sábado, 21 de março de 2015

Realidade que sai da ficção científica

Agora é possível controlar um besouro vivo como se fosse um drone

17/03/2015 - 12H03/ atualizado 12H0303 / por Luciana Galastri

  (Foto: wikimedia commons)
Ciborgues, seres meio-vivos meio-máquinas, parecem coisas saídas da ficção científica? É melhor pensar de volta: cientistas conseguiram controlar um besouro vivo, como se fosse um drone. Sim, com um controle remoto.
Um estudo divulgado no periódico Current Biology mostra que, através de pequenos computadores instalados em 'mochilas' nas costas dos besouros, os cientistas podem direcionar seu vôo.
As mochilas são equipadas com um microcontrolador, um receptor e transmissor wireless e pequenos eletrodos, que estimulam um músculo dos besouros conhecido como 3Ax. Essa estrutura ajuda os insetos a fazer manobras no ar. Então basta que os cientistas mandem comandos como 'direita' ou 'esquerda' para que eles sejam traduzidos em comandos para esse músculo. Quanto maior a frequência do estímulo, mais aguda é a curva.
Não acredita? Confira o vídeo:
Lógico: há uma grande discussão ética sobre o direito que temos de transformar um ser vivo em um drone, tirar dele sua capacidade de escolha. Mas não é a primeira vez que isso acontece. Sistemas parecidos já foram implantados em mariposas e baratas. Aliás, é possível até comprar um kit para construir sua barata ciborgue online - agora, se ele funciona é outra história.
Via Fusion

americanos somos todos nós e não apenas os estadunidenses

Manifesto Americanista

A História é uma ciência que trata dos homens e das mulheres, de suas culturas e sociedades, ao longo do tempo. Na História estão as mudanças e as permanências, as resistências e as revoluções. Mas desde que a História tornou-se  esta  ciência  social  do  homem  no  tempo,  vem  sofrendo  alguns  desvios, principalmente porque passamos a contar nossa história não mais a partir de nossos lugares no mundo, mas a partir de fora para dentro.

Na tentativa de entender nossa história, a História da América, como a história central, a nossa história comum, enquanto americanos, escrevemos este manifesto.

Em  primeiro  lugar,  entendemos  como  americanos  todos  aqueles  que nascem  na América.  Um  cubano  é  um  americano,  um  colombiano  é  um americano,  um  brasileiro  é  um  americano,  assim  como  um  estadunidense também  é  um  americano.  Na  verdade  os  estadunidenses,  devido  a  suas condições  históricas,  têm  reservado  para  si  a  condição  de  serem  os  únicos “americanos” do nosso continente. Enquanto americanistas temos o dever de acabar  com  esse  conceito;  americanos  somos  todos  nós  e  não  apenas  os estadunidenses.

Mas o nome “América” é uma herança europeia. Como americanistas não negamos este fato. Entretanto, escolhemos utilizar este termo para designar o nosso  continente  porque  é  um  termo  que  já  está  no  vocabulário  popular  e científico, e, por isso, deve ser considerado.

Antes  da  chegada  dos  europeus  aqui  não  existia  uma  “América”. Ao contrário,  antes  deles  chegarem  existiam  os  impérios  asteca  e  inca,  as  civilizações maia e olmeca; além de uma diversidade de povos espalhados por todo o continente. Decidimos nos apropriar do termo América para designar o continente não porque achamos que a herança europeia foi a “mais evoluída” e fez “bem” para os povos que aqui habitavam. Não. Nós americanistas adotamos o nome América porque este nome dá a noção de totalidade na diversidade que consiste nosso continente. Somos contra o eurocentrismo, assim como quaisquer outros tipos de “centrismo”.

1.A América em relação ao mundo

A América é um continente que ao longo da história tem características contraditórias.  Foi  berço  de  povos  e  civilizações  originais,  como  os  incas, astecas e maias, mas também foi o espaço da espoliação e colonização europeia; berço de uma Revolução Industrial, como a dos Estados Unidos, mas também de países  com  desenvolvimentos  desiguais,  dentro  mesmo  de  seus  próprios territórios.

Se no início dos tempos, a América vivia isolada, foi no século XV (de acordo com a contagem cristã dos séculos) que os europeus aqui chegaram e iniciou-se  uma nova etapa de nossa história. A partir de então a América se relacionou com o restante do mundo. Ao longo dos anos de colonização, a América foi a veia por onde vertia os metais que possibilitaram a acumulação primitiva  de  capital  na  Europa  e  que  posteriormente  deu  as  bases  para  a ascensão do capitalismo, o primeiro sistema a integrar o mundo; mas não de forma igualitária e sim numa relação de exploradores e explorados.

Já na fase imperialista do capitalismo, em fins do século XIX, a América viu emergir uma grande potência: os Estados Unidos. Assim como nos países europeus, o imperialismo americano dos Estados Unidos não tardou a abocanhar a América para tornar seu quintal: Cuba, Nicarágua, Porto Rico, Honduras, Guatemala (as “Repúblicas de Bananas” sob a “proteção” dos  yankees).  Ainda hoje o imperialismo estadunidense está latente, pois vigia o mundo,interferindo não apenas na América, mas também na Europa e na Ásia.

O capitalismo consolidou-se com a Revolução Industrial na Inglaterra e foi, sem dúvida na América, nos Estados Unidos, que o capitalismo ganhou um novo fôlego. Nos anos 1910 e 1920, a Europa, muito ocupada resolvendo suas guerras internas, que chamamos erroneamente de 1º guerra mundial, começava a perder  sua  hegemonia  no  sistema  capitalista.  O  capitalismo  estadunidense tornou-se o foco; mas o sistema capitalista mostrou suas contradições mais uma vez e em 1929 a América tornou-se o berço de uma crise mundial. “O país mais rico  do  mundo  se  tornou  uma  nação  abatida”  nas  palavras  do  sociólogo estadunidense  Leo  Huberman, explicando a  crise  que começou nos Estados Unidos....da América.

Após a segunda guerra mundial  (que na  verdade é  a  primeira guerra realmente  mundial),  os  Estados  Unidos  tornaram-se  o  núcleo  de  um  bloco capitalista. Os papeis se invertem: a Europa antes colonizadora, agora se rende ao  poderio  estadunidense.  Mas  a América  não  é  um  todo  homogêneo. As relações entre a América e o mundo tornavam-se mais fortes. Sob o comando dos Estados Unidos, tentando reforçar sua hegemonia capitalista na América, apoiaram ditaduras como no Peru, Brasil, Chile, Bolívia, Argentina, Uruguai e Paraguai,  contra  governos  nacionalistas-progressistas,  como  os  de  Vargas  e Jango no Brasil, Peron na Argentina e Haya de la Torre no Peru. Verifica-se, portanto, a ligação entre o nacionalismo e o ideal de justiça social, no tocante a América, muito distinto do nacionalismo europeu xenófobo e fascista.

