Irã prepara-se para a volta da vitória
13/3/2015, [*] MK Bhadrakumar, Indian Punchline − rediffBLOGS
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
POSTADO POR CASTOR FILHO
Teerã já mal
tolerava, ao longo dos últimos anos, o teatro e as patacoadas do
Primeiro-Ministro Benjamin Netanyahu de Israel sobre a questão nuclear.
Mas agora é sem luvas, afinal, com as conversações EUA-Irã entrando
decididamente numa fase em que a mídia-empresa norte-americana discute
se o acordo é “acordo”, “memorando de intenções”, “tratado”, só muda o
nome.
Os diplomatas dos países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU já começaram consultas, em New York sobre uma resolução que levantará formalmente as sanções da ONU contra o Irã, caso o acordo seja assinado.
Israel recorreu
repetidas vezes a crimes, como o assassinato de cientistas iranianos, e
Netanyahu nunca perdeu oportunidade para caricaturar o Irã como se fosse
responsável por todos os males desse nosso atormentado mundo, não raro
com linguagem grosseira. O Irã jamais retaliou, nem ante a provocação
mais ofensiva. Agora, vai acabar. E, dando às coisas o nome verdadeiro,
Netanyahu não é páreo para Teerã.
Semana passada, o
influente assessor do Supremo Líder e ex-Ministro de Relações
Exteriores, Ali Akbar Velayati, chamou Netanyahu de “aquele vagabundo”,
ao comentar a aparição [“daquele vagabundo”] no Congresso dos EUA,
recentemente, para falar mal do Irã.
Ontem, o Supremo
Líder, Ali Khamenei, usou outra expressão colorida – “o palhaço
sionista”. Não há dúvidas de que o Irã já sentiu que Netanyahu perdeu a
batalha, e a recente carta de deputados Republicanos pró-Israel do
Congresso dos EUA pode ser o proverbial último prego no caixão da campanha israelense contra a decisão de Obama de acertar as coisas com Teerã.
Mohammad Javad Zarif, MRE do Irã |
(...)
O Irã, além do
mais, fez a lição de casa, e será perda de tempo os norte-americanos
inventarem que teria sido acordo Obama-Irã, não EUA-Irã. O Ministro das
Relações Exteriores, Mohammad Zarif (especialista competentíssimo, em lei internacional) já deu boas lições aos
muito carentes delas, ignorantes deputados norte-americanos, sobre o
contato íntimo entre lei nacional e lei internacional, em políticas
exteriores.
Seja como for, tão
logo o Conselho de Segurança levante as sanções contra o Irã,
abrir-se-ão as comportas, e a plena integração do Irã com o ocidente se
tornará irreversível. Nenhum futuro governo dos EUA gostará de negar-se a
si mesmo o prazer de magníficos negócios com país rico e
civilizadíssimo. como o Irã. Mas o “Big Oil” texano proibirá.
Em seu discurso em
Teerã ontem [5ª-feira, 12/3/2015], Khamenei elogiou demoradamente a
equipe de negociadores iranianos – “gente boa, honesta, sincera, que
trabalha para o avanço do país no futuro” – deixando claro que o acordo
que está sendo finalizado conta com sua aprovação plena e suas bênçãos.
Foi grande mensagem, que ecoará por todos os corredores do poder no Irã.
Khamenei fez esses
comentários quando discursava para os membros da poderosa Assembleia dos
Especialistas, onde se reúne “la crème de la crème” das elites
religiosas (e políticas) iranianas.
Aiatolá Ali Khamenei em 12/3/2015 |
Vale anotar também que Khamenei teve a grata satisfação de ver eleito em eleições diretas e abertas,
naquela Assembleia dos Especialistas, como novo presidente, seu amigo e
companheiro de longa data, Aiatolá Mohammad Yazdi, o qual, e também é
interessante, derrotou ali o ex-presidente Akbar Hashemi Rafsanjani, por
47-26 votos. A especulação já começou, na mídia-empresa ocidental, que
Yazdi, de 83 anos, pode, algum dia, vir a ser Supremo Líder do Irã (Daily Star).
Ontem, Zarif
pessoalmente informou a Assembleia dos Especialistas sobre a situação do
acordo nuclear. Sob todos os aspectos, é momento emocionante,
entusiasmante, para a Revolução Islâmica de 1979. 35 anos de sítio,
afinal já próximo de ser levantado.
É um grande momento
não só para o ocidente, mas também para a Ásia, que a última fronteira
da segurança energética esteja tão próxima – sobretudo para a China. A
próxima visita do presidente Xi Jinping ao Irã está marcada com “timing”
perfeito. Segundo o Ministro chinês de Relações Exteriores, Wang Yi, o
resultado da visita promete ser “dramático”.
Evidentemente, o
Irã escolherá com extremo cuidado os parceiros de energia. A política
“Olhe para o leste” construída pelo ex-presidente Mahmoud Ahmedinejad já
perdeu a relevância.
Os aiatolás Ali Khamenei (E) e Mohammad Yazdi em 12/3/2015 |
O Iran Daily, jornal muito próximo dos centros de poder em Teerã, comenta hoje em editorial,
Exportar gás por
gasodutos ajuda a formar fortes laços diplomáticos e relações
internacionais com nações regionais e trans-regionais. O Irã deve
desenvolver laços próximos com estados como Turquia, Paquistão, Iraque e
Índia, para aumentar suas exportações de gás. (...)
Dado
que os europeus têm interesse em importar gás do Irã, o país do Golfo
Persa já manteve conversações com a Suíça e a União Europeia, para
transferir gás para a Europa. Mas são ainda indispensáveis equipamento e
infraestrutura a serem desenvolvidas para que exportem o gás deles para
a Europa. O Irã já é capaz de exportar gás para a Europa imediatamente,
tão logo comece o bombeamento.
_____________________________________________
[*] MK Bhadrakumar foi
diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na
União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão,
Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialista em questões do Oriente
Médio, Afeganistão e Paquistão e escreve sobre temas de geopolítica, de
energia e de segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu e Ásia Times Online, Al Jazeera, Counterpunch, Information Clearing House, e muitas outras. Anima o blog Indian Punchline no
sítio Rediff BLOGS. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994),
famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala, Índia.