segunda-feira, 23 de março de 2015

Liev Tolstoi – Guerra e Paz (Volume I)

Guerra e Paz (Volume I) – Liev Tolstoi

Editora: Publicações Europa-América
ISBN: 972-1-05040-7
Tradução: Isabel da Nóbrega e João Gaspar Simões
Opinião: ****
Páginas: 748

     “Estamos atualmente em guerra com Napoleão. Se se tratasse, de uma guerra de libertação, então, sim, compreendia, seria mesmo o primeiro a alistar-me. Mas ajudar a Inglaterra e a Áustria contra o maior homem que há no mundo... não esta certo.
     O príncipe André contentou-se, em encolher os ombros perante as infantis considerações de Pedro. O seu ar queria dizer que nada tinha a replicar a tal patetice; e, com efeito, seria difícil responder de outra maneira a tal ingenuidade.
- Se as pessoas fossem para a guerra só por convicção, não haveria guerra – disse ele.
 - E era isso que convinha – respondeu Pedro.
     O Príncipe André sorriu.
- É muito possível, mas aí esta uma coisa que nunca acontecerá.”

”- O que toda gente espera de um ricaço é vir a receber dele qualquer coisa.
“- Todo o homem tem os seus dias contados, e ninguém pode fugir daí.”
     “Como diz Sterne, “nós gostamos das pessoas menos pelo bem que elas nos fizeram que pelo bem que lhe fizemos a elas”.”
     “Não há ninguém com mais sorte ao jogo do que os imbecis.”
“- Como vês, meu velho – comentou –, enquanto não gostamos de alguém é como se estivéssemos a dormir. Não somos mais que pó... Mas assim que um homem começa a amar, é como se fosse Deus, sente-se puro, é como nos primeiros dias da Criação...”
     “O inimigo tinha cessado fogo, e isso mesmo ainda tornava mais agudo o sentimento da grave ameaça que representava aquela inacessível e insondável faixa de terreno entre os dois adversários.
     “Um passo para além daquela linha que lembra a que separa os vivos dos mortos e eis-nos no mundo desconhecido do sofrimento e da morte. E lá adiante que é que esta? Lá adiante, para além deste campo e desta árvore e daquele telhado iluminado pelos raios do Sol? Ninguém sabe e ninguém o deseja saber. Toda a gente tem medo de transpor aquela linha e ao mesmo tempo há como que uma tentação de fazê-lo; e o certo é que todos sabem que mais tarde ou mais cedo haverá que transpô-la e que conhecer o que lá existe, do outro lado da linha, exatamente como é inevitável virmos a saber o que fica do outro lado da morte. E no entanto todos nós nos sentimos fortes, saudáveis, cheios de vida.” Eis o que sente, sem dar por isso, todo o soldado diante do inimigo, e esta sensação, naquele instante, dá um brilho particular, um sentimento de rude alegria ao mais pequeno incidente.”
“- Consideram-me má pessoa – dizia. – Esta bem, suponhamos que sou assim. Não quero conhecer senão as pessoas a quem estime e por essas sou capaz de dar a própria vida. Quanto aos demais a esses era capaz de os esmagar a todos se os viesse a encontrar no meu caminho. Tenho uma mãe a quem idolatro, de quem não sou digno, dois ou três amigos, no número dos quais conto, e, quanto aos outros, esses apenas os considero na medida em que me podem ser úteis ou nefastos. E quase todos eles são prejudiciais, especialmente as mulheres. Sim, meu velho – prosseguia ele –, tenho encontrado homens dignos, de sentidos nobres e elevados. Mas entre as mulheres, até hoje, só encontrei criaturas que se vendem, e, quer sejam condessas ou cozinheiras, é o mesmo. Ainda não encontrei essa pureza celeste, essa dedicação que procuro na mulher. Se um dia encontrasse uma mulher assim, era capaz de dar a vida por ela. Quanto às que eu conheço... – Teve um gesto de desprezo. – E, acredita, se me interessa viver, é apenas na esperança de ainda vir a encontrar essa criatura celeste, que me regenerará, me purificará, me resgatará. Mas tu não me podes compreender.”
     “Eu disparei contra Dolokov porque me considerava ofendido, e Luís XVI foi guilhotinado porque o consideravam um criminoso, e se um ano mais tarde mandaram matar aqueles que o tinham guilhotinado, é porque também havia razões para isso. O que é o mal? O que é o bem? Que devemos nós amar? Que devemos odiar? O que é a vida? O que é a morte? Que forças dirigem tudo isto?
     E não havia resposta a qualquer destas perguntas, salvo uma resposta ilógica, que não explicava coisa alguma. Esta resposta era: “Um dia hás-de morrer e tudo acabará. Tu morrerás e saberás tudo ou deixarás de formular estas perguntas.” Mas morrer era uma coisa horrível.”
     “No dia 4 chega o primeiro correio de Petersburgo. Transportam as malas para o gabinete do marechal, que gosta de fazer tudo pelas suas próprias mãos. Chamam-me para ajudar à distribuição das cartas e tomar conta das que nos são destinadas.
     O marechal segue o nosso trabalho e aguarda os despachos que lhe são dirigidos. Procuramos; nem um. O marechal impacienta-se, ele próprio decide procurar e encontra cartas do imperador para o conde T., para o príncipe V, e quejandos. Então, aí o temos num dos seus ataques de fúria negra. Despede raios e coriscos contra toda a gente, apodera-se das cartas, abre-as, e lê as que o imperador endereça a outros.
     “Ah! É assim que se comporta para comigo? Não tem confiança em mim! Ah! Dá instruções para me espiarem. Fora daqui!” E ei-lo que redige a famosa ordem do dia para o general Bennigsen:
     “Estou ferido, não posso montar a cavalo e, portanto, comandar o exército. O senhor levou o seu corpo de exército derrotado para Pultusk, onde este se encontra sem lenha e sem forragens e desprovido do necessário, por isso, como ainda ontem o disse ao conde Boekshevden, é preciso retirar para a nossa fronteira, o que tem de fazer-se hoje mesmo.”
     “As minhas expedições a cavalo”, escreveu ao imperador, “provocaram-me uma ferida proveniente do abuso da sela, o que, além de outros inconvenientes, me impede por completo de montar e comandar um exército da importância deste; eis porque confiei o comando ao general mais antigo, o conde Boeksheden, transmitindo-lhe todos os serviços, e aconselhei-o a que, no caso de lhe faltarem mantimentos, se retirasse para mais perto de nós, para o interior da Prússia, visto que não há pão para mais de vinte e quatro horas e nalguns regimentos já acabou de todo; foi isso, pelo menos, o que declararam os comandantes de divisão Ostermann e Siedmorietski, e nos lares dos camponeses tudo foi devorado. Quanto a mim, aguardando o meu restabelecimento, fico no hospital de Ostrolenko. Ao transmitir, com data de hoje, o presente relatório a Vossa Majestade, tenho a honra de lhe participar que, se o exército permanecer ainda quinze dias no seu atual acampamento, quando chegar a Primavera não restará um só soldado válido.
