quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Ashtar Sheran: " Todas as culturas e todas as religiões o condici...

Ashtar Sheran: " Todas as culturas e todas as religiões o condici...: "Todas as culturas e todas as religiões o condicionam a sentir-se negativo a respeito de si mesmo. Nenhuma pessoa é amada ou aprecia...

A Operação Lava Jato é didática




Corrupção 10/Feb/2015 às 11:37
A Operação Lava Jato é didática em revelar que a mídia relativiza a corrupção para atender seus próprios interesses. Para boa parte da imprensa, divulgar versões é mais importante do que divulgar fatos e se há corrupção no país, ela é obra de 'políticos,' nunca de empresas
por Fabio de Sa e Silva*
Tido, com acerto, como a maior expressão da consciência jurídica moderna (de matriz positivista), Kelsen começa sua famosa Teoria Pura do Direito com grande esforço para diferenciar a ordem jurídica de outras ordens sociais, algumas delas inclusive com caráter normativo, como a moral.
Em uma das passagens mais densas nesse sentido, o autor define a norma jurídica como um “esquema de interpretação”. Exprimindo, assim, uma relação situada no plano do dever ser, a norma jurídica tem vigência destacada da conduta (ser), ao mesmo tempo em que, por meio de atribuição da sanção, imprime a esta mesma conduta o significado (jurídico) de lícito ou ilícito.
Apesar das limitações próprias do momento em que escrevia a sua Teoria Pura, esta passagem de Kelsen antecipava questões que, um século depois, se tornariam triviais para a teoria do direito.
O giro linguístico, operado na filosofia ao longo do século XX, se refletiria de maneira inescapável neste outro terreno. A norma jurídica passaria a ser compreendida como construção discursiva – ou seja, resultado de processo cognitivo que articula texto e contexto e que produz enunciados com pretensão vinculante em relação aos destinos de uma comunidade política.
A partir desse estoque teórico, que começou a ser formado no século XIX e se consolidou no século XX, pode-se dizer com segurança que, para o direito, caracterizar uma pessoa (física ou jurídica) como corrupta requer estabelecer uma correspondência entre uma ou mais condutas desta pessoa e aquilo que um determinado texto legal designa – e sanciona – como corrupção.
Esta operação, por sua vez, encerra um processo fundamentalmente argumentativo, no qual, com o objetivo de convencer, as partes mobilizam argumentos e imagens (frames, diriam os estudiosos da comunicação) que permitam dar apoio para a tomada de decisão por quem tem a prerrogativa de aplicar a norma no caso concreto, determinando, assim, sua vigência e alcance.
É a consciência desse fato – de que a determinação da vigência e do alcance de uma norma jurídica jamais pode ser expediente meramente analítico –, que levou Kelsen a finalizar a Teoria Pura dizendo que o trabalho do jurista era capaz, apenas, de delimitar uma “moldura”, dentro da qual caberia ao aplicador buscar a resposta que entedia a mais correta. E foi como crítica da tentativa dos positivistas de obliterar esse possível espaço de arbitrariedade, inerente ao funcionamento de sistemas normativos modernos, que levou Warat a denunciar o senso comum teórico dos juristas, ou adeptos da crítica jurídica nos EUA a exporem a indeterminação do direito.
O estágio atual da Operação Lava Jato e, em especial, a forma como a imprensa passou a cobri-lo, convida a resgatar essas lições das prateleiras de introdução ao estudo do direito. Afinal, nas últimas semanas, jornais impressos e portais de notícias deram imenso destaque para elementos das defesas (jurídicas) de alguns dos acusados em função do caso.
“Corrupção partiu de políticos,” registrava uma das matérias, com base em trechos da defesa do doleiro Alberto Youssef. “Em nome de partido ou de governo,” Paulo Roberto Costa fazia “achaques” às empresas e aos empresários, assinalava outra matéria, reproduzindo trecho de peça redigida pelos advogados do vice-presidente da Engevix. “Se houve cartel, líder foi Petrobras,” destacava uma terceira matéria, a partir de trechos de peça apresentada pelos advogados da UTC, em procedimento administrativo que corre perante a própria Petrobras.
Para leitores desavisados, pode se tratar do gradativo aparecimento da verdade.
