O Governo não puniu quem deveria ser punido. Agora é punido não só o Governo mas o Brasil e seu povo exatamente por aqueles que mais deveriam já ter sido punidos.
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quinta-feira, 25 de junho de 2015
Luis Nassif: Como o PT blindou o PSDB e se tornou alvo da PF e do MPF
QUI, 25/06/2015 - 11:28
ATUALIZADO EM 25/06/2015 - 12:25
De como o governo Lula profissionalizou a PF mas não a política
Mais do que questões partidárias, a motivação maior da Operação Lava 
Jato é a revanche de duas operações anteriores que foram sacrificadas 
pelo jogo político: a Satiagraha e a Castelo de Areia. E é um exemplo 
eloquente dos erros de Lula e do PT em relação à Polícia Federal.
No primeiro governo Lula, o Ministro Márcio Thomas Bastos mudou a face 
da PF e do combate ao crime organizado no país. O reaparelhamento da PF,
 a criação da Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência), o preparo de 
procuradores e policiais federais para, junto com técnicos da Receita e 
do Banco Central, entender os becos intrincados do sistema financeiro, 
tudo isso fez parte de um processo que mudou o patamar de competência 
tanto da PF quanto do MPF.
Tinha-se, agora, pela primeira vez no país um sistema de combate ao 
crime organizado e, ao lado, um modelo político ancestral trafegando na 
zona cinzenta da legalidade, cujos exemplos anteriores foram as 
revelações trazidas pelas CPIs do Banestado e dos Precatórios.
Estimulados, os agentes e procuradores saíram a campo para enfrentar o 
maior desafio criminal brasileiro: desbastar a zona cinzenta onde 
circulavam recursos do narcotráfico, de doleiros, de corrupção pública e
 privada, de esquentamento de dinheiro, das jogadas financeiras, e por 
onde passavam as intrincadas relações entre política e negócios que 
estavam na base da governabilidade do país.
Quando calhava de delegados e procuradores encontrarem um juiz 
justiceiro de primeira instância, colocava-se em xeque todo o sistema de
 blindagem historicamente praticado no país.
Duas das mais expressivas operações - a Satiagraha e a Castelos de Areia - pegavam o coração da máquina tucana.
A primeira centrava fogo em Daniel Dantas, do Banco Opportunity, 
principal beneficiário do processo de privatização, sócio da filha de 
José Serra, administrador dos fundos do Instituto Fernando Henrique 
Cardoso, pessoalmente favorecido por ele, quando presidente da 
República,  em episódios que se tornaram públicos - como seu jantar no 
Palácio do Alvorada, cuja sobremesa foi a cabeça de dirigentes de fundos
 de pensão que se opunham a ele.
A segunda, a Castelo de Areia, pegava na veia os acordos de empreiteiras
 com os governos José Serra e Geraldo Alckmin. Quem leu o inquérito 
garantia haver provas robustas, inclusive, dos acertos para tirar das 
costas dos presidentes de empreiteiras a responsabilidade criminal pelas
 mortes no acidente com o Metrô.
Satiagraha foi abortada pela ação conjunta do Ministro Gilmar Mendes - 
defendendo o seu grupo político - e do próprio Lula, afastando Paulo 
Lacerda da Abin e os policiais que conduziam a operação, depois dos 
factoides plantados pela Veja e por Gilmar. E também devido às 
investidas da operação sobre José Dirceu.
Foi a primeira chaga aberta nas relações da PF com o PT e Lula.
No caso da Castelo de Areia, a alegação foi de que a investigação 
começou a partir de uma denúncia anônima. Especialistas que analisaram o
 inquérito, do lado das empreiteiras, admitem que não havia erro 
processual. O inquérito era formalmente perfeito. Terminou no STJ de 
forma estranha, negociado pelo ex-Ministro Márcio Thomas Bastos, na 
condição de advogado da Camargo Correia.
Foi assim que o PT, através de seus Ministros e criminalistas, livrou o 
PSDB dos seus dois maiores pepinos, mas ficou com uma conta alta 
espetada nas costas.
A revanche veio no pacto da Lava Jato, entre PF, MPF e o sucessor de 
Fausto De Sanctis: Sérgio Moro - que teve papel central não apenas na 
Lava Jato mas na AP 470, do mensalão, como assessor da Ministra Rosa 
Weber.
A rebelião da primeira instância
A anulação da Satiagraha e da Castelo de Areia nos tribunais superiores 
produziu intensa revolta entre juízes de primeira instância, MPF e PF.
Tome-se o caso da Satiagraha.
A lei diz que decisão de juiz de primeira instância precisa passar 
primeiro pela segunda e terceira instância até chegar ao STF (Supremo 
Tribunal Federal). No controvertido episódio da concessão de dois habeas
 corpus, Gilmar Mendes atropelou a lei e as próprias decisões do juiz 
Fausto De Sanctis e mandou soltar os detidos.
Houve abusos, sim. O show midiático com a TV Globo, a prisão do 
ex-prefeito Celso Pitta, já doente terminal e outros. Mas também foi  
divulgada uma conversa de Dantas afirmando que o desafio seria passar 
pela primeira instância, pois nas instâncias superiores havia 
"facilidades".
Conseguiu não apenas os dois HCs de Gilmar, como sua participação em dos
 factoides criados para a revista Veja e, depois, trancar a ação no STJ 
(Superior Tribunal de Justiça), de onde até hoje não saiu.
Todo o desgaste da Satiagraha e da Castelo de Areia, perante a opinião 
pública transformou-se em blindagem para a Lava Jato. Com o agravante 
de, no Ministério da Justiça, encontrar-se o mais inodoro Ministro da 
história da República.
Se os alvos fossem tucanos e o Ministro relator do STF Gilmar Mendes, 
não haveria problemas. Gilmar atropelaria a lei e concederia os HCs. E o
 Ministro Cardozo agiria valentemente em nome do “republicanismo”.
Agora, tem-se na relatoria do STF um Ministro técnico, formalista, sem 
vinculações partidárias. No Ministério da Justiça, um Ministro anódino, 
incapaz de conter os abusos “em nome do republicanismo”. Na Procuradoria
 Geral da República, um procurador geral empenhado com a sua reeleição 
tendo como principal opositor um colega que critica sua "leniência" 
(!!!) na Lava Jato. Finalmente, uma imprensa que ajudou a liquidar com a
 Satiagraha pelas mesmas razões que, hoje em dia, defende a Lava Jato.
Como é um jogo de poder, procuradores, delegados, Moro não se pejam em 
montar alianças com grupos de midia claramente engajados no jogo de 
interesses políticos e comerciais, alguns deles em aliança com o crime 
organizado.
O jogo poderia ter se equilibrado um pouco se o PGR aplicasse a lei e 
atuasse contra vazamentos de inquéritos sigilosos ou pelo menos 
aceitasse a denúncia contra Aécio Neves. Seria uma maneira de mostrar 
isenção e impedir a exploração política do episódio.
Mas hoje em dia a corporação MPF é fundamentalmente anti-PT. A ponto de 
fechar os olhos quando um ex-PGR, Antonio Fernandes dos Santos, livrou 
Dantas do mensalão e, logo depois, aposentado, ganhou um mega-contrato 
da Brasil Telecom, quando ainda controlada pelo banqueiro.
Enfim, o PT colhe o que plantou. E o PSDB planta o que não colheu.