quinta-feira, 25 de junho de 2015
Marina Amaral: Rede de conservadores dos EUA financia jovens para combater governos de esquerda na América Latina
publicado em 24 de junho de 2015 às 03:18
No topo, 
Gloria Alvarez, a estrela da direita jovem latino-americana. Foto: 
Fernando Conrado. Abaixo, em palestra no Instituto FHC, ela fala para o 
ex-presidente, sentado à sua frente. Foto: Vinicius Doti/iFHC
A nova roupa da direita
Rede de 
think tanks conservadores dos EUA financia jovens latino-americanos para
 combater governos de esquerda da Venezuela ao Brasil e defender velhas 
bandeiras com um nova linguagem
“O corpo é a primeira propriedade privada que temos; cabe a cada um de 
nós decidir o que quer fazer com ele”, brada em espanhol a loirinha de 
voz firme, enquanto se movimenta com graça no palco do Fórum da 
Liberdade, ornado com os logotipos dos patrocinadores oficiais – Souza 
Cruz, Gerdau, Ipiranga e RBS (afiliada da Rede Globo). O auditório de 2 
mil lugares da PUC-RS, em Porto Alegre, completamente lotado, explode em
 risos e aplausos para a guatemalteca Gloria Álvarez, 30 anos, filha de 
pai cubano e mãe descendente de húngaros.
Gloria ou @crazyglorita (55 mil seguidores no Twitter e 120 mil em sua fanpage do
 Facebook) ascendeu ao estrelato entre a juventude de direita 
latino-americana no final do ano passado, quando um  vídeo em que ataca o
 “populismo” na América Latina durante o Parlamento Iberoamericano da 
Juventude em Zaragoza (Espanha) viralizou na internet. No principal 
fórum da direita brasileira, Gloria e o ex-governador republicano da 
Carolina do Sul David Bensley são os únicos entre os 22 palestrantes, 
brasileiros e estrangeiros, escalados para os keynote – palestras-chave que norteiam os debates nos três dias do evento, batizado de “Caminhos da Liberdade”.
Radialista há dez anos, hoje com um programa na TV, Gloria é uma 
show-woman cativante. Conduz com desenvoltura a plateia formada 
majoritariamente por estudantes da PUC gaúcha, uma das melhores e mais 
caras universidades do Sul do país. “Quem aqui se declara liberal ou 
libertarista que levante a mão?”, pede ao público, que responde com mãos
 erguidas. “Ah, ok”, relaxa.
Sua missão é ensinar a seus pares ideológicos como “seduzir e enamorar 
os públicos de esquerda” e vencer “os barbudos de boina de Che”, explica
 a jovem líder do Movimiento Cívico Nacional (MCN), uma pequena 
organização que surgiu em 2009 na Guatemala na esteira dos movimentos 
que pediam – sem êxito – o impeachment do presidente social-democrata 
Álvaro Colom.
A primeira lição é utilizar nas redes sociais o hashtag criado
 por ela, “república x populismo”, para superar “a divisão obsoleta 
entre direita e esquerda”. “Um esquerdista intelectualmente honesto tem 
de reconhecer que a única saída é o emprego, e um direitista do século 
21, que já se modernizou, tem de reconhecer que a sexualidade, a moral, 
as drogas são um problema de cada um; ele não é a autoridade moral do 
universo”, continua, sob uma chuva de aplausos. Nada de culpa, nem moral
 nem social, ensina.
A mensagem é liberdade individual, “empoderamento” da juventude, 
impostos baixos, Estado mínimo – a plataforma da direita liberal (em 
termos econômicos) no mundo todo: “A riqueza não se transfere, senhores,
 a riqueza se cria a partir da cabecinha de cada um de vocês”, diz. Da 
mesma maneira, Gloria rebate programas sociais de assistência aos mais 
pobres, política de cotas para mulheres, negros, deficientes e até mesmo
 a existência de minorias: “Não há minorias, a menor minoria é o 
indivíduo, e a ele o que melhor serve é a meritocracia”.