     Permita Vossa Majestade que um velho se retire para o campo, levando consigo a vergonha de não ter podido cumprir o grande e glorioso destino para que fora escolhido. Aguardarei aqui, no hospital, a vossa muito augusta autorização, para que não venha a desempenhar no exército o papel de ‘escriba’ em vez do de chefe. A minha retirada do exército não produzirá a mais ligeira sensação – é um cego que se retira do exército, nada mais. Homens como eu encontram-se na Rússia aos pontapés.”
     O marechal zangou-se com o imperador e castigou-nos a todos; não é lógico?
     E aqui tem o primeiro ato. No ato seguinte, o interesse e o absurdo crescem, como é natural. Depois da partida do marechal, chegou-se à conclusão de que nós estávamos à vista do inimigo e era preciso travar batalha. Boekshevden é general-chefe por antiguidade, mas o general Bennigsen não é dessa opinião, tanto mais que, estando com o seu corpo de exército diante do inimigo, quer aproveitar a ocasião para uma batalha “aus eigener Hand” (por suas próprias mãos), como dizem os Alemães. E teve-a. Foi a batalha de Pultusk, que tem sido considerada uma grande vitória, mas que, na minha opinião, de vitória nada tem. Nós, civis, temos, como sabe, o mau hábito de decidir quando uma batalha é uma vitória ou uma derrota. O que se retira depois do combate é, em nossa opinião, aquele que a perdeu, e foi por isso que nós perdemos a batalha de Pultusk. Em resumo, nos retiramos no fim da batalha, mas enviamos um correio a Petersburgo com a notícia de uma vitória, e o general não cede o comando em chefe a Boekshevden na esperança de receber de Petersburgo, em reconhecimento da sua vitória, o título de general-chefe. Durante este interregno iniciamos um plano de manobras extremamente interessante e original. A nossa finalidade não consiste, como seria de esperar, em evitar o inimigo ou atacá-lo, mas unicamente em evitar o general Boekshevden, o qual, por direito de antiguidade, seria o nosso chefe. Visamos este objetivo com tanta energia que até mesmo quando atravessamos um rio não vadeável queimamos as pontes para cortarmos a ligação com o nosso inimigo, o qual, de momento, não é Bonaparte, mas Bockshevden. Este livrou-se de ser atacado e aprisionado por forças inimigas superiores graças a uma das nossas belas manobras, que nos livrava dele. Boekshevden persegue-nos, fugimos. Assim que ele atravessa para a margem do rio onde nós estamos, nós passamos para a margem contrária. Finalmente, o nosso inimigo Boekshevden apanha-nos e ataca-nos. Os dois generais zangam-se. Chega mesmo a haver um desafio para duelo da parte de Boekshevden e um ataque de epilepsia da parte de Bennigsen. Mas, no momento crítico, o correio que leva a notícia da nossa vitória de Pultusk traz-nos de Petersburgo a nomeação do general-chefe, e o primeiro inimigo. Boekshevden, esta liquidado: podemos pensar agora no segundo. Bonaparte. Mas então acontece que nesse momento se ergue diante de nós um terceiro inimigo, o exército ortodoxo, que pede, clamando, pão, carne, suchari, feno, que sei eu! Os armazéns estão vazios, os caminhos impraticáveis. O exército ortodoxo lança-se na pilhagem e de maneira tal que o que viu na última campanha lhe não pode dar a mais pequena ideia do que se esta a passar. Metade dos regimentos forma tropas livres, as quais percorrem o país levando tudo a ferro e fogo. Os habitantes estão completamente arruinados, os hospitais transbordam de doentes e a fome grassa por toda a parte. O quartel-general já por duas vezes foi atacado por bandos de salteadores e o próprio general-chefe viu-se obrigado a pedir o auxílio de um batalhão para correr com eles. Aquando um desses ataques levaram-me a minha mala vazia e o meu roupão. O imperador quer conceder a todos os comandantes de divisão autorização para fuzilar os salteadores, mas tenho o meu receio de que esta medida venha a obrigar metade do exército a fuzilar a outra metade.”
“- Mas então não sabe como isso acabou? Ouviu falar do duelo?
- E tiveste de chegar a esse ponto!
- A única coisa em que estou agradecido a Deus é de não ter matado esse homem – murmurou Pedro.
- E por quê? Não fica mal a ninguém matar um cão danado.
- Sim, mas matar um homem não esta bem, não é justo...
- Não é justo por quê? – insistiu André. – Ao homem não compete decidir do que é justo ou do que o não é. O homem sempre errou e sempre há-de errar, e principalmente naquilo que ele considera justo ou injusto.
- É injusto o que prejudica o próximo – observou Pedro, que sentia prazer em verificar, pela primeira vez desde que chegara, que o amigo começava a animar-se e a tornar calor pela conversa, e pretendia, deste modo, dar a conhecer tudo que o levara ao estado em que atualmente se encontrava.
- E como sabes distinguir o que prejudica o próximo? – perguntou André.
- O mal! O mal! – exclamou Pedro. – Todos nós sabemos muito bem o que é mau para nós próprios.
- Sim, é verdade, sabemos, mas o que me faz mal pode não fazer mal a outro – redarguiu André, cada vez mais animado e desejoso de expor a Pedro o seu novo ponto de vista. E acrescentou em francês: “Na vida só conheço dois males bem reais: o remorso e a doença. Só a ausência destes dois males é que é o bem.” Viver para mim próprio e limitar-me a evitar estes dois males, eis, atualmente, em que consiste toda a minha sabedoria.
 - E o amor do próximo, e a dedicação? – atalhou Pedro. – Não, não posso concordar consigo. Viver apenas para não fazer mal, para evitar o remorso, é pouco, muito pouco. Vivi assim, vivi só para mim e malogrei a minha vida. E só agora é que estou a viver, ou, pelo menos, a esforçar-me por viver – retificou por modéstia – para os outros. Só agora é que compreendi a felicidade da existência. Não, não posso estar de acordo consigo, e estou convencido de que não pensa o que diz. (...)
- É possível que tenhas razão no que te diz respeito – acrescentou após alguns momentos de silêncio. – Cada um vive como melhor entende. Tu, tu viveste para ti e entendes que vivendo assim ias malogrando a tua vida e que não soubeste o que era felicidade senão no dia em que começaste a viver para os outros. Eu, por mim, fiz a experiência contrária. Vivi para a glória. E que é a glória? É também o amor do próximo, o anseio de fazer alguma coisa por ele, o desejo de merecer os seus louvores. Quer dizer que eu vivi para os outros e que não só estive em risco de comprometer a minha existência, como a malogrei, de fato, completamente. Eis porque, de então para cá, desde que não vivo senão para mim, passei a ter uma vida mais serena.
