segunda-feira, 21 de setembro de 2015

envenenadora profissional

GALILEU
http://revistagalileu.globo.com/
http://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2015/06/na-idade-media-envenenadora-profissional-se-oferecia-para-livrar-mulheres-de-seus-casamentos-problematicos.html

Na idade média, envenenadora profissional se oferecia para 'livrar' mulheres de seus casamentos problemáticos

25/06/2015 - 14H06/ atualizado 14H0606 / por Luciana Galastri
  (Foto: reprodução)
Mulheres do século XVII tinham pouco controle sobre suas vidas: enquanto as mais ricas eram usadas como propriedades para assegurar alianças comerciais e políticas, as mais pobres não tinham muita escolha ao ficarem presas em relacionamentos abusivos. Mas nem todas elas toleravam essa situação pacificamente.
Giulia Tofana, que ficou conhecida após a viuvez, nasceu em Palermo, na Itália, em meados de 1600. Acredita-se que ela criou uma receita chamada "Aqua Tofana", que inclui arsênico, chumbo e beladona (uma planta venenosa) - e que comercializava esse produto para que mulheres conseguissem se livrar de maridos abusivos.
Como ela fazia isso? Ela vendia a mistura em duas formas: como uma maquiagem em pó ou dentro de imagens de santos. Então elas podiam ficar sobre as penteadeiras das moças e passar despercebidas. A administração do veneno era simples: era só misturar em alimentos ou em bebidas, já que ele não tem gosto. A primeira dose causava sintomas parecidos com o da gripe, que pioravam com a segunda e a terceira dose. Na quarta dose, o paciente morria.
A Aqua Tofana não deixa rastros no organismo do paciente - então exames pós-mortem indicavam apenas uma gripe muito forte. Ou seja, nenhuma suspeita. 
O produto virou um verdadeiro sucesso comercial, sendo vendido em Palermo, Nápolis e até em Roma. Todo o marketing, claro, era boca-a-boca. Uma amiga passava o segredinho para as outras necessitadas.
O esquema só foi revelado porque uma cliente, que comprou o produto e fez uma sopa ~especial para o marido, se arrependeu e contou tudo antes que ele provasse o prato culinário. Depois disso não demorou muito para que Giulia fosse julgada e executada, junto com sua filha e funcionários. Estima-se que seu veneno tenha matado 600 homens entre 1633 e 1651.
Via The Line Up

o passaralho


CartaCapital






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Cultura

Cariocas

Era uma vez o passaralho...

O dia em que dois copy-desks do JB eternizaram um sinistro neologismo
por Carlos Leonam — publicado 21/09/2015 06h23
Wolfgang Lettl - Die Verwandlung 1977
Die-Verwandlung
“Es ist das Unglück der Franzosen zu gut schreiben zu können” (C. Mongenstern)
Naquele tempo não havia internet e, portanto, o Facebook, o Twitter, o Instagram e similares. Quando o gabinete de uma redação caía, fosse no Rio, fosse em São Paulo, ou algures, o tambor batia, a fumaça subia aos céus e todo mundo, do Oiapoque ao Chuí, sabia que um passaralho entrara em ação, através de telefonemas à sorrelfa (celulares ainda eram coisa de quadrinhos do Dick Tracy). Em geral, sempre um passaralho localizado. Ao contrário do deste ano da graça de 2015 em que o bicho atacou de forma furiosa, principalmente a turma da infantaria.
Acho que já escrevi sobre o mais famoso passaralho da imprensa carioca, o do Jornal do Brasil, no começo dos anos 1970. Atendendo aos pedidos da nova geração, atingida de maneira brutal nos últimos dois meses, recordo a história que entrou para a História do nosso jornalismo. Sabemos hoje que a Guerra do Yom Kippur fez também um grande estrago na Avenida Brasil 500.
A defenestração de Alberto Dines do comando do Jornal do Brasil, no início de dezembro de 1973, resultou no maior passaralho das redações nacionais. Em médio prazo, todas as chefias ligadas a Dines e Carlos Lemos foram caindo, de uma maneira ou de outra – a maioria para nunca mais voltar e quase todas indo parar, então, na folha de pagamento de um Inevitável Patrão, na Rua Irineu Marinho, 35; na Praia do Russel, 434; ou na Rua Lopes Quintas. Agora, porém, ninguém escapou do bicho – passaralhados aos magotes, globais ou não.
Muito embora o velho JB ainda permaneça vivo no coração da velha guarda, a verdade é que o grande passaralho de 1973 foi traumático e, portanto, inesquecível. Naquele clima de velório, fofocas e insegurança o copidesque do JB produziu um dos melhores textos da imprensa brasileira. Uma obra-prima, pois reúne bom humor, ironia, cultura, informação...
Trata-se do verbete “Passaralho”, que teria sido escrito por Joaquim Campelo e Nilson Vianna, sumidades do copy-desk do JB, com penteadas dos outros redatores:
Passaralho s.m. (brasil). Designação popular e geral da ave caralhiforme, falóide, família dos enrabídeos (Fornicator caciquorum MFNB & WF). Bico penirrostro, de avultadas proporções, que lhe confere características específicas, próprio para o exercício de sua atividade principal e maior: exemplar. À sua ação antecedem momentos prenhes de expectativa, pois não se sabe onde se manifestará com a voracidade que, embora intermitente, lhe é peculiar: implacável.
Apesar de eminentemente cacicófago, donde o nome científico, na história da espécie essa exemplação não vem ocorrendo apenas em nível de cacicado.  Zoólogos e passaralhófitos amadores têm recomendado cautela e desconfiança em todos os níveis; a ação passaralhal é de amplo espectro. Há exemplares extremamente onívoros e de atuação onímoda. Trata-se este do mais antigo e puro espécime dos Fornicatores, sendo outros, como p. ex., o picaralho, o birroalho, o catzralho etc., espécimes de famílias espúrias submetidas a cruzamentos desvirtuados do exemplar. Distribuição geográfica praticamente mundial.
No Brasil é também conhecido por muitos sinônimos, vários deles chulos. Até hoje discutem os filólogos e etimologistas a origem do vocabulário. Uma corrente defende derivar de pássaro + caralho, por aglutinação; outra diz vir de pássaro + alho. Os primeiros baseiam-se em discutida forma de insólita ave; os outros, no ardume sentido pelos que experimentaram e/ou receberam a ação dele em sua plenitude.
A verdade é que quantos o tenham sentido cegam, perdem o siso e ficam incapazes de descrever o fenômeno. As reproduções que deles existem são baseadas em retratos-falados e, por isso, destituídas de validade científica.
Como dizia Christian Morgenstern, “a infelicidade dos franceses é saber escrever bem demais”. No caso do JB, sua infelicidade foi ter perdido um copidesque que escrevia bem demais, a ponto de produzir esse texto definitivo sobre o bicho que adora fornicar jornalistas com ampla diversidade.

