Brasília - Os países amazônicos, que "guardam" 20% da água doce do mundo, devem continuar "atuando juntos" para impedir que essas reservas sejam motivo de futuros conflitos, afirma a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
"Na medida em que os países amazônicos continuem atuando juntos, isso poderá ser evitado", disse em entrevista para a Agência Efe o diplomata boliviano Mauricio Dorfler, diretor-executivo da OTCA, a organização regional integrada por Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
A ONU já alertou que a água pode ser objeto de grandes conflitos no século XXI e um relatório divulgado pela Unesco nesta semana, como parte das comemorações pelo Dia Internacional de Água neste domingo, reafirmou essa tese, ao advertir que o planeta pode ter um déficit hídrico de 40% em 2030 se não houver mudanças no atual modelo de consumo e preservação.
Para Dorfler, há um consenso entre os países amazônicos de que a gestão da água é parte de uma "agenda comum", que inclui outros fenômenos que podem afetar essas reservas, como o desmatamento e o mercúrio despejado nos rios pela mineração ilegal.
Dorfler destacou que esse consenso dentro da OTCA foi alcançado "inclusive com as diferenças políticas" que existem entre os países da região amazônica, que souberam deixar de lado as divergências para trabalhar em favor da preservação.
Nesse sentido, o diplomata boliviano citou como exemplo um projeto regional sobre o uso sustentável dos recursos hídricos além das fronteiras ao longo de toda a bacia amazônica, que nasce nos Andes e desagua no Atlântico, na região norte do Brasil.
Esse projeto se complementa com um plano para fortalecer os marcos constitucionais nacionais em relação à gestão da água e ao desenvolvimento de iniciativas conjuntas para a criação de um ambiente de cooperação, nas áreas social e econômica, em toda a Amazônia.
"Na região amazônica, vivem cerca de 40 milhões de pessoas que não podem permanecer à margem do desenvolvimento", disse Dorfler, que acrescentou que essas populações já sentem os efeitos da mudança climática, que se expressa nas fortes inundações e secas registradas nos últimos anos em diversas regiões amazônicas.
Nesse contexto, o diplomata relatou que a OTCA começou a colaborar com comunidades que residem na fronteira entre Brasil e Peru, onde se executa um projeto para a implantação de hortas em plataformas elevadas a cerca de dois metros do solo.
Essas plataformas têm aproximadamente 100 metros quadrados e permitem manter o cultivo de diversos produtos agrícolas durante as inundações, com os quais as populações ribeirinhas podem continuar gerando receitas mesmo quando suas terras tenham se transformado em pântanos.
Esse projeto demandou até agora um investimento aproximado de US$ 200 mil e favoreceu cerca de 22 mil pessoas das regiões de Nauta, no Peru, e de Tapará Grande, Urucurituba e Igarapé da Costa, no Brasil.
No entanto, se trata somente de um projeto piloto que será ampliado no futuro para outras regiões amazônicas que sofrem a cada ano com as cheias dos rios.
A OTCA também tem em seus planos a instalação de um Observatório Ambiental e quer fortalecer seus programas para a formação de profissionais nas ciências da natureza, que são escassos nos oito países da organização.
Segundo dados da OTCA, a Amazônia abriga pelo menos 32 mil espécies diferentes de plantas vasculares e o país da região que mais possui doutores em botânica é o Brasil, onde não passam de uma dezena.
Por outro lado, 70% dos estudos sobre a região são realizados por especialistas de Estados Unidos e Europa, e dos 30% restantes, 80% são feitos no Brasil, que possui quase dois terços do território amazônico.
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Mundo terá déficit de 40% de água em 2030 se consumo não mudar http://ow.ly/KBwxZ

 (Foto: wikimedia commons)
O planeta terá um déficit de água de 40% em 2030 se a forma atual de consumo não mudar, alertou um relatório publicado nesta sexta-feira pela Unesco, que pede que a melhor gestão deste recurso faça parte dos objetivos do planeta da ONU.
O estudo, elaborado por 31 órgãos da ONU sob o guarda-chuva da Unesco, estabeleceu que nos últimos anos houve avanços no acesso à água e ao saneamento no mundo, mas a tensão persiste e será mais evidente por causa do crescimento demográfico.
Por isso, considerou que os objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2016-2030, que devem substituir os Objetivos do Milênio (2001-2015) precisam ser mais ambiciosos na proteção dos recursos hídricos.
Atualmente o plano da ONU só destaca o acesso à água e ao saneamento.
O relatório da Agência da ONU para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) pediu que sejam incluídos também a administração dos recursos hídricos, a qualidade de água, a gestão das águas residuais e a prevenção de catástrofes naturais causadas pela água.
A água é fonte de desenvolvimento econômico, que frequentemente precisa de grandes volumes, assim como a agricultura e a produção energética, e precisam de "equilíbrio", explicou o principal autor do relatório, Richard Connor.
Ainda existem no mundo 748 milhões de pessoas que não têm acesso a água livre de contaminação e as primeiras vítimas são os pobres, os marginalizados e as mulheres, segundo o estudo.
Os autores assinalaram que o setor agrícola, que consome mais quantidade, terá que aumentar sua produção em 60% até 2050, o que provocará mais tensão no acesso à água.
A demanda de produtos manufaturados também crescerá e o relatório assinalou que suas necessidades de água aumentarão 400% nesse período.
A esse aumento da demanda se soma uma gestão defeituosa, que faz com que persista a irrigação intensiva e que muitas águas fiquem contaminadas por causa de pesticidas e produtos químicos perto de leitos fluviais.
Segundo o relatório, 20% das águas subterrâneas do planeta estão sendo exploradas de forma abusiva.
O elemento também sofre com o aquecimento climático, na forma de maior evaporação causada pelo aumento da temperatura, e pela alta do nível do mar que pode afetar reservatórios aqüíferos de água doce.
Todas estas pressões "podem desembocar em uma competição pela água entre diferentes setores econômicos, regiões ou países".
O relatório também apontou uma "gestão deficiente que, com frequência, cobra um preço inferior ao seu valor real e que não é levada em conta na hora de adotar decisões no setor energético ou industrial".
"Os esforços realizados por alguns países indicam que é possível conseguir uma melhor gestão e uma utilização mais escrupulosa dos recursos hídricos, inclusive nos países em vias de desenvolvimento", assinalou o relatório.
Um dos fatores de economia de água preconizados no estudo é o fomento das energias renováveis em vez das centrais térmicas, grandes consumidoras de água e que produzem atualmente 80% da eletricidade do mundo.
Para tomar este tipo de decisão, assinalaram os autores, é preciso que "os poderes públicos possam influenciar nas decisões estratégicas que têm repercussões determinantes na perdurabilidade dos recursos hídricos".
Outro dos métodos de economia pode ser o subsídio para que a agricultura invista em sistemas de irrigação eficientes, o que atacaria outra das principais fontes de desperdício de água.