Pode até ser. Mas não é menos provável que se trate, ao inverso, da mobilização intencional de imagens, visando moldar o juízo jurídico sobre a conduta de tais personagens.
Tarefa esta, convenhamos, que ficou fácil no Brasil recente.
Para se contrapor à tese de que os fatos relacionados na ação penal 470, o chamado processo do mensalão, correspondiam apenas à prática de “caixa dois” e, por conseguinte, deveriam ter consequências penais relativamente pequenas, MPF e grande imprensa trataram de conformar um discurso alternativo. Nesse discurso, “políticos” em postos estratégicos no Estado drenavam recursos públicos para abastecer o “partido” e fortalecer o “projeto de poder”.
O ápice da história, como sabemos, foi o uso criativo da teoria do “domínio do fato” não apenas para condenar um personagem como José Dirceu, mas especialmente para buscar caracterizá-lo como “chefe de quadrilha”. Muito embora o crime de formação de quadrilha, ao final do julgamento, não tenha sido caracterizado aos olhos do Tribunal, tudo acabou se passando como se os repasses comprovados no processo fossem parte de um grande plano, no qual o Estado, a população e a própria democracia são vítimas do vilão “partido” e de seus integrantes “políticos”.
Embora tenha se mostrado poderosa no convencimento do Tribunal, a tese firmada pelo MPF e difundida pela imprensa ajudou a obscurecer os mecanismos pelos quais, desde muito antes do mensalão, a corrupção tem sido estruturada no país.
As características do sistema político eleitoral que transformaram a possibilidade de acesso a dinheiro – e não de realização de um projeto – no principal fator de articulação de interesses entre partidos políticos e poderes da República ficaram imunes à crítica.
O papel do setor privado e de funcionários públicos – todos reduzidos a “operadores” – foi, igualmente, desprezado.
E Aécio, conterrâneo de Marcos Valério e do antecedente nunca julgado “mensalão mineiro”, não teve pudores de dizer no debate da Globo, sob aplausos efusivos da claque, que para acabar com a corrupção no país “basta tirar o PT do poder”.
O que os advogados dos empresários e do doleiro Youssef pretendem agora, portanto, é tão somente invocar em favor de seus clientes a tese que, inusitadamente, o próprio MPF construiu. Se há corrupção no país, é obra de “partidos” e “políticos”. Cartéis – um jogo em que todos ganham, menos os contribuintes –, quando ocorreram, foram induzidos pela Petrobras. Empresários e doleiros, se entraram no esquema, foi por “concussão” ou “achaque”.
Parte da imprensa, para a qual divulgar versões parece ser mais importante que buscar os fatos, já indica que continuará se aproveitando da popularidade das velhas teses jurídicas sobre a corrupção e os corruptos – ainda que isto, no final das contas, sirva para blindar, de fato, as mesmas práticas que esses veículos adoram atacar.
Por onde irão Moro e Janot?
*Fabio de Sá e Silva é PhD em Direito, Política e Sociedade pela Northeastern University; Research Fellow na Harvard University
Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook
Tags
Posts relacionados
Comentários
Félix Postado em 10/Feb/2015 às 13:06
Por onde irão Moro e Janot? Moro como se sabe é tucano até o bico e o Janot foi pedir ajuda ao FBI. Então duas são os objetivos: 01) Impeachement 02) privatização da Petrobrás. A sociedade organizada não aceitará e caso insistam preparem-se para o caos. Caos que talvez nos traga a verdadeira revolução proletária. Basta de acordos com a burguesia.
alexandre Postado em 11/Feb/2015 às 13:43
Falou zumbi .kkkk
eduardo Postado em 10/Feb/2015 às 13:26
Imagina a Vale nas mãos do PT?
Thiago Teixeira Postado em 10/Feb/2015 às 20:31
Imagina a CAIXA nas mãos do PSDB?
alexandre Postado em 11/Feb/2015 às 13:44
teixeira Imagina um dia os petralhas/fanáticos/zumbis como o senhor Thiago Teixeira , se livrando do fanatismo pela quadrilha de vermelho
Riaj Postado em 10/Feb/2015 às 13:48
Imagina a PETROBRÁS nas mõas dos tucanos? Não haveria mais Petrobrás, mas a PETROBRÁX, a vulgo CHEVRON. Nossas riquezas minerais já não são do povo, porém das multinacionais. E o petróleo só não foi, ainda, devido a intervenção do nacionalismo trabalhista.
alexandre Postado em 11/Feb/2015 às 13:45
