Quero hoje compartilhar aqui com meus 27 leitores um texto de Rafael Rodrigues, para mim, até então, desconhecido. Ele escreveu um texto muito bem redigido sobre uma coisa que há muito me atormenta: a deterioração da cultura. Na verdade, não foi exatamente sobre isso que ele escreveu mas, seu texto leva a essa conclusão.
Para quem desejar ler o texto integral, disponibilizo abaixo um link para o mesmo. A seguir, teço alguns comentários sobre o assunto.
http://bravonline.abril.com.br/blogs/entretantos/2012/11/05/nao-leiam-frases-leiam-livros/#comments
O texto acima referido, encontrei-o num blog que visitei de modo casual, graças a um LV (Livro viajante) do qual estou participando no Skoob. Tomei conhecimento do blog através de um marcador contendo seu endereço e que veio junto com o livro. O nome do blog é Entretantos. Resolvi visitar e deparei-me com uma pérola de postagem sobre esse terrível costume dos “tempos modernos” (que não são os de Chaplin) de emprenhar pelos olhos. É lamentável encontrar pessoas citando Clarice, Vinícius, Kant, Nietzsche, entre outros, e escrevendo “eu vou ir” ou “Estava olhando o livro e descobrir que ele falava…”
Pessoas que tentam inventar-se como intelectuais sem nunca terem lido coisa alguma dos autores citados. Denunciam-se na própria escrita. Quem lê Lispector ou Vinícius, por exemplo, não escreve como se fosse um índio. Mim vai fazer isso, ôce vai fazer aquilo, eu ler muitos livros… Lamentável.
Será que as pessoas não aprendem mais a nossa língua pátria? Não por acaso, o livro que estou lendo do LV mencionado trata de certa forma sobre isso. “Fahrenheit 451” de Ray Bradbury é uma ficção científica que narra a história de um bombeiro, Montag, que destruía livros. Num futuro inespecífico o mundo seria completamente automatizado e, as pessoas deveriam viver, teoricamente, muito felizes pois, tinham tudo que desejavam. Mas não pensam, não leem, não têm nenhum trabalho com nada exceto apertar botões, comer, dormir e se divertir. As pessoas não leem porque os livros são proibidos. A princípio os livros foram abreviados para filmes, depois para uma página, depois para uma frase e alguns, foram banidos porque faziam as pessoas sofrerem.
Bem, o texto de Rafael Rodrigues é de alerta, assim como este que ora escrevo também o é. Rafael escreve sobre o péssimo hábito das pessoas hoje em dia, de citarem frases de livros que nunca leram e, talvez, nunca venham a lê-los, como aquelas pessoas fictícias do livro Fahrenheit 451 que recebem as respostas de todas as perguntas já prontas. É o computador que determina o que ela deve pensar, o que ela deve fazer, o que ela deve perguntar, o que ela deve responder. E Rafael convida: leiam livros ao invés de apenas frases.
Será que estamos chegando ao estágio daquele mundo fictício imaginado por Bradbury? Há, eu sei, uma velha polêmica sobre o que é correto numa língua (que é dinâmica). Uma corrente acredita e até incentiva a se cometerem as maiores barbaridades em nome desse dinamismo da língua. E acham correto escrever vc ao invés de você, “pru mode” ao invés de “para isso”, etc. Outra corrente, da qual sou adepto, diz que as regras devem ser respeitadas. O dinamismo da língua será, pouco a pouco, pelas Academias, aprimorado, atualizado. Mas só a Academia tem esse poder. Não o povo. A linguagem é mais maleável embora também tenha seus ritos. Não se pode também avacalhar. Se um povo não culto como o brasileiro for “ditar” as regras da língua portuguesa, em breve seremos um povo sem raiz, sem história, sem cultura.
Parece louvável o costume extramamente difundido nos dias atuais nas redes sociais, de postar frases escolhidas de autores famosos. Fora do contexto, elas podem até mudar de sentido. Mas o mais grave não é isto. O que torna-se um ponto crítico é o fato de as pessoas se contentarem apenas com as frases desses autores famosos. A maioria nunca leu nada de Machado de Assis, Clarice Lispector, Vinícius de Moraes, Fernando Pessoa, etc. mas vive citando frases destes de forma "altruística" e, aparentemente louvável. Mas na verdade, está contribuindo para criar essa sociedade hipotética do livro de Bradbury. Uma sociedade alienada, sem cultura, sem valores, sem objetivos. Completamente perdida.