“Há uma verdade que todo ser humano deve alcançar para ter paz, se não 
quiser viver como um hipócrita. Todos nós, 7 bilhões e meio de seres 
humanos que habitamos este planeta, somos egoístas. É essa a verdade, 
meus queridos amigos do Brasil, todos somos egoístas. E isso é ruim? É 
bom? Não, é apenas a realidade”, diz, definitiva. “Há pessoas que não 
aceitam essa verdade e saem com a maravilhosa ideia: ‘Não! [imita a voz de um homem],
 eu vou fazer a primeira sociedade não egoísta’. Cuidem-se, brasileiros;
 cuide-se, América Latina! Esses espertinhos são como Stálin, na União 
Soviética, como Kim Jong-il, Kim Jong-un, na Coreia do Norte, Fidel 
Castro, em Cuba, Hugo Chávez, na Venezuela.” E por que “seguimos como 
carneirinhos” atrás desses “hipócritas”? Porque [faz careta e vozinha de velha]
 “nos ensinam que é feio ser egoísta e que pensar em nós mesmos é 
pecado. Quantos de vocês já não viram alguém dizer ‘ah, necessitamos de 
um homem bom, que não pense só em si”, diz, encurvando-se à medida que 
fala para em seguida recuperar a postura altiva: “Mira, señores, a menos que seja um marciano, esse homem não existe, nunca existiu, nem existirá jamais”. Aplausos frenéticos.
Mas, explica, os “defensores da liberdade” também tem sua parcela de 
responsabilidade. Eles não sabem comunicar suas ideias, usar a 
tecnologia para “empoderar os cidadãos” e “libertar” a América Latina. 
“Se ficarmos discutindo macroeconomia, PIB etc., vamos perder a batalha.
 Temos que aprender com os populistas a falar o que as pessoas entendem,
 fazer com que se identifiquem”, ela diz. “E aqui vou lhes dar outro 
conselho porque dizem que nós, os liberais, somos malditos 
exploradores”, ironiza. “Encontrei um maneira muito bonita de definir o 
conceito de propriedade privada. E com esse conceito de propriedade 
privada os esquerdistas fazem assim: Ôooooo! [inclina o corpo para trás].”
 A propriedade privada, diz, é o que acumulamos em toda uma vida, a 
partir de nossas primeiras propriedades: corpo e mente. O passado, 
afirma, não é igual para ninguém, esse acúmulo é pessoal. “Isso nos 
humaniza, dá um coraçãozinho a nós, liberais, tão desgraçados.” Risos. 
Aplausos.
“Há pessoas que querem o direito à saúde, à educação, ao trabalho, à 
moradia. A ONU agora quer até o direito universal à internet”, desdenha,
 embora tenha acabado de dizer que a tecnologia é a chave para mudar o 
mundo. “Imaginem que, nesse auditório, alguns queiram o direito à 
educação, outros o direito à saúde, outros o direito à moradia. Então, 
se eu dou a vocês a educação, todos aqui vão pagar por isso, e vocês vão
 ser VIPs, e eles, cidadãos de segunda categoria. Se eu dou a eles a 
saúde, todos neste auditório vão pagar pela saúde deles, e eles vão ser 
VIPs. Se eu dou a esses as moradias, vou ter que tirar de todos vocês 
para dar moradia a eles, e eles vão ser esses VIPs. Isso não é justiça 
social, é desigualdade perante a lei”, conclui, novamente sob risos e 
aplausos.
“Se cada um na América Latina tiver direito à vida, liberdade e 
propriedade privada, então cada um que vá atrás da educação que queira, 
da saúde que queira, da casa onde quer morar, sem precisar de 
super-Chávez, super-Morales, super-Correa”. Ovação. Assobios. Antes de 
encerrar os 40 minutos de exposição, Gloria convida os presentes a 
contrapor a visão de mundo que “vitimiza os latino-americanos”, “joga a 
culpa nos ianques”, mina a “autoestima” e a coragem de assumir riscos 
que exige o espírito empreendedor. A plateia aplaude de pé.
