sábado, 28 de fevereiro de 2015

Os Evangelhos

Histórias Estranhas da Bíblia: Os Evangelhos




Eles são a porta de entrada ao cristianismo, o carro cheve da fé de milhões de pessoas, a prova, ao menos para os crentes, da vida e história de Jesus. Eles são os "evangelhos".
Nos primeiros séculos existiam muitos evangelhos, escritos por muitos autores. Tamanho era o crescimento do cristianismo que muitos dos "convertidos" ricos queriam escrever sobre as maravilhas realizadas pelo homem de Nazaré, que dentre outras coisas ressuscitou dos mortos.
No entanto muito tempo depois, quando o cristianismo foi adotado como religião oficial do império romano e, sendo assim, retirado da clandestinidade, houve uma reunião, um concílio para "decidir" o que era inspirado por Deus ou não.
Este evento ficou conhecido como "O concílio de Trento" que foi realizado em 1545 na cidade italiana de Trento.
Alguns concilios haviam sido realizados antes, como o de Laodicéia em 365 d. C. , ou o concílio de Cartago em 397 d. C. ; mas foi no concílio de Trento que a bíblia como a conhecemos hoje surgiu.
No caso dos evangelhos ficou "decidido" que os livros de Mateus, Marcos, Lucas e João possuíam inspiração divina, enquanto outros como o de Maria Madalena, Pedro, Tomé foram relegados ao esquecimento e considerados apócrifos.
Os evangelhos contam "teoricamente" a mesma história, a trajetória de Jesus, mas possuem disparidades entre si, o que é normal considerando que foram escritos por pessoas diferentes em locais diferentes, tendo sido contada de maneiras diferentes e como se sabe "quem conta um conto, aumenta um ponto."
Antes que o amigo leitor fique perdido, alguns evangelhos NÃO foram escritos pelos apóstolos que, teoricamente, andaram com Jesus. Ao que consta nem mesmo os nomes dos autores estão corretos.
Não precisamos analisar todas as contradições presentes nos evangelhos, vamos nos ater a contradição mais evidente:
A ressurreição de Jesus.
Que é contada de quatro maneiras diferentes, baseando-se no fato de ser a mesma história espera-se que existam algumas diferenças, mas fatos inteiramente diferentes, mudam o contexto.
Vamos ver evangelho por evangelho como isso se dá.


              João escrito entre 95 e 100 d. C.

Em João encontramos:
"E no primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro.
Correu pois e foi a Simão Pedro, e ao outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes:
Levaram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde puseram.
Então Pedro saiu com o outro discípulo, e foram ao sepulcro.....
.... E, baixando-se, viu no chão os lençóis; toda via não ENTROU.
Chegou pois Simão Pedro, que o seguia, entrou no sepulcro, e viu os lençóis no chão.
.... E Maria estava fora chorando, junto ao sepulcro. Estando ela pois chorando, abaixou-se,
E viu dois anjos vestidos de branco assentados onde jazera o corpo de Jesus, um a cabeceira outro aos pés.
E disseram a mulher: Por que choras?
Ela lhes disse: Porque levaram meu senhor, e não sei onde puseram.
E tendo dito isso virou-se para trás, e viu Jesus de pé, mas não sabia que era Jesus.
Disse-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem buscas? Ela cuidando que era o jardineiro, disse-lhe: Senhor tu o levaste, dize-me onde o puseste e eu o levarei.
E disse-lhe Jesus: Maria! Ela, voltando-se, disse-lhe: Mestre!
Disse-lhe Jesus: Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai, mas vai para meus irmãos e diga-lhes que já subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos que vira ao Senhor, e que lhe dissera isto."
João cap. 20 vers. 1 - 18