Nunca houve tantas revoluções no mundo como no século XX. Boa parte delas americanas: revolução mexicana, revolução de 1930 no Brasil, revolução cubana,  revolução  nicaraguense  e  quem  sabe  revoluções  na  Venezuela  e Colômbia sob a bandeira do bolivarianismo.

Na América  tivemos  experiências  únicas  de  socialismo,  diversas  das europeias, africanas e asiáticas: a via chilena para o socialismo, a cubana, a nicaraguense. Socialismos e nacionalismos na América. Nunca houve tantas alternativas para se chegar a uma sociedade mais justa socialmente do que na América.

Como americanistas, não achamos que tudo que vem de fora não tem proveito. Ao contrário. Vamos usar conhecimentos de todos os continentes, sem dogmatismos e sectarismos, para nossas análises. Ser americanista não é negar o conhecimento produzido por toda a humanidade ao longo dos séculos, é, sim, saber que todo conhecimento tem uma história e serviu para algum momento e para  algum  fim.  Sendo  assim,  nós  americanistas  somos  críticos  e  não descansaremos  até  que  se  estabeleça  a  História  Social-Crítica  como  escola tipicamente americanista de produção historiográfica.

Entender o  mundo, suas  dinâmicas  e  processos  sociais, também  pode ajudar a compreender a América; pois nosso continente faz parte de um mundo maior e entendê-lo sob todas as óticas (desde que a partir da nossa história) é dever de todo americanista.

2. As bases do americanismo

Para  estudar,  analisar  e escrever nossa  história americanista, trazemos algumas  concepções  teóricas  (pois  teoria  e  prática  são  pressupostos indissociáveis).

Primeiramente entendemos que toda história tem um papel educacional e pedagógico.

 Somamos nossas vozes, criticamente, a de Danilo R. Streck, quando ele nos faz a seguinte provocação: “Existiria algo como a matriz de um pensamento pedagógico  latino-americano  que  desse  suporte  para  as  teorizações  que  – supostamente –deveriam responder às perguntas que emergem de nossas práticas educativas?”  Neste  sentido  acreditamos  que  a  pedagogia  histórico-crítica  é fundamental, por acreditarmos que é a mais adequada as nossas necessidades historicamente construídas.

Lutamos e lutaremos para que a história ensinada em nossas escolas seja a partir  da América;  temos  20  mil  anos  de  história! Antes  de  estudar  Egito, Mesopotâmia  e  Europa,  temos  que  partir  da  nossa  terra,  nosso  continente americano.  Repudiamos  toda  história  da América  que  se  inicia  como  um apêndice da história da Europa.

A América nunca foi América pré-colombiana. Sempre foi a América dos incas, dos maias, astecas, tupis, olmecas, aimarás, mapuches, guaranis e de outros povos que se desenvolveram por aqui. Chamar a América de América pré-colombiana é o mesmo que dizer que antes de Colombo e dos europeus não havia nada por aqui; que estávamos esperando Colombo e seus europeus chegar para iniciar nossa história. Por outro lado, a nossa América não se resume aos seus povos autóctones, somos também descendentes das nações colonizadoras, somos além disso afro-descendentes.

Propomos que as relações humanas, no caso específico da América, são resultado  tanto  de  condições  econômicas,  como  culturais  e  políticas.  Sendo assim, um americanista deve estar atento a todo tipo de produção e organização social no continente. Devemos nos aproximar, sem preconceitos, de leituras tanto  materialistas,  quanto  idealistas  de  nossa  trajetória.  Entendemos  o idealismo, como integrado a uma visão materialista histórica de fato dialética.

Qual a finalidade da educação escolar para os professores que não vêem o papel ativo das ideias no processo histórico?

Acreditamos que a história pode trazer muito do que precisamos para tornar o nosso continente um modelo nunca antes visto no mundo, um modelo de justiça social. Por isso ser americanista é denunciar os males socialmente construídos  que  assolam  as  pessoas  de  todos  os  países  da América  e  as possibilidades para superá-los.

3. Historiografia americana

Nós, americanistas, temos que estudar, pesquisar e levantar o que esta sendo produzido no conhecimento histórico sobre a América. Precisamos estar em contato com faculdades e universidades, escolas e movimentos sociais de toda a América. A colonialidade do conhecimento que nos é imposta é algo que vamos quebrar. Fomos colonizados brutalmente pela Europa, mas ainda hoje nossa mentalidade é de colonizados. Poucas pessoas sabem sobre a historiografia americana, cabe a nós americanistas trazer estas produções ao
público.

Sabemos sobre a historiografia francesa dos  Annales  de Marc Bloch e Braudel, inglesa da História Social de Hobsbawm e Thompson, alemã de Ranke e/ou Droysen. Nós, americanistas,não negamos a importância destas “escolas historiográficas”, mas temos  que nos debruçar sobre o que se produz aqui na América e para América. Quem melhor pode entender nossa realidade social, ou mesmo nossas peculiaridades históricas do que nós, americanos?

Há historiadores e professores americanos que sabem tudo sobre a Europa e  apenas  arranham  alguns  conhecimentos  sobre  a América.  É  nosso  dever, enquanto americanistas, dialogar com eles, sobre nossa história.

Quem que estuda história conhece a obra de Frederick Jackson Turner? Halperin Donghi? Leon Pomer? Manoel Bomfim? José Carlos Mariategui? José María Arguedas? Jorge Basadre? Luis Vitale? Ou mesmo de Gilberto Freire, Capistrano de Abreu e Euclides da Cunha? Com certeza poucos conhecem os que  escrevem  sobre América  e  são  americanos.  Cabe  a  nós,  americanistas, conhecer e divulgar estes historiadores e escritores, mas sempre de forma crítica, entendendo que cada um escreve a história de acordo com a época e a realidade social em que vive ou pensa viver; e compreendendo a história produzida por eles, se compreende melhor suas épocas.