Neoliberais e libertaristas
Gloria Álvarez não representa nada exatamente novo. A grande diferença é
 a linguagem. O MCN (movimento a que ela pertence) recebe “fundos de 
algumas das maiores empresas da elite empresarial tradicional, conta o 
jornalista investigativo Martín Rodríguez Pellecer, diretor do site 
guatemalteco Nómada, parceiro da Pública.
 “Por fontes próximas, soube que uma das indústrias que os apoiam para 
campanhas de massa e lobby no Congresso é a Azúcar de Guatemala, um 
cartel poderosíssimo de treze empresas (a Guatemala é o quarto maior 
exportador mundial de açúcar) e as usinas guatemaltecas têm, inclusive, 
investimentos em usinas no Brasil.”
O mesmo pode-se dizer em relação a suas ideias. Apesar do título sedutor, os libertarians –
 libertaristas em português – “são um segmento minoritário entre as 
correntes que ganharam influência no pós-guerra em oposição às políticas
 intervencionistas de inspiração keynesiana”, explica o economista Luiz 
Carlos Prado, da Universidade Federal no Rio de Janeiro.
A partir da crise do petróleo dos anos 1970, economistas pró-mercado 
como o austríaco Friedrich Hayek (Prêmio Nobel de 1974), monetaristas da
 Escola de Chicago de Milton Friedman (Prêmio Nobel de 1976) e os 
novo-clássicos associados a Robert Lucas (Prêmio Nobel de 1995) passaram
 a dominar o pensamento econômico global e se tornaram conhecidos do 
grande público sob um único rótulo: “neoliberal”.
Seus conceitos foram trazidos para a América Latina pelo setor mais conservador americano, representado principalmente pelos think tanks ligados
 a Ronald Reagan, que depois de ter perdido as primárias republicanas em
 1968 e 1976, se elegeu presidente em 1980, tendo Friedman como 
principal conselheiro. Também predominaram no governo de Margaret 
Thatcher (1979-1991) na Inglaterra.
“Os defensores do liberalismo clássico eram também defensores da 
liberdade política, mas a corrente chamada de ‘neoliberal’ defendia 
essencialmente a não intervenção do Estado na economia sem uma 
preocupação particular com a questão da liberdade política, chegando, em
 alguns casos, a apoiar sem constrangimentos governos ditatoriais como o
 de Pinochet no Chile”, observa Luiz Carlos Prado.
A Guatemala de Gloria Álvarez é um bom exemplo de como as ideias libertarians se
 traduziram na América Latina. Em 1971,“uma parte muito representativa 
da elite econômica guatemalteca assumiu como projeto político o 
libertarismo de direita, quando fundou a Universidade Francisco 
Marroquín (UFM)”, conta o jornalista Martín Rodríguez Pellecer. “O 
fundador da universidade, Manuel Ayau, conhecido como El Muso, em alusão
 a Mussolini, se uniu ao projeto fascista anticomunista da MLN. Desde 
então, a UFM vem formando quadros políticos e acadêmicos para 
desacreditar o Estado e a justiça social e converter a Guatemala no país
 que arrecada menos impostos na América Latina (11% em relação ao PIB) e
 o que menos redistribui”, explica.
Foi nessa universidade que Gloria estudou e “se converteu em uma 
libertarista um tanto menos conservadora que seus professores, uma 
mistura de neoliberais e Opus Dei. Álvarez se declara ateia e a favor do
 aborto e, embora tenha se tornado uma estrela da direita 
latino-americana, na Guatemala é uma referência menor para a direita, 
não tem base política nem vai ser candidata. Eu a vejo mais como uma enfant terrible libertarista”, diz Martín.