Ronaldo Caiado e a esterilização das mulheres nordestinas

O blog Oni Presente – O Excomungado - ainda afirma sobre o "pensamento" do "seu" Caiado: "O escritor Fernando Morais, disse em seu livro "Na Toca dos Leões", em 1989, que o então presidente da União Democrática Ruralista (UDR), procurou a agência do publicitário Gabriel Zeillmeister para fazer sua campanha. Sobre o encontro, Zeillmeister conta que o candidato, médico, defendeu a esterilização das mulheres nordestinas por meio de um remédio adicionado à água. Seria a solução para o maior problema do País, 'a superpopulação dos estratos sociais inferiores, os nordestinos".
Dom Orvandil Dom Orvandil
Editor do blog Cartas e Reflexões Proféticas, presidente da Ibrapaz, bispo da Diocese Brasil Central da Igreja Anglicana e professor universitário

Quem é Ronaldo Caiado? Um incendiário irresponsável?

:
Aqui no Estado de Goiás, como em outros, há uma família conservadora e de extrema direita, profundamente arraigada à terra. Seu apego às grandes propriedades rurais mobiliza-se pelo mesmo egoísmo perverso dos que se imaginam donos do planeta, do ar, da água e do fogo. Pensam-se sagrados e acima da justiça social. Trata-se da família Caiado, fonte de lendas e fantasias que giram historicamente no consenso popular, todas acentuando que os troncos dessa família eram para lá de santos e miraculosos, acima de quaisquer suspeitas e da lei.
Durante a configuração do Estado de Goiás e da construção de sua capital digladiaram-se ideológica e politicamente as famílias Caiado e Ludovico. A primeira sempre se definiu como "jagunceira", bandida e centrada em suas propriedades como se fosse o centro do universo. Os Ludovico, mais nacionalistas e getulistas, são voltados à política de desenvolvimento presidida pelo Estado soberano. Tanto que Goiânia fundou-se por orientação de Getúlio Vargas para ser capital da famosa "marcha para o Oeste", com o objetivo de ocupar e desenvolver o Serrado e o centro do Brasil. Pedro Ludovico, médico, foi o protagonista desse processo, combatido pelos reacionários da ruralista família Caiado.
É do tronco conservador, dono do pensamento direitista, que acha que as terras devem ser de poucos, mesmo que a maioria do povo morra de fome, que nasceu o "seu" Ronaldo Caiado, hoje recém-eleito e empossado Senador da República.
Mas qual é a alma do "seu" Ronaldo Caiado, que cruza pela história, pelas conjunturas diversas, pelas crises e choques da República, sem nada mudar, miraculosamente reacionário, odioso, perverso, incendiário e politicamente irresponsável?
Segundo ele mesmo, que enche a boca geralmente espumando ódio, com seu timbre de voz marcantemente ameaçador, o dito é "médico".
Sou dos que respeitam as pessoas pelas profissões e títulos que conquistam. No Brasil, por trás de cada título acadêmico, há muito investimento, sacrifício e dedicação. Por isso respeito as pessoas que estudam e crescem academicamente. Porém, o respeito a elas não se deve somente pelo diploma a partir da colação de grau. O respeito se deve pelo que fazem pelo próximo, pelos outros e pela sociedade com que aprenderam na vida acadêmica.
Parece que o "médico ortopedista" Ronaldo Caiado não é assim. Ele que se especializou na cura dos ossos das pessoas faz de tudo para quebrar as pernas de quem discorda dele. É de estarrecer o que o "seu" Ronaldo Caiado fez para destruir o "programa mais médicos", só porque não é de direita e porque muitos de seus médicos são cubanos.
Com as artimanhas que fez, inclusive apoiando uma traidora cubana, o "seu" Ronaldo feriu o juramento que formalmente fez quando se formou. Negou o princípio hiporcrático que diz: "Não permitirei que considerações de religião, nacionalidade, raça, partido político, ou posição social se interponham entre o meu dever e o meu Doente."
Ronaldo Caiado é médico na acepção filosófica profunda? Penso que não! É a negação do espírito médico por essência. Suas convicções de direita o enrijecem e o desumanizam perversamente. O seu CRM deveria ser cassado.
O "seu" Caiado é realmente militante. Isso é inegável. Mas é militante do ódio e da destruição. É cegamente rancoroso.
Sua seletiva biografia não nega a trilha do ódio que percorre. É fundador da UDR – União "Democrática" Ruralista.