Mas  apenas  conhecer  e  contemplar  o  que  já  foi  escrito  não  é  nosso objetivo. Precisamos (re)escrever a nossa história. A História da América deve ser  escrita  com  toda  carga  crítica  que  precisamos  para  entender  nossas sociedades, do passado e do presente. Sendo assim, a historiografia americanista nos  serve  como  referencia;  buscamos  e  buscaremos  todos  os  autores  que escreveram e ainda escrevem sobre a América, não importa se são africanos, asiáticos ou europeus. Há muitos pontos que podemos aprender com outros países.

4. Americanismo X Americacentrismo

Ser  americanista  não  é  o  mesmo  que  ser  americacentrista.  Ou  seja, dialogamos  e  continuaremos  a  dialogar  com  todos  os  países  e  todos  os continentes; principalmente com aqueles que se encontram no que outrora foi chamado  de  “Terceiro  Mundo”:  países  independentes  de  qualquer  modelo político  e  econômico  estabelecido  por  forças  internas  ou  externas,  onde  as nossas  lutas  por  justiça  social  são  tratadas  como  demagogia,  paternalismo, populismo. Não cremos que a América é o centro do mundo e que todo o resto não presta e não tem sua validade; isto seria reproduzir a mente colonizada ao inverso, ou seja, se apropriar do lugar de colonizador. Apenas acreditamos que devemos valorizar muito mais a América como um todo, suas lutas e revoluções sociais, pois a história é feita por homens no tempo e no espaço.

Com efeito, todo americanista é contra qualquer tipo de preconceito, seja ele contra classes, gênero, grupo étnico/racial e cultural. Também somos contra qualquer tipo de xenofobia; acreditamos que sempre há algo a aprender sobre outras culturas, nações e povos.

O americanismo é construído de forma crítica, dialética, com opiniões contraditórias;  mas  sempre  mantendo  o  respeito  e  se  posicionando energicamente quando opiniões alheias são preconceituosas, ou desrespeitosas contra qualquer pessoa, e vão contra nosso ideal de justiça social.


JUNTE-SE A NÓS E VAMOS ESCREVER AS HISTÓRIAS DA AMÉRICA!
Sobre o Autor:
Fábio Melo
Fábio Melo. Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Pesquisa sobre História Social da América e Educação na América (América Latina e Estados Unidos). Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. Tem diversos textos escritos sobre educação, cultura e política. 
Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael Freitas. Graduado em História na FAPA, Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Tem interesse de pesquisa em História Social da América e Tendências Pedagógicas Contra-hegemônicas. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. 

Brasileiros somente através da dialética pode-se perceber as contradições

ATÉ AONDE VAI A SUA DIALÉTICA?

Engana-se quem considera muito fácil utilizar o método dialético, e que para defender o marxismo basta ideologizar tudo o que se pretende transformar em objeto de investigação. Somente através da dialética pode-se perceber as contradições, seja no capitalismo, seja na educação sob este modo de produção. Vejamos dois exemplos.

A professora, graduada em filosofia, com mestrado em educação na UFRGS, Lízia Helena Nagel é detentora de teses polêmicas. Em entrevista ao site Germinal, em junho de 2013 ela determinou quatro processos históricos que impedem a emancipação humana, são eles:

a) O dogma da fé relativo à crença na democracia burguesa;
b) O entendimento de poder descolado da noção de classes sociais;
c) A propaganda como gerenciadora da formação do indivíduo consumista, competitivo, inculto, narciso;
                                      d) A educação para a tolerância como matéria básica do conteúdo e da                                                           prática escola! 

E vai mais longe.  Ela criticou o silêncio sobre a atual escravidão branca em discursos sobre a injustiça da escravidão negra e o discurso coeso escolar que encaminha a todos para o empreendedorismo. A entrevista estava pautada na relação entre educação e emancipação humana, tema constante nas obras marxianas. No entanto ela fez críticas ao nível de discursos, majoritariamente, como eu quis chamar atenção através do excerto acima. Fez ataques com as mesmas armas do inimigo, mas estaria sendo condizente com o materialismo histórico e dialético?


Marx e Engels

Para NAGEL, Marx aprofundou e radicalizou suas teses materialistas a partir de 1844 com os Manuscritos Econômicos e Filosóficos. A falta de leituras dessas e outras obras fazem ditos marxistas defenderem bandeiras burguesas, restringindo seus julgamentos a comportamentos democráticos ou antidemocráticos.

Agora um parêntese meu a partir desta entrevista. Em nota, Marx foi citado, aonde declarou a essência de sua obra máxima que foi O Capital:

Nesta obra, o que tenho de pesquisar é o modo de produção capitalista e as suas correspondentes relações de produção e circulação. Até agora, a Inglaterra é o campo clássico dessa produção. Este é o motivo por que tomei como principal ilustração de minha exposição teórica.
Neste prefácio de 1867, Marx declarou que o modo de produção capitalista é seu objeto de estudo nesta obra. Ora, O Capital não foi sua única obra. Quando afirmamos que Marx estudou o capitalismo, estamos errando. Marx estudava a formação social européia, em O Capital estudara o capitalismo inglês. José Paulo Netto e Olavo de Carvalho erraram quando defenderam que Marx estudava o capitalismo, já que Marx também estudou o feudalismo europeu, os socialismos europeus, e outras temáticas européias: ele e Engels deram muito pouca importância para outros lugares, e quando os estudaram, foi em relações com a Europa para entender as suas especificidades (Luis Vitale fez o mesmo quanto a América Latina, Caio Prado Junior e Nelson Werneck Sodré quanto ao Brasil). Este modo de produção era o mais desenvolvido e altamente civilizador, para ambos. NAGEL pareceu não perceber que as defesas de bandeiras burguesas também são recorrentes no marxismo originário, já que há historicização/relativismo em seus estudos sobre a formação social européia e a sua criação que foi o capitalismo. Sim, a dialética de NAGEL foi até aí, durante a entrevista ela não percebeu o uso de bandeiras burguesas enquanto contradição, já que no Brasil o capitalismo se desenvolve em tempos diferentes.
Esta falha é compreensível. Nossa posição ideológica muitas vezes nos impede de entender tudo dialeticamente, ou de ser respeitador com aquilo que detestamos, como sugeria Nietzsche. Karl Marx ao atacar Simon Bolívar pouco usou a sua tão defendida dialética histórica, nem abstraiu as lutas americanas pela independência em relação ao Império Espanhol em termos de lutas de classe. [1]

O outro exemplo é Paulo Ghirardelli Junior, que em “O que é pedagogia”, defendeu a tese de que as pedagogias modernas são burguesas, todas elas produtos do “mundo moderno”, que surgiu da decadência do mundo medieval e feudal. Todas as pedagogias atuais são vertentes da pedagogia moderna. O pioneiro desta pedagogia foi Martinho Lutero, passando por Comênio (um dos mestres de Piaget) e Rousseau. No século XIX, na Alemanha, nasceu a pedagogia herbartiana, que consistia em cinco passos (preparação, apresentação, associação, generalização e aplicação). Esta pedagogia passou a ser considerada nos Estados Unidos como tradicional e antiquada. Opondo-se a pedagogia herbartiana, a pedagogia de Dewey foi divulgada no mundo todo. Esta nova pedagogia também consistia em cinco passos (atividade, problema, dados, hipótese, experimentação) e, por sua vez, foi criticada por diversos intelectuais, entre eles, Gramsci, Lênin, Moacir Gadotti, Dermeval Saviani e Newton Duarte.