Os libertarians ressurgiram
 com força nos Estados Unidos depois da crise de 2008 – e ao clamor 
subsequente pela regulamentação do mercado – e em decorrência da 
ascensão do democrata Barack Obama ao poder. Pregam a predominância do 
indivíduo sobre o Estado, a liberdade absoluta do mercado, a defesa 
irrestrita da propriedade privada. Afirmam que a crise econômica que 
jogou 50 milhões de pessoas na pobreza não se deveu à falta de regulação
 do mercado financeiro, mas pela proteção do governo a alguns setores da
 economia. E rejeitam enfaticamente os programas sociais do governo 
Obama.
No entanto, uma parte significativa dos libertaristas tem se distanciado
 do tradicionalismo da direita no campo do comportamento, defendendo 
posições associadas à esquerda, como a defesa da liberação das drogas e a
 tolerância aos homossexuais, em nome da liberdade do individual. O 
senador republicano Rand Paul, pré-candidato à presidência, é um de seus
 representantes mais conhecidos.
“Os libertarians que estão com os conservadores no Tea Party (a corrente radical de direita no Partido Republicano americano) estão em think tanks como
 o Cato Institute e compõem a direita pós-moderna, representada, por 
exemplo, por Cameron, na Inglaterra, que modernizou a agenda da redução 
do estado do bem-estar social”, resume o professor. Ele acha graça 
quando falo em libertarians brasileiros,
 seguidores da escola austríaca de economia de Ludwig von Mises e 
Friedrich Hayek. “A escola austríaca é uma corrente muito minoritária 
mesmo na academia”, diz. “Quem são esses libertarians?
 O que temos no Brasil são economistas sofisticados que seguem correntes
 como a dos novo-clássicos do prêmio Nobel Robert Lucas e outras 
similares, políticos de direita pouco elaborados como o Ronaldo Caiado 
(senador do DEM-GO) e essa classe média conservadora que lê Rodrigo 
Constantino na Veja”, resume.
Caiado e Constantino são participantes veteranos do Fórum da Liberdade em Porto Alegre. A novidade é que os libertarians do Tea Party mostraram-se enfim capazes de se apresentar como a face convidativa da direita para a juventude brasileira.
Vem pra rua, ciudadano
Na véspera do Fórum, no dia 12 de abril, Gloria Álvarez discursou contra
 o “populismo maldito” vestida com uma camiseta de lantejoulas formando a
 bandeira do Brasil para cerca de 100 mil pessoas na avenida Paulista, 
em São Paulo, na segunda rodada de manifestações “Fora Dilma”. Do alto 
do caminhão do Vem pra Rua, o líder do movimento, Rogério Chequer, a 
apresentou à multidão como “uma das maiores representantes da batalha 
contra o populismo do Foro de São Paulo” e se manteve o tempo todo ao 
seu lado (veja o vídeo com o discurso de Gloria na Paulista aqui).
 Gloria, que havia anunciado antecipadamente sua presença nos protestos 
em uma entrevista no programa de Danilo Gentili no SBT, tinha dado uma 
palestra no Instituto Fernando Henrique Cardoso, assistida pelo próprio 
ex-presidente, três dias antes.
Entre os que lideraram os protestos de março e abril contra o governo, o
 movimento de Chequer foi um dos últimos a assumir a bandeira do 
impeachment, o que lhe valeu um pito público do vetusto Olavo de 
Carvalho, que o acusou de “paumolice tucana”. O Movimento Brasil Livre, 
conhecido principalmente através da figura de Kim Kataguiri, assumiu 
desde o início a bandeira do impeachment e rompeu publicamente com 
Chequer, divulgando fotos dele ao lado do senador José Serra (PSDB-SP) 
na campanha de Aécio Neves – tachado de “traidor” pela hesitação em 
pedir o impeachment da presidente eleita. Voltaram às boas depois que a 
comissão de senadores liderada por Aécio e Ronaldo Caiado (DEM-GO) fez 
sua controversa expedição a Caracas.