- Mas como é possível viver-se só para si? – interrogou Pedro, cada vez mais exaltado. – E seu filho, sua irmã, seu pai?
- Continuam a ser eu, não são os outros – replicou André. – Os outros, o próximo, como dizem, tu e a Maria, são a causa principal do erro e do mal. O próximo são esses camponeses de Kiev a quem tu queres fazer bem. Olhou para Pedro com um olhar irônico e provocador. Era evidente que procurava desafiá-lo. (...)
- Não só ninguém me dissuadirá de que não foi um bem o que eu pratiquei, como ninguém me convencerá de que o André não pensa da mesma maneira. E o mais importante – concluiu – e é isso que eu sei, e disso estou convencido, é que a única verdadeira felicidade da vida é a satisfação que se tira do bem que se faz.
- Sim, se se puser assim o problema, é outra coisa – disse o príncipe André. – Eu construo uma casa, planto um parque, tu fundas hospitais. Tanto o meu ato como o teu podem ser considerados mero passatempo. Mas, quanto ao que é justo, ao que é o bem, deixa Aquele que tudo sabe, e não a nós, o cuidado de decidi-lo. Contudo, se queres continuar a discussão, esta bem, seja feita a tua vontade! (...) Tu dizes-me: entre na nossa confraria e nós lhe mostraremos o fim da vida, o destino do homem e as leis que governam o mundo. Mas quem somos nós? Homens! Como é que vocês sabem tudo isso? Porque será que só eu não vejo o que vocês veem? Vocês veem na terra o domínio do bem e da verdade, mas eu não o vejo.
     Pedro interrompeu-o.
- Acredita numa vida futura? – perguntou.
- Numa vida futura? – Mas Pedro não o deixou prosseguir, e, tomando esta interrogação como uma negativa, tanto mais que de longa data sabia do ateísmo do seu amigo, de novo o interrompeu.
- Acha que lhe é impossível ver o reino do bem e da verdade sobre a terra. Também eu não acreditava em tal coisa e não é possível admiti-lo se se considerar a nossa vida como o fim de tudo. Sobre a terra, principalmente sobre a terra – dizia ele, apontando para os campos –, não há verdade: tudo é mentira e maldade. Mas no universo, no conjunto do universo é a verdade que reina. Nós somos por um momento filhos da terra, mas eternamente somos filhos do universo. Não sentirei eu, no fundo da minha alma, que sou uma parte deste todo, enorme e harmonioso? Não sentirei eu que nesta imensa e infinita quantidade de seres, através da qual se manifesta a divindade ou a suprema força, o que vem a dar no mesmo, eu sou um fuzil, um degrau da escada dos seres que vai do mais ínfimo ao mais elevado? Se eu vejo, se vejo claramente esta escada que vai da planta até ao homem, porque é que eu hei-de partir do princípio de que ela se detém precisamente em mim em vez de alcançar sempre mais longe, cada vez mais longe? Eu sinto em mim que, pela mesma razão de que nada se perde no universo, também eu não posso desaparecer e que continuarei a ser para todo o sempre como sempre tenho sido. Sinto que além de mim e para além de mim há espíritos vivos e que é nesse universo que reside a verdade.
- Sim, é a doutrina de Herder – interveio André. – Mas, meu caro, não é essa doutrina que me convence: a vida e a morte, sim. O que me convence é ver uma criatura a quem queremos muito, a quem muito estamos presos, para com quem nos sentimos culpados e de que esperamos remir o mal que lhe fizemos – e ao dizer estas palavras a sua voz tremia e desviava a vista – e que de um momento para o outro começa a sofrer, a padecer tremendas dores e deixa de existir... Por quê? É impossível que não haja uma resposta para isto! E eu estou convencido de que há... Eis o que me convence, eis o que me convenceu – concluiu ele.
 - Claro, claro – repetiu Pedro. – Mas não é isso precisamente que eu estive a dizer?
- Não. O que eu quero dizer é que não são os raciocínios que me convencem da necessidade duma vida futura, mas este fato apenas: o de irmos pela vida fora de mão dada com um ser humano, e este ser, de repente, desaparecer além, no nada, e então determo-nos diante desse abismo e ficarmos a olhar. E eu, eu olhei...
- E então? Sabe que há um além, que há alguém. Além é a vida futura. Esse alguém é Deus. (....) - Se Deus existe, se há uma vida futura, a verdade existe, existe a virtude, e a suprema felicidade do homem consiste no esforço para as alcançar. É preciso viver, é preciso amar, é preciso crer – dizia Pedro –, pois não vivemos apenas nesta hora, sobre este pedaço de terra, mas sempre vivemos e eternamente havemos de viver, além, no Todo. – E apontava para o céu.”
     “André, de regresso ao gabinete do pai, encontrou os dois em calorosa discussão. Pedro queria provar que ainda chegaríamos a um tempo em que acabariam as guerras.
     O príncipe, escarnecendo dele, mas sem se zangar, sustentava o ponto de vista contrário.
- A única maneira, de acabarem as guerras e sangrar os homens é porem-lhe água no lugar do sangue. Patetices de mulher, patetices de mulher – dizia ele, batendo amigavelmente no ombro de Pedro.”
     “Maria dizia de si para consigo que a reflexão faz dos homens criaturas secas.”
     “Berg sorriu com a consciência da sua superioridade sobre uma fraca mulher e calou- se, dizendo de si para consigo que, afinal de contas, aquela encantadora pessoa a quem chamava esposa era fraca como todas as mulheres e não podia aspirar ao que constitui a dignidade do homem, a dignidade de “se ser um homem”.
     Entretanto, Vera sorria também, consciente da sua superioridade sobre o virtuoso e excelente marido, o qual, no entanto, em sua opinião, compreendia mal a vida, como, aliás, todos os homens. Berg, que julgava as outras mulheres através da sua própria, considerava-as todas seres fracos e estúpidos. Vera, julgando os homens através do marido e generalizando as suas observações, supunha que todos eles não faziam outra coisa senão considerar-se cheios de razão, embora na realidade nada compreendessem e não passassem de criaturas orgulhosas e egoístas.”
     “Pedro gozava deste triste privilégio, frequente em muitos homens, mas especialmente nos Russos, graças ao qual, embora acreditem na verdade e no bem, com tanta clareza veem o mal e a mentira dos humanos que lhes faltam forças para combatê-los a fundo. A seus olhos, todos os domínios da atividade humana estavam imbuídos do mal e da mentira. Fizesse o que fizesse, tentasse o que tentasse, sempre se sentia repelido por esta mentira perpétua: todas as vias da atividade humana se lhe fechavam. E, no entanto, era preciso viver, algo tinha de fazer, apesar de tudo. Deixar-se esmagar sob o peso destes problemas insolúveis, eis o que se lhe afigurava horrível, e por isso mesmo, quanto mais não fosse para esquecê-los, entregava-se ao que quer que houvesse a fazer.”

