Não adianta maquiar o capitalismo global
Do ponto de vista da justiça
social e da distribuição de riquezas, o capitalismo é um retumbante fracasso – e
isso quem afirma cada vez mais são os próprios defensores do sistema e não os
seus críticos contumazes. Tanto isso é verdade, que nesta última semana, grandes
figuras da elite mundial se reuniram em Londres para debater uma
forma de tornar o mercado livre menos destrutivo, depois dos comentários feitos
pelo economista francês Thomas Piketty de que
o capitalismo vem concentrando renda, em vez
de distribui-la.
É interessante notar que cada vez
mais os governantes dos países, eleitos para representar os interesses dos seus
povos, estejam alijados das discussões econômicas internacionais, efeito da
globalização internacional que desprestigia os Estados nacionais. Na mencionada
reunião, por exemplo, tivemos o príncipe
Charles servindo como cicerone para figuras como o ex-presidente dos
Estados Unidos, Bill Clinton; Lynn Forester, CEO do conglomerado Rothschild; Madsen Pirie, fundador e presidente do
Instituto Adam Smith, que defende o livre mercado, entre outras figuras da mesma
estirpe. Nenhum representante do trabalho, nenhum presidente eleito pelo povo –
apenas uma pequena elite global definindo os
rumos de trilhões de dólares e bilhões de pessoas.
Em 2008 o ex-subsecretário de
relações internacionais do governo Clinton, David
Rothkopf, já tinha escrito um livro chamado Superclasse – a elite que influencia a vida de milhões
de pessoas pelo mundo, onde chamava a atenção dos perigos do crescimento
dessa pequena elite global que paira acima dos governos nacionais – e que
portanto, está fora do seu controle.
Rothkopf estima que hoje existam
cerca de 6 ou 7 mil pessoas ao redor do mundo (literalmente, uma em um milhão) com um poder de influenciar
e decidir sobre a vida de milhões de pessoas. É uma elite global bastante
diversificada, que conta com pessoas que vão desde megaempresários como Donald
Trump, passando pelos líderes religiosos como o papa, artistas como Bono Vox até
chegar em ex-presidentes que mantiveram a sua influência mundial, como o próprio
Bill Clinton. Mas as que mais decidem na economia são os CEOs das maiores
empresas do mundo, representantes dos banqueiros e figuras ilustres que
representam o capitalismo mundial – somente o grupo de pessoas dessa reunião de
Londres controla US$ 30 trilhões (R$ 67
trilhões) em ativos globais, ou cerca de 14 vezes o Produto Interno Bruto (PIB)
do Brasil.
É fácil de entender que as pessoas
que tentam melhorar as desigualdades provocadas pelo capitalismo e suas facetas
políticas – democracia burguesa, globalização – são parte do problema, e não da
solução. O capitalismo não sobreviverá com uma maquiagem social enquanto
produzir o tipo de civilização dividida entre os ricos que dominam as riquezas
mundiais e os despossuídos que vivem num mundo de injustiças e misérias. O
primeiro passo para o resgate da soberania é a retomada das decisões globais no
âmbito dos governos nacionais eleitos pelo voto dos seus eleitores. Ou cada vez
mais, as eleições serão mesmo tomadas como uma grande farsa da democracia, tendo
em vista que grande parte das decisões são tomadas em gabinetes fechados regadas
a charutos e uísque.