Não adianta maquiar o capitalismo global
É interessante notar que cada vez 
mais os governantes dos países, eleitos para representar os interesses dos seus 
povos, estejam alijados das discussões econômicas internacionais, efeito da 
globalização internacional que desprestigia os Estados nacionais. Na mencionada 
reunião, por exemplo, tivemos o príncipe 
Charles servindo como cicerone para figuras como o ex-presidente dos 
Estados Unidos, Bill Clinton; Lynn Forester, CEO do conglomerado Rothschild; Madsen Pirie, fundador e presidente do 
Instituto Adam Smith, que defende o livre mercado, entre outras figuras da mesma 
estirpe. Nenhum representante do trabalho, nenhum presidente eleito pelo povo – 
apenas uma pequena elite global definindo os 
rumos de trilhões de dólares e bilhões de pessoas. 
Em 2008 o ex-subsecretário de 
relações internacionais do governo Clinton, David 
Rothkopf, já tinha escrito um livro chamado Superclasse – a elite que influencia a vida de milhões 
de pessoas pelo mundo, onde chamava a atenção dos perigos do crescimento 
dessa pequena elite global que paira acima dos governos nacionais – e que 
portanto, está fora do seu controle. 
Rothkopf estima que hoje existam 
cerca de 6 ou 7 mil pessoas ao redor do mundo (literalmente, uma em um milhão) com um poder de influenciar 
e decidir sobre a vida de milhões de pessoas. É uma elite global bastante 
diversificada, que conta com pessoas que vão desde megaempresários como Donald 
Trump, passando pelos líderes religiosos como o papa, artistas como Bono Vox até 
chegar em ex-presidentes que mantiveram a sua influência mundial, como o próprio 
Bill Clinton. Mas as que mais decidem na economia são os CEOs das maiores 
empresas do mundo, representantes dos banqueiros e figuras ilustres que 
representam o capitalismo mundial – somente o grupo de pessoas dessa reunião de 
Londres controla US$ 30 trilhões (R$ 67 
trilhões) em ativos globais, ou cerca de 14 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) 
do Brasil. 
É fácil de entender que as pessoas 
que tentam melhorar as desigualdades provocadas pelo capitalismo e suas facetas 
políticas – democracia burguesa, globalização – são parte do problema, e não da 
solução. O capitalismo não sobreviverá com uma maquiagem social enquanto 
produzir o tipo de civilização dividida entre os ricos que dominam as riquezas 
mundiais e os despossuídos que vivem num mundo de injustiças e misérias. O 
primeiro passo para o resgate da soberania é a retomada das decisões globais no 
âmbito dos governos nacionais eleitos pelo voto dos seus eleitores. Ou cada vez 
mais, as eleições serão mesmo tomadas como uma grande farsa da democracia, tendo 
em vista que grande parte das decisões são tomadas em gabinetes fechados regadas 
a charutos e uísque.