      “Às vezes lembrava-se de ter ouvido contar que os soldados na guerra, nas linhas avançadas, sob o fogo do inimigo, quando ociosos, procuravam uma ocupação qualquer para mais facilmente esquecerem o perigo. A seus olhos os homens sempre procediam como esses soldados, na esperança de se esquecerem da vida, e davam-se à ambição, ao jogo, elaboravam leis, entretinham-se com mulheres, divertiam-se, criavam cavalos, dedicavam-se à política, ou à caça, ou ao vinho, ou aos negócios públicos. “Em conclusão, nada há desprezível, nada há importante, tudo é indiferente”, pensava Pedro, “desde que uma pessoa saiba subtrair-se a essa, realidade da vida, desde que uma pessoa se não veja frente a frente com a vida, esta terrível vida!”.”

Entenda a psicologia do atraso

Revista Galileu

Entenda a psicologia do atraso - e veja dicas científicas para se tornar uma pessoa mais pontual

10/10/2014 - 09H10/ atualizado 09H1010 / por Rennan A. Julio
Cuide bem do seu tempo! (Foto: Reprodução)
Segundo pesquisas, a cada cinco pessoas, uma sofre com problemas de atraso. Pensando nisso, cientistas e empreendedores realizaram estudos a fim de compreender as causas e os efeitos dos atrasos. Os estudos mostraram que ser pontual pode trazer uma série de benefícios financeiros e emocionais.
Em 2012, um trabalho expôs que mais da metade da população britânica se atrasa para compromissos do trabalho ao menos cinco vezes por mês. Para os responsáveis pela pesquisa, essa é a principal justificativa aos problemas de transporte.
Contudo, essas pesquisas foram capazes de identificar fatores psico e fisiológicos que explicam esse “problema”:
Seu corpo quer se atrasar
Na realidade, pessoas que têm o costume de “viver em cima da hora” estão correndo atrás de adrenalina. Da mesma forma que existem os alucinados por montanhas russas, também existe quem adore chegar cinco minutinhos atrasado.
Pés no chão?
Os atrasados costumam fazer planos impraticáveis acreditando piamente que conseguirão realizá-los. Em um estudo realizado por Diana DeLonzor, quando escrevia a obra Never Be Late Again: 7 Cures for the Punctually Challenged, descobriu-se que a percepção de tempo é completamente diferente para pessoas pontuais e para os atrasados.
Fácil distração
Em 2008, um trabalho da World Health Organization mostrou que pessoas que sofrem de Desvio de Déficit de Atenção e Hiperatividade conseguem perder, em média, a produtividade durante 143 dias em um ano. Para psicólogos, assim como os atrasados, eles são considerados “insensíveis ao tempo”.
Insegurança pura
Alguns indivíduos simplesmente gostam de fazer as pessoas esperarem por ele. Traz confiança, poder e na maioria das vezes são homens; conta a pesquisa de DeLonzo.
E quais são reais consequências?
Ser um pouquinho atrasado, não pagar aquela conta no dia correto e esquecer-se de entregar o relatório podem até parecer coisas inofensivas; mas os efeitos em longo prazo são piores do que se imagina.
Atraso = Prejuízo
Se você ganha cerca de 50 mil reais por ano e costuma se atrasar dez minutos por dia; seu prejuízo para a empresa é de 400 reais. Pesquisadores acreditam que esse problema custa mais de três bilhões de dólares por ano, nos Estados Unidos. Então cuidado para não dar essa ~margem ao seu chefe...
Falta de pontualidade faz mal à saúde
De acordo com o autor Alex Lickerman, muitas pessoas sofrem de ansiedade e excesso de apreensão por não saber se conseguirão chegar no horário para os seus compromissos. E por mais que adrenalina possa gerar uma boa sensação, seus efeitos nas pessoas que vivem nesse estado podem ser muito nocivos: problemas no coração, diabetes, insônia e imunidade baixa são alguns deles.
Há como melhorar?
Sim, quaisquer que sejam as razões para os seus atrasos, existem possibilidades para melhorar esse problema “crônico”:
Aprenda a usar seu tempo
Uma boa maneira de começar é colocar no papel quanto tempo você leva para realizar seus compromissos – e seja realista. Existem sites como o RescueTime que nos ajudam a mapear e definir objetivos para aproveitarmos melhor o nosso tempo.
Mantenha listas
Papel e caneta para anotar tudo que você vai fazer durante o dia. Marque tudo que precisa fazer ao longo de curtos períodos, e vá riscando tudo que já tiver conquistado. Isso trará sensações de plenitude muito agradáveis.
Deixa a vida te levar (vida leva eu)
Agende pagamentos, coloque o alarme mais cedo, use calendários e crie uma estrutura para a sua vida. Segundo DeLonzor, passamos 45% da nossa vida em rotina; então é melhor aproveitar seu tempo para fazer as coisas do que para ficar planejando.
Para finalizar, descanse
Permitir-se um tempo extra de sono e ser mais generoso com a sua agenda de vez em quando pode ajudar a diminuir a ansiedade. Isso pode colocar um rumo menos atrasado para a sua vida.

domingo, 22 de março de 2015

Por que a “privatização” da Petrobras tem de ser indireta e camuflada?

Por que a “privatização” da Petrobras tem de ser indireta e camuflada? Porque é uma ideia réptil

Autor: Fernando Brito
cobra
Escondida quase, na sexta página do caderno de Economia (“Mercado”, para eles, porque economia a ele se resume), está a pesquisa Datafolha que mostra que, mesmo com todo bombardeio de mídia, quase dois terços da população continuam se opondo à privatização da Petrobras.
E que, por isso, isto não deveria preocupar ninguém, pois esta questão “está fora da pauta política do país”.

Não é verdade: está e sempre esteve.
E é exatamente por conta da rejeição da população que ela encontra outras formas de se expressar na política.
Foi assim na venda de boa parte de seu capital na Bolsa de Nova York, por Fernando Henrique.
Porque a privatização da Petrobras é uma ideia réptil, própria dos rastejantes que só são capazes de enxergar um país servil, uma colônia, onde lhes cabe, claro, o papel de subnobreza que se enriquece mediocremente  com o farelos do saque ao povo e à natureza.
Sua “privatização” se faz pela destruição e pelo “encolhimento”, tanto quanto pela alienação de nossas reservas petrolíferas.
Agora, pela corrupção – que não é de hoje, nem de ontem – os “muy amigos” da Petrobras querem “enxugá-la”.
O curioso é que não querem “enxugá-la” da especulação e das pressões financeiras monstruosas que se faz contra ela.
Mas daquilo que é seu maior valor para o país: o pré-sal e a capacidade da empresa de mover uma imensa engrenagem de geração de emprego e renda para o país, expressa em estaleiros, construções, equipamentos  e tudo o mais em que se passou a exigir conteúdo nacional.
Por isso apelam a mil estratagemas de “gestão técnica”, coisa que a empresa jamais deixou de ter, porque é uma corporação mais do que estruturada e que não foram políticos os furos nos seus diques de governança de onde vazou um rio de dinheiro.
Lembremos que os que se apontam como seus ladrões  são todos funcionários de carreira, maçãs podres em meio a milhares de brasileiros capazes, honrados e trabalhadores que a integram.
Os privatizadores da Petrobras não precisam colocá-la à venda.
Basta que a destruam a grandeza do seu papel, sempre e ainda mais agora, que o país se descobre dono de reservas imensas de petróleo.
Os répteis e as ideias répteis são assim: seu veneno enfraquece a vítima e a vão esmagando e engolindo.

