domingo, 1 de março de 2015

A QUE(M) SERVE O SISTEMA POLÍTICO BRASILEIRO?


POR FRANCISCO FONSECA - Le Monde Diplomatique 

A arquitetura do sistema político brasileiro implica a proteção dos proprietários em detrimento da maior parte dos cidadãos. Afinal, tanto para se eleger como para governar os partidos políticos que chegam ao poder necessitam, inescapavelmente, negociar compromissos assumidos durante as eleições e o próprio “programa. 

O mal-estar da sociedade brasileira, mesmo com os grandes avanços que vêm se processando desde a última década e meia (e mesmo desde a Constituição de 1988), aponta primordialmente para o sistema político. Direta ou indiretamente, em particular as manifestações de junho de 2013 escancararam, com base nos graves problemas do cotidiano dos brasileiros, as feridas de um sistema claramente incapaz não apenas de resolvê-los, mas, sobretudo, de dar vez (e, em certo sentido, voz) aos reclamantes, notadamente os pobres.

Entende-se por sistema político o conjunto de normas e instituições que regulam os conflitos por meio de canais de expressão e resolução. É constituído por – na falta de melhor denominação – “subsistemas”: partidário, eleitoral, os poderes constituídos e suas diversas instituições, o regime federativo, e mesmo a mídia (que atua como poder paraestatal). Trata-se, portanto, de institucionalidade formal que, contudo, como veremos, convive e se articula com mecanismos informais de naturezas diversas. 

A lógica do sistema político brasileiro 

A atual moldura do sistema político brasileiro foi criada durante o último período militar (governo Figueiredo), e suas características se mantêm, com algumas poucas transformações, até os dias de hoje. Vejamos as principais características, sem a pretensão de esgotá-las:

• Financiamento privado das campanhas e partidos. Embora formalmente o financiamento seja misto (público, via fundo partidário e privado, por meio de doações, notadamente de empresas), na prática é largamente privado, tendo em vista o chamado caixa dois. Mas deve-se ressaltar que mesmo o financiamento privado legal, em que há leis e controles, é, por princípio, ilegítimo, em razão da assimetria econômica que impõe aos partidos. Em qualquer sentido, a vida pública tornou-se essencialmente organizada pelo poder privado do capital e, além disso, a própria dinâmica do poder implica relações ocultas – que permanecem mesmo com os avanços nos processos de transparência –, por meio da ampla rede de fornecedores privados.

• Multipartidarismo extremamente flexível, pouco representativo e estimulador do “mercado da política”. Embora a existência potencial de diversos partidos seja fundamental à democracia, uma vez que pode permitir a expressão de interesses e visões de mundo distintos, o multipartidarismo criado pelo general Golbery objetivava justamente a pulverização das forças políticas de oposição de tal modo que não tivessem poder suficiente para derrotar o statu quo civil-militar. Consolidada a retirada dos militares da cena política, o multipartidarismo teve outros objetivos, para além da pluralidade político-ideológica expressa nos diversos partidos, tais como: a) a formação de alianças eleitorais, em larga medida não programáticas, tendo em vista a soma do tempo de rádio e TV referente à propaganda eleitoral; b) a coalizão – inclusive com vários dos partidos derrotadosnas eleições – para a composição de maiorias após a vitória eleitoral, igualmente não programáticas, com vistas a constituir uma “base governista” ampla capaz de aprovar medidas de governo; e c) o chamado “balcão de negócios”, em que barganhas dos referidos tempos no rádio e na TV e na formação de alianças, assim como todo tipo de “varejo” parlamentar perante o Executivo, tornaram-se o modus operandi da vida política.

• Não consolidação dos partidos políticos como agentes de representação social popular, uma vez que a lógica sistêmica da vida política implica tanto a “privatização da política” como a ocupação dos espaços institucionais pelos partidos da “ordem”, cujos interesses fulcrais são a defesa do capital e das classes médias e superiores. Esse processo é, contudo, enevoado pelo discurso da “eficiência”, da “eficácia”, do “empreendedorismo” e quejandos. A infidelidade partidária (apenas recentemente minorada por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, mas driblada pela nova onda de criação de partidos) apenas confirma esse postulado.

• Acesso ao rádio e à TV a todos os partidos com representação federal independentemente de sua representatividade social. Dessa forma, os chamados “partidos de aluguel” – jargão político trágico da vida institucional –, cuja representação parlamentar é minúscula, obtêm todas as (diversas) benesses do sistema político, reforçando a pulverização e a privatização da vida política.

• Não transparência quanto ao uso dos recursos eleitorais (apenas as doações legais são efetivamente fiscalizadas pela ação da Justiça Eleitoral), uma vez que a prática do caixa dois é complexa e em larga medida vigente no cotidiano da vida político-administrativa: daí a espessa névoa que encobre inúmeros processos licitatórios no contexto da relação entre poder público e setores do capital. Em outras palavras, o financiamento privado ilegal não ocorre apenas em períodos eleitorais, pois tende, sobretudo após a “emenda da reeleição” – verdadeiro golpe branco desferido contra a democracia pelo governo FHC –, a fazer parte do cotidiano de quem assume o poder, excetuados os que lutam contra a roldana do sistema.

• Baixo controle social, em termos institucionais, dos cidadãos perante os representantes eleitos, cujo mandato se torna “propriedade” destes, o que faz da representação política arena de negociação distante e muitas vezes em oposição aos interesses populares. Portanto, quanto mais distante do cidadão comum, mais privatizado e elitista se torna o sistema político.

• Destituição dos poderes do Parlamento quanto à proposição da “agenda” política e de políticas públicas transformadoras, em contraste ao potencial lócus de representação plural e particularmente popular. A chamada “crise do Parlamento” é, dessa forma, estratégica ao jogo das elites, uma vez que o rebaixamento do Legislativo implica hipertrofia do Executivo, em que a tomada de decisão é infinitamente mais rápida e informal.

• Sistema eleitoral voltado tanto à desvalorização dos partidos – enquanto instituição, com a consequente personificação de indivíduos – quanto à pulverização e fragmentação da representação partidária. Ressalte-se que a personificação tem potencial desmobilizador da ação coletiva.

• Sistema midiático oligopolizado e oligárquico, notadamente a rede concessionária de TVs e rádios, articulada a jornais, revistas e portais, cujos órgãos atuam como verdadeiro “Partido da Imprensa Golpista”, conforme expressão notabilizada por Paulo Henrique Amorim. A mídia é um ator político paraestatalcom grande poder de influenciar tanto a percepção social da vida política como a formação de consciências. É claramente partícipe do jogo político, embora estrategicamente seu discurso oculte tal atuação. Deve-se, dessa forma, considerá-la como parte do sistema político, o que implica necessariamente sua reforma, à luz, por exemplo, do que ocorreu na Argentina por meio da Ley de Medios.

Apesar de claramente disfuncionais à representação dos interesses populares, essas características são justificadas pelo debate político e pela ciência política dominante como garantidoras da chamada “governabilidade”, isto é, das condições de obtenção de maioria para governar, nos respectivos parlamentos, com vistas à consecução dos objetivos da coalizão de governo. 

