Informar de modo a permitir que compreendam por si os princípios metafísicos que estão por trás de todos os eventos bons e ruins que se manifestam em nossa realidade; princípios ocultos que estão enterrados debaixo de muito entulho político-religioso; econômico-social; histórico-cultural.
No Brasil pessoas que foram abduzidas pelo imediatismo e não têm a memória necessária para lidar com tantas informações disponíveis nas redes sociais e, daí, por acreditar em tudo o que leem e ouvem, não querem saber ou lembrar de que na Idade Média, na escravidão do século 19 e em outras épocas obscuras, a humanidade passou por situações muito mais cruéis e violentas do que hoje. Ignoram, por exemplo, as matanças ocorridas durante as duas grandes guerras mundiais, as tecnologias mortais utilizadas nos campos de concentração nazistas, como a câmara de gás, as bombas Napalm despejadas sobre o povo vietnamita e os bombardeios sobre Hiroshima e Nagasaki. Ignoram que na época das grandes navegações milhões de “indígenas” foram massacrados (mortos a tiros e machadadas) e que homens e mulheres livres foram escravizados e trazidos da África pelos invasores e colonizadores das Américas.
Uma nova escravidão no Brasil? (por Ricardo Almeida)
sul21
19 de novembro de 2019 14:03
Foto: Algar Tech/ Divulgação
Ricardo Almeida (*)
Há quem diga que a “uberização” do trabalho é uma nova forma de escravidão. Algumas dessas pessoas, inclusive, afirmam com toda a convicção que a civilização está declinando e que as novas gerações estão caracterizadas por uma burrice absurda. Aqui no Brasil, muitas pessoas costumam culpar os pobres, ironizam, debocham e, às vezes, protestam nos bares, nas esquinas e/ou nas redes sociais. Diversas delas se dizem revolucionárias, mas na verdade são reféns de uma sociedade conservadora.
É comum encontrar pessoas desiludidas com a vida, que se dizem órfãs e permanecem perplexas diante dos ataques planejados e programados pela sociedade conservadora, com a ajuda das forças do capital. Boa parte delas não compreende a alienação humana e se contenta em protestar no pequeno espaço que lhes foi reservado para a realização de suas frágeis manifestações… O jovem Marx diria (no prefácio do seu livro A Ideologia Alemã) que são idealistas, pois “fazem o seu protesto e depois morrem”.
Na verdade, são manifestações de uma cultura maniqueísta, nada sensível e muito menos dialética, que se baseiam na repetição das experiências passadas para tirar conclusões, e que acabam criando o mal estar que se propaga nas comunidades. Essas pessoas oscilam entre uma crença messiânica e a busca por soluções imediatas, individuais e egoístas, e os seus argumentos são quase sempre fatalistas, pois não compreendem as contradições e o dinamismo da complexa realidade em que vivemos.
Grosso modo, são pessoas que foram abduzidas pelo imediatismo e não têm a memória necessária para lidar com tantas informações disponíveis nas redes sociais. Por acreditar em tudo o que leem e ouvem, não lembram de que na Idade Média, na escravidão do século 19 e em outras épocas obscuras, a humanidade passou por situações muito mais cruéis e violentas do que hoje. Ignoram, por exemplo, as matanças ocorridas durante as duas grandes guerras mundiais, as tecnologias mortais utilizadas nos campos de concentração nazistas, como a câmara de gás, as bombas Napalm despejadas sobre o povo vietnamita e os bombardeios sobre Hiroshima e Nagasaki. Ignoram que na época das grandes navegações milhões de “indígenas” foram massacrados (mortos a tiros e machadadas) e que homens e mulheres livres foram escravizados e trazidos da África pelos invasores e colonizadores das Américas.
O fato é que atualmente muitas pessoas se tornaram dependentes das curtidas e já não reconhecem que estão viciadas em responder aos estímulos, aos eventos e às sensações provocados pelos robôs e/ou algoritmos de origens diversas. Deste modo, a memória passou a fazer parte do esquecimento, e as amizades se transformaram em números (ou em lampejos) que transitam nas nossas timelines. E o pior é que essa cultura está sendo transmitida para as novas gerações sem fazer barulho, pois se propaga silenciosamente.
Se for correto dizer que a nova sociedade começa a existir ainda na velha sociedade, deveríamos estar dispostos a dialogar com pessoas que não pertencem às nossas bolhas, levando em conta a importância estratégica dos povos tradicionais e das novas categorias que surgiram… Pouco adianta elogiar as rebeliões da juventude e do povo Mapuche, no Chile, das comunidades indígenas y campesinas na Bolívia e no Equador se não lembramos sequer o nome de quem compartilhou mensagens conosco na semana passada.
Precisamos aprender com as experiências dos povos indígenas e de matriz africana no Brasil, que se organizaram em “conselhos” dos povos e se aquilombaram para manter a gestão coletiva dos territórios, e também para celebrar a cultura dos seus ancestrais, apesar dos preconceitos e das discriminações. É imprescindível assimilar, por exemplo, a filosofia ubuntu (“sou o que sou pelo que nós somos”) e trabalhar a cultura no seu sentido mais amplo, antropológico, para além das pessoas letradas e contra o reducionismo que quer transformar tudo apenas em disputas institucionais.
Nesse sentido, a democracia direta e participativa deve ser vista como um princípio inegociável, assim como a solidariedade e o reconhecimento da nossa diversidade cultural. Ou seja, é essencial a adoção de uma práxis ̶ consciência prática, histórica e sensível ̶ que se caracterize pelo reconhecimento dos Outros, e tratá-los como uma parte de nós mesmos, sem deixar de identificar as nossas singularidades políticas, econômicas e culturais.
Ainda bem que muita gente já reconhece que houve um golpe de novo tipo no país, que as empresas multinacionais estão atrás de mão de obra barata e das nossas riquezas, que os governos Temer e Bolsonaro representam os interesses das elites econômicas do capital nacional e internacional e que Lula foi preso injustamente. No entanto, poucas pessoas lembram que as organizações populares estavam esvaziadas e que as forças de esquerda disputavam entre si até pouco tempo atrás. Algumas pessoas chegaram a afirmar que a escuridão ia durar mais de 30 anos e falavam como se fossem porta-vozes do povo. Para complicar, contraditoriamente, com as importantes revelações do The InterceptBrasil, a maioria dessas pessoas abandonou as incipientes manifestações de rua e começou a se contentar com o novo momento da imprensa digital brasileira.
Ao mesmo tempo, passados três anos e meio do golpe, o povo está percebendo que o trabalho foi terceirizado, que os salários estão cada vez mais minguados, que a aposentadoria se tornou uma peça de ficção, e que uma nova proletarização está em curso, acompanhada pelo surgimento de novas categorias de trabalhadores e trabalhadoras. Se as forças de esquerda brasileira não repensarem as suas teorias e as suas práticas, vamos continuar acreditando que a formação política que ocorreu nos séculos 19 e 20, baseadas prioritariamente no operariado chão-de-fábrica, conseguirá dialogar com as novas demandas urbanas, rurais, marítimas e florestais.
Os movimentos sociais brasileiros precisam ganhar musculatura para realizar manifestações que ultrapassem algumas horas de protestos. Ainda falta unificar as inúmeras pautas específicas, como a luta contra o arrocho salarial, as condições precárias de trabalho, o déficit habitacional, o desmantelamento dos serviços públicos, a falta de leitos hospitalares, a pobreza extrema, além de pautar as questões de mobilidade urbana, da ocupação e uso do solo, do acesso à terra e a disponibilidade de créditos público para a produção, da segurança alimentar, da preservação do meio ambiente, das simbologias culturais, juntamente com o combate sem trégua aos diferentes tipos de discriminação racial, religiosa, de gênero, cultural etc até construir uma consciência política mais ampla possível.
Este novo período de proletarização do povo brasileiro está fazendo com que as pessoas não consigam atender às necessidades mínimas das suas famílias, planejar o futuro dos seus filhos (prole) e pagar a prestação da tão sonhada casa própria. Estamos entrando em uma nova fase do capitalismo internacional, em que os sindicatos estão sendo enfraquecidos, os empregos se tornaram instáveis, as pessoas estão sendo obrigadas a trabalhar mais horas por dia para ganhar menos e perderam direitos em relação ao seguro desemprego, ao pagamento de horas extras e às férias remuneradas, por exemplo. É óbvio que essa precarização do trabalho neste cenário de economia quebrada vai gerar um desespero maior nas pessoas, mas nada disso garante que elas irão se revoltar, pois isso dependerá de organizações que sejam capazes de promover uma profunda mudança cultural e política nas cidades, nos estados e no país.
Neste cenário, os empresários nacionais e, principalmente, os internacionais estão vencendo a batalha econômica, política e cultural no Brasil e, por isso mesmo, é vital compreender que a nova escravidão dos homens e mulheres está muito mais nas ilusões que as pessoas criam sobre si mesmas do que nas relações de trabalho (programadores TIC, motoristas de Uber e atendentes de telemarketing, por exemplo) provocadas pela revolução digital tecnológica. É bom lembrar que os homens e mulheres escravizados não tinham sequer o direito de se revoltar contra os opressores e que agora, apesar das injustiças, somos livres para construir organizações de novo tipo e semear os nossos melhores sonhos.
O nosso passado escravagista e o racismo contemporâneo não podem ser confundidos com uma dependência digital involuntária ou por essa nova fase de exploração capitalista, sob pena de não reconhecermos a história e as heranças culturais do povo brasileiro. Lembrem que nós somente existimos porque somos fruto de um processo de multiculturalidades e a interculturalidades que se formaram por meio de diferentes migrações, revoltas, saqueios, vitórias e derrotas. Por isso, necessitamos fazer as pazes com o passado de lutas e de esperanças e reivindicar as forças de Zumbi dos Palmares, de Sepé Tiarajú e de tantos brasileiros que enfrentaram coletivamente os sistemas cruéis de exploração.
Portanto, além de reconhecer as diversas culturas populares e as mudanças que ocorreram na estrutura de classes do sistema capitalista mundial, precisamos nos proteger das diferentes táticas híbridas que as empresas transnacionais utilizam para desestabilizar e/ou derrubar governos mundo afora. O nosso desafio passa necessariamente pela aproximação das atividades digitais às presenciais, e vice-versa, até envolver as diferentes comunidades culturais e os novos coletivos de trabalhadores e trabalhadoras para controlar os seus destinos e tomar decisões políticas de forma horizontal e democrática.
Enfim, se alguém ainda insistir que estamos vivendo um novo período de escravidão no Brasil, temos que chamar esse alguém para se aquilombar (kilombo, na língua bantu, significa construir um “acampamento de guerreiros e guerreiras”) para lutar junto com a sua categoria e/ou comunidade, pois a libertação de um povo requer a iniciativa de homens e mulheres livres de amarras ̶ mentais, digitais etc ̶, sejam negros (as), brancos (as), vermelhos (as) e/ou amarelo (as).
O Dieese denuncia, para o esperado pacote para criação de empregos é uma decepção. “Não deve criar vagas na quantidade e qualidade necessárias e, ao contrário, pode promover a rotatividade, com o custo adicional de reduzir direitos e ter efeitos negativos para a saúde e segurança dos trabalhadores e trabalhadoras”, alerta.
Dieese denuncia desmonte total de direitos trabalhistas no País
mundosindical19 de novembro de 2019 16:27
Sob o pretexto de estimular o primeiro emprego dos jovens, o governo decreta nova reforma trabalhista, afirma o Dieese, que em nota técnica lista uma série de itens contidos na Medida Provisória (MP) 905: criação de modalidade de trabalho precário, intensificação da jornada, enfraquecimento da fiscalização, redução do papel da negociação coletiva. Por fim, aponta o instituto, “beneficia os empresários com uma grande desoneração em um cenário de crise fiscal, impondo aos trabalhadores desempregados o custo dessa bolsa-patrão.
Para o Dieese, o esperado pacote para criação de empregos é uma decepção. “Não deve criar vagas na quantidade e qualidade necessárias e, ao contrário, pode promover a rotatividade, com o custo adicional de reduzir direitos e ter efeitos negativos para a saúde e segurança dos trabalhadores e trabalhadoras”, alerta.
Na nota técnica, o departamento lembra que o país já passou por ampla “reforma” trabalhista em 2017, ainda na gestão Temer, “com o objetivo de reduzir, desregulamentar ou retirar diversos direitos relativos às condições de trabalho”. A Lei 13.467, implementada em novembro daquele ano, criou modalidades de trabalho precário, reduziu garantias de itens como salário e férias, facilitou a demissão e dificultou o acesso do empregado à Justiça do Trabalho. “Além disso, aprovou pontos com repercussão negativa na organização sindical e no processo de negociação coletiva.”
O Dieese afirma ainda que a MP “está em desacordo” com a Convenção 144 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre diálogo tripartite (governo, trabalhadores e empresários) para alteração de normas trabalhistas. E não respeita sequer as regras de uma medida provisória, ao não comprovar a urgência da questão, sem contar que inclui temas sem relação com o objeto principal. “Por fim, retoma propostas já rejeitadas pelo Congresso Nacional em outras MPs editadas neste ano, como é o caso da liberação total do trabalho aos domingos e feriados”, acrescenta.
Ao chamar a atenção para a grave situação do mercado de trabalho – 12,5 milhões de desempregados, 44% da mão de obra na informalidade, subutilizados, desalentos –, o Dieese afirma que a MP 905 “não tem instrumentos” que possam melhorar essa situação. “Ao contrário, tem potencial para aumentar o desemprego e a precarização.”
O instituto enumera os principais pontos do que chama de “nova reforma trabalhista”:
Desonera as empresas, mas onera os empregados com o pagamento da contribuição previdenciária para aqueles que acessarem o seguro-desemprego
Em vez de promover empregos, facilita a demissão de trabalhadores e pode estimular a informalidade
Aumenta a jornada de trabalho no setor bancário
Amplia a desregulamentação da jornada
Promove a negociação individual e enfraquece os acordos coletivos
Retira os sindicatos da negociação de participação nos lucros ou resultados (PLR)
Dificulta a fiscalização do trabalho
Cria um conselho sobre acidentes de trabalho sem participação dos trabalhadores ou mesmo do Ministério da Saúde
Altera regras para concessão do auxílio-acidente
Institui multas que podem enfraquecer a capacidade de punição a empresas que cometerem infrações trabalhistas
Revoga 86 itens da CLT, incluindo medidas de proteção ao trabalho
O Dieese observa que se passaram dois anos desde a entrada em vigor da Lei 13.467, de “reforma” trabalhista: os empregos não vieram e o mercado de trabalho segue se deteriorando, com aumento da informalidade e da precarização. “Como consequência de toda essa situação, a concentração de renda e a pobreza no país aumentaram”, constata o instituto.
A prisão não destruiu Lula, a realidade desmanchou o mito Bolsonaro, por Fábio de Oliveira Ribeiro
GGN19 de novembro de 2019 16:56
A prisão não destruiu Lula, a realidade desmanchou o mito Bolsonaro
por Fábio de Oliveira Ribeiro
Com o dólar fixado em R$ 4,20 e os investidores fugindo do nosso país, Sérgio Moro voltou a público para desviar a atenção do “respeitável público”. O Ministro da Justiça cumpre assim seu papel de levantar a bola para o presidente fazer o gol. Acuado e sem condições de resolver a crise econômica que ele mesmo amplificou ao adotar medidas neoliberais, Jair Bolsonaro já pode começar a dizer que o fracasso da economia se deve à libertação de Lula.
Pode o STF ser considerado culpado pelo fracasso do governo? A resposta é não.
Quem escolheu o caminho do neoliberalismo foi o próprio Jair Bolsonaro. O resultado aí está: o mercado interno está sendo programaticamente destruído através de medidas que reduzem o poder de compra dos trabalhadores e dos aposentados e pensionistas. Sem consumidores as empresas continuam reduzindo suas atividades ou falindo. Isso acarreta mais desemprego e queda da arrecadação fiscal que levará inevitavelmente ao aumento do endividamento estatal e à adoção de novas medidas para reduzir as despesas públicas.
Esse círculo vicioso somente seria rompido com uma injeção de dinheiro na economia real. Os Bancos contabilizaram lucros fantásticos e poderiam fazer isso. O problema é que nenhum empresário tomará empréstimos a juros escorchantes para investir sabendo que produzirá produtos e serviços que não serão consumidos. O Estado paralisou obras públicas, encerrou o programa de construção de casas populares e se recusa a agir de maneira proativa. A lógica do neoliberalismo faz o resto: a adoção de medidas de austeridade produz apenas mais austeridade.
Os portugueses abandonaram o austericídio e Portugal voltou a crescer. Esse exemplo poderia ser adotado pelo governo brasileiro se a irracionalidade não pautasse de maneira tão evidente a familícia. Bolsonaro e seus filhos odeiam qualquer coisa que eles acreditem ser “o comunismo”. Uma política macroeconômica desenvolvimentista inspirada no keynesianismo seria por eles automaticamente descartada em razão de ser comunista. E para piorar, o presidente sente orgulho de dizer que não entende nada de economia. Ele se colocou totalmente à mercê de um banqueiro psicopata capaz de destruir o país para impor sua estranha versão de economia financeirizada que deprime a indústria e o comércio destruindo o mercado interno do qual eles dependem.
Enredado pela campanha antipetista da imprensa e conduzido para a urna como se fosse gado pelas Fake News espalhadas massivamente pela familícia, a maioria dos brasileiros foi enganada. Acreditando no atalho proposto pelo mito, dezenas de milhões de cidadãos ajudaram a tirar o Brasil do bom caminho que vinha sendo trilhado. A popularidade de Bolsonaro despencou, mas nada vai fazê-lo observar o sucesso de Portugal e abandonar os erros que ele está cometendo. Aplica-se aqui uma lição conhecida por Maquiavel:
“As palavras de um homem sábio podem facilmente fazer retornar ao bom caminho um povo perdido, entregue à desordem; contudo, nenhuma voz ousa elevar-se para esclarecer um príncipe mau; para ele só existe um remédio – a espada.”(Comentários sobre a primeira década de Tito Lívio, editora UnB, Brasília, 3ª edição, 1994, p. 182)
O governo acabou. Com o dólar a R4 4,20 e os investidores fugindo do Brasil sire Jair Bolsonaro só pode escolher entre se jogar numa espada ou se arrastar até o fim do mandato. Mas a verdade é que o estrago está feito e se tornará irreversível assim que o governo desperdiçar as reservas internacionais acumuladas durante os governos do PT. O fato é que o mito finalmente esbarrou e desmanchou na realidade. A familícia e seu Ministro da Justiça não podem culpar o STF e Lula pelas escolhas que Jair Bolsonaro fez, mas isso não será capaz de salvar o país da depressão econômica que colocará nas ruas um povo desempregado, desesperado e esfomeado.
O desespero também está dominando a direita que ajudou a eleger Bolsonaro. Hoje o Estadão pediu a cabeça do Ministro da Educação. Se degolar Abraham Weintraub o presidente admitirá publicamente sua fraqueza. Se não fizer isso e dar ao Estadão o mesmo tratamento que deu à Folha ele ganhará mais um inimigo. Lula e o STF serão considerados culpados por que Weintraub adora ser grosseiro quando usa o Twitter?
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A terra é plana, os evangélicos não são terroristas e o MBL defende o liberalismo, por Fábio de Oliveira Ribeiro
GGN18 de novembro de 2019 13:40
A terra é plana, os evangélicos não são terroristas e o MBL defende o liberalismo, por Fábio de Oliveira Ribeiro
A história do Estado moderno é, em grande medida, a história da vitória do Direito Romano sobre o direito feudal.
“La revivificación del Derecho Romano, de su estudio y su enseñanza, se inició alrededor de 1100 gracias al celebrado jurista Irnerio de Bolonia. Separó el estudio del Derecho del de la retórica, una de las artes liberales tradicionales, y con ello estableció la jurisprudencia como disciplina independiente.”(Que es la Historia?, Erich Kahler, Fondo de Cultura Económica, México, 1992, p. 117)
“El efecto más profundo, con mucho, de esta reactivación del Derecho romano fue la ayuda que proporcionó a los príncipes seculares en sus intentos de subyugar a sus señores feudales y convertir sus potencias territoriales en Estados nacionales. El Derecho romano fue el potente instrumento para luchar contra el derecho feudal y las libertades municipales. El emperador Federico Barbarroja fue el primero que se refirió a él, con asistencia de los juristas boloñeses, en su pretensión de supremacía sobre las ciudades lombardas, Gradualmente los ‘legistas’ fueron a parar al servicio permanente de príncipes e monarcas, y finalmente se volvieran sus ministros más leales, que los ayudaban a establecer sus regímenes absolutos y burocracias administrativas. Por este método, podría decirse, el Derecho romano tuvo una parte decisiva en la formación de las naciones europeas y de la estructura política de un mundo secularizado.”(Que es la Historia?, Erich Kahler, Fondo de Cultura Económica, México, 1992, p. 118/119)
O renascimento do Direito Romano e a secularização foram essenciais ao florescimento do liberalismo. A estabilização das relações mercantis em imensas áreas geográficas era impossível durante a Idade Feudal, cuja principal característica era a predominância do direito local. Quando cada cidade e cada feudo tinha suas próprias regras jurídicas não havia um espaço para o respeito e uniformização dos contratos mercantis.
“…lo que produjo al liberalismo fue la aparición de una nueva sociedad económica hacia el final de la Edad Media. En lo que tiene de doctrina, fue modelado por las necesidades de esa sociedad nueva; y, como todas las filosofías sociales, no podía trascender el medio en que nació. También como todas filosofías sociales, contenía en sus mismos gérmenes los factores de su propia destrucción en virtud de la cual la nueva clase media habría de levantarse a una posición de predominio político. Su instrumento fue al descubrimiento de lo que podemos llamar el Estado contractual. Para lograr este Estado, se esforzó por limitar la intervención política dentro de los límites más estrechos, compatibles con el mantenimiento del orden público. Nunca pude entender – o nunca fue capaz de admitirlo plenamente – que la libertad contractual jamás es genuinamente libre hasta que las partes contratantes poseen igual fuerza para negociar. Y esta igualdad, por necesidad, es una función de condiciones materiales iguales. El individuo a quien el liberalismo ha tratado de proteger es aquel que, dentro de sua cuadro social, es siempre libre para comprar su libertad; pero ha sido siempre una minoría de la humanidad el número de los que tienen los recursos para hacer esa compra.”(El liberalismo europeu, por Harold J. Laski, Fondo de Cultura Económica, México-Buenos Aires, 1961, p. 16/17)
Não há liberalismo sem contrato. Portanto, podemos dizer que o liberalismo somente se tornou possível quando o Estado nacional passou a garantir a estabilidade e a previsibilidade das relações mercantis dentro do seu território. Coube ao Direito Romano proporcionar aos príncipes os instrumentos que garantiram o predomínio de seu poder sobre as cidades e feudos. Também foi o Direito Romano que forneceu aos negociantes as molduras contratuais e as definições essenciais acerca de quem pode contratar, do que pode ser objeto de contrato, do preço e prazo de entrega, do tempo de duração contratual e da pena em caso descumprimento.
Na Europa, a revivificação do Direito Romano e a expansão do liberalismo ocorreram de maneira lenta e progressiva. No Novo Mundo ocorreu algo diferente. Os europeus transplantaram para as colônias seus instrumentos de governança política e suas ferramentas de organização econômica. Mas no ambiente colonial o Direito Romano e o liberalismo foram obrigados a coexistir com a exclusão dos índios (que teriam que ser exterminados para a possibilitar o controle e a exploração da terra) e com a exploração brutal dos escravos negros (que não tinham qualquer poder para negociar suas condições de trabalho).
A deformação sofrida pelo liberalismo no Novo Mundo foi inevitável. Cinco séculos depois ainda somos incapazes de reconhecer tranquilamente os direitos dos índios. Apesar de proibido, o trabalho escravo é uma triste realidade e seu combate gera tensões políticas que não podem ser totalmente dissolvidas mediante a aplicação impessoal das regras jurídicas.
O Estado de Direito imperfeito em que nós vivemos está sendo deliberadamente fragilizado para acomodar o ódio aos índios e a tolerância aos fazendeiros escravocratas. Isso está sendo possibilitado tanto pela decadência do discurso jurídico https://jornalggn.com.br/crise/o-direito-e-seu-avesso/ quanto pela onda crescente de fundamentalismo religioso https://jornalggn.com.br/artigos/o-fundamentalismo-religioso-e-declinio-ocidental-e-brasileiro/, , e .
Ao fazer sua autocrítica, os membros do MBL disseram que eles transformaram a política num espetáculo. Na verdade eles fizeram muito mais do que isso. No momento em que se uniu aos fundamentalistas religiosos para derrubar Dilma Rousseff, o MBL fragilizou o Estado de Direito colocando em risco o florescimento do liberalismo ao provocar a decadência do discurso jurídico.
O estrago feito por Kim Kataguiri e seus comparsas será profundo e duradouro. O MBL conseguiu enterrar no pântano do fundamentalismo religioso o tesouro romano que foi empregado na construção do Brasil. E agora nenhum espetáculo infantil será capaz de restaurar a normalidade em nosso país.
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Os dados sobre a extensão desses grupos no país são parte de um levantamento ainda inédito feito pela antropóloga da Unicamp Adriana Abreu Magalhães Dias, um pioneira nas pesquisas sobre a ascensão da extrema-direita nos anos 2000
Mídia ignora participação dos EUA no caso Lula e continua "Campanha de difamação"
GGN17 de novembro de 2019 14:22
Brian Mier, jornalista da Fair.org, um dos observatórios da imprensa mais respeitados dos EUA, escreveu um artigo (vejaaqui) em que narra a reação da mídia internacional à libertação de Lula. Para ele, o fato é que os veículos de comunicação continuam abafando a participação do governo americano na Lava Jato e seguem com a campanha de “difamação” em relação ao ex-presidente, mesmo diante das fortes evidências de ilegalidades e politização do processo.
No texto, Brian relembra a fragilidade do caso envolvendo o triplex no Guarujá, passando pelas provas de inocência feitas pelos advogados de Lula e ignoradas por Sergio Moro, o uso da delação questionável de Leo Pinheiro (OAS), até chegar à sentença controversa.
Segundo Brian, um aspecto do julgamento deixado à margem do debate na mídia nacional e internacional diz respeito ao papel do governo norte-americano na construção da Lava Jato.
Os procuradores brasileiros trocaram informações com autoridades norte-americanos – Departamento de Justiça, Comissão de Valores Mobiliários e FBI, NSA e outros órgãos de inteligência – que investigaram a Petrobras em processo próprio nos Estados Unidos.
Há evidências fortes demais para serem ignoradas – como um vídeo do procurador Kenneth Blanco, que oGGNmostrouaqui– de que a cooperação entre Lava Jato e EUA ocorreu muitas vezes de maneira ilegal, o que seria suficiente para anular a operação. A cooperação informal e irregular, aliás, se repetiu com autoridades da Suíça, como confirmaram as mensagens de Telegram vazadas pelo Intercept Brasil.
Para Brian, esses dois fatos contrastam com a cobertura da imprensa, que minimaliza a questão mesmo após a libertação de Lula. Segue tratando sua condenação como se tivesse sido fruto de um processo judicial padrão, e não algo totalmente politizado.
“Alguém poderia pensar que agora a mídia corporativa dos EUA iria finalmente duvidar da narrativa de que Lula pudesse realmente ser culpado de corrupção. Os leitores americanos não estariam interessados em saber qual o papel desempenhado pelo Departamento de Justiça nesse processo?”, questiona.
“Infelizmente, desde a libertação de Lula nenhum dos principais meios de comunicação corporativos mencionou o papel do Departamento de Justiça dos EUA na Lava Jato. Embora alguns artigos tenham mencionado as revelações do Intercept, eles foram reformulados para terem uma narrativa menos ameaçadora, apresentada em um contexto que pudesse ‘levantar algumas dúvidas’ sobre a investigação”, afirmou.
Segundo Brian, “apesar das provas da inocência e perseguição ilegal a Lula, com a cooperação do Departamento de Justiça dos EUA, que o afastou das eleições presidenciais de 2018, a grande mídia se apega a uma falsa narrativa que, embora enfraquecida pelas ações subsequentes do atual ‘Super Ministro da Justiça’ Moro , ainda busca prejudicar a imagem pública do presidente mais popular da história brasileira.”
Ao final, ele escreveu: “Enquanto a campanha de difamação continua, é importante lembrar que Lula representou um projeto de desenvolvimento nacional social-democrata, na tradição do que os brasileiros chamam de desenvolvimentismo, baseado no controle estratégico sobre os recursos naturais e seu uso para financiar serviços públicos, como saúde e educação, políticas de fortalecimento do salário mínimo e direitos trabalhistas, ampliação do acesso a universidades públicas gratuitas e forte investimento em pesquisa científica. Este é o projeto que foi desmontado após o golpe de 2016, em benefício de empresas como Monsanto, Chevron, ExxonMobil e Boeing. A história mostra que todo presidente brasileiro que já tentaram implementar políticas desenvolvimentistas – de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jango Goulart a Dilma e Lula – foi submetido a um golpe, prisão ou assassinato político, com suspeita permanente do envolvimento dos EUA. E como vemos a mídia corporativa trabalhando para normalizar o golpe militar na Bolívia (FAIR.org, 11/11/19), fica claro que esse problema não se limita ao Brasil.”
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Renato Janine na Folha hoje: “Vários amigos, embora tenham horror ao atual governo, não se preocupam muito: pensam que em quatro anos as eleições o substituirão. Alguns acrescentam que o Brasil assim aprenderá melhor o valor
da democracia.
De minha parte, entendo que eles subestimam a destruição do tecido social e político, a liquidação da
vida inteligente e da vida mesma, que está sendo efetuada prioritariamente nas áreas da educação e do meio ambiente.
Debate-se muito o que é fascismo. Porém alguns pontos são fundamentais nesse regime, talvez o mais antidemocrático de todos, que não é apenas um exemplo de autoritarismo.
Primeiro, o fascismo conta com ativo apoio popular. Tivemos uma longa ditadura militar, mas com sustentação popular provavelmente minoritária e seguramente passiva. Mesmo no auge de sua popularidade —o período do “milagre”, somando general Médici, tortura e censura, tricampeonato de futebol e crescimento econômico— não houve movimentos paramilitares ou massas populares saindo às ruas para atacar fisicamente os adversários do regime.
Hoje, há.
Daí, segundo, a banalização da violência. Elas deixam de ser, na frase de Max Weber, monopólio do Estado, por meio da polícia e das Forças Armadas: os próprios cidadãos, desde que favoráveis ao governo, sentem-se autorizados a partir para a porrada.
O ataque à barca em que estava Glenn Greenwald em Paraty é exemplo vivo disso.
O que distingue o fascismo das outras formas de direita é ter uma militância radicalizada, ou seja, massas que banalizam o recurso à violência. O fascismo já estava no ar uns anos atrás quando um pai, andando abraçado com o filho adolescente, foi agredido na rua por canalhas que pensavam tratar-se de um casal homossexual.
Terceiro: essa violência é usada não só contra adversários do regime —a oposição política— mas também contra quem o regime odeia. Não foca apenas quem não gosta do governo. Mira aqueles de quem o governo não gosta. No nazismo, eram judeus, homossexuais, ciganos, eslavos, autistas. No Brasil, hoje, são sobretudo os LGBTs e a esquerda, porém é fácil juntar, a eles, outros grupos que despertem o ódio dos que se gabam de sua ignorância (“fritar hambúrguer” é um bom exemplo, até porque hambúrguer não se frita, se faz na chapa).
Quarto: o ódio a tudo o que seja inteligência, ciência, cultura, arte. Em suma, o ódio à criação. Não é fortuito que Hitler, que quis ser pintor, tivesse um gosto estético tosco, e que o nazismo perseguisse, como “degenerada”, a melhor arte da época. É verdade que os semifascistas Ezra Pound e Céline brilham no firmamento da cultura do século 20 —mas são agulha no palheiro.
Antonio Candido uma vez escreveu um manifesto dos docentes da USP criticando a “mediocridade irrequieta” que comandava a universidade. Um colega discordou: a mediocridade nunca é irrequieta! Mas Candido tinha razão. A mediocridade procede hoje, sem pudor, ao desmonte de nossas conquistas não só políticas e sociais, mas culturais e ambientais.
A irracionalidade vai a ponto de algumas dezenas de paratienses tentarem sabotar a Flip, que dá projeção e dinheiro para a cidade. Essa é uma metáfora de um país que namora o suicídio.
Salvemos a vida, salvemos a vida inteligente! Construamos alternativas e alianças para enfrentar essas ameaças. Não temos tempo de sobra.”
*TRÊS OU QUATRO COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O GOLPE NA BOLÍVIA*
1) A polícia rebelada foi, desde o período pesado dos ditadores bolivianos (1964-1982), treinada por peritos em operações repressivas dos Estados Unidos. As ligações com serviços de inteligência daquele país não foram rompidas.
2) O bandido que invadiu o palácio presidencial neste domingo com uma Bíblia é Luis Fernando Camacho, um líder da extrema-direita boliviana.
Ele lidera o Comitê Pró-Santa-Cruz, um grupo mantido por empresários e latifundiários ultra-conservadores.
Não tem cargo público, mas pode ser comparado a Juan Guaidó, o auto-declarado "presidente" da Venezuela.
Começou sua ação política no Comitê Cívico Juvenil de Santa Cruz, um grupo raivoso de direita. Também faz parte de uma loja maçônica que reúne a elite de Santa Cruz de La Sierra.
Esteve aqui no Brasil pedindo ajuda para o golpe de estado contra Evo Morales. Foi recebido com gentilezas pelo chanceler Ernesto Araujo, conversou com a deputada Carla Zambelli e manteve contatos com lideranças evangélicas brasileiras.
É um camba.
3) Não é fácil explicar, mas a Bolívia é um país de várias culturas e etnias, vivendo um processo eterno de tensão. Sim, há racismo dentro do próprio país.
Grosso modo, o pessoal das terras altas (La Paz, Oruro, Potosí, Cochabamba e Chuquisaca) são "collas".
Pando, Beni e Santa Cruz, na parte oeste do país, de terras baixas, são basicamente "cambas".
Ainda há uma região ao sul, de Tarija, considerada a terra de chapacos e chaqueños.
O termo *"colla",* utilizado para designar os habitantes do altiplano, muitas vezes carrega um significado depreciativo, embora muitos assim se designem com orgulho.
Entre os *"cambas"* é maior o número de descendentes de europeus ou mestiços de relações remotas com as populações indígenas da área de florestas do centro-sul do continente.
Em 2004, a Miss Bolívia era Gabriela Oviedo, de Santa Cruz.
Nas prévias do Miss Universo daquele ano, lhe perguntaram:
*- Qual é o maior conceito errôneo acerca de seu país?*
Ela respondeu:
*_- Infelizmente, as pessoas que não conhecem muito a Bolívia pensam que somos todos indígenas, como aqueles do lado oeste do país; é La Paz a imagem que reflete isso: essa gente pobre, de baixa estatura, essa gente indígena. Eu sou do outro lado do país, do lado leste, que não é frio, que é muito quente, nós somos altos e somos gente branca e sabemos inglês._*
4) Depois que assumiu a presidência, em 2006, o aymará Evo Morales, do lado ocidental do país, encontrou forte oposição do Movimento Nação Camba de Libertação (MNC-L), grupo racista e separatista com sede em Santa Cruz.
Suas lideranças se identificam como "brancas" e têm origem, sobretudo, nas classes média e alta da região. Com uma doutrina de extrema-direita e anti-indígena, organizaram sistematicamente ações de ataque a pessoas e instituições que apoiavam o governo institucional.
*O MNC-L formou milicianos durante anos e manteve relações com terroristas de extrema-direita da Europa e dos Estados Unidos. Também contrataram mercenários estrangeiros, alguns da antiga Iugoslávia, para promover atos de sabotagem contra o governo central.*
Foram eles que realizaram o atentado terrorista ao gasoduto Brasil-Bolívia, em 2008.
O ódio que sentem de Evo Morales guarda relação de equivalência com o ódio que as elites brancas do centro-sul do Brasil nutrem pelo nordestino Lula.
6 coisas que você nunca deveria revelar por mera saúde emocional e mental
Familia14 de novembro de 2019 21:02
"Não grite sua felicidade, a inveja tem o sono leve".
Erika Otero Romero
“Não fale alto sobre sua felicidade, a inveja tem o sono leve”
Adagio popular
A inveja pode vir das pessoas que menos esperamos, disso a gente já sabe.
Acabei o ensino médio numa escola pública quando tinha 17 anos. Eu não era uma estudante nota 10, minha família não tinha muito dinheiro; talvez por essas razões eu não tinha muitas perspectivas para o meu futuro imediato. No entanto, não me saí mal no meu teste ICFES. O ICFES é um exame que se aplica aos estudantes do último ano do ensino médio; a qualificação que tirar, abre ou fecha as portas à educação superior, e a mim me abriu algumas.
Foi assim que, junto com algumas amigas, começamos a procurar uma vaga em alguma universidade ou instituto de ensino superior.
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As coisas mudam e as pessoas também
Um dia, as coisas mudaram para mim; meu pai me ofereceu a oportunidade de estudar em uma universidade privada. Eu fiquei emocionada, então, fui contar às minhas amigas o que aconteceu. Fiquei surpresa com a reação de várias delas; ainda assim, o comentário que jamais esquecerei veio da que mais apreciava. Ela disse: “A vida é injusta, eu sou tão boa estudante e não tenho oportunidade de entrar para estudar, e os ruins têm tudo sem esforço”.
Fiquei com a boca aberta e muito decepcionada. Ao contar à minha mãe o que aconteceu, ela disse-me que talvez a reação fosse devido às poucas oportunidades de se entrar na universidade. Ela era boa aluna, mas certamente tinha muitas dificuldades financeiras, foi assim que a compreendi e aceitei; mas ela não me estendeu a mesma compreensão. O resto do ano, minha “amiga” optou por me olhar mal e de soslaio. Terminamos por nos afastar, e isso foi o fim da amizade.
A vida continuou e eu entrei na universidade. Um ano depois, ela regressou a minha casa; quando veio ver-me, eu soube que ela tinha podido ingressar na universidade e tinha uma boa vida. Honestamente, fiquei feliz por ela, mas as coisas mudaram e depois daquele dia nunca mais falei com ela.
Todos, em algum momento, sentimos inveja
Não foi a única vez que me aconteceu. Esta é a razão pela qual sou tão desconfiada, e prefiro a solidão a uma má amizade.
Não vou dar uma de santa; certamente, também já senti inveja, e não é um sentimento saudável, em nenhum aspecto.
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A inveja leva à crítica mordaz, aos pensamentos obsessivos e destrutivos, não da outra pessoa, mas de si mesmo. E pior ainda, é completamente improdutiva e injustificada. A questão é que nenhum de nós sabe o que a pessoa que invejamos teve que viver para chegar ou ter aquilo que cobiçamos.
Coisas da sua vida que você deve manter em segredo
Não é melhor despertar a inveja do que senti-la, isso é um grave erro. Por isso, para evitar despertar inveja nos demais – por pura saúde mental – estas são as coisas que você deve guardar com zelo para que seu progresso não seja prejudicado.
1 Seus objetivos para o futuro
Ao falar de seus planos futuros, pode ser que nem todas as pessoas compreendam a razão dos seus loucos sonhos. Talvez, o que ocorra é que se decepcione, porque as pessoas que você desejava que o apoiassem emocionalmente, não o façam, e outras tentarão ver cada pequeno detalhe pouco positivo para desanimá-lo.
Pode ser que não o façam com má intenção; no entanto, é melhor guardar para si seus propósitos e os surpreender quando virem o que você alcançou com seu esforço e perseverança.
2 Sua generosidade
O Evangelho de São Mateus, capítulo 6, versículo 3, diz:“Que não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita”.
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Não há necessidade de falar sobre os favores ou as boas obras que faz. A razão é simples, você não sabe onde estão os detratores disfarçados de amigos, e estes podem dizer que faz isso por vaidade ou por presumir que você tem mais do que precisa e por isso é generoso. Além disso, também pode ser visto como um ato de arrogância.
3 Seus problemas
Todos passamos por tempos difíceis. Quer se trate de problemas familiares, financeiros ou de saúde, o melhor é superá-los sem comentar com os mais próximos, ainda que se veja tentado a fazê-lo para desabafar.
A razão é que podem julgá-lo como uma pessoa que se queixa demais, e outros mais (invejosos) podem alegrar-se com suas dificuldades. Há uma virtude em saber suportar as provas em silêncio, e é o que lhe fará mais forte, resiliente e ver em si mesmo sua capacidade e força.
4 O quanto suporta as provas da vida
Este está ligado ao anterior. Se conta aos outros o quanto é capaz de enfrentar as provas da vida, não faltará quem o chame de presunçoso quando, na verdade, o que você deseja é apenas compartilhar suas experiências de vida.
Além disso, todos passamos por situações que nos levam a tirar o melhor de nós mesmos, ainda que isso passe despercebido para alguns.
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5 Seu conhecimento espiritual
Isso pode ser desconfortável, ainda mais quando a pessoa com quem você compartilha suas crenças é alguém com um pensamento muito diferente do seu.
Não se esqueça de que não é por algo ser diferente, que é ruim; ou que a pessoa seja sua inimiga. Não tente mudar as pessoas, pois, se o fizer, será você quem será considerado invejoso; é só questão de aceitar, valorizar e aprender, todos podemos tirar o melhor das crenças dos outros.
6 Seu relacionamento
Há nisso um aspecto delicado. Alguns ficarão felizes porque você encontrou uma pessoa que ama e ela corresponde a você; no entanto, outros vão criticar ou cobiçar essa relação bonita que você tem.
Diariamente, acontecem casos de amigos que brigam pelo parceiro do outro, isto porque um não soube ser prudente e o outro não soube respeitar a amizade.
A lição é se esforçar e ajudar em silêncio. Ninguém será mais feliz do que você em conseguir o que se propôs em sua vida, mas lembre-se de ser prudente para não ter inimigos nem despertar maus sentimentos em quem lhe rodeia.
Um grande escritor e cartunista
contemporâneo reconstitui os meses que antecedram a tomada do poder
pelos bolcheviques. No trecho a seguir, agosto de 1917, quando a direita
tentou retomar o poder e Lenin teve de fugir para a Finlândia
Descontentes
com a participação do país na I Guerra Mundial, soldados desertam e
aderem aos bolcheviques, num movimento que seria decisivo para a
revolução de outubro
Um grande escritor e cartunista contemporâneo reconstitui os meses que antecedram a tomada do poder pelos bolcheviques.No trecho a seguir, agosto de 1917, quando a direita tentou retomar o poder e Lenin teve de fugir para a Finlândia
Por China Miéville — MAIS: DE CHINA MIÉVILLE: Outubro — reconstituiçãohistórica (Editora Boitempo, R$ 59) Marxismo e Fantasia (Artigo publicado na revista Margem Esquerda, nº 23) (baixar grátis o arquivo) A Cidade & a Cidade — ficção (Editora Boitempo, R$ 49) Estação Perdido — ficção (Editora Boitempo, R$ 89)
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Naqueles últimos dias de verão, enquanto a direita planejava uma
limpeza, uma indulgência milenarista florescia. Música e dança a noite
toda, vestidos e gravatas de seda tingida, moscas rondando bolos
quentes, vômito e bebida entornada. Longos dias, quentes noites
orgíacas. Um sibaritismo de fim de mundo. Em Kiev, disse a condessa
Speránski, havia “jantares com bandas e corais ciganos, bridge e até
tango, pôquer e romances”. Assim como em Kiev, também nas cidades Rússia
afora, entre os ricos sonhadores.
Em 3 de agosto, o VI Congresso do Partido Operário
Social-Democrata Russo – o Congresso Bolchevique – aprovou por
unanimidade a resolução em favor de um novo lema. Um meio-termo entre os
impacientes “leninistas”, que enxergavam a revolução entrando em uma
nova fase, pós-Soviete, e os moderados, que ainda acreditavam que podiam
trabalhar com os socialistas à sua direita para defender a revolução.
Mesmo assim, a importância simbólica da mudança de palavras era imensa.
As lições passadas deram calma, os apelos mudaram. Julho havia cumprido
sua missão. Os bolcheviques não pediam mais “Todo o poder aos sovietes”.
Em vez disso, eles aspiravam ao “Fim da ditadura da burguesia
contrarrevolucionária”.
*
O
Soviete mudou de endereço, conforme solicitado. O Instituto Smolni foi
construído no início dos anos 1800: um grandioso edifício neoclássico no
distrito de Smolni, a leste do centro da cidade, às margens do Neva, de
corredores cavernosos, assoalho branco, iluminação elétrica pálida. No
térreo havia um grande refeitório entre os corredores alinhados e
repletos de escritórios sempre cheios de secretários, deputados e
facções dos partidos do Soviete, suas organizações militares, seus
comitês e seus conclaves. Pilhas de jornais, panfletos, pôsteres cobriam
as mesas. Metralhadoras se projetavam das janelas. Soldados e
trabalhadores se comprimiam nas passagens, dormiam em cadeiras e bancos,
faziam a segurança das reuniões, sob a vigilância de molduras douradas
vazias, das quais retratos imperiais haviam sido cortados.
Até pouco antes da revolução, o instituto havia sido um
estabelecimento de ensino para as filhas da nobreza. Antigo fiador do
poder estatal, o Soviete foi rebaixado a grileiro de uma escola de
etiqueta para moças. Quando o Soviete inteiro se reunia, o evento tinha
lugar no que antes fora o salão de bailes.
No dia 3, Kornílov foi encontrar Keriénski e, mais uma vez, fez
várias exigências ao homem que tecnicamente era seu chefe. Elas
incluíam, num endurecimento de sua atitude anterior, uma rígida
restrição aos comitês de soldados. Embora concordassem amplamente com
sua essência, Keriénski, Sávinkov e Filoniénko reformulariam o documento
apresentado por Kornílov a fim de encobrir seu menosprezo incendiário. A
repulsa do general ao governo só aumentou quando, no momento em que se
preparava para informar o gabinete sobre a situação militar, Keriénski
discretamente o aconselhou a não ser muito específico – e insinuou que
alguns membros do gabinete, em particular Tchernov, poderiam representar
perigo.
Durante o encontro, Keriénski fez uma pergunta intrigante a
Kornílov. “Suponha que eu tenha de renunciar”, ele disse, “o que
acontecerá? Você ficará sem saída, as ferrovias pararão, o telégrafo
deixará de funcionar.” A resposta contida de Kornílov – de que Keriénski
deveria permanecer no cargo – foi menos interessante do que a própria
pergunta. A intenção por trás dessa melancolia é obscura. Estaria
Keriénski buscando se certificar de que Kornílov continuaria a apoiá-lo?
Estaria ele, talvez, cautelosamente sondando a possibilidade de uma
ditadura de Kornílov?
Há uma multidão em cada um de nós, e em
Keriénski havia uma multidão maior do que a da maioria. A pergunta
lamuriosa poderia expressar tanto o horror quanto a esperança na ideia
de desistir, de se entregar ao intimidador comandante em chefe. Uma
pulsão de morte política.
O ódio à guerra continuava crescendo. De todo o país vinham inúmeros relatos de soldados que resistiam à transferência.
Uma batalha propagandística se intensificou
em torno de Kornílov, refletindo a crescente separação entre a extrema
direita do país, em torno da qual gravitavam os kadets, e o reduzido
poder dos socialistas moderados. No dia 4 de agosto, o Izviéstia
fez alusão a planos de substituir Kornílov por Tcheremísov, um general
relativamente moderado que acreditava na colaboração com os comitês de
soldados. No dia 6, o Conselho da União de Tropas Cossacas
reagiu, dizendo que Kornílov era “o único general que poderia restaurar o
poder do Exército e tirar o país dessa situação de extrema
dificuldade”. O conselho, por sua vez, deu a entender que haveria uma
rebelião caso Kornílov fosse removido.
Lenin com peruca e sem o cavanhaque num passaporte falso para a fuga à Finlândia
A União dos Cavaleiros de São Jorge deu seu
apoio a Kornílov. Conservadores importantes de Moscou, sob o comando de
Rodzianko, enviaram-lhe telegramas veementes, dizendo que naquele
“momento ameaçador de dura provação, o pensamento da Rússia se volta
para o senhor com esperança e fé”.
Kornílov exigiu de Keriénski o comando do
Distrito Militar de Petrogrado. Para deleite de uma direita sequiosa de
golpe, ele ordenou que o chefe do Estado-Maior, Lukómski, concentrasse
as tropas nas proximidades de Petrogrado – o que permitiria que fossem
rapidamente enviadas à capital.
O pano de fundo dessa manobra não era
apenas a catastrófica e cada vez mais grave situação econômica e social,
mas um aumento consciente e deliberado das tensões em certos setores da
direita punitiva. Em um encontro de trezentos magnatas dos setores
industrial e financeiro no início de agosto, o discurso inaugural foi de
Pável Riabuchínski, poderoso empresário do setor têxtil. “O governo
provisório possui apenas a sombra do poder”, disse. “Na verdade, um
bando de charlatões políticos está no controle […]. O governo está
concentrado nos tributos, impondo-os primeira e cruelmente à classe
comerciante e industrial […]. Não seria melhor, em nome da salvação da
pátria, nomear um guardião acima dos perdulários?”
Em seguida demonstrou um sadismo tão
espantoso que atordoou a esquerda: “A mão descarnada da fome e da
destituição nacional vai agarrar os amigos do povo pelo pescoço”.
Chine Miéville: escritor, cartunista e ativista político
Esses “amigos do povo” que ele sonhava ver ao alcance de esqueléticos dedos predadores eram os socialistas.