Paulo Ghirardelli Junior fez uma excelente historicização, portanto, das tendências pedagógicas, apontando a pedagogia tradicional brasileira como predominante até 1932 e mesclando idéias estadunidenses, alemãs e jesuíticas; escolhendo como marco o ano de 1932, quando as teses da Pedagogia Nova foram transmitidas no Brasil com a publicação do “Manifesto dos pioneiros da educação nova”, assinado por intelectuais da educação de diferentes campos políticos, do liberalismo até o comunismo. Todas as pedagogias existentes durante a vigência do modo de produção capitalista no Brasil são realmente burguesas? Ou a pedagogia também é lugar de contradições, inclusive em termos de classes? Sim, há referências marxistas no livro analisado aqui deste autor, mas fez falta a dialética. Não basta regurgitar chavões de que a educação escolar se limita a reprodução do capitalismo, parafrasear aleatoriamente frases de Karl Marx! Fazer propaganda dos seus livros objetivamente aumentará os lucros das editoras e livrarias, não indo além!
Apontamos como antítese a Lízia Helena Nagel os próprios fundadores do marxismo originário. E quem serviria de antítese as idéias ingênuas de Paulo Ghirardelli? Moacir Gadotti, que em “Educação e poder. Introdução à Pedagogia do Conflito”, propôs uma pedagogia a partir de suas experiências em sala de aula, e por não defnir ainda uma nomenclatura, a chamou provisoriamente de “pedagogia do conflito”. Usando o conceito de ideologia, enquanto uma “falsa consciência”, se colocou como “contra-ideológico”, dividindo este livro da seguinte forma: “Por uma filosofia crítica da educação”, “Introdução à pedagogia do conflito” e “Ideologia e contra-ideologia na educação brasileira contemporânea”. Esta foi a tese central para o seu texto “Revisão crítica do papel do pedagogo na atual sociedade brasileira”:
Tese central: a história da educação brasileira é a história da educação do colonizador. A pedagogia do colonizador forma gente submissa, obediente ao autoritarismo do colonizador. Nessa pedagogia, o educador tem por função policiar a educação para que não se desvie da ideologia do dominador.Numa pedagogia oposta à pedagogia do colonizador (que na falta de melhor expressão chamamos de pedagogia do conflito), o educador reassume a sua educação e seu papel eminentemente crítico: à contradição (opressor-oprimido, por exemplo) ele acrescenta a consciência da contradição, forma gente insubmissa, desobediente, capaz de assumir a sua autonomia e participar na construção de uma sociedade mais livre (GADOTTI, 1985, p. 53).

Neste livro, Gadotti propôs que uma pedagogia do conflito deve ser elaborada no lugar de uma pedagogia do diálogo e discordou da necessidade de pedagogia para o seu tempo, pois no sentido clássico “pedagogia” significada a “condução de crianças”: “’Conduzir as crianças’, hoje, é papel do motorista de ônibus escolar e não do professor, do pedagogo”, portanto é uma noção inadequada. Se, para Freire, a educação começa com a ignorância[2], para Gadotti, inicia com a desobediência e o desrespeito, inclusive em relação as teorias de educação existentes, principalmente contra a “escola ativa”, um modelo trazido por especialistas estadunidenses, desde 1966, através de um acordo entre o MEC e a United States Agency for International Development (USAID). Gadotti fez, neste livro, elogios a pedagogia do oprimido de Paulo Freire, a identificando com a mesma tese central que defende, de que nenhuma pedagogia é neutra. No esforço de repensar a educação, defendeu que as pedagogias centradas no estudante, ou não-diretivas, como a pedagogia do diálogo, nada fizeram além de esconder o problema principal da educação escolar brasileira. A tarefa do pedagogo é, para Gadotti, essencialmente, incomodar, ativar conflitos para a superação da educação do colonizador. A sala de aula é o lugar, por excelência, da assunção das contradições inerentes a sociedade dividida em classes sociais. Mais de uma vez concordando com Paulo Freire, defendeu que a prática educativa deveria fundamentar-se em uma determinada ética. Em uma visão dialética, chegou na mesma conclusão em que chegou o professor Dermeval Saviani, ao analisar a relação sociedade-escola: a educação escolar não reproduz integralmente a sociedade da qual depende, em outras palavras, não existe sociedade, entendendo a escola como parte de uma totalidade que é a sociedade, totalmente conservadora ou libertadora. Por outro lado, contraria frontalmente uma das teses de Saviani ao entender que a “transmissão de uma cultura existente (ciência, valores, ideologia), [...] é a tarefa conservadora da educação”, por isso, a tarefa de uma educação revolucionária é a “criação de uma nova cultura”. Logo, o que diferencia uma escola conservadora de uma escola progressista ou revolucionária, para Gadotti, também é o conteúdo que ensina.