Sistema político vs. interesses populares 

Essa forma de organização do sistema político claramente não contempla grande parte dos interesses populares – voltados à resolução dos ainda graves problemas do cotidiano, relacionados tanto ao emprego e à renda como ao acesso a bens e equipamentos públicos e privados –, que passam em larga medida pela reversão de prioridades em termos de agenda e de orçamento. Aliás, o travamento decisório de inúmeros temas que afetam os brasileiros, em especial os pobres, fundamentalmente garante o statu quo. Entre esses temas estão, além de inúmeros outros exemplos, a reforma tributária, uma vez que os impostos, ao serem indiretos, tributam pesadamente os pobres; a dívida interna, nas mãos de cerca de 20 mil famílias e dos bancos; o papel dos bancos e do capital especulativo, altamente lucrativos e sem responsabilidades sociais; o papel e financiamento do agronegócio, que sorve parte significativa dos recursos orçamentários da agricultura, em detrimento da produção agrícola familiar; o papel do BNDES como agente de financiamento a grandes empresas, sem controle social; o oligopólio da mídia e a não regulamentação da Constituição quanto ao papel dos meios de comunicação.

Aos movimentos sociais, essa dinâmica não tem passado despercebida, como se pode observar no manifesto do Grito dos Excluídos, publicado no dia 7 de setembro: “A estrutura do Estado brasileiro historicamente tem servido aos interesses das elites e para a manutenção de seu poder sobre os/as trabalhadores/as, os/as excluídos/as, sobre o povo brasileiro. Poucos são os espaços nos quais o povo tem realmente sua voz escutada e poucas são as oportunidades de interferir nos rumos da política em geral, especialmente na construção de políticas públicas voltadas para a maioria da população. Nos últimos anos temos presenciado essa estrutura de poder oprimindo as populações quilombolas, indígenas, ribeirinhas pelo desrespeito a sua cultura e seus territórios. Nas regiões rurais, indígenas e sem-terra têm seus direitos violados em favor dos empresários do agronegócio. Nos estados e municípios, principalmente nas regiões periféricas, as polícias militares matam jovens, principalmente os negros homens entre 15 e 29 anos. As forças de repressão perseguem lutadoras e lutadores, organizados ou não, que protestam por um país mais justo e igualitário. A estrutura do Judiciário opera com dois pesos e duas medidas, atuando em favor dos poderosos e contra o povo. As eleições para os cargos legislativos e executivos são um grande balcão de negócios e impedem, através das regras de organização eleitorais, que mulheres, negros/as, sem terra, trabalhadores/as, indígenas, quilombolas e outros setores populares da sociedade acessem os espaços de exercício do poder. O sistema político impede avanços sociais de interesse do povo”.

Como se observa, o sistema político é apercebido pelos movimentos populares – o excerto citado é apenas uma amostra, representativa, do pensamento de outros tantos movimentos – como distante e elitista, portanto, não representativo da pluralidade dos interesses sociais e sobretudo da maior parte dos cidadãos.

Mesmo movimentos mais propriamente institucionalizados, como a Coalizão pela Reforma Política Democrática e Eleições Limpas, assume posição bastante similar, pois: “[O] Congresso impede que tais reformas [democrático-populares] sejam aprovadas. Isso porque parte dele representa os interesses de uma pequena parcela da sociedade que financia as campanhas eleitorais, ou seja, de algumas poucas empresas. Assim, as necessidades da maioria da população nunca são atendidas de verdade. É isso que causa grande parte da corrupção política gerando inclusive a atual crise de representatividade no país. Só com uma reforma política democrática será possível superar tais problemas que degradam a democracia brasileira”.

Como se vê, reitera-se aquilo que, em perspectiva internacional, foi apontado pelo movimento Occupy Wall Street como “We are 99%”, isto é, a percepção popular de que o sistema político não apenas não representa a maioria esmagadora das pessoas comuns, como também, sobretudo, é apropriado privativamente pela minúscula parcela do capital: uma verdadeira plutocracia encoberta pela “democracia formal”. 

Sistema político voltado à proteção das elites 

Essa arquitetura do sistema político brasileiro implica essencialmente a proteção dos proprietários (de diversas frações do capital) em detrimento da maior parte dos cidadãos. Afinal, tanto para se eleger (reitere-se o papel do financiamento privado e das coligações para obtenção de tempo no rádio e na TV) como para governar (“dívida” para com os financiadores e necessidade de maioria parlamentar para ter “governabilidade”), os partidos políticos que chegam ao poder necessitam, inescapavelmente, negociar compromissos assumidos durante as eleições e o próprio “programa” de governo.

Decorre daí a formulação de políticas públicas tímidas, uma vez que não podem atentar contra grandes interesses constituídos, e contraditórias, pois necessitam contemplar as coalizões – de partidos “da ordem” com os que só existem por “jogar o jogo” institucional. Tudo isso impede a efetivação de reformas “radicais”.

Dessa forma, as chamadas “reformas progressistas”, colocadas em prática pelos governos Lula e Dilma na área social, só podem ocorrer de forma incremental, tímida e sem assustar as elites. É por isso que muitos dos grandes gargalos estruturais não são destravados, tais como: sistema judiciário-prisional apenas voltado aos pobres; reforma agrária e política agrícola tímidas; poder desmesurado dos bancos e do capital financeiro; desmontagem progressiva da CLT; ainda pequena proporção do PIB nos gastos sociais; intocabilidade da taxação às grandes fortunas; poder desmesurado do agronegócio; intocabilidade da mídia; entre inúmeros outros.

Pode-se dizer, portanto, que o sistema político brasileiro rigorosamente constrange os partidos políticos que lutam pela diminuição “radical” da desigualdade social. As políticas públicas, isto é, o conteúdo da democracia, são, dessa forma, moldadas de acordo com essa estrutura inabalada do sistema político, o que implica atraso quanto ao desenvolvimento social (mensurado por indicadores como o Índice de Gini, o IDH e tantos outros), proteção às elites econômicas e distanciamento entre sistema político e os que mais precisam dele! 

A reforma do sistema político 

Reformar o sistema político, embora não seja panaceia, é, portanto, tarefa urgente para relegitimar a democracia brasileira, aproximando-a do cidadão comum e dando-lhe instrumentos para, naquilo que cabe à ação política institucional, poder haver a presença dos interesses populares. Como se observa pela experiência, os movimentos sociais são particularmente responsáveis por essa tarefa, uma vez que a lógica do sistema político tende a engolir os partidos institucionais num círculo vicioso assim constituído: sistema partidário/eleitoral privatizante; lógica institucional que veta grandes transformações; democracia formal e plutocrática.

Os perigos desse sistema, cuja disfuncionalidade é igualmente sistêmica, apresentam-se tanto nas ruas (ressurgimento da extrema direita, por exemplo) como em aventuras eleitorais, que, aliás, vimos no passado e são potencialmente presentes (caso do discurso despolitizante de Marina Silva).

Tribuna da Imprensa

sábado, 28 de fevereiro de 2015

coisas que destruiriam os humanos

3 coisas que destruiriam os humanos, de acordo com Stephen Hawking

Link to HypeScience

Posted: 28 Feb 2015 02:00 AM PST

Hawking pode ser famoso por seu trabalho em física, mas tem ficado conhecido também por suas opiniões polêmicas sobre o que poderia dar um fim à civilização Continua...
Posted: 27 Feb 2015 02:47 PM PST

Desde ontem, a internet está em pé de guerra para descobrir qual a cor deste vestido. Por que nós enxergamos de forma diferente? Continua...
Posted: 27 Feb 2015 10:43 AM PST

Este ator possui um lugar privilegiado na cultura popul Continua...
Posted: 27 Feb 2015 03:57 AM PST

Pois é, nós temos mais de uma. E ela pode explicar alguns dos segredos do nosso Sistema Solar Continua...