Volta para sua galáxia ll fanático tonto kkkkkk
José Ferreira Postado em 10/Feb/2015 às 14:16
Devemos parar com essa disputa de "quem é mais (ou menos) corrupto" e resolver o problema de fato.
Diego Souza BR Postado em 10/Feb/2015 às 14:37
Essa história que roubar para o partido é certo, independente do partido é totalmente errada. Ao invés de resolver o problema e tomar alguma atitude, o pessoal fica retrucando que petralha está errado ou que coxinha está errado. Essa discussão tola não faz parar a roubalheira e o descaso com a população. O maior culpado disso tudo, somos nós que não fazemos nada e ficamos assistindo eles ferrarem com a gente...
Rilson Jaborão Postado em 10/Feb/2015 às 14:54
Fato. A guerrinha PT x PSDB só leva o Brasil mais pro fundo do poço. pena que poucos enxergam isso.
Itamar Postado em 10/Feb/2015 às 14:40
Já está sendo resolvido José, o PIG já não tem mais audiência e estão tentando o último tiro, pois se não conseguirem derrubar o PT agora, para que a torneira do governo volte a abastecer suas contas, não chegam ao final de 2015, quem dirá 2018. O dito porta-voz do PIG, o telejornal dos marinhos, só faz inserção comercial das empresas do próprio grupo, ninguém mais deseja anunciar neste que já foi o horário mais valorizado de propaganda do Brasil. Os outros meios de comunicação, os ditos jornalões de São Paulo e aquela revistinha semanal tem como grande maioria de anúncios, produtos próprios como a própria assinatura ou de outras publicações do grupo editorial em páginas inteiras ou duplas. Isto é, não entra mais dinheiro no caixa, o pouco que entra não é nem de longe suficiente para cobrir as despesas. Vamos cobrar do Governo a apuração dos fatos contra a corrupção deste e dos governos anteriores, mas também vamos limpar o nosso querido Brasil dessa imprensa nojenta e abjeta que só defende seus próprios interesses.
José Ferreira Postado em 10/Feb/2015 às 17:55
Primeiro vamos resolver o problema da corrupção. Depois discutimos sobre as mídias, pois, com mídias ou sem mídias, a corrupção está aí nas organizações públicas.
Daniel do Nascimento Duar Postado em 10/Feb/2015 às 21:57
... temos que acrescentar ... "está aí nas organizações públicas" e nas empresas privadas, pequenas e grandes. A gente leva um carro na oficina para revisar, se levarmos em 3 oficinas, cada uma vai falar sobre problemas diferentes e preços diferentes. As industrias fazem mercadoria para se deteriorarem logo após o final da garantia ... essa falta de seriedade com o próximo, com o patrimônio público, com os bens naturais, com o ambiente, com o trânsito reflete na política brasileira, nas classes dominantes. O buraco é fundo e bem embaixo.
jean-louis blackmont Postado em 10/Feb/2015 às 16:17
Excelente artigo. E impressiona o caráter seletivo da imprensa que blinda o governador Alckmin que deveria ser responsabilizado pela situação de calamidade a que chegou o Estado de São Paulo em virtude da estiage.
José Carlos Postado em 11/Feb/2015 às 18:42
Concordo. E a gentalha fascista que vem aqui no blog (parece que por obrigação, como eles mesmo dizem, devem receber algum para essa missão) deblaterar sem sequer ler o artigo. Agora, se leram, certeza de que nada entenderam. Aliás, além da preguiça tem a falta de preparo para entender as colocações, as explanações e conclusões. Enfim, é um debate inútil, não há argumento lógico, fático e sequer traço de alguma inteligência ou presença de espírito. Chega a ser patético.
jarau Postado em 10/Feb/2015 às 19:40
jose. você fala depois discutimos a mídia, sai da GLOBO e vai cair na realidade.
José Ferreira Postado em 10/Feb/2015 às 22:44
O fim da Globo não é o fim da corrupção.
José Carlos Postado em 11/Feb/2015 às 18:44
De fato, não é. Mas já seria um bom começo, não?
Angela Postado em 11/Feb/2015 às 13:49
O fim do P T também não seria o fim da corrupção.Aliás pra acabar com ela todos teriam que morrer e nascer de Novo! O que interessa é que as pessoas se toquem que precisam lutar pelo que realmente interessa,ou seja,inviabilizar a corrupção na Petrobras ou qq outro órgão e isso só se faz com uma reforma política seria e não com essa patacuada que o Cunha quer fazer!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