             Lucas escrito entre 58 e 60 d. C.
Já Lucas diz:
"E, no primeiro dia da semana, muito de madrugada, foram elas ao sepulcro, levando as especiarias que tinham preparado.
E acharam a pedra revolvida do sepulcro.
E, entrando, não acharam o corpo do senhor Jesus.
E aconteceu que estando elas perplexas a esse respeito, eis que pararam perto delas dois varões, com vestidos resplandecentes.
E, estando elas muito atemorizadas, abaixaram o rosto para o chão, eles lhes disseram: Porque buscais o vivente entre os mortos?
Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como vos falou, estando ainda na Galiléia,
Dizendo que convém ao filho do homem seja entregue nas mãos dos homens pecadores, e seja crucificado, e ao terceiro dia ressuscite.
E lembraram-se das suas palavras.
E voltando do sepulcro, anunciaram todas estas coisas aos onze e a todos os demais.
E eram Maria Madalena, e Joana, e Maria, mãe de Tiago, e as outras que com elas estavam, as que diziam estas coisas aos apóstolos.
E suas palavras lhes pareciam como desvario, e não as creram.
Pedro, porém, retirou-se ao sepulcro, e abaixando-se, viu só os lençóis ali postos; e retirou-se admirado do caso."
Lucas cap. 24 vers. 1 - 12
             Marcos escrito entre 50 e 60 d. C.
No livro de Marcos lê-se:
"E, passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo.
E, no primeiro dis da semana, foram ao sepulcro, de manhã cedo, ao nascer do sol;
E diziam umas as outras: Quem nos revolverá a pedra da porta do sepulcro?
E, olhando, viram que já s pedra estava revolvida; e ela era muito grande.
E, entrando no sepulcro, viram um mancebo assentado à direita, vestido de uma roupa comprida, branca; e ficaram espantadas.
Porém ele disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a Jesus Nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram.
Mas ide, dizei aos discípulos, e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galiléia; ali o vereis, como ele vos disse.
E, saindo elas apressadamente, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas de temor e assombro; e nada diziam a ninguém, porque temiam."
Marcos cap. 16 vers. 1 - 8
               Mateus escrito entre 50 e 70 d. C.
E finalmente em Mateus vemos:
"E, no fim do sábado, quando despontava já o primeiro dia da semana, Maria Madalena e outra Maria foram ver o sepulcro;
E eis que houvera um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra, e sentou-se sobre ela.
E o seu aspecto era como um relâmpago, e seu vestido branco como neve.
E os guardas, com medo, ficaram como mortos.
Mas o anjo, respondendo,disse as mulheres:
Não tenhais medo; pois eu sei que buscais a Jesus, que foi crucificado.
Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como havia dito. Vinde e vede o lugar onde jazia.
Ide pois, imediatamente, e dizei aos seus discípulos que já ressuscitou dos mortos. E eis que ele vai adiante de vós para a Galiléia; alo o vereis. Eis que ei vô-lo tenho dito.
E saindo elas apressadamente do sepulcro, com temor e grande alegria, correram a amunciá-lo aos seus discípulos.
E, indo elas, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo: Eu vos saúdo! E elas, chegando, abraçaram seus pés e o adoraram.
Então Jesus lhes disse: Não temais; ide dizer a meus irmãos que vão a Galiléia, e lá me verão."
Mateus cap. 28 vers. 1 - 10
Bem...
Se o leitor considerar que os livros não foram escritos imediatamente a crucificação de Jesus, perceberá que é perfeitamente aceitável que ocorram estas disparidades; some-se a isso a questão cultural de cada escritor, ou pessoa que ditou o texto a seu escriba, uma vez que muitos, quase todos, deles não sabiam escrever. Temos ainda o público alvo que o autor queria atingir e a realidade na qual estas pessoas viviam. E finalmente, a quantidade de vezes que o autor ouviu a história que resolveu relatar, mudando cada vez que um interlocutor diferente falava do assunto.
E não podemos esquecer que séculos de copistas, diferenças primordiais de linguagem, dificuldade em se traduzir o aramaico com perfeição atribuem um caráter mais confuso aos textos.
E isso é apenas uma parte dos evangelhos, existem outras disparidades entre o mesmo fato, descrito de formas transformadas conforme o texto, o contexto e a necessidade da época.
E, mesmo de posse dessas informações, deixamos que essa cultura de milênios passados interfira na nossa maneira de enxergar o mundo e vivê-lo.
Ideias e ideais de vida que nada têm haver com nosso contexto atual, mas que insistimos em tomar como verdade absoluta, graças a anos de martelagem das instituições religiosas.