Livros Proibidos da Bíblia

Livros Proibidos da Bíblia: Enoque


O ano era 325 d. C. e a cidade era Nicéia de Bitínia onde, liderados por Constantino, os cristãos realizavam uma reunião para acertar os detalhes da "oficialização" do cristianismo. Conhecido como o "Concílio de Nicéia" essa reunião definiu datas, organizou festas, discutiu legalidades e, entre outras coisas, definiu o cânone bíblico, ou quais livros entrariam naquilo que hoje chamamos de Bíblia. Alguns dizem que foi mais por questões políticas do que teológicas ou doutrinárias mas, os livros "divinamente inspirados" entraram para o cânone e os "apócrifos", sem inspiração divina ou, ainda pior, redigidos pelo demônio em pessoa, foram descartados, alguns destruídos e outros trancados nos porões do Vaticano por séculos.
Neste conglomerado estavam algumas histórias capazes de provocar calafrios no cristão mais fervoroso, evangelhos diversos, segundo Pedro, Maria Madalena, Thiago e o medonho evangelho segundo Tomé, além de livros que contiam " informação demais" para os fiéis, foram deixados no "calabouço" para não deixarem margem de dúvida sobre a fé que se organizava.
Um desses livros com informações "sobrando" é o de Enoque.
Mas quem é Enoque?
Enoque segundo a bíblia é bisavô de Noé, esse mesmo que o leitor deve estar pensando, o do dilúvio. Enoque era pai de Matusalém, avô de Lameque( filho de Matusalém) e bisavô de Noé ( filho de Lameque); a bíblia não dá detalhes sobre Enoque, só diz que ele andou com Deus e não foi mais visto, por que Deus o arrebatou aos céus.
Cristãos etíopes aceitam e mantêm o livro de Enoque em sua bíblia, e os manuscritos encontrados na cidade Qumram, na gruta 7, corroboram e completam aqueles dos etíopes. No entanto para o Vaticano os livros e manuscritos não possuíam valor "divino", com certeza uma desculpa para as histórias embaraçosas encontradas nos relatos do bisavô do messias diluviano.
A começar pela contradição da história mais importante, depois da crucificação, para o cristianismo moderno: a invenção de Lúcifer.
Antes do século XIII a figura do diabo não existia( basta o amigo leitor procurar o post: Histórias estranhas da bíblia: o diabo) e foi criado para assustar os cristãos medievais, cheios de dinheiro é bom lembrar.
Mas antes do século XIII o problema não era o diabo em si, mas a cabeluda história dos "filhos de Deus" fazendo sexo com mulheres. Isso amigo leitor, os filhos de Deus, entenda-se ANJOS, transando com as mulheres e gerando filhos com elas? No mínimo embaraçoso.
Gênesis cap 5
Além disso Enoque não fala de um anjo luminoso que era praticamente um "vice Deus", segundo uma hierarquia celeste, que foi tomado pela inveja e foi expulso por Deus do céu (?).  Em lugar disso Enoque relata a história de Azazyel e Samyaza. Dois "capitães" do "exército" divino(?) que ao verem as mulheres descem e as tomam como esposas, trazendo consigo seus respectivos batalhões.
Agora faço ao leitor algumas perguntas:
Anjos fazendo sexo?
Exército, batalhão, capitães?
Dois insurgentes e não um?
Creio que ia ser mesmo muito trabalho explicar tudo isso, foi mais fácil inventar o diabo e banir o livro de Enoque.
O relato diz ainda que Deus não permitiu o retorno de seus capitães e seus comandados ao céu e condenou-os a ficarem aqui na terra, que seus filhos semi-anjos destruíam cidades inteiras apenas com os braços, que devoravam plantações em poucas horas, que eram bestas perigosas e que teria sido este o motivo do dilúvio. Que contradiz o Genesis mosaico onde o motivo da destruição aquática é a maldade dos homens. Note também, amigo leitor, que o velho machismo está presente aqui, as mulheres eram a culpa da descida dos anjos e seus filhos eram a razão do dilúvio, típico da mentalidade da época.
De fato outra parte do livro de Enoque que contradiz o Gênesis de Moisés é sobre quem trouxe conhecimentos aos homens. 
Moisés diz que foram os descendentes de Caim: Jabal, Jubal e Tubal-Caim que desenvolveram a arte, a guera, a cultura, a criação de gado, etc;  utilizando-se da alegoria de que o pecado de Adão separou o homem de Deus e, consequentemente, este teria que aprender coisas para sobreviver mas, que cada novo aprendizado afastaria ainda mais a criatura do criador.
Já Enoque diz quem foram os anjos e onde eles lhe deram estes conhecimentos que deveriam ser anotados, metodicamente, em seu livro e, posteriormente ensinados aos homens. Não como um fruto do pecado, mas como um presente para melhorar a vida humana, habilidades necessárias a sua sobrevivência.
Com toda certeza não seria do agrado da recém formada cristandade utilizar-se de livros contraditórios entre si para doutrinar sua igreja emergente.
Assim como vários outros autores Enoque foi condenado ao esquecimento por vários séculos, proibido e visto como um perigo aos desígnios da fé que surgia.
Hoje não é incomum ver cristãos falando da inutilidade dos textos apócrifos, que assim foram taxados por pessoas com medo de seu poder, e de o quanto eles são heréticos.
Esses cristãos não se atém ao fato de que foi sua própria igreja, em um ato puramente político, que definiu o que era ou não "santo" para fazer parte da "palavra de Deus"; fazendo escolhas apoiadas em quem era mais influente ou não na ocasião do concílio. 
Ora... parece muito mais politicagem do que " divinismo". Os fiéis aceitam, defendem e até travam batalhas na afirmação de que a bíblia é, invariavelmente, a palavra viva que saiu dos lábios de Deus. Mas se procurarem na história do cristianismo vão perceber que Deus, no caso de sua (im)provável existência, deve ter acompanhado, nauseado, as escolhas e coisas feitas em seu nome.
No fim todos esses livros são histórias fantasiosas, delírios pessoais ou coletivos, provas (fictícias) do poder, justiça e vontade divina. Em um oceano, ainda indecifrável, chamado cérebro humano, capaz de feitos extraordinários que não podemos compreender. Que atravessaram mais de seis milênios influenciando a vida e morte de bilhões de pessoas e, mesmo hoje, com nossa tecnologia e conhecimento, segue no imaginário coletivo, com uma força tão poderosa que ainda sobrepuja as emoções humanas e, mesmo sem provas de sua existência, está presente em seus sentimentos, governando seu dia a dia, trazendo conforto a suas vidas e mantendo a ordem do ciclo de predação e destruição instituído por ninguém menos que nós mesmos.