Lembro de que quando fundou essa organização fascista foi ao Rio Grande do Sul onde eu morava e onde me formei, contratou um pool de rádios – a Gaúcha, a Guaíba e a Bandeirantes - para despejar através de uma cadeia de emissoras ameaças, ódio e malquerença ao movimento dos sem terra. Foi claro no seu discurso de conclamação à guerra contra a reforma agrária. Ofendeu de todos os modos os militantes dos direitos humanos e lhes prometeu balas de metralhadoras e fuzis às porteiras dos senhores feudais, donos do mundo.
Essa UDR e outras organizações estruturantes dos grandes latifundiários rurais, a quem se liga o "seu" Ronaldo Caiado, é vista pelos pequenos agricultores, indígenas, mst, cpt e outros como agrupamento de bandidos, de formadores de exércitos paralelos na prática dos crimes contra defensores da reforma agrária, missionários fiéis ao evangelho, de pensamento social e dos integrantes da Comissão Pastoral da Terra.
O blog Oni Presente – O Excomungado - ainda afirma sobre o "pensamento" do "seu" Caiado: "O escritor Fernando Morais, disse em seu livro "Na Toca dos Leões", em 1989, que o então presidente da União Democrática Ruralista (UDR), procurou a agência do publicitário Gabriel Zeillmeister para fazer sua campanha. Sobre o encontro, Zeillmeister conta que o candidato, médico, defendeu a esterilização das mulheres nordestinas por meio de um remédio adicionado à água. Seria a solução para o maior problema do País, 'a superpopulação dos estratos sociais inferiores, os nordestinos".
Pois o "seu" Caiado elegeu-se Senador da República pelo Estado de Goiás com 1.283.665 votos. Sua campanha eleitoral foi um luxo e de outro, como a que mais gastou neste Estado.
O "seu" Ronaldo ocupa uma cadeira no Senado da República não republicanamente, mas como golpista e direitista ressentido e odioso.
Não invento nada. Não posso, não quero e não devo mentir, como o faz a direita do "seu" Caiado. Ele mesmo o disse numa entrevista no Uol online. O lacaio aventureiro e irresponsável afirmou: "O tom que [a oposição] deve ter é aquele que Carlos Lacerda nos ensinou."
Claro, o esbirro não conta às novas gerações e aos incautos quem é Carlos Lacerda, o guia espiritual, que, como mediu, na sua mediocridade, deseja incorporar.
Carlos Lacerda foi um jornalista carioca, que ganhou o nome de Carlos Frederico em homenagem de seu pai a Carlos Marx e a Friedrich Engels, pais das teorias do socialismo científico. Lacerda chegou a militar no Partido Comunista, a quem traiu para aderir às conveniências da direita golpista, mentirosa, mãe da atual mídia manipuladora e mistificadora, engenhosa em distorções sujas e mentirosas hoje.
Lacerda foi o principal articulador do golpe que levou Getúlio Vargas ao suicídio.
O "seu" Caiado não conta que quando o povo descobriu que Carlos Lacerda inventara todas as mentiras que provocaram tremenda crise de poder com a morte de Getúlio o procurou para justiçá-lo em praça pública. Logo após o suicídio do grande estadista o povo vasculhou tudo no Rio de Janeiro para levar Lacerda a justiciamento público. Só não o fez porque o covarde se refugiu numa caixa d'água para se esconder.
Lacerda colaborou dedicadamente para destruir Juscelino Kubitschek e, depois, João Goulart, colaborando com o golpe militar nazifascista, que infernizou o Brasil.
Esse é o guia espiritual do "seu" Ronaldo Caiado. É isso o que deseja o "seu" Caiado.
O ódio do sabujo ao PT é tanto, que ele o confunde como sendo um partido de esquerda e até socialista, ignorante que esse grupo é associado na mesma socialdemocracia internacional que é o PSDB.
Por ser ignorante em ciências políticas e sem amor patriótico o "seu" Ronaldo Caiado – de ódio – esmurra o PT e persegue a Presidenta Dilma e o ex-presidente Lula de modo irresponsável, querendo a destituição da Presidenta, sem a menor e ajuizada avaliação dos prejuízos disso ao Brasil e à democracia.
Caiado odeia o Brasil, odeia o povo e tenta fazer do Senado trincheira para molecagens e falta de respeito ao País.
Será que em sua paranoia este senhor pensa que os 1.283.665 eleitores votaram nele para que seja golpista e malversador do Senado Federal? Seus eleitores são todos aventureiros, incendiários e irresponsáveis como o senador em quem votaram? Claro que não. Conheço pessoas muito boas que votaram nele por engano, sem nenhuma intenção de lhe dar procuração para o desrespeito político.
Caiado desrespeita a democracia e fere o decoro parlamentar, onde deveria representar o povo e não o antipovo. Devemos promover sua cassação!

sábado, 19 de setembro de 2015

O empresario mais rico do Brasil e’ quem mais clama pelo impeachment de Dilma

post em andradetalis

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O espírito golpista dos ricos contra os pobres