Estado Islâmico estaria recrutando brasileiros

Estado Islâmico estaria recrutando brasileiros para atentado no país

Lobo solitário faz
órgão de segurança do Brasil

 acenderem a 'luz amarela'
O EI (Estado Islâmico) estaria recrutando jovens no Brasil para executar atentados no país durante a Olimpíada de 2016, que reunirá no Rio atletas e turistas do mundo inteiro.

O objetivo da organização seria que esses brasileiros atuassem isoladamente, como “lobos solitários”, a exemplo do que ocorreu recentemente na Austrália e Canadá.

Por não terem ligação orgânica como o EI, os “lobos” não integram as listas internacionais de terroristas, o que dificulta o rastreamento de suas atividades.

O Estadão informou que a Casa Civil tem acompanhado a troca de informações entre os órgãos de inteligência sobre a possibilidade de o EI estar se concentrado em obter militantes na América do Sul, tendo em vista que o recrutamento ficou difícil na Europa por causa de maior repressão das autoridades.

Policiais europeus vieram ao Brasil em março para troca de informações.

.“Estado Islâmico: Reflexões para o Brasil” é um dos documentos confidenciais produzidos por órgãos de segurança do Brasil, como o Gabinete de Segurança Institucional, Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência, além de instâncias do Ministério da Justiça.

Os órgãos de segurança do Brasil acharam conveniente acender desde já uma “luz amarela” por causa dos jogos olímpicos.

Eles estão monitorando a internet, que tem sido o principal meio de comunicação entre jihadistas e seus simpatizantes.

O jornal identificou na rede social pelo menos dez brasileiros muçulmanos tentando convencer sírios que moram no Brasil a reforçarem o Estado Islâmico. Esses sírios vieram de áreas conflagradas.

A vigília na internet não é ampla o quanto os órgãos da segurança nacional gostariam que fosse porque o Brasil não tem uma legislação antiterror.

Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, disse ser possível votar rapidamente uma legislação de combate ao terror.

Com informação do Estado de S. Paulo.

invenções geniais para economizar ou purificar água

8 invenções geniais para economizar ou purificar água Vanessa Daraya - 18/03/2015 às 14:11

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São Paulo, a maior e economicamente a mais importante cidade brasileira, vive o risco iminente de ficar sem água. E a crise hídrica se alastra pelo país. Trata-se de um problema grave e sem soluções de curto prazo (a não ser fechar as torneiras, claro), que já está transformando nossos hábitos de consumo.
Mais do que nunca, sabemos que a água é finita. E todas as ideias para economizar e até mesmo purificar a água são sempre bem-vindas. Por isso, decidimos reunir aqui algumas invenções geniais e engenhocas de vários lugares do mundo que inspiram o consumo consciente do nosso bem mais valioso. Afinal, não há vida sem água.
1. Botão evita desperdício na hora da descarga
O brasileiro Gerson Luiz Maezano criou o Acqualógico*, botão universal de baixo custo para privadas com caixa. A engenhoca deve substituir botões tradicionais de descargas, mas sem precisa trocar o mecanismo interno.
O botão libera dois volumes de água. Um deles é para resíduos sólidos e o outro para líquidos. A troca permite uma economia de até 60% a cada vez que a descarga for acionada pelo usuário. O preço é de aproximadamente 15 reais e a peça é simples de trocar como uma lâmpada. Foto: Divulgação/Acqualógico
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2. Torneira economiza 15% da água
Também existem engenhocas mais complexas. Criar um simples sistema de economia de água, por exemplo, não era o suficiente para Simin Qiu, estudante do Royal College of Art, em Londres. Por isso, ele trabalhou na criação da Swirl*, torneira com design especial.
Ela envia água por meio de uma turbina dupla e uma série de furinhos, criando “desenhos” incríveis. São três bicos dosadores que permitem ao usuário escolher a quantidade de água e o desenho desejado. Além disso, o sistema limita o fluxo de água em 15% quando a torneira fica mais de 60 segundos aberta. A ideia rendeu ao garoto o Prêmio Conceito iF Design em 2014. Mas ainda não há previsão de venda do seu invento. Foto: Simin Qiu
swirl-torneira
3. Tijolo de borracha economiza na descarga
Um grupo de americanos criou outra engenhoca interessante para economizar água na hora da descarga. O Drop-A-Brick* (Solte um tijolo, em tradução livre) é um tijolo ecológico de borracha que afunda e preenche parte do espaço das caixas de descargas, diminuindo a entrada (e saída) de água, ou seja, o desperdício. Durante o financiamento coletivo, o tijolo foi vendido no site Indiegogo por 15 dólares. Mas a campanha só conseguiu arrecadar 50% do valor necessário.
Usar tijolos de alvenaria com essa finalidade não é novidade, mas com certeza também não é 100% seguro como o Drop-A-Brick. Mas quem não quiser comprar o tijolo de borracha, já pode adotar um jeito mais prático e simples de economizar água da descarga: colocar garrafas de plástico cheias de água ou areia dentro da caixa. A quantidade de garrafas depende do tamanho da caixa e da economia que se quer fazer. Esta pequena atitude pode economizar cerca de dois litros de água a cada descarga. Foto: Divulgação/Drop-a-Brick
drop-a-brick
4. Garrafa purifica 99,9% das impurezas da água
Esta ideia genial a gente já revelou aqui no site: um grupo de designers suecos criou a Okopure, garrafa capaz de transformar qualquer líquido em água. A filtragem acontece com ajuda de uma série de pequenos poros. Eles prometem eliminar 99,9% das impurezas e ainda absorver agentes nocivos à saúde.
São vendidos três filtros diferentes, cada um com capacidade diferente (550 ml, 650 ml e 1000 ml). O menor deles custa 22,95 dólares, enquanto o maior custa 24,95 dólares. Ainda é caro, mas uma ótima alternativa em países ou regiões muito pobres, onde não há saneamento básico. Ou em casos de eventos extremos – furacões, tufões, tsunamis e terremotos – ou guerras. Foto: Reprodução/YouTube

5. Engenhoca gera eletricidade e purifica água com energia do Sol
Preocupada com a quantidade de pessoas sem acesso à água potável no mundo, Cynthia Sin Nga Lam, estudante australiana de 17 anos, desenvolveu o H2prO, um dispositivo barato e portátil capaz de purificar águas residuais e gerar eletricidade. Isso, a partir do uso de um ingrediente muito abundante em qualquer lugar do planeta: a luz do Sol.
A água suja entra na parte superior do invento e passa por uma malha de titânio que esteriliza a água quando ativada pela energia solar. Essa reação divide água em oxigênio e hidrogênio, que por sua vez é usado para gerar energia. O mais legal é que impurezas na água, como detergentes, geram mais hidrogênio e, consequentemente, mais energia. Foto: Reprodução/YouTube