Os Evangelhos

Histórias Estranhas da Bíblia: Os Evangelhos




Eles são a porta de entrada ao cristianismo, o carro cheve da fé de milhões de pessoas, a prova, ao menos para os crentes, da vida e história de Jesus. Eles são os "evangelhos".
Nos primeiros séculos existiam muitos evangelhos, escritos por muitos autores. Tamanho era o crescimento do cristianismo que muitos dos "convertidos" ricos queriam escrever sobre as maravilhas realizadas pelo homem de Nazaré, que dentre outras coisas ressuscitou dos mortos.
No entanto muito tempo depois, quando o cristianismo foi adotado como religião oficial do império romano e, sendo assim, retirado da clandestinidade, houve uma reunião, um concílio para "decidir" o que era inspirado por Deus ou não.
Este evento ficou conhecido como "O concílio de Trento" que foi realizado em 1545 na cidade italiana de Trento.
Alguns concilios haviam sido realizados antes, como o de Laodicéia em 365 d. C. , ou o concílio de Cartago em 397 d. C. ; mas foi no concílio de Trento que a bíblia como a conhecemos hoje surgiu.
No caso dos evangelhos ficou "decidido" que os livros de Mateus, Marcos, Lucas e João possuíam inspiração divina, enquanto outros como o de Maria Madalena, Pedro, Tomé foram relegados ao esquecimento e considerados apócrifos.
Os evangelhos contam "teoricamente" a mesma história, a trajetória de Jesus, mas possuem disparidades entre si, o que é normal considerando que foram escritos por pessoas diferentes em locais diferentes, tendo sido contada de maneiras diferentes e como se sabe "quem conta um conto, aumenta um ponto."
Antes que o amigo leitor fique perdido, alguns evangelhos NÃO foram escritos pelos apóstolos que, teoricamente, andaram com Jesus. Ao que consta nem mesmo os nomes dos autores estão corretos.
Não precisamos analisar todas as contradições presentes nos evangelhos, vamos nos ater a contradição mais evidente:
A ressurreição de Jesus.
Que é contada de quatro maneiras diferentes, baseando-se no fato de ser a mesma história espera-se que existam algumas diferenças, mas fatos inteiramente diferentes, mudam o contexto.
Vamos ver evangelho por evangelho como isso se dá.


              João escrito entre 95 e 100 d. C.

Em João encontramos:
"E no primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro.
Correu pois e foi a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes:
Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde puseram.
Então Pedro saiu com o outro discípulo, e foram ao sepulcro.....
.... E, baixando-se, viu no chão os lençóis; toda via não ENTROU.
Chegou pois Simão Pedro, que o seguia, entrou no sepulcro, e viu os lençóis no chão.
.... E Maria estava fora chorando, junto ao sepulcro. Estando ela pois chorando, abaixou-se,
E viu dois anjos vestidos de branco assentados onde jazera o corpo de Jesus, um a cabeceira outro aos pés.
E disseram a mulher: Por que choras?
Ela lhes disse: Porque levaram meu senhor, e não sei onde puseram.
E tendo dito isso virou-se para trás, e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus.
Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela cuidando que era o jardineiro, disse-lhe: Senhor tu o levaste, dize-me onde o puseste e eu o levarei.
E disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Mestre!
Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e diga-lhes que já subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira ao Senhor, e que lhe dissera isto."
João cap. 20 vers. 1 - 18


             Lucas escrito entre 58 e 60 d. C.
Já Lucas diz:
"E, no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado.
E acharam a pedra revolvida do sepulcro.
E, entrando, não acharam o corpo do senhor Jesus.
E aconteceu que estando elas perplexas a esse respeito, eis que pararam perto delas dois varões, com vestidos resplandecentes.
E, estando elas muito atemorizadas, abaixaram o rosto para o chão, eles lhes disseram: Porque buscais o vivente entre os mortos?
Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como vos falou, estando ainda na Galiléia,
Dizendo que convém ao filho do homem seja entregue nas mãos dos homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite.
E lembraram-se das suas palavras.
E voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais.
E eram Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago, e as outras que com elas estavam, as que diziam estas coisas aos apóstolos.
E suas palavras lhes pareciam como desvario, e não as creram.
Pedro, porém, retirou-se ao sepulcro, e abaixando-se, viu só os lençóis ali postos; e retirou-se admirado do caso."
Lucas cap. 24 vers. 1 - 12
             Marcos escrito entre 50 e 60 d. C.
No livro de Marcos lê-se:
"E, passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo.
E, no primeiro dis da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol;
E diziam umas as outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?
E, olhando, viram que já s pedra estava revolvida; e ela era muito grande.
E, entrando no sepulcro, viram um mancebo assentado à direita, vestido de uma roupa comprida, branca; e ficaram espantadas.
Porém ele disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram.
Mas ide, dizei aos discípulos, e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse.
E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém, porque temiam."
Marcos cap. 16 vers. 1 - 8
               Mateus escrito entre 50 e 70 d. C.
E finalmente em Mateus vemos:
"E, no fim do sábado, quando despontava já o primeiro dia da semana, Maria Madalena e outra Maria foram ver o sepulcro;
E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra, e sentou-se sobre ela.
E o seu aspecto era como um relâmpago, e seu vestido branco como neve.
E os guardas, com medo, ficaram como mortos.
Mas o anjo, respondendo,disse as mulheres:
Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado.
Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde e vede o lugar onde jazia.
Ide pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dos mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a Galiléia; alo o vereis. Eis que ei vô-lo tenho dito.
E saindo elas apressadamente do sepulcro, com temor e grande alegria, correram a amunciá-lo aos seus discípulos.
E, indo elas, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo! E elas, chegando, abraçaram seus pés e o adoraram.
Então Jesus lhes disse: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão a Galiléia, e lá me verão."
Mateus cap. 28 vers. 1 - 10
Bem...
Se o leitor considerar que os livros não foram escritos imediatamente a crucificação de Jesus, perceberá que é perfeitamente aceitável que ocorram estas disparidades; some-se a isso a questão cultural de cada escritor, ou pessoa que ditou o texto a seu escriba, uma vez que muitos, quase todos, deles não sabiam escrever. Temos ainda o público alvo que o autor queria atingir e a realidade na qual estas pessoas viviam. E finalmente, a quantidade de vezes que o autor ouviu a história que resolveu relatar, mudando cada vez que um interlocutor diferente falava do assunto.
E não podemos esquecer que séculos de copistas, diferenças primordiais de linguagem, dificuldade em se traduzir o aramaico com perfeição atribuem um caráter mais confuso aos textos.
E isso é apenas uma parte dos evangelhos, existem outras disparidades entre o mesmo fato, descrito de formas transformadas conforme o texto, o contexto e a necessidade da época.
E, mesmo de posse dessas informações, deixamos que essa cultura de milênios passados interfira na nossa maneira de enxergar o mundo e vivê-lo.
Ideias e ideais de vida que nada têm haver com nosso contexto atual, mas que insistimos em tomar como verdade absoluta, graças a anos de martelagem das instituições religiosas.

Micro-ensaio sobre a condição humana

sentimentos e emoções: uma abordagem antropológica

Micro-ensaio sobre a condição humana



Parte I - A confusão entre sentimento e emoção
Iniciemos com uma comparação simples: medo e insegurança. Há diferença entre uma coisa e outra? 

