Em parceria com um centro de estudos de
socioemocionais da Universidade da Pensilvânia, uma escola nos EUA incluiu
aulas de caráter no currículo: http://ow.ly/z898R
Sandro Augusto Silva
Gerente de Novos Negócios ESF & Cia. Ltda. Indústria Gráfica Principal
contribuidor
Revista
para professores do ensino infantil, fundamental e médio de escolas públicas
publicada pela Humana Editorial.
A rede de
escolas charter KIPP (Knowlegde is Power Program),
fundada em 1994 nos Estados Unidos, tem como meta levar seus alunos – 86% são
de famílias pobres – até a universidade. Para garantir que todos tenham
confiança de que são capazes de aprender, não aposta apenas no rigor acadêmico,
mas promove diferentes atividades para despertar entusiasmo, perseverança,
autocontrole, gratidão, otimismo, inteligência social e curiosidade em seus
alunos. Dentro desse contexto, uma de suas 141 escolas, a KIPP Infinity Middle School,
no Harlem, em Nova York, decidiu radicalizar o ensino de competências
socioemocionais e criou, há dois anos, uma aula diferente: de caráter.
“Nós
sentimos que, se não ensinarmos caráter explicitamente, não podemos esperar que
eles [os alunos] adquiram isso”, afirmou ao Porvir a diretora da
escola e professora dessas classes, Leyla Bravo-Willey.
O projeto
desenvolvido pela professora em parceria com um centro de estudos de
socioemocionais da Universidade da Pensilvânia ainda está em fase piloto e
estabelece um currículo abrangente. Para desenvolver o caráter dos alunos, a
escola aposta no ensino de habilidades não cognitivas – como comunicação,
resiliência e determinação – em todas aulas, oficinas para pais e momentos de
trocas entre os estudantes chamados de Kipp Circles.
As
classes de caráter acontecem duas vezes por semana para as 5ª e 6ª séries e
nelas Leyla dá aulas expositivas para mostrar aos alunos como eles são capazes
de aprender, como podem enfrentar seus pontos fracos, como devem estabelecer
relações saudáveis com outras pessoas e como podem usar a mente para conseguir
o que querem. Não se trata de uma simples lição de autoajuda, garante a
professora, mas momentos para se fazer conexões com a ciência e explicar como o
cérebro funciona, desenvolver técnicas de meditação, concentração e até
praticar yoga. “Primeiro, eu explico os conceitos e depois faço com que eles
pratiquem”, conta a diretora da Infinity Middle School.
Em uma
aula sobre como enfrentar pontos fracos, por exemplo, a professora perguntou
como os alunos se sentiam quando eram os últimos a serem escolhidos para formar
um time de basquete. Alguns responderam algo como “Que saco, eu de novo no
fim”, mas alguém disse “Não tô nem aí, sou bom mesmo no futebol”. Segundo Tonia
Casarin, mestranda brasileira em educação na Universidade de Columbia que
acompanha o projeto piloto na escola de Nova York, as diferentes reações fazem
os alunos se darem conta de como podem pensar diferente. “As conversas ajudam a
desenvolver a autoestima das crianças, elas aprendem a mudar a própria
perspectiva”, diz.
Esse tipo
de reflexão não acontece apenas nas classes específicas de caráter, mas durante
todas as atividades da escola. Os professores da Infinity Middle School
são preparados a relacionar questões socioemocionais com conteúdos cognitivos.
Assim, numa aula de inglês, os alunos analisam as características dos
personagens dos textos que leem, e nas de história, discutem motivações por
trás de fatos importantes. Além disso, antes mesmo da criação das aulas de
caráter, já ocorriam os Kipp Circles, períodos de 20 a 30 minutos em que as
turmas são divididas em grupos e os alunos devem trocar ideias e ajudar uns aos
outros a melhorar suas atitudes e resultados acadêmicos. “Nos círculos os
alunos discutem o que entenderam das minhas aulas e se estão aplicando o que
aprenderam”, explica Leyla.
Como
resultado, a expectativa é que as crianças mudem de atitude também em casa. Por
isso, os pais são chamados no início do ano para um workshop em que são
apresentados ao conteúdo que será ensinado e como isso será feito. A professora
também dá dicas de como eles podem dar suporte aos seus filhos. “Alguns pais
ajudam, outros não. Mas a nossa missão é fazer com que mesmo os que são
oriundos de famílias disfuncionais saibam lidar melhor com isso. O fato de uma
criança não ser incentivada a estudar em casa não significa que ela não deva
ter acesso a boa educação. Nossa meta é garantir que todos tenham acesso”, diz
a diretora.
Primeiros
resultados
Embora a
implantação desse currículo socioemocional na Kipp Infinity Middle School ainda
esteja em fase de testes e os dados sobre o impacto no desempenho acadêmico não
tenham sido computados, a diretora tem convicção de que os alunos estão
aprendendo mais e que estão mais tranquilos e confiantes. “Estamos ansiosos
pelos resultados para seguir em frente”, afirmou. No próximo ano letivo, o
plano é preparar outros professores para ministrarem as aulas de caráter e
passar a incluí-las na grade de mais séries.
Leyla diz
que foi possível perceber avanços, principalmente, pela mudança de atitude da
turma antes da última prova estadual (avaliação externa) a que foram
submetidos. “Normalmente, eles ficam muito nervosos e acham que vão se dar mal.
Dessa vez, passaram a dizer que estão preparados, que trabalharam duro e estão
prontos para o teste”, conta orgulhosa.
Fonte:
Portal Porvir. Imagem: okalinichenko/Fotolia.com/Porvir.