by Talis Andrade
Vladimir Kazanevsky
Vladimir Kazanevsky
Olha o Velhinho
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por Luís Fernando Veríssimo
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Um fenômeno novo na realidade brasileira é o ódio político, o espírito golpista dos ricos contra os pobres. O pacto nacional popular articulado pelo PT desmoronou no governo Dilma e a burguesia voltou a se unificar. Economistas liberais recomeçaram a pregar abertura comercial absoluta e a dizer que os empresários brasileiros são incompetentes e superprotegidos, quando a verdade é que têm uma desvantagem competitiva enorme. O país precisa de um novo pacto, reunindo empresários, trabalhadores e setores da baixa classe média, contra os rentistas, o setor financeiro e interesses estrangeiros. Surgiu um fenômeno nunca visto antes no Brasil, um ódio coletivo da classe alta, dos ricos, a um partido e a um presidente. Não é preocupação ou medo. É ódio. Decorre do fato de se ter, pela primeira vez, um governo de centro-esquerda que se conservou de esquerda, que fez compromissos, mas não se entregou. Continuou defendendo os pobres contra os ricos. O governo revelou uma preferência forte e clara pelos trabalhadores e pelos pobres. Não deu à classe rica, aos rentistas. Nos dois últimos anos da Dilma, a luta de classes voltou com força. Não por parte dos trabalhadores, mas por parte da burguesia insatisfeita. Dilma chamou o Joaquim Levy por uma questão de sobrevivência. Ela tinha perdido o apoio na sociedade, formada por quem tem o poder. A divisão que ocorreu nos dois últimos anos foi violenta. Quando os liberais e os ricos perderam a eleição não aceitaram isso e, antidemocraticamente, continuaram de armas em punho. E de repente, voltávamos ao udenismo e ao golpismo.
Nada do que está escrito no parágrafo anterior foi dito por um petista renitente ou por um radical de esquerda. São trechos de uma entrevista dada à “Folha de São Paulo” pelo economista Luiz Carlos Bresser Pereira, que, a não ser que tenha levado uma vida secreta todos estes anos, não é exatamente um carbonário. Para quem não se lembra, Bresser Pereira foi ministro do Sarney e do Fernando Henrique. A entrevista à “Folha” foi dada por ocasião do lançamento do seu novo livro “A construção politica do Brasil” e suas opiniões, mesmo partindo de um tucano, não chegam a surpreender: ele foi sempre um desenvolvimentista nacionalista neokeynesiano. Mas confesso que até eu, que, como o Antônio Prata, sou meio intelectual, meio de esquerda, me senti, lendo o que ele disse sobre a luta de classes mal abafada que se trava no Brasil e o ódio ao PT que impele o golpismo, um pouco como se visse meu avô dançando seminu no meio do salão — um misto de choque (“Olha o velhinho!”) e de terna admiração. Às vezes, as melhores definições de onde nós estamos e do que está nos acontecendo vem de onde menos se espera.
Outro trecho da entrevista: “Os brasileiros se revelam incapazes de formular uma visão de desenvolvimento crítica do imperialismo, crítica do processo de entrega de boa parte do nosso excedente a estrangeiros. Tudo vai para o consumo. É o paraíso da não nação.”
o patrocinador água protesto golpe dilma
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agropecuária capitalista

CartaCapital
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Economia

Opinião

Como a agropecuária vai lidar com as transformações do capitalismo?

É preciso saber como conciliar a emergência de classes subalternas, a financeirização, o trabalho e a proteção ao meio ambiente
por Rui Daher publicado 18/09/2015 06h25
AFP
Agricultura na China
Área de agricultura em Chongqing, na China: o setor emprega 300 milhões de chineses
Quando em maio de 2013 aceitei o convite para manter coluna semanal sobre o agronegócio neste site de CartaCapital, prometi conversar ora vendo o setor “assim do alto” ora “com uma lupa”. É o que tenho feito, embora perceba comentários trocando as bolas.
Podem incomodar. Muito. Mas a maioria traz informações, reflexões e ajuda a reformular posições. Os demais permitem lembrar palavrões geriátricos, hoje em desuso.
Sempre alguém contestará seu estilo de escrita, como se cromossomo de Eça de Queiroz fosse. Não percebe que temas áridos são mais agradáveis se levados na forma de crônicas. Na coluna anterior, soberba moça categorizou: “texto fraquíssimo”. Corri à farmácia em busca de vitaminas.
Expor a fragmentação do agronegócio como excepcional vantagem de um país com diversidade parece ser pouco entendido. Os vários segmentos têm carências e formas de apoio específicas. O primordial, creiam, os portugueses já nos deram: extensão e posição territoriais.
Para mim, o tema mais importante a ser discutido hoje em dia, e visto de altos estratosféricos, é como a cadeia originada na agropecuária irá seguir as transformações do atual estágio do capitalismo e seus novos vetores.
Pouco a ver com as mudanças ocorridas a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Estas, consolidadas e envelhecidas, viveram ambiente de hegemonia gestado ainda nos séculos 19 e 20.
A atual mostra necessidade de conhecer e projetar novas interações e modificações nas esferas de produção e distribuição das atividades rural e agroindustrial.
A emergência de classes sociais subalternas em países pobres nas duas últimas décadas, que excitaram a demanda, e o desarranjo nas economias hegemônicas causado pela desregulamentada financeirização, são processos irreversíveis quando o assunto é produção de alimentos, fibras e energia renovável.
Difícil será coaduná-los com preservação do trabalho de homens e mulheres, recursos naturais e meio ambiente. Ponto.
Que não se espere milagres espontâneos, como responsabilidade sobre consumo de luxo e lixo. O ser capitalista é assim. Quer cada vez mais. Quem leu o livro de Thomas Piketty e acompanha as preocupações do papa Francisco sabe da crescente concentração de riqueza no planeta.
Tanto que contingentes enormes de pessoas com deficiências nutricionais pouco podem com inovações tecnológicas de baixo custo, na contramão de interesses dos maiores fabricantes de agroquímicos.
Ao Brasil falta inteligência e boa vontade prospectivas. Saber o que tem e o que não deve ceder para o futuro. Por assim pensar, Mangabeira Unger acaba de pedir demissão como ministro da secretaria de Assuntos Estratégicos.
O século 21 exibe reordenação de hegemonias, predominância do setor de serviços, financeirização da economia. Resulta precarização do setor produtivo e do trabalho.
Nada disso pode ser visto apenas em curto prazo ou na simplificação do que fazer, em 2050. Teremos até lá os tais 9 bilhões de bocas a alimentar? Talvez, sim. Se a devastação do planeta, por guerras, epidemias, consumo desenfreado, concentração de renda, não contrariarem as preces dos papas Francisco e José Graziano da Silva.
Blasfemei? Por que Francisco e Zé Graziano?
Bem, o que se pode esperar do papa Francisco se não lamentar e pedir que parem os massacres na Síria? Ou que EUA e Cuba se aproximem e termine o embargo? Ou, ainda, que casais gays tenham direito às leis e permissões gerais da sociedade?
O consumismo individualista é praga de um sistema de meritocracia que pouco tem a ver com a Bíblia.
O mesmo acontece com o papa Zé. Como agrônomo, conhece a fundo as questões agrárias e de segurança alimentar. Bem, Andanças Capitais mostram-me nem todos agrônomos assim.
Nomeado ministro, em 2003, no governo Lula, instituiu o programa Fome Zero, que levou ao Bolsa Família, com consequências conhecidas por todos, inclusive dos que acham que transformou o Brasil num país de vagabundos e acomodados.
Logo de cara, levou um baita pau das folhas e telas cotidianas, e dos ruralistas que não perceberam o quanto isso poderia encher-lhes os bolsos, mesmo que ajudando a quem poucos ligam.
Graziano picou a mula e até hoje (acaba de ser reeleito) é diretor-geral da FAO, o organismo da ONU responsável por alimentação e agricultura. Como Francisco, Zé precisa acreditar que a humanidade deu certo e é possível tornar o planeta mais justo. Tem uma fé imensa.
Acreditou nos Objetivos do Milênio, quando 191 países se reuniram, em setembro de 2000, para acabar com a fome até 2015. Na época, 1,2 milhão de pessoas viviam na pobreza extrema, com um dólar per capita por dia. Também acreditou nas diversas Rodadas Doha, piqueniques em cidades aprazíveis que continuarão a acontecer.
Agora, incansável, diz que ainda existem 800 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha de pobreza. Propõe nova etapa, com erradicação da fome até 2030. Pela redução que houve nos últimos 15 anos, se nada mais impactante for feito, chegaremos a 2030 ainda com 650 milhões de pessoas nessa situação.
E olha que a economia dos países emergentes foi responsável por grande parte dessa redução, e que seus mares hoje não estão para peixes tão grandes.
Se a economia mundial melhorar, pode ser que alguma franja de bondade sobre para os famintos. Caso contrário, os 800 milhões de hoje aumentarão, assim como voltarão à miséria os 40 milhões de zumbis que o Brasil colocou no estreito limiar da classe média.
Se não mudar de ideia, volto ao assunto.