A Biologia sabe que o medo é uma emoção básica (instintiva, pode-se dizer). Todos precisam dele a partir do momento em que nascem... em um primeiro momento para sobreviver e em seguida, também para não causar danos graves a outras pessoas. Neste sentido, uma pessoa 'destemida' (que nunca sente medo), é alguém perigosíssimo, para si mesmo e para a sociedade. Não sentir medo, por assim dizer, pode ser um sintoma de uma séria patologia (cuja origem pode ser congênita ou adquirida, física ou psíquica).
O mesmo pode-se dizer da ausência ou excesso de qualquer outra emoção: alegria, tristeza, raiva, surpresa... Além disso, pode-se afirmar também que toda emoção apresenta um conjunto mais ou menos definido de sintomas mensuráveis biologicamente (no plano fisiológico): níveis de concentração de hormônios variados (insulina, endorfina, serotonina, adrenalina, dopamina etc), nível de pressão arterial, de sudorese ou de tensão muscular, velocidade dos batimentos cardíacos, dilatação da pupila, medição de temperatura ou do fluxo sanguíneo em áreas específicas do cérebro etc são apenas alguns exemplos de dados que podem ser medidos e sistematicamente comparados em laboratório.
Então, como funciona um sentimento?

Já, por outro lado, a insegurança (como qualquer outro sentimento), é de dificílima mensuração fisiológica.
Outra característica é que sua 'construção' é da alçada do sujeito cognoscente, geralmente em sua interação com o 'meio ambiente', evidentemente. O 'meio' ao qual nos referimos aqui precisa também ser melhor especificado.


Por 'meio', pode se entender 'o conjunto de condições naturais e socioculturais nos quais um sujeito nasce e se desenvolve', lembrando que o próprio corpo físico também faz parte desse 'meio'. Repare que seu corpo não é você (embora parte de sua identidade seja composta também pelo seu corpo). Você tampouco é "suas emoções" (ainda que sua identidade também seja composta pelas emoções, as quais por sua vez são produzidas quimicamente graças ao corpo). Não, você também não é seus sentimentos (embora parte de sua identidade como sujeito seja composta também pelos sentimentos que você mesmo assimilou, reformulou e cristalizou por um processo que chamamos de 'endoculturação');

Então, sentimentos dependem em maior medida da própria subjetividade (algo não mensurável), e em menor medida, do aspecto empírico (o meio) em si mesmo. Quando dizemos que sentimentos são 'construídos' pelo sujeito, estamos dizendo que eles não surgem espontaneamente apenas por mera derivação ou determinação biológica. A cultura nos apresenta padrões de comportamento e condicionamentos não naturais... mas será que um sujeito pode também ser condicionado a sentimentos (como é no caso das emoções)? 

Vale dizer, enquanto é seu corpo que reage com alegria ou tristeza, medo ou raiva, é você que escolhe, de momento a momento, se vai amar ou odiar, se vai empatizar-se (solidarizar-se) ou amesquinhar-se, se vai se magoar ou sentir compaixão, se sentirá remorso ou paz, felicidade ou solidão ou angústia. Toda essa gama de sentimentos não se confundem com simples emoções.

Além disso, a sintomatologia de quaisquer sentimentos é tão complexa e variável de sujeito para sujeito, de cultura para cultura, que é praticamente impossível, seja para o cientista biólogo, seja para o psicólogo especialista, defini-las objetiva e consensualmente (como se costuma fazer com as emoções). Neste sentido, não é raro encontrar tais cientistas cartesianos bastante 'confusos' e intrigados em suas tentativas pouco frutíferas de pesquisá-las, conceituá-las objetivamente. Geralmente essa tarefa inglória acaba sendo deixada para os filósofos, poetas e místicos.

Tanto o psicólogo comportamental quanto o biólogo ou neurologista evolucionista buscarão reduzir os sentimentos a impulsos bioquímicos ou então, a 'um conjunto de determinações filogenéticas (decorrentes da história evolutiva das espécies) e ontogenéticas (processos específicos de desenvolvimento e maturação do organismo). As teorias tendem a explicar qualquer sentimento, como sendo um 'comportamento' aprendido (por imitação) ou determinado (pela genética). O problema está no momento de se demonstrar tais teorias. Todas fracassaram até hoje.

a "equação da felicidade" segundo pesquisadores da University College London
Isso não impede que tais cientistas continuem buscando, com base nos mais recentes avanços da Neurologia e da Farmacologia, a famosa 'fórmula bioquímica da felicidade', a Pedra Filosofal da Química Moderna. Não é raro vê-los confundindo variações de humor com sentimentos. Tais confusões não ocorrem por acaso, já que costumam ser bastante lucrativas até que o golpe de publicidade termina desmascarado ao final.

As teses antropológicas, sejam elas evolucionistas ou estruturalistas, também sonham com uma redução que dê conta do 'humano'. Só que, neste caso, buscam explicar nosso comportamento cultural (incluindo, portanto, os sentimentos) como interação de mecanismos adaptativos naturais e artificiais de convivência e sobrevivência.

Parte II - Antropologia da Religião: O que a ciência cartesiana está longe de explicar?


Como assim? Algum animal precisa biologicamente de saudade, amor, ódio ou de angústia para se adaptar melhor ao ambiente e assim, aumentar suas chances de sobrevivência? (não vale aqui a apelar à pegadinha de confundir o conceito de violência com o de ódio, ou de confundir 'capacidade do cérebro para discriminar e classificar', com o racismo culturalmente ensinado e aprendido)*.

Ou então, qual é o peso do pensamento metafísico ou místico, do sentimento de vazio existencial ou do sentimento estético (todos tipicamente humanos) na obtenção de alimento, de abrigo ou na defesa contra animais perigosos?

Se você é marxista, neste momento deve estar tentando entender o que Marx quis dizer ao defender que essa superestrutura (cultura, instituições, estruturas de poder político, ideologias e filosofias) é absolutamente determinada pela infraestrutura (relações de produção e forças produtivas), a qual, por sua vez seria legitimada e sustentada pela primeira. Círculo sem fim? Quem veio primeiro? Pense bem antes de responder!

Reformulando a questão: como e por que o sentimento de transcendência faz um animal 'criar' representações do sagrado em todas as culturas, já que a princípio, eram todos nômades, comunistas e a propriedade privada era impensável naquele contexto?

Em que momento o "sagrado" tornou-se imprescindível para absolutamente todas as culturas humanas? Em que momento a ideia do sagrado tornou-se relevante para a sobrevivência da espécie humana? E se não é absolutamente relevante, por que não há notícia de povos (ágrafos ou não) onde essa impressionante ideia esteja ausente?

Como tantos sentimentos poderiam ter nos ajudado a nos adaptar e a sobreviver? Como o sentimento de devoção e gratidão às divindades ou a outros seres (imanentes ou não) nos auxiliaram pragmaticamente na adaptação ao meio hostil natural? Convenhamos: difícil de engolir. Em cada teoria, um misto de muita imaginação e de pouquíssimas e polêmicas evidências.


Parte III - Uma pitada de humanidade na receita 

Pegando novamente nosso exemplo do início desta explanação, diante de um estímulo cultural ou ambiental específico, nenhum animal 'escolhe' sentir medo, mas o ser humano pode "escolher" sentir insegurança.

Note que o medo nos impede de pular numa piscina se não sabemos nadar; já, a insegurança ou excessiva autoconfiança nos faz afogar, mesmo sabendo nadar...
 
O sentimento é uma escolha interpessoal, na medida em que "aprendemos consensualmente a sentir"... O curioso é que até mesmo o ato da escolha pode ser consciente ou estar também condicionado. O grupo pode nos levar a aderir compulsoriamente a certo comportamento ou crença? Ou no fundo aderimos por conveniência pessoal?

Quando aderimos a certas crenças, costumes, hábitos alimentares, linguagem, visão de mundo, valores morais de conduta social etc, é evidente que se trata de um processo cultural praticamente compulsório. Mas em nenhum momento até aqui citamos sentimentos...