6. Sistema purifica água com a luz do Sol
Outro jovem que teve uma ideia genial foi Deshawn Henry, estudante de Engenharia Civil da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos. Ele criou uma lente solar capaz de filtrar água com materiais baratos que garimpou em uma loja de hardware.
A lente aumenta a luz solar e aquece um litro de água. O processo elimina agentes patogênicos e deixa a água potável. O estudante ainda planeja aprimorar a engenhoca e criar uma lente maior, que conseguirá limpar uma quantidade maior de água de uma vez só.
O sistema de baixo custo tem potencial para ajudar comunidades mais carentes que vivem em regiões ensolaradas sem precisar gastar energia ou depender de tecnologias importadas. Foto: Divulgação/University of Buffalo

7. Dispositivo controla consumo de água e envia informações para celular
Outra notícia bacana que já mostramos aqui no site do Planeta Sustentável: um grupo de ativistas americanos criou o Water Hero (“herói da água”, em tradução livre): dispositivo que, conectado ao medidor de água, fornece informações simultâneas sobre o consumo para o smartphone do usuário por meio de um aplicativo.
Para ajudar usuários mais leigos, o sistema converte medidas para litros ou galões e mostra até gráficos sobre o consumo de água. Se o sistema detecta volume muito alto, pode fechar o registro de onde o dispositivo está instalado.
A tecnologia ainda não chegou ao mercado global, mas a previsão é que isso aconteça até o final de 2015. O aplicativo é gratuito, mas o aparelho para controle do registro custa cerca de 200 dólares. Foto: Divulgação
water-hero
8. ‘Tablado’ ajuda a reutilizar 90% da água do banho
O designer húngaro Alberto Vasquez* criou o Gris, espécie de tablado que armazena a água do banho. São quatro compartimentos interligados com capacidade de armazenar até 10 litros.
Quando conectados, os compartimentos formam inclinação no centro, o que permite que a água escorra e entre no tablado. Depois do banho, é possível separar as quatro partes e usar a água ali armazenada para lavar o banheiro, a cozinha, o quintal, para dar descarga, entre outras opções.
Segundo Vasquez, o Gris é mais eficiente do que bacias porque coleta até 90% da água do banho, enquanto baldes reaproveitam apenas 30%. O produto ainda não está à venda, mas tem muito potencial para dar certo. O criador imagina que o tablado irá custar em torno de 60 reais. Foto: Divulgação/Igendesign
gris-alberto-vasquez
*Alberto Vasquez 
*Swirl
*Acqualógico 
*Drop-A-Brick
Foto de abertura: Nemo/Pixabay/Domínio Público

ÉTICA SOCRATICA

A ÉTICA DE SÓCRATES

Disponível em: https://jfariaadvogados.wordpress.com/2010/01/27/a-etica-de-socrates/.

Momentos finais da vida de Sócrates.
Uma das figuras mais emblemáticas da filosofia ocidental, Sócrates é um divisor de águas para a filosofia antiga. Isto porque situava o seu pensamento e especulações na natureza humana e suas implicações ético-sociais e não na cosmovisão das coisas e da natureza. Sócrates não deixou obras escritas, razão pela qual tudo o que sabemos a seu respeito tem origem no trabalho dos outros. Estima-se que tenha nascido em Atenas por volta do ano 469 a.C., tendo sido condenado à morte pelos juízes desta cidade no ano de 399 a.C.  Mas, o que faz o seu pensamento um importante marco na história da ética?
Pois bem, Sócrates erigiu uma linha de pensamento autônoma e originária que se voltava contra o despotismo das palavras, interagindo e reagindo ao movimento dos sofistas, muito em voga nesse período da história grega.  Seu método maiêutico era baseado na ironia e no diálogo, tendo como finalidade uma parturição de idéias. Logo, para Sócrates, todo erro é fruto da ignorância e toda virtude é conhecimento. Daí a importância de reconhecer que a maior luta humana deve ser pela educação e que a maior das virtudes é a de saber que nada se sabe.
A ética socrática reside no conhecimento e em vislumbrar na felicidade o fim da ação. Essa ética tem por objetivo preparar o homem para conhecer-se, tendo em vista que o conhecimento é a base do agir ético. Ao contrário de fomentar a desordem e o caos, a filosofia de Sócrates prima pela submissão, ou seja, pelo primado da ética do coletivo sobre a ética do individual. Neste sentido, para esse pensador, a obediência à lei era o limite entre a civilização e a barbárie. Segundo ele, onde residem as ideias de ordem e coesão, pode-se dizer garantida a existência e manutenção do corpo social. Trata-se da ética do respeito às leis,e, portanto, à coletividade.
A abnegação pela causa da educação dos homens e pelo bem da coletividade, levou Sócrates a se curvar ante o desvario decisório dos homens de seu tempo. Acusado de estar corrompendo a juventude e de cultuar outros deuses, foi condenado a beber cicuta pelo tribunal ateniense.  Sócrates resignou-se à injustiça de seus acusadores, em respeito à lei a que todos regia em Atenas.
Para esse proeminente filósofo grego, o homem enquanto integrado ao modo político de vida deve zelar pelo respeito absoluto às leis comuns a todos, mesmo em detrimento da própria vida. O ato de descumprimento da sentença imposta pela cidade representava para Sócrates a derrogação de um princípio básico do governo das leis, qual seja, a eficácia. Segundo Sócrates, com a eficácia das leis comprometida, a desordem social reinaria como princípio.

Assim, são muitas as lições trazidas pela ética socrática: o conhecimento como virtude; a educação como forma de conhecer a si mesmo e, por consequência, conhecer melhor o mundo para alcançar a felicidade; a primazia do coletivo sobre o individual e, a obediência às leis para garantir a ordem e a vida em sociedade. Sábias ideias. Se os agentes políticos e a sociedade em geral pensassem assim, teríamos, com certeza, um país mais justo e solidário.

Irã prepara a volta da vitória

Irã prepara-se para a volta da vitória

13/3/2015, [*] MK BhadrakumarIndian Punchline − rediffBLOGS
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
                     POSTADO POR CASTOR FILHO