Embasado em Gramsci e na mesma direção que Saviani, Gadotti defendeu que o professor deveria ser um dirigente, por isso criticou as pedagogias não diretivas que primam pelo espontaneísmo. Em um entendimento diverso de Paulo Ghirardelli Junior, para quem a pedagogia dominante defende a ideologia dominante, Gadotti caracterizou a educação como um espaço de luta entre várias tendências e grupos, aonde nenhuma ideologia poderia dominar plenamente. Em razão desta visão, admitiu que há espaço para alguma autonomia dentro das escolas, ainda que elas sejam condicionadas por legislação, normas, programas ou paradigmas. O conteúdo e o ensino deveriam ser politizados, em uma pedagogia fundamentada na existência da luta de classes, ao preocupar-se mais com o contexto aonde se ensina do que com o conteúdo e com a forma. A escola deveria ser um local de debates, aonde os estudantes e os docentes deveriam constituir um grupo político, uma associação, pois a valorização da profissão de educador implicaria diretamente em uma educação melhor. Gadotti, para quem o “ato de desobediência [...] é eminentemente pedagógico”, afirmou, sobre a relação ordem-desordem:
A educação é obra transformadora, criadora. Ora, para criar é necessário mudar, perturbar a ordem existente. Fazer progredir alguém significa modificá-lo. Por isso, a educação é um ato de desobediência e de desordem. Desordem em relação a uma ordem dada, uma pré-ordem. Uma educação autêntica re-ordena. E por essa razão que ela perturba, incomoda. É nessa dialética ordem-desordem que se opera o ato educativo, o crescimento espiritual do homem. Precisamos de certa incoerência para crescer. Educar-se é colocar em questão, reafirmar-se constantemente em relação ao humano, em vista do mais humano para o homem (GADOTTI, 1985, p. 89).
O mundo deve ser problematizado em suas contradições. A especificidade do ato da educação é a formação de consciência crítica:
Uma docência limitada à transmissão de conhecimentos vira um supermercado de idéias. A pesquisa é essencial à própria docência. Entendo aqui por pesquisa o seu sentido original de busca, de constante inquietação, de dúvida. Um professor que transmitisse sempre o mesmo conteúdo, significa que ele cessou de buscar, instalando-se em verdades prontas, adquiridas, pré-fabricadas. Nesse sentido as Universidades (principalmente as particulares) têm pecado justamente por considerarem atividade escolar apenas as aulas dadas. Nós realmente não temos nenhuma tradição de pesquisa. Por isso somos culturalmente dependentes dos centros que produzem saber e não se contentam apenas em transmiti-lo. Não vejo possibilidade de separação entre o saber adquirido, o saber conquistado e o saber novo. Aqui também acuso a única tradição que é a tradição humanista da nossa universidade mais preocupada em transformar as consciências através de sermões, do verbo, do que pelo trabalho, pela pesquisa. Proponho uma metodologia diferente para a formação da consciência crítica: o trabalho, a produção. O crescimento da consciência não se dá na contemplação, na pura reflexão, mas no trabalho. É pela transformação do mundo que eu tomo consciência do mundo. O professor preocupado em “dar” essa consciência engana-se. A atitude paternalista do professor que quer ensinar a verdade, como se ele fosse o dono dela, querendo dar a consciência crítica como se ele fosse o único possuidor, só pode tornar o aluno impotente para o ato pedagógico, para aquisição dessa consciência crítica (GADOTTI, 1985, p. 91).

Tendo em vista as considerações acima, entende-se melhor por que a base de sua pedagogia é a incoerência, a desordem e a desobediência, enfim, a dialética. São idéias que fazem parte de um todo, idéias centrais desenvolvidas em várias das publicações do freirista Gadotti. Na importância conferida a pesquisa e atualização constante do professor está a proximidade mais explícita com o pensamento de Paulo Freire.

Sem a dialética, a ciência histórica anda para trás. A educação, incluindo a escolar, é uma causas complexas que entrelaçam-se no estágio atual de nossa História[3]. Sendo assim, para finalizar, faço minhas as palavras da professora Lízia Helena Nagel:
O marxista, para avançar em sua proposta social, em sua utopia emancipatória, tem de ter sensibilidade e coragem para conscientizar-se da atual redução, no indivíduo, da sua capacidade de estabelecer relações para além das fenomênicas dicotomias apreendidas espontaneamente. Precisa examinar, com rigor, as incongruências e incoerências (inclusive, as suas), ao invés de regurgitar chavões, reproduzindo a sociedade de consumo que faz da propaganda o exercício sistemático da negação das contradições.


Notas: 

[1] Vale para os casos de lutas de libertação contra o império espanhol na América, quando Simon Bolívar e outros caudilhos tiveram sua importância histórica, a mesma análise realizada por Sodré sobre o Segundo Império do Brasil, de circulação de elites no poder. Marx rejeitou em seu verbete sobre Simon Bolívar qualquer interpretação dialética em qualquer evento em que Bolívar participou.

[2]Uma ignorância que nunca é total, conforme Paulo Freire,A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos. O homem, por ser inacabado, incompleto, não sabe de maneira absoluta. Somente Deus sabe de maneira absoluta. A sabedoria parte da ignorância. Não há ignorantes absolutos. Se num grupo de camponeses conversamos sobre colheitas, devemos ficar atentos para a possibilidade de eles saberem muito mais do que nós. Se eles sabem selar um cavalo e sabem quando vai chover, se sabem semear, etc., não podem ser ignorantes (durante a Idade Média, saber selar um cavalo representava um alto nível técnico), o que lhes falta é um saber sistematizado (FREIRE, 2011, p. 14)”.

[3] Noção de dialética influenciada por Nelson Werneck Sodré, que em “Panorama do segundo império” teorizou: “As etapas sucessivas, no entrelaçamento das causas complexas, marcavam um ritmo cada vez mais acelerado. O império se desfazia, pouco a pouco, num processo de desagregação, por vezes claríssimo, silencioso, opaco, obscuro, por vezes (SODRÉ, 1998, p. 311)”.

Referências bibliográficas:

FREIRE, Paulo. Educação e mudança. São Paulo: Paz e terra, 2011.
GADOTTI, Moacir. Educação e poder. Introdução à Pedagogia do Conflito. 6ª ed. São Paulo: Autores associados/Cortez, 1985.
JUNIOR, Paulo Ghirardelli. O que é pedagogia. São Paulo: Brasiliense, 1987.
MARX, Karl. Simón Bolívar por Karl Marx. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
SODRÉ, Nelson Werneck. Panorama do segundo império. 2ª ed. Rio de Janeiro: Graphia, 1998.

Alvorada/RS, 11 de maio de 2014.

Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael Freitas. Graduado em História na FAPA, Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Tem interesse de pesquisa em História Social da América e Tendências Pedagógicas Contra-hegemônicas. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na rádio 3w. 

europeus na América Latina - transformação da vida para a morte

REGIME DE DESPOVOAMENTO (Verbete)

A chegada dos europeus para a América Latina provocou mudanças. A principal alteração foi a transformação da vida para a morte, locais até então povoados para semidesertos. A violência europeia foi contra os negros, e também contra as sociedades originais americanas. A sociedade incaica, por exemplo, às vésperas da invasão “ascendia a 10 milhões e [...] em três séculos de domínio espanhol, desceu a um milhão” (MARIÁTEGUI, 2010, p. 72). Isso significa dizer que houve uma profunda interferência na nossa História com a chegada dos europeus.

Os conquistadores não se privaram de massacrar muitas pessoas, destruir cidades, templos e palácios e escravizar as sociedades originais na América. 