"A linha que separa a genialidade alucinadamente surrealista  da idiotia pura e simples, é extraordinariamente fina. Dando-se o caso de, por vezes, ambas coexistirem na mesma personalidade."

João Lisboa

Foto do perfil de Professor Negreiros

Educação

4 de fev de 2015

Chegamos ao fim da Educação

Por: Eliana Rezende
“A escola acabou. É preciso encontrar outro lugar.”
(Michel Maffesoli)


Aqui uma interessante perspectiva é que a que defendo. O modelo de escola que temos está falido!
E não creio que tenha que ver com dinheiro e subsídios em primeiro lugar, antes sim tem que ver com motivação, objetos e objetivos. Neste modelo que conhecemos a educação não serve nem como elemento formador, inovador, nem criador. Há tempos este modelo deixou de tomar o individuo como um todo holístico inserido e integrado ao seu mundo e a seus tempo. Isto é, inserido em um contexto social, cultural, politico, econômico, produtivo.

Desde que a escola e seus sistemas supostamente inciaram a compartimentação, e pretensa especialização, os indivíduos começaram a atrofiar-se enquanto pessoas capazes de entender e propor alternativas ao seu tempo. E aí que todos os problemas surgiram.

A escola começou a ser vista, e funcionar, como um local onde conteúdos são dispostos e perfilados...apresentados um a um sem relação ou conexões. Tudo parece nada e nada precisa ser pensado, interpelado, questionado. O espirito crítico, criativo e elucubrador não é mais incentivado e cada vez mais, programas e conteúdos, são apenas dispostos como uma amassa amorfa a ser decorada. E aí que entram os elementos de desencanto, desinteresse e desmotivação não apenas de alunos, mas também de professores. Ninguém sabe ao certo porquê mesmo é que está ali, nem para quê.

A escola transformou-se em um local de metas e obrigações a cumprir e não um espaço criativo de vivências e oportunidades de convívio com o que é novo, diferente, instigante... infelizmente.

Daí que para este modelo, não há recursos que possam dar conta do esgotamento, desencanto e desmotivação.

O professor teria que ser apenas e tão somente um mentor a instigar e não um conteudista regurgitando conteúdos, números, dados, gráficos, tabelas, textos, poemas....precisaria ser capaz de transformar isso tudo em algo que estivesse conectado com o mundo em que estamos com a vida que tais discentes têm, rodeados de estímulos visuais, sonoros e, de que forma levá-los ao mesmo tempo a ver-se inseridos em uma sociedade que age e se reproduz desta ou daquela forma. Enquanto isso não ocorrer, não há reformas de currículos e verbas que darão conta de todo o sistema falido em que se pensa a Educação.


Vejo como única possibilidade de salvar a Educação o professor voltar a ser um iniciador!
Aquele que mostrará as ferramentas para que o discente descubra o mundo à sua volta. Só que mentores não são formados em escolas! Ser um mentor exige Sabedoria interior, visão holística aguçada, sensibilidade, perspicácia, generosidade intelectual. Todas características e qualidades que exigem cultivo, dedicação, disciplina. E aquí a minha pergunta: "quantos docentes tem estas qualidades?"

De novo insisto: estas qualidades não estão nos currículos de formação e não se adquirem por incentivos financeiros governamentais. Aí as "desculpas" cessam, já que precisam ser de inciativa individual daquele que chama para si a responsabilidade de ser um mentor intelectual.
Quantos agentes teríamos?
Boa pergunta!

A Educação precisa, e deve, ser pensada holisticamente. Sem este olhar terá chegado ao seu fim!

_____________________
Posts relacionados:
Criatividade e escola: caminhos incompatíveis?!
Chegamos ao fim da leitura?
Geração Touchscreen
Letra cursiva: a caminho da extinção?
Facebook: robotização e sedentarismo em rede

*
Curta/Acompanhe o Blog através de sua página no Facebook

3 comentários:

  1. Visão holística não concebe os fatos isoladamente; sim, integralmente.
    Responder
  2. Eliana, muito interessante o texto. Realmente parece que estamos formando robos. Só recebemos conteúdos e não questionamos como no tempo dos pensadores gregos. Temos que mudar e formar pessoas questionadoras e curiosas...
    Responder
  3. Eliana, só me responde, onde vão parar os professores rebeldes? Qual a punição por eles quererem uma educação diferente, de dar um passo a mais e novamente, de reconstruir a escola a partir da sociedade do conhecimento coletivo. São muito boas perguntas.
    Responder

India - Uma Civilização Superior

Liberte Sua Mente

Compartilhada publicamente08:30
 
ÍNDIA JÁ TEVE UMA CIVILIZAÇÃO SUPERIOR À NOSSA
Rama e Sita desembarcam de seu “Vimana Pushpaka” representado em formato de um Cisne.   No antigo Mahabharata, há menção de armas de raios divinas e, mesmo algum tipo de arma hipnótica.  E também no Ramayana, há uma farta descrição de veículos aéreos chamad...
Rama e Sita desembarcam de seu “Vimana Pushpaka” representado em formato de um Cisne.   No antigo Mahabharata, há menção de armas de raios divinas e, mesmo algum tipo de arma hipnótica.  E também no Ramayana, há uma farta...
4
Foto do perfil de Professor Negreiros

DEPRESSÃO

DEPRESSÃO, PÂNICO & VESPAS



Wadislau Martins Gomes
Depressão dói mais do que aguilhoada de vespa na alma”. Quem disse isso não sabia que eu já experimentei os dois, na alma e no corpo. Ferroada no dedo, no beiço, nas costas – nada se compara à fisgada da bandida, na alma. Principalmente para quem é alérgico a flutuações do humor. Vem daí, que eu estava lendo Deuteronômio 7 e deparei com o termo “vespão”, em um contexto de depressão e de pânico. Sabe como é – parece coincidência, mas é apenas que chama a atenção.

O contexto do relato é a preparação do povo israelita para a conquista da terra prometida. Até aí, tudo bem. Deus diz que o povo irá inevitavelmente vencer nações mais poderosas. Maravilhoso! Deus recomenda duas coisas a serem mantidas em mente: guardar a lealdade ao pacto que ele fez com o povo, e obedecer aos mandamentos pactuais. Ótimo! Sobretudo, porque tem mais. Deus promete que o povo seria bendito, prolífero, sadio e bem sucedido. Quem quer mais? Um pedaço de quindim, talvez?