enfrentar o capitalismo global

Blog do Liberato
http://blogdoliberato.blogspot.com.br/
http://blogdoliberato.blogspot.com.br/2015/09/zizek-nao-podemos-abordar-crise-dos.html

sábado, 19 de setembro de 2015

Žižek: não podemos abordar a crise dos refugiados sem enfrentar o capitalismo global

zizekPor Slavoj Žižek.*

Blog da Boitempo

“Nós não podemos abordar a crise dos refugiados sem enfrentar o capitalismo global. Os refugiados não chegarão à Noruega. Mas a Noruega que eles procuram sequer existe.”
Em seu estudo clássico On Death and Dying, Elisabeth Kübler-Ross propôs o famoso esquema de cinco estágios de como reagimos ao saber que temos uma doença terminal: negação (a pessoa simplesmente se recusa a aceitar o fato: “Isso não pode estar acontecendo, não comigo.”); raiva (que explode quando já não podemos negar o fato: “Como isso pode acontecer comigo.”); negociação (a esperança de que podemos de alguma forma adiar ou diminuir o fato: “Apenas deixe-me viver para ver meu filho graduado.”); depressão (desinvestimento libidinal: “Eu vou morrer, então por que se preocupar com alguma coisa?”); aceitação (“Eu não posso lutar contra isso, mas eu bem posso me preparar para isso.”). Mais tarde, Kübler-Ross aplicou esses estágios a qualquer forma de perda catastrófica pessoal (desemprego, morte de um ente querido, divórcio, vício em drogas) e enfatizou que eles não acontecem necessariamente na mesma ordem, nem que os cinco estágios são vivenciados por todos os pacientes.