Essa relação foi extremamente violenta, principalmente na região aonde viviam os incas e os astecas. O seu desenvolvimento impôs um modelo seguido em outras regiões de colonização, conhecido como regime de despovoamento:
Quando Cortez e Pizarro pisam a terra nova o que se lhes depara é uma civilisação adeantada, com características definidas. Havia, naquelles dois pontos, em que o hespanhol surgiu, um agrupamento humano seguro do seu destino e cônscio da sua força. Para dominal-o e, sobre as ruínas dessa civilisação, edificar uma nova civilisação, a adventícia, explorando todos os recursos da conquista, seria necessária a lucta sem tréguas, a destruição implacável, o anniquilamento. O inca, como o azteca, jamais seria escravo do invasor, jamais seria assimilado pela sua fúria depredadora e cobiçosa. Para dobral-os, seria preciso vencel-os. E a penetração se escreveu, a ferro e fogo (SODRÉ, 1940, p. 21)
Os europeus aqui vieram como invasores. Não vieram convidados via pacto colonial, ou qualquer nome que seja dado a algum acordo em condições igualitárias. O despovoamento em forma de regime de colonização representou um atraso histórico para a América, um regime incapaz de repetir as relações de trabalho que vicejavam na metrópole, pois não havia a necessária compreensão das economias americanas pelos europeus. Os negros vieram para diminuir a carência de população humana, e por conseqüência, de mão de obra na América. Os europeus promoveram mortes em massa das populações indígenas, já que nem todos resistiram com a audácia dos mapuches. A consolidação da mão de obra escravizada negra comprova o genocídio indígena, o despovoamento da América Latina. A História nos mostra que nenhum ser humano é adaptável ao trabalho escravo, seja negro, indígena, europeu. Na América, desenvolveu-se de modo desigual, um governo europeu altamente desumano para a sua população autóctone. Tamanha desumanidade obrigou o fim do trabalho escravo como mão de obra predominante através de abolições, sem as transições econômicas ocorridas na Europa. Os europeus governaram despovoando:
A prática de extermínio da população indígena e de destruição de suas instituições- muitas vezes em contraste com leis e providências da metrópole- empobrecia e dessangrava o fabuloso país ganho pelos conquistadores para o rei da Espanha, numa medida tal que esses não eram capazes de perceber e avaliar. Formulando um princípio da economia de sua época, um estadista sul-americano do século 19 devia mais tarde dizer, impressionado pelo espetáculo de um continente semideserto: “Governar é povoar”. O colonizador espanhol, infinitamente afastado desse critério, implantou no Peru um regime de despovoamento (MARIÁTEGUI, 2010, p73).

Qual foi a conseqüência deste regime de despovoamento? Entre a tara feudal e a tara escravista, nas regiões aonde havia modo de produção, como no Peru, aconteceu a desorganização através do extermínio de população autóctone. Um novo modo de produção surgia após a importação de mão de obra, africanos escravizados. Os indígenas que cultivavam uma economia coletora, nômade, resistiram com mais êxito. O regime de despovoamento não permitiu a repetição, em lugar algum da América Latina, do modo de produção feudal, que foi exclusivo da Europa. Produziu a tradição guerrilheira, viva até hoje. Produziu o racismo.A divisão em classes sociais como forma predominante de organização social em toda a América. Uma luta distribuída pela América Latina de organizar-se de um jeito análogo ao que José Carlos Mariátegui chamou de “comunismo incaico- que não pode ser negado nem diminuído por ter se desenvolvido sob o regime autocrático dos incas” (MARIÁTEGUI, 2010, p. 71).
Serve como dica: quando os livros de História conservadores caracterizam o povoamento de qualquer lugar da América reduzindo esta lorota a vinda dos civilizados europeus, estão escondendo o concomitante regime de despovoamento. Por sorte, através da História, a verdade poderá vir a tona.
REFERÊNCIAS

CASAS, Frei Bartolomé de las. Brevíssima relação da destruição das índias. O paraíso destruído. A sangrenta história da conquista da América espanhola. 2ª ed. Porto Alegre: L&PM, 1984

HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. O breve século XX 1914- 1991. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995
.
KOSHIBA, Luiz. O índio e a conquista portuguesa. 5 ª ed. São Paulo: Atual, 1994.

MARIÁTEGUI, José Carlos. Sete ensaios de interpretação da realidade peruana. 2 ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2010.


MOURA, Clóvis. Rebeliões da senzala. 4 ª Ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1988.


ROMANO, Ruggiero. Mecanismos da conquista colonial. São Paulo: Perspectiva, 1972.


SCHWARTZ, Stuart B,; LOCKART, James. América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2010.


SODRÉ, Nelson Werneck Sodré. História da literatura brasileira. Seus fundamentos econômicos. 2 ª ed. Rio de Janeiro, José Olympio, 1940. 

 

VITALE, Luis. Historia social comparada de los pueblos de America Latina volume I Pueblos originários y colônia. Chile: Atali, 1997.


Sobre o Autor:
Rafael Freitas
Rafael Freitas. Graduado em História na FAPA, Membro Permanente e fundador do Grupo de Estudos Americanista Cipriano Barata. Tem interesse de pesquisa em História Social da América e Tendências Pedagógicas Contra-hegemônicas. Produtor e radialista do programa "História em Pauta" na web rádio La Integracion. Colunista no jornal "A Folha" de Alvorada, RS.

America Central em direção à fragmentação e à desagregação

O CÍRCULO VICIOSO CENTRO-AMERICANO

Publicado originalmente em O ISTMO www.oistmo.com 
Por Álvaro Cálix*
Tradução: Lucas S. Matter
Revisão: Mariana Yante B. Pereira

Afirma-se que a América Central tem avançado nas últimas duas décadas e meia. É uma meia verdade que esconde mais do que revela. A superação dos conflitos armados, os processos de democratização formal e a melhora nos indicadores sociais são boas notícias, mas não se pode fazer vista grossa e ignorar os déficits que colocam a região numa trajetória inerte em direção à fragmentação e à desagregação.
De fato, junto aos progressos observados, coexistem atrasos estruturais que neutralizam aos avanços, com particular ênfase aos países do CA4 (Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua). Os atrasos impedem a coesão social nos países e na região. Os altos níveis de incidência de pobreza e desigualdade são os resultados mais dramáticos dos déficits que demonstra a maioria dos países da região. Por trás desses fenômenos, aparecem anomalias que estruturam o perfil centro-americano, com exceções contadas. Destacam-se os altos níveis de desnutrição infantil, a baixa cobertura educativa dos níveis pré-escolar e médio, o fenômeno de jovens que não estudam nem trabalham (NINIS), a incidência crônica da economia informal e a violência social.
Pobreza Centro-Americano
A desigualdade no acesso às oportunidades educativas, aos recursos produtivos e aos circuitos de empreendimento econômico está na base dos atrasos estruturais da região. O notável desequilíbrio na estrutura de oportunidades não é casual, pois corresponde a uma matriz política excludente, que explica a heterogeneidade econômica da região e a debilidade do Estado para corrigir as distorções. Hoje, mais que nunca, a região sofre a convergência de velhos e novos problemas que afetam a capacidade dos países para superar seus estágios de desenvolvimento.
Entre as principais novas ameaças, destacam-se:
*A geopolítica da violência e do crime organizado.

