita do que tradicionais partidos conservadores, como PR, PRB ou PTB; O PSOL é o partido mais à esquerda do espectro político nacional, e radicalmente diferente da maioria; O gráfico também ilustra e derruba uma das maiores falácias da militância petista: apesar de ambos se posicionarem na oposição, o gráfico mostra que PSOL e PSDB votam completamente diferentes no Congresso – ou seja, não existe a menor afinidade política entre esses dois partidos, sendo que a única coisa que têm em comum é a oposição ao governo (fato devidamente explorado pelos petistas). Por outro lado, são os próprios deputados petistas que votam com a direita, como ficou demonstrado. 

A conclusão mais importante que podemos tirar desse estudo é que existem sim linhas ideológicas bem definidas por trás das aparências. E que os partidos mantém uma coerência que pode ser verificada em suas votações na Câmara. Portanto, mais do que nunca, fica evidenciado de que os partidos brasileiros não são todos iguais. Cabe aos eleitores buscarem saber através de informações como votam (e para quem votam) os deputados, e este estudo é uma ótima ferramenta para se começar a desmistificar os sensos comuns da política nacional.