Teerã já mal tolerava, ao longo dos últimos anos, o teatro e as patacoadas do Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu de Israel sobre a questão nuclear. Mas agora é sem luvas, afinal, com as conversações EUA-Irã entrando decididamente numa fase em que a mídia-empresa norte-americana discute se o acordo é “acordo”, “memorando de intenções”, “tratado”, só muda o nome.
Os diplomatas dos países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU já começaram consultas, em New York sobre uma resolução que levantará formalmente as sanções da ONU contra o Irã, caso o acordo seja assinado.
Israel recorreu repetidas vezes a crimes, como o assassinato de cientistas iranianos, e Netanyahu nunca perdeu oportunidade para caricaturar o Irã como se fosse responsável por todos os males desse nosso atormentado mundo, não raro com linguagem grosseira. O Irã jamais retaliou, nem ante a provocação mais ofensiva. Agora, vai acabar. E, dando às coisas o nome verdadeiro, Netanyahu não é páreo para Teerã.
Semana passada, o influente assessor do Supremo Líder e ex-Ministro de Relações Exteriores, Ali Akbar Velayati, chamou Netanyahu de “aquele vagabundo”, ao comentar a aparição [“daquele vagabundo”] no Congresso dos EUA, recentemente, para falar mal do Irã.
Ontem, o Supremo Líder, Ali Khamenei, usou outra expressão colorida – “o palhaço sionista”. Não há dúvidas de que o Irã já sentiu que Netanyahu perdeu a batalha, e a recente carta de deputados Republicanos pró-Israel do Congresso dos EUA pode ser o proverbial último prego no caixão da campanha israelense contra a decisão de Obama de acertar as coisas com Teerã.
Mohammad Javad Zarif, MRE do Irã 
Não há dúvida de que o Irã conhece, em detalhes, os meandros da política doméstica nos EUA.
(...)
O Irã, além do mais, fez a lição de casa, e será perda de tempo os norte-americanos inventarem que teria sido acordo Obama-Irã, não EUA-Irã. O Ministro das Relações Exteriores, Mohammad Zarif (especialista competentíssimo, em lei internacional) já deu boas lições aos muito carentes delas, ignorantes deputados norte-americanos, sobre o contato íntimo entre lei nacional e lei internacional, em políticas exteriores.
Seja como for, tão logo o Conselho de Segurança levante as sanções contra o Irã, abrir-se-ão as comportas, e a plena integração do Irã com o ocidente se tornará irreversível. Nenhum futuro governo dos EUA gostará de negar-se a si mesmo o prazer de magníficos negócios com país rico e civilizadíssimo. como o Irã. Mas o “Big Oil” texano proibirá.
Em seu discurso em Teerã ontem [5ª-feira, 12/3/2015], Khamenei elogiou demoradamente a equipe de negociadores iranianos – “gente boa, honesta, sincera, que trabalha para o avanço do país no futuro” – deixando claro que o acordo que está sendo finalizado conta com sua aprovação plena e suas bênçãos. Foi grande mensagem, que ecoará por todos os corredores do poder no Irã.
Khamenei fez esses comentários quando discursava para os membros da poderosa Assembleia dos Especialistas, onde se reúne “la crème de la crème” das elites religiosas (e políticas) iranianas.
Aiatolá Ali Khamenei em 12/3/2015
Vale anotar também que Khamenei teve a grata satisfação de ver eleito em eleições diretas e abertas, naquela Assembleia dos Especialistas, como novo presidente, seu amigo e companheiro de longa data, Aiatolá Mohammad Yazdi, o qual, e também é interessante, derrotou ali o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, por 47-26 votos. A especulação já começou, na mídia-empresa ocidental, que Yazdi, de 83 anos, pode, algum dia, vir a ser Supremo Líder do Irã (Daily Star).
Ontem, Zarif pessoalmente informou a Assembleia dos Especialistas sobre a situação do acordo nuclear. Sob todos os aspectos, é momento emocionante, entusiasmante, para a Revolução Islâmica de 1979. 35 anos de sítio, afinal já próximo de ser levantado.
É um grande momento não só para o ocidente, mas também para a Ásia, que a última fronteira da segurança energética esteja tão próxima – sobretudo para a China. A próxima visita do presidente Xi Jinping ao Irã está marcada com “timing” perfeito. Segundo o Ministro chinês de Relações Exteriores, Wang Yi, o resultado da visita promete ser “dramático”.
Evidentemente, o Irã escolherá com extremo cuidado os parceiros de energia. A política “Olhe para o leste” construída pelo ex-presidente Mahmoud Ahmedinejad já perdeu a relevância.
Os aiatolás Ali Khamenei (E) e Mohammad Yazdi em 12/3/2015
O Iran Daily, jornal muito próximo dos centros de poder em Teerã, comenta hoje em editorial,
Exportar gás por gasodutos ajuda a formar fortes laços diplomáticos e relações internacionais com nações regionais e trans-regionais. O Irã deve desenvolver laços próximos com estados como Turquia, Paquistão, Iraque e Índia, para aumentar suas exportações de gás. (...)
Dado que os europeus têm interesse em importar gás do Irã, o país do Golfo Persa já manteve conversações com a Suíça e a União Europeia, para transferir gás para a Europa. Mas são ainda indispensáveis equipamento e infraestrutura a serem desenvolvidas para que exportem o gás deles para a Europa. O Irã já é capaz de exportar gás para a Europa imediatamente, tão logo comece o bombeamento.
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[*] MK Bhadrakumar foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Oriente Médio, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de geopolítica, de energia e de segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu e Ásia Times Online, Al Jazeera, Counterpunch, Information Clearing House, e muitas outras. Anima o blog Indian Punchline no sítio Rediff BLOGS. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala, Índia.

Direito Penal do Inimigo

Brasil decide futuro com base no Direito Penal do Inimigo

do ConJur
Direito Penal do Inimigo é uma teoria assentada em três pilares: antecipação da punição; desproporcionalidade das penas e relativização e/ou supressão de certas garantias processuais; e criação de leis severas direcionadas a quem se quer atingir (terroristas, delinquentes organizados, traficantes, criminosos econômicos, dentre outros).