Podemos sim ser constrangidos a falar determinada língua, a andar de certo modo ou a aceitar certa regra moral, mas não podemos ser constrangidos a amar, nem a odiar, nem a sentir paz ou angustiar-se... como diria o filósofo existencialista: somos condenados à liberdade da escolha! Então, não podemos simplesmente amar ou odiar sem que queiramos profunda e sinceramente isso!

Isto posto, posso sim ser incentivado a amar ou a odiar... posso ver exemplos do que eu penso ser 'pessoas amando ou odiando' e posso até concordar intelectualmente que 'amar é certo' e 'odiar é errado', mas não posso amar/odiar por imitação! Eis o mistério e o diferencial essencial de tudo que temos dito até agora! 
Em síntese, sentimentos são demasiadamente complexos para serem reduzidos a simples processos de mimetismo ou condicionamento (como sucede com emoções ou com os demais rituais elaborados de convivência social).

Você pode executar com perfeição técnica um ritual, uma emocionante obra musical, uma coreografia mística ou teatral, um poema, um mantran ou qualquer outra bela e emocionante oração. Mas nada disso quer dizer amor, sentimento ou paixão! Então, sentimentos se inserem numa prática que:
1º) é cem por cento humana; 
2º) é sempre um "modo de fazer"; 
3º) é sempre imaterial e inapreensível tecnicamente;
4º) é vivenciável intimamente, de modo ímpar, por outro ser complexo corpo-psique-espírito. 

O sentimento (seja ele qual for) é sempre o encontro do humano com sua inefável dimensão transcendente, antes mesmo de ser um encontro com 'outro' ser humano!

É por isso que, quando você se 'apaixona' (com ódio ou amor, com sofrimento ou compaixão, com angústia ou felicidade...), jamais conseguirá "dizer" ou "descrever", pois a experiência em si mesma é intransferível, inimitável, é íntima e singular!

A arte, mais do que qualquer outra atividade humana, é a que consegue mais se aproximar da expressão de sentimentos... daí que, só nos toca aquela arte que nos remete a algo que, como humanos, já fomos capazes de sentir também, ainda que de modo distinto do outro...

E então, eu lhe pergunto: o que é a sua existência, sem a paixão?
O que é o exercício de sua atividade profissional, sem paixão? 
Como é conviver com outro ser humano, sem paixão? 
O que é compartilhar e construir, sem paixão? 
O que é estudar, orar ou dançar ou lutar por uma causa, sem paixão?
Tudo, sem paixão, torna-se tédio, martírio, desespero e vazio.  

Note  como o sentimento nos completa e complementa tudo que fazemos, como humanos! Não estamos defendendo que o sentimento seja o único ou o mais importante aspecto que, no conjunto nos ajuda a "sermos-humanos" íntegros...

Além disso, atente bem para outro aspecto de importância crucial para entender o humano que há em cada um: cada um de nós de certo modo 'somos-humanos'...

ou seja: não se pode ser humano sozinho, sem o outro, completamente isolado do grupo, sem a humanidade... noutras palavras: sem a cultura, nossa humanidade simplesmente não existe (a não ser em estado puramente potencial)... Sem as múltiplas dimensões que ela nos traz, somos simples feras (como já previra Aristóteles: o homem é poli tikós). 

Feito este esclarecimento fundamental, considere que sem sentimentos, quaisquer atividades, por mais nobres que nos pareçam, nos parecerão mecânicas, vazias de sentido e significado. Como 'animais atribuidores de sentido' que somos, é o que nos confere a "anima"... Na mitologia judaica, a cultura é instituída pelo Sagrado... Este mesmo Sagrado nos doa a "anima" (aquilo que nos anima), cria a primeira regra de conduta e, em outro momento, cria vestes feita de peles de animais, para cobrir a nudez do casal primordial... nenhum outro animal se veste ou precisa trabalhar... Só o ser humano modifica sua natureza e a natureza ao seu redor, com o seu trabalho, com sua "agricultura" , com sua ação transformadora.
Mais que o alimento material, mais que o salário, mais do que o próprio reconhecimento, precisamos viver e fazer 'com paixão'.


Pela Antropologia sabemos que o hominídio é um "animal simbolizador". De qual imperativo biológico deriva o valor que os humanos invariavelmente atribuem aos símbolos (representações gráficas, bandeiras, amuletos, ritos, etc)?

O materialismo não explica nem justifica convenientemente o valor subjetivo de tamanha profusão de sentidos e de símbolos, irrelevantes do ponto de vista dos meios de produção ou das forças produtivas de uma sociedade. Por outro lado, a manutenção material da vida de qualquer outro animal, quase tão complexo geneticamente quanto o ser humano, prescinde de quaisquer operações de simbolização.

Então, que reações bioquímicas ou hormonais, ou que conexões neurais explicam ou controlam o valor que damos aos símbolos? Silêncio absoluto! Nem as ciências naturais, nem as sociais respondem. Fácil constatar que tal processo não é predeterminado pela nossa herança genética. Então, seria apenas o ambiente que nos comprime, desde algum momento tão remoto quanto desconhecido, a atribuir valor simbólico a objetos ou entidades imanentes (totens) ou transcendentes (seres divinos, sagrados, demoníacos, espirituais, oriundos de outros 'mundos')? Essa própria explicação 'científica' não se parece mais com uma boa e velha explicação mítica?
O fato é que ninguém sabe o quê, em nós ou fora de nós, gera o valor abstrato, culturalmente elaborado, de um símbolo.

Outro caso complexo: O altruísmo ou a solidariedade intencionais não se confundem com o impulso primitivo e biológico à caça cooperativa (onde o tal instinto nos conduzia evidentemente a um maior sucesso durante a caçada, comparada à caça solitária).

No primeiro caso, constatado a ausência do interesse pessoal em levar qualquer vantagem (biológica ou social), chegamos à conclusão de que absolutamente nada se ganha, do ponto de vista materialista e pragmático. Para a Ciência materialista ou neopositivista, a ausência da intenção social e egoística, é uma contradição insuperável, exceto se considerada como 'anomalia' (em sentido epistemológico): o cientista não sabe explicar, então ignora a contradição como se não existisse e como se ela não estivesse invalidando sua teoria (na esperança de um dia conseguir 'explicar', não se sabe como).

No segundo, se há "interesse biológico" ou sociológico no bizarro comportamento altruísta, como explicitá-los sem cair na risível, ilógica e igualmente bizarra hipótese de Dawkins, segundo a qual, o organismo é apenas uma "máquina de sobrevivência" do gene, cujo objetivo é sua autorreplicação, sendo o altruísmo não contraditório com o egoísmo?
Então, segundo a hipótese citada, há um hipotético gene "antropomorfizado" (já que é egoísta, qualidade esta eminentemente humana)... e pior que isso, tal gene só é altruísta porque é egoísta. Lógica torta essa, não?

Em síntese: As contradições entre teoria e realidade, são mais uma vez tratadas pelos cientistas como "anomalias" ou como resquícios de impulsos biológicos primitivos também quase completamente desconhecidos.