*Os impactos crescentes das alterações climáticas.

*A generalização da corrupção e da impunidade dos Estados.

*O estancamento do progresso democrático iniciado nos anos oitenta do século XX.

*A crise global que tem afetado especialmente os países e os mercados com os quais a região tem baseado majoritariamente suas relações econômicas.

*O aumento da conflitualidade social pela agressiva estratégia de acumulação, à custa dos recursos naturais em territórios rurais habitados pela população mais pobre.
Tendo por base a convergência entre velhos e novos problemas para além dos avanços em modernização e desenvolvimento, fica claro que um traço inédito nas sociedades centro-americanas é o aumento da complexidade social. Esta se baseia no acentuado ritmo de urbanização, na maior conectividade comunicacional, em um maior – mesmo que ainda insuficiente – nível educativo, na amplitude dos fluxos migratórios intra e extra regionais, na diversificação/regionalização das atividades econômicas, assim como na diversificação dos atores sociais que reivindicam a incorporação política de suas demandas e pontos de vista.
Em face de uma maior complexidade de dinâmicas, cosmovisões e interesses, os sistemas político e econômico não têm sido capazes de transformar-se, a fim de integrar os diferentes atores sociais e setores populacionais. Pelo contrário, a política vem se conformando em garantir uma espécie de elitismo competitivo para a alternância de governos mediados por processos eleitorais; ao mesmo tempo, a economia tem buscado ampliar os eixos de acumulação econômica, a partir de uma lógica de concentração dos benefícios, contornando, ademais, os impactos ambientais.
Essa lógica excludente explica também por que o sistema econômico aprofunda as lacunas de riqueza, incentiva a economia informal e a funcionalização dos capitais ilícitos dentro do subsistema financeiro. Continua muito dependente da oferta relativamente abundante de matérias primas, salários baixos e privilégios para ter acesso aos contratos com o Estado. Em contraste, as empresas que têm participado com maior inovação e valor agregado, geralmente não criam tantos postos de trabalho como se pensa, e em geral, parecem estar desconectadas do mundo das pequenas e médias empresas – no qual se concentra a maior parte da População Economicamente Ativa (PEA) centro-americana. Nesse contexto, o regime de incentivos outorgado pelos Estados tende a favorecer o investimento estrangeiro sem as condicionalidades suficientes e medidas políticas para gerar cadeias de produção.
Ao invés de avançar em direção a sistemas democráticos legítimos e eficazes, transita-se para o descontentamento e para o aumento do protesto social, pela incapacidade de incorporar mecanismo transparentes e institucionalizados para representar os distintos interesses e dirimir os conflitos.
Além de não mediar as profundas assimetrias de poder, a debilidade do Estado é refletida, também, na incapacidade de exercer o monopólio legítimo do uso da força, o que acarreta provoca um aumento generalizado da violência como meio para a resolução dos conflitos, o fortalecimento de atores ilícitos que penetram tanto no território, como nas instituições estatais, e, para piorar, o aumento da discricionariedade e do abuso das forças repressivas do Estado.
Em resumo, a América Central, sobretudo os países do triângulo norte, combina uma série de perigos que não estão sendo enfrentados da melhor maneira. Pior ainda, as elites parecem persistir em seu autismo e no bloqueio aos setores mais excluídos. Por isso é fundamental estudar e atuar para romper esse círculo vicioso; senão, os piores cenários estarão esperando na próxima esquina.
Sobre o Autor:

*Álvaro Cálix é escritor e pesquisador social. Doutor em Ciências Sociais (Programa Latinoamericano de Trabajo Social – Universidad Nacional Autónoma de Honduras). Membro do Centro de Investigación y Promoción de los Derechos Humanos en Honduras. Desempenhou-se como professor em vários programas de mestrado na Universidad Nacional Autónoma de Honduras e, também, no Mestrado Centro-americano em Ciência Política da Universidad de Costa Rica.

ódio e preconceito

É com pesar que vejo uma parte considerável de nossa sociedade com tão inflamadas atitudes emocionais, destilando tanto preconceito e ódio contra uma instituição em particular, ignorando o todo, e pessoas pré-selecionadas, como foco de seu ódio e preconceito. Tudo influenciada por uma mídia cruel e venal que transforma mentiras em verdades. E verdades em mentiras.
 

Indigência sexual

Indigência Afetiva - Frei Betto
Revista Caros Amigos - pág18, número 87, jun2004

papa Francisco condena corrupção

O MAL, POR NÃO TER ESCRÚPULOS, SEMPRE VENCE O BEM! (Negreiros)

DW: Na Itália, papa Francisco condena corrupção

Em visita a subúrbio de Nápoles, reduto da máfia Camorra, pontífice afirma que "corrupção fede". Durante discurso, papa pede coragem para "limpar" esse mal.
O papa Francisco visitou neste sábado (21/03) uma das regiões mais violentas de Nápoles, o bairro Scampia, tradicionalmente controlado pela máfia Camorra. Durante a visita, o pontífice fez um de seus discursos mais duros, condenando a corrupção.
"A corrupção fede, a sociedade corrupta fede. Um cidadão que deixa que a corrupção o invada não é cristão", declarou, acrescentando: "Todos nós temos o potencial de ser corruptos e de escorregarmos para a criminalidade."