Entretanto, a coisa muda quando vem a recomendação: Não tenha temor, quando perceber que as nações são mais numerosas, dizendo: como poderei desapossá-las? Não queremos nem pensar; vai que acontece! Pior ainda é quando Deus diz que mandará entre eles [os inimigos] vespões, até que pereçam (v. 20). Aí, a gente pensa: “E se as vespas se voltarem contra mim”. Pelo menos, a minha experiência diz que abelha, vespa ou marimbondo, todo esse exército fedido prefere, no meio de tantos, atacar logo a mim. O interessante é que a palavra “vespões” (hb., tisir’rāh) tem um sentido de “pânico” e “depressão” (Peter C. Craigie, The Book of Deuteronomy. Grand Rapids, MI, Eerdmans, 1976, p. 182, n. 14).

Antes de chegar ao ponto, deixe-me colocar quatro coisas (sobre as quais poderemos tratar mais detalhadamente, em outra ocasião): (1) Depressão não é um mal em si mesmo; ela está para a alma assim como a dor está para o físico: previne que passemos o limite de nossa capacidade. (2) Depressão pode ser causada por problemas espirituais com reflexo no corpo, ou pelo corpo com reflexos na alma. (3) Depressão nem sempre é fruto de pecado, mas também não poderá ser seu motivo. (4) Em qualquer dos casos há uma ação requerida daquele que sofre a depressão, no sentido de se utilizar bem dessa provação a fim de recuperar o contentamento no Senhor.

Como reagir a dois desses marimbondos “cavalo do cão” que nos atacam a toda com veneno paralisante – depressão e pânico? Bem, se for daqueles de asas e ferrões, e não houver alergia: repouso, imobilização da área, torniquete (incisão e sucção removem 20% do veneno se feitos na primeira meia hora), sem estimulantes e muito líquido. Se o caso for pior, hospital, depressa! Mas, se for daquelas que pegam a alma, amarram, amordaçam e fazem definhar, aí, sendo de fundo físico, um médico e um bom conselheiro cristão poderão ajudar; se for de fundo emocional (a maioria das vezes), o tratamento poderá ser caseiro. Em qualquer dos casos, requererá a aplicação do quarto item, acima. A ação prescrita envolve, entre outras coisas, o uso da memória. Em todo o texto de Dt 4—8, é enfatizado o recurso da memória: “lembrar” e “não esquecer”.

(a) Lembrar as coisas que o Senhor fez para e em sua vida. Os israelitas, em função da falta de confiança em Deus (Dt 1.44), haviam sofrido uma derrota militar sob um ataque como que “de abelhas”; agora, o Senhor lhes prometia a mesma paga aos inimigos. Aí está! As depressões poderão ser nossas grandes amigas quando precisarmos de um recesso (como quando salta de um muro e flexiona os joelhos a fim de diminuir o choque); mas se nos deixarmos dominar pela depressão ou pelo pânico, o veneno vai direto à memória. A promessa do Senhor aos israelitas, agora, é o contrário: ele mandaria entre eles [os inimigos] vespões, até que pereçam (v. 20).

No nosso caso, são vespões contra vespões; e lembranças são como marimbondos santos que nos auxiliam na vitória contra a depressão e o pânico. Temos de manter na memória o dia da nossa salvação, quando, na cruz, o Senhor venceu o aguilhão do pecado, e sarou nossas feridas. Durante todo tempo, agora, ele tem nos disciplinado para a batalha, para que não sejamos (adaptando a figura) como meninos fugindo de abelhas (cf. Ef 4.14). Ceder à tentação de se deixar levar pelo “branco” que dá na mente, pela modorra que segue o dito: “não me faz rir que dói”, ou pelo sentimento de não querer ser consolado, tudo isso é como feronômio que só atrai mais marimbondos. É preciso lembrar os mandamentos e promessas do Senhor. Se acharmos que não dá para lembrar nada, alguém poderá ser o “grilo falante” da nossa consciência, lendo a Bíblia (Salmo 107; Mateus 26.36-42; João 12.23-28) ou outro livro (Por exemplo, David Powlison, Uma Nova Visão: SP, Editora Cultura Cristã, 2009). Orar, agradecendo a Deus as experiências específicas com sua bondade durante toda a vida é um “santo remédio”!

