"A
intensidade do sofrimento é constantemente expressa pelo seu “peso”.
Assim no texto de Nietzsche. Por isso, a pergunta implicada na doutrina
do eterno retorno de Nietzsche, [...] tal como exposta naquele
parágrafo, diz respeito ao motivo de se carregar o peso que se carrega.
Em outras palavras, está em jogo, na questão de Nietzsche, o motivo pelo
qual um sofrimento não pode ser superado, por que há certo sofrimento
que parece pesar mais. Ora, um sofrimento indelével é sempre um
sofrimento muito poderoso. Seu poder vem de seu peso. O mais pesado de
todos os pesos é um peso maior, quem sabe o mais valioso, o mais
poderoso. Ao mesmo tempo, sendo “peso”, incomoda. por isso, é difícil
carregá-lo. O que fazemos, então, com aquilo que nos pesa, já que
ninguém deve querer, voluntariamente, carregar um peso? Justamente por
isso, por ser difícil carregar o peso, é que cada um tende a jogá-lo em
algum lugar. Podemos dizer que, no esforço de livrarmo-nos dele,
tendemos a jogá-lo na direção de outro. Isso significa em termos
“psicológicos”, projetá-lo na direção de outro".
(Márcia Tiburi, filósofa e escritora)