O papa também criticou a corrupção na vida pública. "Quanta corrupção há no mundo! Eu espero que nós tenhamos coragem de limpar a cidade e a sociedade para acabar com o fedor da corrupção", disse.
Milhares de pessoas receberam Francisco, que chegou ao bairro pobre da cidade italiana em um papamóvel. Ele pediu aos moradores da região que não permitam que o crime organizado e políticos corruptos roubem sua esperança.
"O mal não deve ter a última palavra: ela tem que ser a esperança. Aqueles que voluntariamente seguem pelo caminho do mal roubam um pedaço de esperança. Eles roubam deles próprios e de todos, da sociedade, dos muitos honestos e de gente que trabalha duro."
Ameaças ao papa
Francisco aproveitou a ocasião para defender os imigrantes, afirmando que não podem ser considerados "humanos de segunda classe". Ele pediu, ainda, salários mais justos para os trabalhadores.
Ao longo do dia mais de 800 mil pessoas devem passar na região para saudar Francisco. A segurança foi reforçada para a visita do papa. No ano passado, ele declarou guerra ao crime organizado, ao excomungar da Igreja Católica todos os mafiosos.
Como pontífice também foi ameaçado pelo grupo extremista "Estado Islâmico" (EI), toda a atenção está voltada para sua segurança, depois do massacre num museu da Tunísia nesta semana, reivindicado pelo EI. Cerca de 3 mil policiais extras foram colocados ao longo da rota que Francisco vai seguir, incluindo atiradores nos telhados.
Antes de chegar a Scampia, Francisco visitou a antiga cidade do Império Romano Pompeia, localizada a 22 quilômetros de Nápoles.
CN/rtr/afp/lusa


Jornal O Globo

Compartilhada publicamente13:15
 
Em visita a Nápoles, Papa é duro em críticas contra a corrupção: 'A sociedade corrupta fede.' http://glo.bo/1HgMejM
 
Meu comentário:
Senhor Papa O MAL, POR NÃO TER ESCRÚPULOS, SEMPRE VENCE O BEM.
Aqui, no Brasil, como ai', onde o Senhor se encontra, a corrupção mesmo fedendo, seu mal/mau cheiro vence o bom cheiro. Muito cuidado para não sair dai como corrupto e, os corruptos ficarem como os justos, probos injustiçados pelo o Senhor. Geralmente termina assim. Aqui no Brasil..., então!! - (Negreiros)

Guaraná e os índios Sateré-Mawé

O Guaraná e os índios Sateré-Mawé

segue abaixo, interessantíssimo artigo jornalístico publicado recentemente a respeito de um grupo indígena que tem íntima relação com o fruto do Guaraná. 
Pelo texto abaixo, é possível inferir algumas conclusões sobre como as relações míticas e aspectos ambientais naturais se mesclam e afetam a identidade étnica de um dado grupo.
Recomendo a leitura!



'Guaraná' de origem

Descubra como os índios Sateré-Mawé se tornaram exportadores do fruto que revelaram para o mundo. E como, por meio dele, estão se reinventando como povo
por Xavier Bartaburu
Os índios Sateré-Mawé se consideram “filhos do guaraná”, cuja palavra é de origem Sateré: waraná, eles o chamam Guaraná em tempo de colheita é como um olho que se abre. Ou muitos olhos, tantos quantos forem os frutos a madurar no pé. 
Começa por volta de novembro, quando o céu descarrega as primeiras chuvas do inverno amazônico e os cachos, metidos nas florestas do Médio Amazonas, revelam a semente preta que a casca do fruto até então escondeu. “Quando abre, é que tá no ponto de colher”, explica Idelcides Bastos, tuxaua (ou cacique) substituto da aldeia de Guaranatuba, uma das principais produtoras de guaraná na terra dos índios Sateré-Mawé. Então, por cerca de dois meses, ele e a família navegarão o igarapé que conduz aos guaranazais, onde gastarão um par de horas arrancando os olhos que já se abriram. Depois, com os cestos carregados, voltarão à aldeia para dar início ao longo processo de transformação dos frutos em pó. Será assim todos os dias durante a safra, tal como tem sido na aldeia de Guaranatuba há pelo menos 350 anos. Só que agora o guaraná de Idelcides vai quase todo para a Europa.
O dele e de outros milhares de índios, moradores das mais de cem aldeias abancadas à beira dos rios Andirá e Marau, numa área entre os municípios amazonenses de Parintins, Maués e Barreirinha. Oito toneladas de guaraná, para ser exato, saem hoje das terras Sateré-Mawé com destino aos mercados europeus. No rótulo, o selo de “guaraná nativo”. 
Justo: a região onde vivem os Sateré coincide com a zona onde o guaraná cresce em estado selvagem, na forma de um cipó. Coube a esses índios, no caso, o feito inédito de domesticar a planta (no chão, ela vira um arbusto) e transformá-la em alimento – uma descoberta que remonta a muitíssimas gerações, num ponto remoto do tempo em que a história dos Sateré-Mawé se confunde com sua própria mitologia.

Corre uma lenda entre eles de que o guaraná teria brotado a partir do olho enterrado de uma criança morta – daí a forma do fruto. Dessa mesma criança, ressuscitada, teria nascido também o primeiro Sateré-Mawé. Consideram-se, portanto, “filhos do guaraná”. Ou seja, descendentes diretos da planta que revelaram para o mundo. Guaraná, por sinal, é palavra de origem Sateré: waraná, eles o chamam. E registros de seu uso já constam no primeiro relato que se tem desses índios, um documento de 1669 escrito pelo missionário luxemburguês João Filipe Bettendorff: “Têm os Andirazes em seus matos uma frutinha a qual secam e depois pisam, fazendo delas umas bolas que estimam como os brancos o seu ouro. (...) Desfeitas com uma pedrinha em cuia d´água, dão tanta força como bebida que, indo à caça um dia até outro, não sentem fome, além do que tiram febres, cãibras e dores de cabeça”.
Ou seja, no momento do primeiro contato com o homem branco, os Sateré-Mawé não só já cultivavam o guaraná como tinham pleno conhecimento de seus efeitos estimulantes – convém registrar que a semente pode concentrar até cinco vezes mais cafeína que o grão de café. Em pouco tempo, o fruto do guaranazeiro tornou-se a mais valiosa mercadoria das terras Sateré. Relatos de viajantes no século 19 já falam de um intenso comércio que descia o rio Madeira, levando guaraná para lugares tão distantes quanto à Bolívia. Diante disso, não tardou para que os caboclos de Maués seguissem o exemplo dos índios, plantando eles mesmos seus próprios guaranazais. Depois que se descobriu a fórmula do refrigerante, no começo do século 20, a produção aumentou de tal forma que Maués foi, durante décadas, o lugar de origem de praticamente todo o guaraná consumido no país. Isso só mudou nos anos 1990, quando lavouras mais produtivas e resistentes na Bahia tomaram a dianteira.

fonte: