Mídia ignora participação dos EUA no caso Lula e continua "Campanha de difamação"
GGN17 de novembro de 2019 14:22
Brian Mier, jornalista da Fair.org, um dos observatórios da imprensa mais respeitados dos EUA, escreveu um artigo (veja aqui) em que narra a reação da mídia internacional à libertação de Lula. Para ele, o fato é que os veículos de comunicação continuam abafando a participação do governo americano na Lava Jato e seguem com a campanha de “difamação” em relação ao ex-presidente, mesmo diante das fortes evidências de ilegalidades e politização do processo.
No texto, Brian relembra a fragilidade do caso envolvendo o triplex no Guarujá, passando pelas provas de inocência feitas pelos advogados de Lula e ignoradas por Sergio Moro, o uso da delação questionável de Leo Pinheiro (OAS), até chegar à sentença controversa.
Segundo Brian, um aspecto do julgamento deixado à margem do debate na mídia nacional e internacional diz respeito ao papel do governo norte-americano na construção da Lava Jato.
Os procuradores brasileiros trocaram informações com autoridades norte-americanos – Departamento de Justiça, Comissão de Valores Mobiliários e FBI, NSA e outros órgãos de inteligência – que investigaram a Petrobras em processo próprio nos Estados Unidos.
Há evidências fortes demais para serem ignoradas – como um vídeo do procurador Kenneth Blanco, que o GGN mostrou aqui – de que a cooperação entre Lava Jato e EUA ocorreu muitas vezes de maneira ilegal, o que seria suficiente para anular a operação. A cooperação informal e irregular, aliás, se repetiu com autoridades da Suíça, como confirmaram as mensagens de Telegram vazadas pelo Intercept Brasil.
Para Brian, esses dois fatos contrastam com a cobertura da imprensa, que minimaliza a questão mesmo após a libertação de Lula. Segue tratando sua condenação como se tivesse sido fruto de um processo judicial padrão, e não algo totalmente politizado.
“Alguém poderia pensar que agora a mídia corporativa dos EUA iria finalmente duvidar da narrativa de que Lula pudesse realmente ser culpado de corrupção. Os leitores americanos não estariam interessados em saber qual o papel desempenhado pelo Departamento de Justiça nesse processo?”, questiona.
“Infelizmente, desde a libertação de Lula nenhum dos principais meios de comunicação corporativos mencionou o papel do Departamento de Justiça dos EUA na Lava Jato. Embora alguns artigos tenham mencionado as revelações do Intercept, eles foram reformulados para terem uma narrativa menos ameaçadora, apresentada em um contexto que pudesse ‘levantar algumas dúvidas’ sobre a investigação”, afirmou.
Segundo Brian, “apesar das provas da inocência e perseguição ilegal a Lula, com a cooperação do Departamento de Justiça dos EUA, que o afastou das eleições presidenciais de 2018, a grande mídia se apega a uma falsa narrativa que, embora enfraquecida pelas ações subsequentes do atual ‘Super Ministro da Justiça’ Moro , ainda busca prejudicar a imagem pública do presidente mais popular da história brasileira.”
Ao final, ele escreveu: “Enquanto a campanha de difamação continua, é importante lembrar que Lula representou um projeto de desenvolvimento nacional social-democrata, na tradição do que os brasileiros chamam de desenvolvimentismo, baseado no controle estratégico sobre os recursos naturais e seu uso para financiar serviços públicos, como saúde e educação, políticas de fortalecimento do salário mínimo e direitos trabalhistas, ampliação do acesso a universidades públicas gratuitas e forte investimento em pesquisa científica. Este é o projeto que foi desmontado após o golpe de 2016, em benefício de empresas como Monsanto, Chevron, ExxonMobil e Boeing. A história mostra que todo presidente brasileiro que já tentaram implementar políticas desenvolvimentistas – de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jango Goulart a Dilma e Lula – foi submetido a um golpe, prisão ou assassinato político, com suspeita permanente do envolvimento dos EUA. E como vemos a mídia corporativa trabalhando para normalizar o golpe militar na Bolívia (FAIR.org, 11/11/19), fica claro que esse problema não se limita ao Brasil.”
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