Caiado, aliás, estava no debate de abertura da edição do Fórum deste 
ano. Sem a graça irreverente de Glorita, o senador ruralista conservador
 arrancou aplausos da plateia com frases de efeito contra a corrupção do
 governo, menções ao “Foro de São Paulo”, pedido de “renúncia” à 
presidente Dilma e ataques ao BNDES.
Curiosamente, as acusações de Caiado foram feitas sob os logotipos da 
Gerdau e Ipiranga – do grupo Ultra –, que estão entre os maiores 
tomadores de empréstimos do BNDES segundo os dados levantados pela Folha de S.Paulo. Ambos obtiveram individualmente mais de R$ 1 bilhão de recursos do banco apenas entre 2008 e 2010.
O empresário gaúcho Jorge Gerdau é um dos idealizadores do Fórum da 
Liberdade, que surgiu em 1988 com a intenção de promover o debate entre 
diversas correntes de pensamento. Em suas primeiras edições, o Fórum 
incluiu o ex-presidente Lula, o ex-ministro José Dirceu e o falecido 
ex-governador Leonel Brizola entre os debatedores, sem prejudicar sua 
identidade como principal fórum conservador do país.
Foi ali que, em 2006, foi lançado oficialmente o principal think tank da direita no Brasil, o Instituto Millenium.
Armínio Fraga (escolhido para ser ministro da Fazenda de Aécio Neves se 
ele vencesse as eleições) é sua figura mais conhecida no campo 
econômico. Seus mantenedores são a Gerdau, a editora Abril e a 
Pottencial Seguradora, uma das empresas de Salim Mattar, dono da 
locadora de veículos Localiza. A Suzano, o Bank of America Merrill Lynch
 e o grupo Évora (dos irmãos Ling) também são parceiros. William Ling 
participou da fundação do Instituto de Estudos Empresariais (IEE) em 
1984, que, formado por jovens líderes empresariais, organiza o Fórum 
desde a primeira edição; seu irmão, Wiston Ling, é fundador do Instituto
 Liberdade do Rio Grande do Sul; o filho, Anthony Ling, é ligado ao 
grupo Estudantes pela Liberdade, que criou o MBL. O empresário do grupo 
Ultra, Hélio Beltrão, também está entre os fundadores do Millenium, 
embora tenha o próprio instituto, o Mises Brasil.
A rede de think tanks liberais
 e libertaristas no Brasil se completa com mais duas entidades: o 
Instituto Ordem Livre – que realiza seminários para a juventude – e o 
Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista, do Rio de 
Janeiro, ligado ao Opus Dei. O jurista Ives Gandra, autor do controverso
 parecer sobre a existência de base jurídica para o impeachment da 
presidente Dilma, faz parte de seu conselho.
A exemplo do Millenium, a grande maioria desses institutos foi criada 
recentemente. A semente original foi o Instituto Liberal, criado em 1983
 pelo engenheiro civil carioca Donald Stewart Jr., falecido em 1999.
De acordo com a tese de doutorado do historiador Pedro Henrique Pedreira
 Campos, da Universidade Federal Fluminense (UFF), “A ditadura dos 
empreiteiros (1964-1985)”, a Ecisa (Engenharia Comércio e Indústria 
S.A.), empresa de Stewart Jr., foi uma das maiores empreiteiras durante a
 ditadura militar e Stewart Jr. se associou à construtora 
norte-americana Leo A. Daly para construir escolas no Nordeste para a 
Sudene. A participação de companhias dos EUA nas obras era exigência dos
 financiamentos da Usaid – a agência de desenvolvimento americana que 
funcionava como braço da CIA durante as ditaduras latino-americanas.