Saltemos do hominídio de milhões de anos atrás e analisemos por um breve momento, o hominídio contemporâneo:
Qual teoria científica explica a cobiça exploratória e depredatória humana, que nos faz arruinar completamente nosso próprio ecossistema e habitat, o qual sabemos ser absolutamente necessário à sobrevivência de nossa própria espécie?
Como explicar tal "comportamento"? 
É a biologia de nosso evoluído cérebro que vai explicar? O gene egoísta-altruísta (sic) de Dawkins explicaria mais essa contradição?
Ou deveríamos apelar à sociologia pós-estruturalista de nossa sociedade altamente civilizada? Qual ciência vai explicar por que estamos nos suicidando como espécie? Que lei natural ou social agora mesmo está a nos conduzir para um cenário escatológico de auto-aniquilação?

Dentre os mais evoluídos, estariam os mamíferos, certo?
Com nossos grandes e complexos cérebros, deveríamos zelar em primeiro lugar, pela nossa própria autossustentação. Certo ou errado?
Quais dentre os demais animais evoluídos apresentam comportamento tão bizarro e contraditório?
Estamos, ao invés de evoluir, involuindo?? Como os neurologistas das 'pílulas da felicidade', explicariam mais essa 'anomalia'? Maldições da vida em sociedade? Chamaríamos Rousseau com o seu "Emílio" para explicar o problema?

De repente, os humanoides enlouqueceram? Os imperativos bioquímicos (que nos exigem a manutenção da espécie) de repente entraram em colapso? onde está o gene egoísta-altruísta numa hora dessas??

Se os imperativos genéticos de nosso DNA sempre determinam nosso comportamento, onde raios foram todos parar?

De repente nosso cérebro, que por milhões de anos 'evoluiu' até o ponto de garantir a adaptação de nossa espécie, sofreu algum tipo de mutação coletiva que agora nos faz desistir coletivamente da autopreservação?


Parte IV - a antropologia filosófica**: a cereja do bolo 

Podemos até dizer que sentir fome não é pecado, sentir atração sexual não é pecado, sentir vontade (ambição) por algo não é pecado, sentir alegria, tristeza, medo ou raiva, não é pecado. O que é pecar?

"Pecado" é sentir a gula, a luxúria (a paixão desmedida), a cobiça (por bens materiais ou espirituais), a euforia/ansiedade ou a depressão, o ódio e o desespero... em sentido filosófico e metafórico, dizemos que tudo isso é "pecado", pois nos remete à ideia do antiético, do excesso, da hybris grega (a desmedida, o descomedimento, a autoconfiança e o orgulho excessivos, a arrogância e a imprudência de nos considerar como deuses, atraindo para si mesmos a maldição), da violência contra si próprio (corpo físico e mente), bem como à ideia de um desrespeito contra o outro (a coletividade da qual faz parte).
Todo sentimento é, portanto, um aprendizado... noutras palavras, ninguém nasce racista ou preconceituoso, nem nasce odiando negros e nordestinos, ou apaixonado por tal ou qual time de futebol, ou zeloso pela bandeira de sua nação... o meio nos estimula... e (bem ou mal) reagimos! geralmente reagimos de um modo mais ou menos subconsciente... todo esse 'aprendizado' raramente consciente de sentimentos envolve uma responsabilidade direta do próprio sujeito, e indireta do meio em que este sujeito vive. Assim, não adianta se colocar como vítima inocente do processo.
O mais importante em toda essa explicação é notar que o humanoide vive comumente de modo tão 'adormecido', que praticamente não se dá conta dos sentimentos que 'aprende', que desenvolve e que alimenta, diária e secretamente...
Portanto, não se engane: somos sim responsáveis em grande medida pelo que somos. Ao mesmo tempo, não percamos nosso tempo julgando ou avaliando o grau de responsabilidade dos outros. Antropologicamente, nem eu, nem você, estamos habilitados para dizer como o outro poderia ou deveria fazer...
o que posso sim dizer é o que eu posso fazer, pensar, não fazer, sentir e não sentir. Mas não cabe à ciência dizer o que "o outro" deve fazer. O ramo do conhecimento que estuda racionalmente o que devemos ou não fazer, enquanto coletividade, é a disciplina filosófica da Ética.
Parte V - considerações finais sobre quem somos

Em síntese: recebemos o estímulo (advindo das mídias de massa, das distintas redes sociais)... Mas, com qual sentimento vamos reagir? quanto tempo vamos demorar para aprender a viver?

Isso é singular, depende de cada sujeito pensante. Como animais que também somos, nossas escolhas são geralmente norteadas por aspectos emocionais e sentimentais. E mesmo assim, 'escolhemos', diariamente, que sentimentos e pensamentos (crenças) vamos interiorizar e exteriorizar...
O sentimento e a emoção podem se confundir? Às vezes sim, devido ao nível raso de autoconhecimento que apresentamos em geral. Cientificamente falando, portanto, vimos que emoção e sentimento têm origens (causas) distintas, não podendo ser tratados como coisas idênticas entre si. 


Tecnicamente, vimos que sentimentos como amor, ódio, paz ou felicidade, não se confundem com simples estados emocionais. Outros animais não podem "estar apaixonados". A paixão pode aparecer como uma palavra muito vaga, com sentido dúbio. Então, definir paixão é crucial. Paixão é sentimento ou emoção? Aprendemos culturalmente a nos apaixonar ou nascemos programados para fatalmente nos apaixonar? Onde está sua paixão? Onde está aquilo que dá sentido (significado) a sua existência?

Sua paixão está no esporte, no lazer, na profissão, na religião, na pessoa com a qual convive? onde você a põe? sua paixão está dentro ou fora de você? Onde você a pôs?

Por fim, o que é o humano, o que o caracteriza de fato? 
Eis o problema crucial de qualquer ciência e da própria filosofia: como nos definir? é possível nos definirmos a nós próprios?

E, além disso, o que diferencia o humano dos outros seres? Esta problemática surge basicamente a partir do fato de que o humano parece ser o único animal capaz de observar conscientemente os fenômenos ao seu redor e pensá-los abstratamente. Ele seria o único animal que se questiona sobre o aparente absurdo da própria existência.

Então, filosoficamente falando, uma primeira resposta possível estaria implícita no próprio ato de perguntar: "O homem é aquele que pergunta". Pelo menos, parece ser o único ser capaz de fazer perguntas. Os demais seres teriam essa capacidade (de se questionar sobre suas próprias razões de existência)?

Além do ser humano, que outra criatura se pergunta sobre seu passado e sobre seu futuro, sobre a vida e sobre a morte?

O homem pergunta pelo seu próprio ser, quer compreender e ter consciência de si. Mais que isso, o humano quer sempre captar o sentido... de sua vida, do mundo, dos acontecimentos, psíquicos ou concretos, imanentes ou transcendentes. Em apertada síntese, o homem é um animal buscador, criador e 'interpretador' de sentidos. Por outro lado, logo se identifica também sua incapacidade de se compreender de modo integral.

Seu conhecimento sobre si é limitado, condicionado pela sua própria subjetividade e por seu próprio aparato cognitivo. Então, aquilo que sabe de si, ainda que pretensamente "científico", nunca satisfaz o apetite de sua própria "busca por saber".

O resumo de tudo? Ele (o humano) não entende o mundo e não entende a si mesmo. Se ele pensa em um Ser metafísico, capaz de dar conta do mundo, de explicá-lo, o problema só se complica, pois surge em sua mente faminta, um sem-número de questões igualmente complexas, a cerca desse mesmo "Ser autossubsistente e autossuficiente".