A reação da opinião pública e das autoridades na Europa Ocidental ao fluxo de refugiados da África e do Oriente Médio não teve uma combinação semelhante de reações disparatadas? Houve a negação, agora diminuindo: “Não é tão sério, vamos simplesmente ignorar.” Existe uma raiva: “Os refugiados são uma ameaça ao nosso modo de vida, entre eles escondem-se fundamentalistas muçulmanos, eles precisam ser barrados a qualquer preço”. Há negociação: “Ok, vamos estabelecer quotas e apoiar os campos de refugiados nos seus próprios países!” Há depressão: “Estamos perdidos, a Europa está se transformando em uma Europa-stan.” O que está faltando é a aceitação, o que, neste caso, significaria um consistente plano pan-europeu para lidar com os refugiados.
Então, o que fazer com centenas de milhares de pessoas desesperadas, que esperam no Norte da África, fugindo da guerra e da fome, tentando atravessar o mar e encontrar refúgio na Europa?
Existem duas principais respostas. Liberais de esquerda expressam sua indignação com a forma como a Europa está permitindo que milhares de pessoas se afoguem no Mediterrâneo. O argumento deles é que a Europa deve mostrar solidariedade abrindo as portas amplamente. Os populistas anti-imigrantes reivindicam que devemos proteger nosso modo de vida e deixar que os africanos resolvam seus próprios problemas.
Qual é a melhor solução? Parafraseando Stalin, as duas são piores. Aqueles que defendem a abertura das fronteiras são grandes hipócritas: Secretamente, eles sabem muito bem que isso nunca vai acontecer, uma vez que provocaria uma imediata revolta populista na Europa. Eles jogam com a bela alma que os fazem se sentir superiores diante de um mundo corrompido enquanto secretamente participam dele.
O populista anti-imigrante também sabe muito bem que, deixados por si mesmos, os africanos não terão sucesso na mudança de suas sociedades. Por que não? Porque nós, norte-americanos e europeus ocidentais, estamos impedindo-os. Foi a intervenção europeia na Líbia que jogou o país no caos. Foi o ataque dos Estados Unidos ao Iraque que criou as condições para o surgimento do ISIS [Estado Islâmico do Iraque e do Levante]. A guerra civil em curso na República Centro-Africana não é apenas uma explosão do ódio étnico; França e China estão lutando pelo controle dos recursos petrolíferos através de seus procuradores.
Mas o caso mais claro de nossa responsabilidade é o Congo de hoje, que está novamente emergindo como o “coração das trevas” africano. Em 2001, uma investigação da ONU, sobre a exploração ilegal de recursos naturais no Congo, descobriu que os conflitos internos acontecem para se ter o acesso, o controle e o comércio de cinco minerais fundamentais: coltan, diamante, cobre, cobalto e ouro. Sob a fachada de guerra étnica, nós podemos identificar o funcionamento do capitalismo global. O Congo não existe mais como um estado unificado; é uma multiplicidade de territórios governados por senhores da guerra locais, que controlam o seu pedaço de terra com um exército, que como regra, inclui crianças drogadas. Cada um desses senhores da guerra estão ligados pelos negócios com empresas ou corporações estrangeiras que exploram as riquezas minerais da região. A ironia é que muitos destes minerais são usados em produtos de alta tecnologia, tais como laptops e telefones celulares.
Retire as empresas estrangeiras de alta tecnologia da equação e toda a narrativa de guerra étnica alimentada por velhas paixões desmorona. Este é o lugar onde devemos começar se realmente queremos ajudar os africanos e parar com o fluxo de refugiados. A primeira coisa é lembrar que a maioria dos refugiados vem de Estados falidos – onde a autoridade pública é inoperante, pelo menos em grandes regiões – Síria, Líbano, Iraque, Líbia, Somália, Congo, etc. Essa desintegração do poder do Estado não é um fenômeno local, mas o resultado da economia e da política internacional, em alguns casos, como a Líbia e o Iraque, um resultado direto da intervenção ocidental. É claro que o aumento destes “Estados falidos” não é um inesperado infortúnio, mas sim uma das formas que as grandes potências exercem seu colonialismo econômico. Deve-se notar também que as sementes dos “Estados falidos” do Oriente Médio devem ser procuradas nas fronteiras arbitrárias desenhadas após a Primeira Guerra Mundial pelo Reino Unido e a França, que criaram uma série de Estados “artificiais”. Com o propósito de unir os sunitas na Síria e no Iraque, o ISIS está, em última análise, juntando o que foi dilacerado pelos mestres coloniais.  
Não se pode deixar de notar o fato de que alguns países não muito ricos do Oriente Médio (Turquia, Egito, Iraque) são muito mais abertos aos refugiados do que os realmente ricos (Arábia Saudita, Kuwait, Emirados Árabes, Qatar). Arábia e Emirados não receberam refugiados, embora façam fronteira com países em crise e são culturalmente muito mais próximos aos refugiados (que são na maioria muçulmanos) do que a Europa. Arábia Saudita tem até mesmo devolvido alguns refugiados muçulmanos da Somália. Isto porque a Arábia é uma teocracia fundamentalista que não pode tolerar estrangeiros intrusos? Sim, mas deve-se também ter em mente que esta mesma Arábia Saudita é totalmente integrada à economia do Ocidente. Do ponto de vista econômico, Arábia Saudita e Emirados, que afirmam depender totalmente das suas receitas petrolíferas, não são puros postos avançados do capital ocidental? A comunidade internacional deveria colocar toda pressão em países como Arábia Saudita, Kuwait e Qatar para fazer seus deveres de aceitarem um grande contingente de refugiados. Além disso, por estar apoiando os rebeldes anti-Assad, a Arábia Saudita é o grande responsável pela situação na Síria. E, em diferentes graus, o mesmo se aplica para muitos outros países – nós estamos todos nisso.
Uma nova escravidão