Seu criador, o alemão Günther Jakobs definiu “inimigo” como alguém que não se submete ou não admite fazer parte do Estado, e por isso não deve usufruir do status de cidadão, ou seja, pode ter seus direitos e garantias relativizados. O professor de Direito Penal Rogério Greco resume: o Direito Penal do Inimigo tem sido usado com a finalidade de aplicar penas privativas de liberdade, com a minimização das garantias necessárias a esse fim.
Greco (foto) desenha um itinerário: primeiro, o clima propício de uma sociedade exausta diante da insegurança e amedrontada ou indignada, com ganas de vingança. A sensação, captada pela mídia, desloca o debate do Direito das mãos dos profissionais para o microfone de apresentadores de programas de entretenimento ou jornalistas que passam a exigir leis mais duras, recrudescimento de penas e redução do amplo direito de defesa dos acusados.
Uma vez instalado esse cenário, personagens que, em condições normais de temperatura e pressão, seriam relegados ao anonimato, dão o suposto respaldo técnico que os leigos precisam para legitimar a finalidade pretendida: a condenação sumária de suspeitos. A revista eletrônicaConsultor Jurídico já apontou atitudes de defensores de tal postura no Brasil, como os ex-ministros Joaquim Barbosa e Eliana Calmon. O argumento simplificador de que a sociedade pode ficar livre da parcela de indivíduos não adaptados eleva seus defensores à condição de celebridades instantâneas. Opor-se a eles implica ser visto como defensor do crime.
Os exemplos não são apenas brasileiros. O juiz espanhol Baltazar Garzón também ficou conhecido por arrumar meios ilegais para chegar aos seus fins: prender quem ele acreditava ser culpado. Isso até ser ele próprio ser condenado por abuso de poder e excluído da magistratura por 11 anos, após ordenar escutas telefônicas entre políticos acusados de corrupção e seus advogados.
O discurso agrada ao grande público e é replicado por quem quer dizer que atende aos anseios da sociedade. Em sua posse, no último dia 1º, a presidente da República, Dilma Rousseff, afirmou claramente que partirão do próprio Poder Executivo federal projetos para endurecer as penas, em nome do combate à corrupção. Como a Rainha de Copas do livro Alice no País das Maravilhas bradava “cortem-lhe a cabeça”, dirigindo-se a acusados que ainda seriam julgados, a presidente (foto) repete que precisamos de “penas mais duras e julgamentos mais rápidos”.
A noção de que punições mais duras diminuem o volume de crimes é rebatida pelo criminalista Eduardo Myulaert. Em recente artigo publicado pela ConJur, ele aponta que a impunidade, talvez o maior fator de estímulo à violência, “decorre da incapacidade do Estado, que não consegue imprimir a eficácia necessária aos serviços de prevenção, investigação, julgamento em tempo hábil e, ainda mais, de administração penitenciária”.
Noves fora
A dialética impõe que, em nome do interesse público, nenhuma ideia seja deixada de lado. Tanto mais quando se trata de proteger a sociedade da corrupção, do terrorismo, do tráfico de drogas e da criminalidade em geral. O problema é saber se o rebaixamento do direito de defesa aperfeiçoa, de fato, o sistema jurídico.
Nos Estados Unidos, a adoção da chamada Lei Patriótica (Patriot Act), marco legal que legitimou ações contra terrorista, eliminou ou reduziu garantias individuais e direitos fundamentais não só de americanos mas até de chefes de Estado de outras nações. Em que medida o terrorismo recuou, ainda é preciso esperar para saber.
Na Itália, onde se deu o exemplo mais famoso de combate sem freios ao crime organizado, fala-se muito da desarticulação da máfia pela operação mãos limpas, ou mani pulite. Mas pouco se diz dos seus bastidores e do custo da empreitada. Omite-se, por exemplo, que a campanha foi deflagrada por uma disputa entre grupos políticos. E que alguns de seus idealizadores foram ceifados pelos mesmos crimes que atribuíam a seus algozes — como o inventor da guilhotina na Revolução Francesa.
Sobre a mani pulite, o professor e advogado Leonardo Isaac Yarochewsky (foto) aponta que a operação foi inicialmente aclamada pela população italiana, ganhou espaço na crítica ante os abusos cometidos pelo Ministério Público e pelos juízes, especialmente “pelos exageros apontados nos encarceramentos preventivos, tanto que a operação passou a ser apelidada pela imprensa de ‘operação algemas fáceis’”. Ali, diz o professor, “iniciava-se um embate entre os operadores do Direito, divididos entre o argumento de combate à criminalidade e do respeito às garantias fundamentais”.
Se essa divisão apontada por Yarochewsky se faz em todo o mundo jurídico, vale destacar a posição do juiz federal Sergio Moro — que ganhou os holofotes ao conduzir as ações decorrentes da recente operação “lava jato” — sobre a operação italiana aponta o lado que ele tomou para si. Em artigo publicado em 2004, o juiz elogia a atuação da Justiça italiana, na operação que, segundo muitos, tirou crédito da Justiça do país. Segundo ele, foi “uma das mais exitosas cruzadas judiciárias contra a corrupção política e administrativa”.
Moro, que é acusado por advogados de ter prendido os empresários da operação “lava jato” apenas para pressioná-los a fazer delações, já havia se posicionado sobre a questão:  “A prisão pré-julgamento é uma forma de se destacar a seriedade do crime e evidenciar a eficácia da ação judicial, especialmente em sistemas judiciais morosos. Desde que presentes os seus pressupostos, não há óbice moral em submeter o investigado a ela”.
O juiz, aliás, é só elogios ao instituto da delação premiada. “Um criminoso que confessa um crime e revela a participação de outros, embora movido por interesses próprios, colabora com a Justiça e com a aplicação das leis de um país. Se as leis forem justas e democráticas, não há como condenar moralmente a delação; é condenável nesse caso o silêncio”, diz em seu artigo.
O próprio vazamento seletivo de informações sobre investigados é aplaudido pelo magistrado. Na sua visão, o “uso da imprensa” por juízes e MP serve para combater a “manipulação da imprensa” pelos acusados. “Os responsáveis pela operação mani pulite ainda fizeram largo uso da imprensa. Com efeito: “Para desgosto dos líderes do PSI, que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da ‘mani pulite’ vazava como uma peneira. Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no L’Expresso, no La Republica e outros jornais e revistas simpatizantes. Apesar de não existir nenhuma sugestão de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação teria deliberadamente alimentado a imprensa com informações, os vazamentos serviram a um propósito útil. O constante fluxo de revelações manteve o interesse do público elevado e os líderes partidários na defensiva.”
Quanto à possibilidade de o vazamento a conta-gotas das informações causarem danos à honra de acusados, Moro (foto) tem uma solução simples: “Cabe aqui, porém, o cuidado na desvelação de fatos relativos à investigação”.
O fato de a operação mãos limpas ter quebrado a economia italiana e deixado o país em um vácuo político que culminou com a ascensão de Silvio Berlusconi — amigo próximo de Bettino Craxi, principal réu da mani pulite — não são vistos como erros da operação. O problema é dos outros, diz Moro. “Talvez a lição mais importante de todo o episódio seja a de que a ação judicial contra a corrupção só se mostra eficaz com o apoio da democracia.”
Advogados grampeados
As posições polêmicas do juiz, que ganha as manchetes como quem está decidindo o futuro do país em relação ao direito de defesa, não vêm apenas em suas decisões na famigerada “lava jato” ou nas suas opiniões sobre a operação italiana. Em 2010, a Ordem dos Advogados do Brasil do Paraná entrou com uma representação contra uma decisão de Sergio Fernando Moro e do juiz Leoberto Simão Schmitt Jr. que determinou que todas as conversas entre advogados e presos na Penitenciária Federal de Catanduvas fossem interceptadas, “independente da existência de indícios da prática de infração penal pelos defensores”.
A decisão, acusou a OAB-PR, generaliza de modo absolutamente injustificado uma suspeita em relação a todos os advogados dos presos daquela unidade. “De outro lado, os argumentos manejados para justificar a extrema medida são visivelmente improcedentes, na medida em que o monitoramento não se estende às autoridades públicas, membros do MPF, Juízes e Defensores Públicos, criando, assim, uma injustificável discriminação aos advogados privados”.
O monitoramento não incluía defensores públicos, autoridades públicas e membros do Ministério Público e do Poder Judiciário, porque, segundo o juiz federal Sérgio Moro, eles “não estão sujeitos a cooptação com os criminosos”, por não terem “vínculo estreito” com os detentos e poderem não retornar mais ao presídio em caso de pressão das organizações.
Clique aqui para ler o artigo de Sergio Moro sobre a operação mani pulite.