Donald Stewart Jr. também era um velho amigo de um personagem crucial 
nessa história, o argentino radicado nos Estados Unidos Alejandro 
Chafuen, 61 anos, ambos membros da seleta Mont Pelèrin Society, fundada 
pelo próprio Hayek em 1947 na Suíça e sediada nos Estados Unidos, que 
reúne os mais fiéis libertarians.
El Muso, o fundador da universidade onde estudou Gloria Álvarez, foi o 
primeiro latino-americano a presidir a Mont Pelèrin, e seu atual reitor,
 Gabriel Calzada, participa da diretoria com a brasileira Margaret Tsé, 
CEO do Instituto da Liberdade, o suporte ideológico. O atual presidente 
da Mont Pelèrin Society é o espanhol Pedro Schwartz Girón, semeador de think tanks vinculados
 à FAES, a fundação do Partido Popular (PP) presidida por José María 
Aznar, que promoveu o Parlamento Iberoamericano da Juventude, de onde 
Gloria Álvarez foi catapultada para a fama.
Pedro Schwartz, Alejandro Chafuen e o colombiano Plinio Apuleyo Mendoza, coautor do livro Manual do perfeito idiota latino-americano, um hit da
 juventude de direita, participaram do painel “América Latina”, no Fórum
 da Liberdade. Chafuen também participou discretamente dos protestos de 
12 de abril em Porto Alegre. Não resistiu, porém, a postar em seu 
Facebook uma foto em que aparece vestido com a camisa da CBF abraçado ao
 jovem cientista político Fábio Ostermann, da coordenação do Movimento 
Brasil Livre – nome que assumiu nas ruas o grupo Estudantes pela 
Liberdade (EPL).
O gaúcho Ostermann, o mineiro Juliano Torres e o gaúcho Anthony Ling são
 fundadores do EPL, a versão local do Students for Liberty, uma 
organização-chave na articulação entre os think tanks conservadores
 americanos – especialmente os que se definem como libertários – e a 
juventude “antipopulista” da América Latina. Mr. Chafuen, presidente da 
Atlas Network desde 1991, é o seu mentor.
A Atlas Network (nome fantasia da Atlas Economic Research Foundation desde 2013) é uma espécie de metathink tank,
 especializada em fomentar a criação de outras organizações 
libertaristas no mundo, com recursos obtidos com fundações parceiras nos
 Estados Unidos e/ou canalizados dos think tanks empresariais locais para a formação de jovens líderes, principalmente na América Latina e Europa oriental.
De acordo com o formulário 990, que todas as organizações filantrópicas tem de entregar ao IRS (Receita nos EUA), a receita da Atlas em 2013 foi de US$ 11,459 milhões.
 Os recursos destinados para atividades fora dos Estados Unidos foram de
 US$ 6,1 milhões: dos quais US$ 2,8 milhões para a América Central e US$
 595 mil para a América do Sul.
Com exceção do Instituto Fernando Henrique Cardoso, todas as 
organizações citadas até agora compõem a rede da Atlas Network no 
Brasil, incluindo o MCN de Gloria Álvarez, a Universidade Francisco 
Marroquín e o Estudantes pela Liberdade, uma organização que nasceu 
dentro da Atlas em 2012. Como veremos, além dos recursos citados há 
projetos bem mais vultosos financiados por outras fundações e executados
 pela Atlas.
Infográfico: Marcelo Grava
Para continuar a ler a excelente reportagem de Marina Amaral, na Pública, clique aqui.
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Marina Amaral: Rede de conservadores dos EUA financia jovens para combater governos de esquerda na América Latina
publicado em 24 de junho de 2015 às 03:18 No topo, Gloria Alvarez, a estrela da direita jovem latino-americana. Foto: Fernando Conrado. Abaixo, em palestra no Instituto FHC, ela fala para o ex-presidente, sentado à sua frente. Foto: Vinicius Doti/iFHC A nov...
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