Outra característica partilhada por esses países é o surgimento de uma nova escravidão. Enquanto o capitalismo se legitima como o sistema econômico que sugere e promove a liberdade individual (como uma condição do mercado cambial), ele gerou por conta própria a escravidão, como parte de sua dinâmica: embora a escravidão estivesse quase extinta no final da Idade Média, explodiu cedo na modernidade e durou até a Guerra Civil Americana. E hoje, numa nova época do capitalismo global, pode-se arriscar a hipótese de que uma nova era da escravidão também está surgindo. Embora não exista um estatuto jurídico legal para escravizar as pessoas de forma direta, a escravidão adquire uma multiplicidade de novas formas: na península da Arábia (Emirados, Qatar, etc.), milhões de trabalhadores imigrantes são de fato privados de direitos civis elementares e liberdades; o controle total sobre milhões de trabalhadores em fábricas asiáticas, muitas vezes organizados diretamente como campos de concentração; o uso massivo de trabalho forçado na exploração de recursos naturais em muitos estados africanos centrais (Congo etc.). Mas nós não temos que olhar tão longe. Em 01 de dezembro de 2013, pelo menos sete pessoas morreram quando uma fábrica de roupas de propriedade chinesa em uma zona industrial na cidade italiana de Prato, a 19 km do centro de Florença, incendiou, matando trabalhadores presos em um dormitório de papelão improvisado, construído no local.  O acidente ocorreu em Macrolotto, distrito industrial da cidade conhecido por suas fábricas de vestuário. Milhares de imigrantes chineses estariam vivendo ilegalmente na cidade, trabalhando até 16 horas por dia para uma rede de oficinas atacadista que confeccionava roupa barata.
Nós, portanto, não temos que olhar para a vida miserável dos novos escravos nos longínquos subúrbios de Xangai (ou em Dubai e Qatar) e hipocritamente criticar a China – a escravidão pode estar aqui mesmo, dentro de nossa casa, nós apenas não vemos (ou melhor, fingimos não ver). Este novo apartheid de facto, esta explosão sistemática do número de diferentes formas de escravidão de facto, não é um acidente lamentável, mas uma necessidade estrutural do capitalismo global de hoje.
Mas estão os refugiados entrando na Europa apenas oferecendo-se para se tornar força de trabalho precário, em muitos casos, à custa dos trabalhadores locais, que reagem a essa ameaça unindo-se a partidos político anti-imigrantes? Para a maioria dos refugiados, esta será a realidade de seu sonho realizado.
Os refugiados não estão somente fugindo de suas terras devastadas pela guerra; eles também estão possuídos por um sonho. Podemos ver repedidas vezes em nossas telas. Refugiados no Sul da Itália deixam claro que eles não querem ficar lá, eles querem majoritariamente viver nos países escandinavos. E o que dizer dos milhares de acampados em Calais que não estão contentes com a França, mas estão dispostos a arriscar suas vidas para entrar no Reino Unido? E o que dizer de dezenas de milhares de refugiados dos países Bálcãs que querem ao menos chegar à Alemanha? Eles declaram esse sonho como um direito incondicional, e exigem das autoridades europeias não só alimentação adequada e cuidados médicos, mas também o transporte para o local de sua escolha.
Há algo enigmaticamente utópico nesta demanda impossível: como poderia a Europa realizar o sonho deles, um sonho que, aliás, está fora do alcance para a maioria dos europeus. Quantos europeus do Sul e do Leste não prefeririam viver na Noruega? Pode-se observar aqui o paradoxo da utopia: precisamente quando as pessoas se encontram em situação de pobreza, aflição e perigo, e seria de se esperar que eles estivessem satisfeitos com o mínimo de segurança e bem-estar, a utopia absoluta explode. A dura lição para os refugiados é que “não há Noruega”, mesmo na Noruega. Eles terão que aprender a censurar seus sonhos: Em vez de persegui-los, em realidade, eles devem se concentrar em mudar a realidade.
Um tabu da esquerda
Um dos grandes tabus da esquerda terá que ser quebrado aqui: a noção de que uma maneira de proteger um modo de vida [way of life] é em si mesma protofascista ou racista. Se não abandonarmos essa noção, abrimos o caminho para a onda anti-imigrante que prospera em toda a Europa. (Mesmo na Dinamarca, o Partido Democrático, anti-imigrante, pela primeira vez ultrapassou os sociais-democratas e tornou-se o partido mais forte do país.) Responder às preocupações das pessoas comuns sobre as ameaças ao seu especifico estilo de vida também pode ser feito a partir da esquerda. Bernie Sanders é uma prova viva disso! A verdadeira ameaça para nossos estilos de vida comunitários não são os estrangeiros, mas a dinâmica do capitalismo global: Só nos Estados Unidos, as mudanças econômicas das ultimas décadas fez mais para destruir a convivência comunitária das cidades pequenas do que todos os imigrantes juntos.
A reação padrão da esquerda liberal é, naturalmente, uma explosão de arrogante moralismo: No momento em que damos alguma credibilidade a “proteção do nosso modo de vida”, nós já comprometemos a nossa posição, uma vez que propomos uma versão mais modesta do que os populistas anti-imigrantes defendem abertamente. Esta não é a história das últimas décadas? Partidos centristas rejeitam o racismo aberto dos populistas anti-imigrantes, mas afirmam simultaneamente “compreender as preocupações das pessoas comuns” e promulgam uma versão mais “racional” da mesma política.
Mas, embora exista um núcleo de verdade, as queixas moralistas – “A Europa perdeu a empatia, é indiferente para o sofrimento dos outros,” etc. – são apenas o reverso da brutalidade anti-imigrante. Ambas as posições compartilham o pressuposto, o que não é de forma alguma evidente, que a defesa do próprio modo de vida exclui o universalismo ético.  Assim, deve-se evitar ser pego pelo jogo liberal de “quanto de tolerância podemos oferecer.” Devemos tolerar eles impedirem suas crianças de irem para as escolas estaduais, eles arrumarem casamentos para seus filhos, eles brutalizarem gays nos seus espaços? A este nível, é claro, nós nunca somos suficientemente tolerantes, ou somos sempre tolerantes demais, negligenciando os direitos das mulheres, etc. A única maneira de sair deste impasse é movendo-se para além da mera tolerância ou respeito em direção a uma luta comum.
Nesse sentido, é preciso ampliar a perspectiva: Os refugiados são o preço da economia global. Em nosso mundo global, mercadorias circulam livremente, mas as pessoas não: novas formas de apartheid estão surgindo. O tema de parede oca, da ameaça de sermos inundado por estrangeiros, é estritamente imamente ao capitalismo global, é o índex do que é falso sobre a globalização capitalista. Enquanto as grandes migrações são uma característica constante da historia da humana, a sua principal causa na historia moderna são as expansões coloniais: Antes da colonização, o Sul Global consistia, principalmente, de comunidades locais autossuficientes e relativamente isoladas. Foi a ocupação colonial e o comércio de escravos que lançou este modo de vida para fora dos trilhos e renovou as migrações em larga escala.