Não foi apenas pela direita, entretanto,
que a pressão se acumulou. Além disso, no dia 6, em Kronstadt, 15 mil
trabalhadores, soldados e marinheiros protestaram contra a prisão dos
líderes bolcheviques Steklov, Kámeniev, Kollontái e outros. Em
Helsingfors (Helsinque), uma assembleia de proporções semelhantes
aprovou uma resolução a favor da transferência do poder aos sovietes. É
claro que essa reivindicação agora era ultrapassada no que dizia
respeito aos bolcheviques, mas representava uma guinada à esquerda para a
maioria dos trabalhadores. Impulsionada pelos bolcheviques e pelos
militantes da ala esquerda dos Socialistas Revolucionários (SRs), no dia
seguinte a seção dos trabalhadores do Soviete de Petrogrado criticou a
prisão dos líderes de esquerda e a volta da pena de morte militar. Eles
conquistaram votos. Mencheviques e SRs começaram a reclamar de deserções
à esquerda – em suas próprias seções maximalistas ou mais além.
Tais sinais de recuperação da esquerda eram
inconsistentes e irregulares: em 10 de agosto, nas eleições em Odessa,
por exemplo, os bolcheviques conquistaram apenas três das cem cadeiras.
Mas nas eleições municipais de Lugansk, no início de agosto, os
bolcheviques conquistaram 29 das 75 cadeiras. Em Reval (hoje Talin),
obtiveram mais de 30% dos votos, quase o mesmo que em Tver, pouco tempo
depois, e em Ivánovo-Voznessiénsk conquistaram o dobro disso. Por todo o
território do Império, a tendência era nítida.
Encolhido em sua choça, em um dia de chuva
forte, Lenin foi surpreendido por palavrões. Um cossaco estava se
aproximando pela mata molhada.
O homem suplicou para se abrigar do
aguaceiro. Lenin não tinha muita escolha exceto afastar-se e deixá-lo
entrar. Enquanto estavam sentados ali, ouvindo o tamborilar dos pingos,
Lenin perguntou ao visitante o que o trazia àquele lugar tão fora de
mão.
Uma perseguição, o cossaco disse. Ele estava atrás de alguém chamado Lenin. Para levá-lo de volta, vivo ou morto.
E o que o condenado havia feito, perguntou Lenin com cautela.
O cossaco fez um gesto com a mão, impreciso
quanto aos detalhes. O que ele sabia, enfatizou, era que o fugitivo
estava “encrencado”, era perigoso e estava nas redondezas.
Quando o céu finalmente abriu, o visitante
agradeceu ao seu anfitrião temporário e partiu pelo mato encharcado para
continuar as buscas.
Depois desse incidente alarmante, Lenin e o
Comitê Central, com o qual ele continuava a se comunicar em segredo,
concordaram que ele deveria se mudar para a Finlândia.
Em 8 de agosto, Zinóviev e Lenin
abandonaram a choça acompanhados por Emeliánov, Aleksandr Chótman – um
“velho bolchevique” finlandês – e Éino Riákha, um ativista vistoso, de
bigode extravagante. Os homens atravessaram o pântano às margens do lago
até uma estação local, numa longa, árdua e úmida caminhada, cheia de
retornos errados e má vontade, até saírem finalmente, se arrastando, em
frente à ferrovia de Dibuny. Mas os problemas não haviam acabado: ali,
na plataforma, um cadete do Exército, desconfiado, provocou Emeliánov e o
prendeu. Mas Shotman, Riákha, Zinóviev e Lenin pegaram rapidamente
um trem com destino a Udelnaya, nos arredores de Petrogrado.
Dali, Zinóviev seguiu para a capital. A jornada de Lenin ainda não havia acabado.
No dia seguinte, o trem 293 para a
Finlândia chegou à Estação de Udelnaya. O condutor era Guro Jalava,
ferroviário, conspirador e marxista engajado.
“Parei na beira da plataforma”, ele se
lembrou depois, “quando um homem saiu do meio das árvores a passadas
largas, subiu na plataforma e entrou na locomotiva. Era Lenin, claro,
embora eu mal o tivesse reconhecido. Ele acabou sendo meu foguista.”
A fotografia no passaporte falso com que
Lenin – “Konstantin Petróvitch Ivánov” – viajou tornou-se famosa. Com um
quepe pousado no alto de uma peruca encaracolada e os cantos da boca,
pouco familiar no rosto sem barba, ironicamente repuxados para cima,
seus olhos profundos e pequenos são tudo que se pode reconhecer.
Lenin arregaçou as mangas. E pôs mãos à
obra com tanto entusiasmo que o trem lançou nuvens de fumaça generosas. O
condutor se lembrava que Lenin usou a pá com gosto, alimentando a
locomotiva, fazendo com que andasse rápido, levando-o para longe por
trilhos e dormentes.
Quando finalmente desembarcou, o foguista
Lenin ainda tinha uma tortuosa jornada clandestina à sua frente. Foi
apenas às onze horas da noite do dia 10 de agosto que ele chegou ao
apartamento pequeno e simples da Praça Hakaniemi, no norte de
Helsingfors (Helsinque). Ali era a residência dos Rovio. Como a sua
esposa estava fora, visitando a família, Kustaa Rovio, militante
social-democrata, havia concordado em abrigar o marxista russo.
A carreira de Rovio, um homem grande e
imponente, havia dado uma guinada improvável e extraordinária.
Socialista de longa data, ele também era, agora, chefe de polícia de
Helsingfors. Como exatamente ele conseguiu conciliar esse papel com a
militância revolucionária é algo incerto. Sobre o hóspede que, poucos
anos antes, havia defendido manter reservas de “bombas, pedras etc. ou
armas químicas” para jogar contra seus colegas, o chefe de polícia Rovio
disse: “Nunca conheci um camarada tão amistoso e encantador”.
A única exigência de Lenin – e nisso ele
era inflexível – era que Rovio devia conseguir jornais russos todos os
dias e dar um jeito de entregar secretamente as cartas que ele trocava
com seus camaradas do partido. Isso o anfitrião fez até mesmo quando sua
esposa retornou e Lenin teve de se mudar para o apartamento de um casal
socialista, os Blomqvists, próximo a Telekatu.
Percorrendo rotas arriscadas, subindo a pé
pela floresta até a fronteira, Krúpskaya visitou o marido mais de uma
vez. O próprio Lenin passeava por Helsingfors com uma liberdade fora do
comum. “Para me pegar”, disse com prazer, na mesa da cozinha dos
Blomqvists, enquanto lia sobre a caçada do governo, “é preciso ser
rápido, Keriénski.”
Acima de tudo, ao longo de agosto, assim
como havia feito em julho e faria em setembro, Lenin escrevia.
Mensagens, cartas e instruções aos camaradas, e outra longa obra. Já no
primeiro dia em que o hospedou, Rovio encontrou Lenin adormecido na
escrivaninha, com a cabeça sobre os braços e um caderno cuidadosamente
escrito diante de si. “Tomado pela curiosidade”, relatou Rovio, “comecei
a virar as páginas. Era o manuscrito de O Estado e a revolução.”
O livro é uma extraordinária e vigorosa
negociação entre o antiestatismo implacável e a necessidade temporária
do “Estado burguês sem a burguesia”, sob o domínio do proletariado. O
texto histórico, descrito por Lucio Colletti como “a maior contribuição
de Lenin à teoria política”, foi escrito em cima de um tronco às margens
de um lago infestado de mosquitos e, depois, na mesa de um policial. E
não estaria concluído quando as circunstâncias mudaram e Lenin pôde
retornar à Rússia. O texto termina com um famoso resumo: “É
mais prazeroso e útil passar pela experiência da revolução do que
escrever sobre ela”.
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