(b) Não podemos nos esquecer de quem Deus é. A Bíblia diz: Não te espantes diante deles, porque o Senhor, teu Deus, está no meio de ti, Deus grande e temível (Dt 7.21). Medo de quê? Futuro, pessoas, situações, tudo? Deveríamos ter medo de não confiar em Deus. A promessa do Senhor foi que ele estaria no meio dos israelitas, do mesmo modo que ele está no nosso meio, habitando em nós e no meio do problema. Ele é Deus presente; não estamos sós.

(i) Deus tem um propósito e um plano bom para nós. Deus disse ao povo que daria a vitória na conquista da terra prometida, pouco a pouco, porque ele não estava preparado, ainda, para governá-la e para que as feras do campo se não multipliquem contra ele. O Senhor, em tudo nos prepara para a vitória (cf. Romanos 8.22-39). Não podemos nos esquecer de que Deus nos amou, entregando seu Filho a fim de que tivéssemos a vida eterna (cf. João 3.16). Seu propósito é o de que vivamos uma vida de tempo e qualidade eternos. As muitas lutas são parte do seu plano para fortalecer nossos joelhos. Hebreus 12.11-13 diz que a “disciplina, no momento, não parece ser motivo de alegria”, mas, depois, produz fruto de justiça. Assim, somos instados a restabelecer as “mãos descaídas e os joelhos trôpegos e fazei caminhos retos para os pés”, afim de sermos curados. Dobrar os joelhos diante de Deus, e exercitar os joelhos diante dos homens cura pânicos e depressões. (Você já tentou matar marimbondo, no quarto, com toalha de rosto?).

(ii) O Senhor é homem de guerra (Êxodo 15.3). A vitória que ele dá, requer o exercício da lei da guerra. Primeiro, retire da cabeça os livros sobre a arte da guerra (tem muitos, novos e antigos; cf. Carl Von Clausewitz, 1780-1831). A lei da guerra, na Bíblia não é a da vitória da carne autônoma, independente, egoísta; é a arte de amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como já amamos a nós mesmos. Assim, Paulo também diz que “nossa luta não é contra o sangue e a carne” (Efésios 6.12). Nessa luta contra a depressão e o pânico, os inimigos são aquelas coisas que militam contra o Espírito de Deus. Paulo também diz, em Gálatas 5.13-25, que nossa carne é escrava de lutas intestinas: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas (vv. 19b-21). Contra esses, a ordem bíblica é: (i) destruir o poder de fogo inimigo e inabilitá-lo para a luta; (ii) subjugar o inimigo interno até à morte e não permitir que o seu ambiente externo tenha força de contra-ataque; (iii) a guerra só termina quando a vontade do inimigo for inteiramente dominada pelo Espírito de Deus (cf. Dt. 20.10-18).

O ponto chave em tudo isso é: “mais vale dois marimbondos voando do que um na mão”. Dt 7. 23-26, finalmente, reafirma aos israelitas a promessa de Deus, de destruir o inimigo enquanto os prepara e fortalece para a vitória (vv. 23-24). A parte de Deus, deixemos com ele e confiemos em seu poder e bondade. Quanto a nós, havemos de queimar todos os ídolos e parafernália de idolatria – até mesmo, o culto aos rótulos diagnósticos, o temor da doença, os caldos de galinha psicológicos etc. A depressão e o pânico são tão valorizados que parecem prata e ouro, mas são apenas peças banhadas que escondem cobiça (quebra dos primeiros quatro mandamentos) e sujeição à carne (quebra dos últimos seis mandamentos).

Bem sei quando dói a picada do marimbondo e não quero ser um vespão na sua tristeza. Antes, peço a Deus que o veneno da bendita acione o antídoto da Palavra de Deus e sua comunhão a fim de que você reúna toda a fraqueza dos ossos, músculos e nervos, e toda a força e óleo da graça para sair campo afora, catando mel de abelhas.

Originalmente em Coram Deo