A Europa não é o único lugar que está experimentando uma onda de imigração. Na África do Sul, existem mais de um milhão de refugiados do Zimbabwe, que estão expostos a ataques de pobres locais por roubarem empregos. E haverá mais, não apenas por causa de conflitos armados, mas por conta dos novos “Estados párias”, crise econômica, desastres naturais (agravados pela mudança climática), desastres criados pelo homem, etc. Sabe-se que, após o desastre nuclear de Fukushima, por um momento, as autoridades japonesas imaginaram que toda área de Tóquio – 20 milhões de pessoas – deveria ser evacuada. Para onde essas pessoas iriam? Em que condições? Eles deveriam receber um pedaço de terras ou dispersar ao redor do mundo? E se o Norte da Sibéria tornar-se mais habitável e arável, enquanto várias áreas subsaarianas tornam-se demasiadamente secos para que uma grande população suporte viver lá? Como será organizado o intercambio de populações? No passado, quando coisas similares aconteceram, as mudanças sociais ocorreram de uma forma espontaneamente selvagem, com violência e destruição (recorde as grandes migrações no final do Império Romano) – Nos dias de hoje, tal perspectiva é catastrófica, com armas de destruição em massa disponíveis para muitas nações.
Portanto, a principal lição a ser aprendida é que a humanidade deve estar preparada para viver de forma mais “plástica” e nômade: Rápidas mudanças climáticas, locais e globais, podem exigir, de forma inédita, transformações sociais em larga escala. Uma coisa é clara: a soberania nacional terá que ser radicalmente redefinida e novos níveis de cooperação global inventados. E o que dizer das enormes mudanças na economia e padrões de conservação do clima devido a escassez de água e energia? Através de quais mecanismos de decisão tais mudanças serão decididas e executadas? Aqui uma série de tabus deverá ser quebrado e um conjunto de medidas complexas realizadas.
Em primeiro lugar, a Europa terá de reafirmar seu total empenho em proporcionar condições dignas para a sobrevivência dos refugiados. Não deve existir compromisso aqui: grandes migrações são o nosso futuro, e a única alternativa a esse empenho é a barbárie renovada (que alguns chamam de “choque de civilização”).
Em segundo lugar, como consequência necessária deste empenho, a Europa deve organizar-se e impor regras e regulamentos claros. O controle do Estado ao fluxo de refugiados deve ser implantado através de uma vasta rede administrativa abrangendo toda a União Europeia (para evitar as barbáries locais como as da Hungria ou Eslováquia). Os refugiados devem ser tranquilizados de sua segurança, mas também devem acatar as áreas de convivência atribuídas pelas autoridades europeias, além disso, precisam respeitar as leis e as normas sociais dos Estados europeus: nenhuma tolerância a violência religiosa, sexista ou étnica de qualquer dos lados, nenhum direito de impor sobre os outros o próprio modo de vida ou religião, o respeito da liberdade de cada individuo de abandonar seus costumes comunais, etc. Se uma mulher decide cobrir seu rosto, sua decisão deve ser respeitada, mas se ele escolhe não cobri-lo, sua liberdade deve ser garantida. Sim, um conjunto privilegiado de regras do modo de vida europeu. Estas regras devem ser claramente estabelecidas e aplicadas, por medidas repressivas (contra os estrangeiros fundamentalistas, bem como contra os nossos próprios racistas anti-imigrantes), se necessário.
Em terceiro lugar, um novo tipo de intervenção internacional terá de ser inventada: intervenções militares e econômicas que evitem as armadilhas neocoloniais. E sobre as forças da ONU que garantem a paz na Líbia e no Congo? Uma vez que tais intervenções estão intimamente associadas com o neocolonialismo, serão necessárias extremas salvaguardas. Os casos de Iraque, Síria e Líbia demonstram como o tipo de intervenção errada (no Iraque e Líbia), bem como a não intervenção (na Síria, onde, sob a aparência de não intervenção, os poderes externos da Rússia, Arábia Saudita e os EUA estão totalmente engajados) acabam no mesmo impasse.
Em quarto lugar, a tarefa mais difícil e importante é uma mudança econômica radical que deve abolir as condições sociais que criam refugiados. A última causa dos refugiados é o próprio capitalismo global de hoje e seus jogos geopolíticos, e se nós não transformarmos isso radicalmente, os imigrantes da Grécia e de outros países europeus em breve se juntarão aos refugiados africanos. Quando eu era jovem, uma tentativa organizada de regulamentar o bem comum [commons] foi chamada de comunismo. Talvez devêssemos reinventar isso. Talvez, no longo prazo, isso seja a única solução.
Tudo isso é uma utopia? Talvez, mas se não fizermos isso, então, estamos realmente perdidos, e nós merecemos estar.
* Publicado originalmente em inglês no In these times em 9 de setembro de 2015. A tradução é de Danilo Chaves Nakamura para o Blog da Boitempo.
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Slavoj Žižek, colunista
Slavoj Žižek nasceu na cidade de Liubliana, Eslovênia, em 1949. É filósofo, psicanalista e um dos principais teóricos contemporâneos. Transita por diversas áreas do conhecimento e, sob influência principalmente de Karl Marx e Jacques Lacan, efetua uma inovadora crítica cultural e política da pós-modernidade. Professor da European Graduate School e do Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana, Žižek preside a Society for Theoretical Psychoanalysis, de Liubliana, e é um dos diretores do centro de humanidades da University of London. Dele, a Boitempo publicou Bem-vindo ao deserto do Real!(2003), Às portas da revolução (escritos de Lenin de 1917) (2005), A visão em paralaxe (2008), Lacrimae rerum (2009), Em defesa das causas perdidasPrimeiro como tragédia, depois como farsa (ambos de 2011), Vivendo no fim dos tempos (2012), O ano em que sonhamos perigosamente (2012),Menos que nada (2013) e o mais recente Violência (2014). Colabora com o Blog da Boitempo esporadicamente.

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