Abandonando este projeto metafísico clássico, muitos antropólogos-filósofos irão ater-se ao que chamam "fenômeno humano". O Homem, portanto, caracteriza-se como esse emaranhado de aspectos e dimensões. Não se esgota ou limita-se a esta ou àquela dimensão, mas é um emaranhado rizomático de capacidades e possibilidades. Em razão disso podemos dizer que, em certa medida, o Homem não é, mas constrói-se cotidianamente a partir de um elemento que lhe é essencial: a cultura ou as “manifestações culturais”.

Podemos finalmente concluir que, do ponto de vista simultaneamente antropológico e filosófico, a indagação sobre o humano e suas possibilidades devem ser tomadas como ponto de partida para sua conceituação e compreensão. Por outro lado, temos que admitir que este humano também é capaz de produzir seu mundo.  Este humano é: corpo, mente (alma), ambiente (sociedade, geografia, clima...) e espírito (racionalidade transcendente).  A primeira indagação norteia a antropologia filosófica e a segunda pode ser colocada como base para a compreensão da cultura.

Quando dizemos que o ser humano constrói seu mundo, queremos dizer: ele constrói seu céu e seu inferno, seus deuses e seus demônios, sua ordem e seu caos. O homem constrói-se a si próprio para em seguida também se autodestruir. O ser humano, simultaneamente, por sua conta e risco, tem criado seu mundo interior e seu mundo exterior. Aliás, qual é mesmo a distinção substancial entre ambos? Ele exterioriza (concretiza no mundo exterior) aquilo que ele é por dentro dele mesmo. Entender essa realidade é uma das chaves mestras de qualquer mudança que queremos ver no mundo.

Silvio MMax.


* Neste sentido, vide os artigos:
"Somos racistas por natureza?", disponível em http://oficina-de-filosofia.blogspot.com.br/2012/05/180512-0300-opiniao1-o-cerebro-racista.html 
"A psicopatia e a relevância do DNA em sua determinação", disponível em http://oficina-de-filosofia.blogspot.com.br/2013/12/a-psicopatia-e-relevancia-do-dna-em-sua.html
** Outros textos de referência:
"Introdução à Antropologia Filosófica", disponível em http://oficina-de-filosofia.blogspot.com.br/p/introducao-antropologia-filosofica.html
"A Filosofia ateísta de 'Dr. House': uma ética e muitas reflexões", disponível em
http://oficina-de-filosofia.blogspot.com.br/2013/12/a-filosofia-ateista-de-house-uma-etica.html

"Cérebro: A química perfeita das emoções", disponível em  http://revistagalileu.globo.com/Galileu/0,6993,ECT490728-1719,00.html



"António Damásio - A diferença entre emoção e sentimento". vídeo disponível em http://globotv.globo.com/editora-globo/revista-galileu/v/antonio-damasio-a-diferenca-entre-emocao-e-sentimento/2736952/

Todas as coisas são precedidas pela mente

a origem do carma

“Todas as coisas são precedidas pela mente, guiadas e criadas pela mente. Tudo o que somos hoje é resultado do que temos pensado. O que hoje pensamos determina o que seremos amanhã. Nossa vida é criação de nossa mente.”

“Se um homem fala ou age com o pensamento puro, a felicidade o acompanha como uma sombra que jamais o deixa.”

(Buddha)

oficina de filosofia: documentário: cidadania e corrupção

oficina de filosofia: documentário: cidadania e corrupção: cidadãos: assistam!    A luta contra a corrupção é uma luta árdua que exige muita energia para manter o propósito frente às dificul...

Sin amor no hay evolución

 
* 1ra Ley: Ley de la Evolución

- El destino de los espíritus es evolucionar, de forma indefinida, para siempre.

- ¿En qué se evoluciona?. En Amor y Sabiduría. Sin amor no hay evolución. Sin amor no hay sabiduría. Sin amor no hay felicidad.

- La evolución depende de la voluntad y el esfuerzo de uno mismo

vive por si mesmo, ou muda pelos outros

Cantinho da Borboleta

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✿•¨`•ઇ‍ઉ•¨`•✿
Você tem duas opções:
Ou vive por si mesmo, ou muda pelos outros;
felicidade é questão de escolher caminhos, e não multidões.
Viver pelo que você faz é a essência do que você escolhe, caminhar pela opinião dos outros é a mesma coisa de gostar de pássaros mas preferir o som da flauta. Seja o que você quer, escolha o que permita ser.
A escolha é sua.

________________✿Gabriel Malaquias✿ 

os políticos são um reflexo da sociedade que eles representam




Um brinde a sociedade corrupta que reclama da corrupção


Quando a população se sente uma vítima inocente da corrupção e descaso egoísta, e ignora sua colaboração direta para a proliferação dos mesmos. Ninguém é inocente. E os políticos são um reflexo da sociedade que eles representam.

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O assunto político tem tomado grandes proporções ultimamente. As mídias sociais estão repletas de revoltas contra os políticos em geral e afirmações extremas sobre os mesmos, o ódio contra a corrupção que afeta a população é mais do que aceitável, é necessário. As páginas no facebook pedindo impeachment (mesmo que escrito errado) da presidente e esbravejando contra a corrupção dos poderosos ganham milhares e milhares de seguidores todos os dias e defensores mais que calorosos. Pessoas que votaram em um candidato se sentem superiores e adoram gritar aos quatro ventos que não colaboraram com o caos regrado à corrupção que temos vivido atualmente. Será?
Quando nos perguntamos o porquê de ser praticamente impossível encontrar um candidato com a ficha limpa bem posicionado no Brasil, dificilmente obtemos respostas. O problema em geral está na população. É isso aí, somos nós mesmos, que não apenas tememos o desconhecido como colaboramos diretamente para a corrupção geral.
Sabe aquele dinheiro que você, mesmo vendo o rapaz derrubar, botou no bolso correndo antes que ele percebesse que caiu? Aquele dinheiro que, ao dar o troco, o atendente do supermercado te passou sobrando e você manteve silêncio e se sentiu satisfeito, sortudo? Àquele produto que você comprou baratinho mesmo desconfiando que era roubado, àquela prestação que você espera “caducar” no sistema de proteção de crédito e não pretende pagar nunca? E aquele dia que você fingiu estar dormindo no banco colorido do ônibus para não precisar ceder o lugar para a gestante ou o idoso que entrou? Você entrou pelas portas traseiras do ônibus se sentindo o maioral e ainda é cheio de desculpas? Pois é. Sabia que os políticos corruptos também inventam um monte de desculpas para justificar seus atos? Você é tão corrupto e egoísta quanto os odiosos políticos que você acusa com tanto ardor.
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Você sai por ai, esbravejando contra todos e se sentindo vítima da corrupção que você mesmo alimenta, mas está sempre tentando levar vantagem em tudo. A diferença entre você e os nossos políticos é que você tem menos poder. Do contrário, seria mais um se divertindo com o dinheiro público. Se você aproveita todas as oportunidades, mesmo que incorretas, para se dar bem nas situações, comece a pensar em suas atitudes antes de sair acusando por aí. Vamos aprimorar nosso próprio caráter para garantir melhores pessoas no poder futuramente, a começar por nós mesmos?
Obrigada.


Jannine Dias

Designer gráfico obcecada por detalhes, devoradora de livros, tiete de objetos antigos, cinéfila de terror e apaixonada por qualquer indício de passado regrado à chá e chocolate..
Saiba como escrever na obvious.