segunda-feira, 7 de julho de 2014

lixo e a responsabilidade compartilhada

O ciclo infinito do lixo e a responsabilidade compartilhada

Publicado . em Lixo & Reciclagem
Por Guapuruvu
Até o mês de agosto de 2014 todos os municípios deveriam seguir a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305 de 2010), porém o Brasil ainda não tem tecnologia e, tampouco, investimento em pesquisa para obedecer a essa lei até os próximos três meses, data inicialmente prevista pelo instrumento legal. Mas você sabe o que essa lei diz? Ou quais são as ferramentas utilizadas para a destinação correta do lixo? Neste post vou explicar a importância da política de resíduos e as alternativas possíveis para a gestão e gerenciamento do lixo.
Um dado muito importante para entendermos a dimensão do problema é que são gerados, em média, 240 mil toneladas de lixo por dia no país, segundo a Associação Empresarial para a Reciclagem. A maior parte dos municípios brasileiros ainda encaminha todo o descarte desses resíduos para os lixões, que são locais onde o lançamento é feito in natura, ou seja sem qualquer tratamento, a céu aberto.
Em curto prazo o lixão é um meio barato para a disposição dos resíduos, porém com o passar dos anos o impacto ambiental desse meio é incalculável. O chorume, líquido proveniente da decomposição por matérias orgânicas do material descartado, tem um alto potencial de contaminação das águas, afetando, os mananciais e os lençóis freáticos. Esse é um exemplo dentre tantos outros problemas da poluição gerada em um lixão e que envolve também uma questão de saúde pública.
A referida lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos proíbe todo e qualquer foco de lixão no Brasil até agosto deste ano. Mas o que será feito com o nosso lixo?
A lei sugere que se crie um conjunto de procedimentos de gestão do lixo pensando desde a geração, tratamento e disposição final. “Precisamos estabelecer o hábito da responsabilidade estendida da qual o produtor de determinada embalagem, por exemplo, de um agrotóxico ou um computador, seja responsável pela coleta adequada do resíduo depois de descartado pelo consumidor”, explica Luciana Barreira bióloga e especialista em resíduos sólidos.
Para que isso aconteça de forma efetiva deve-se investir em pesquisa no setor e educação para a sociedade, assim todos saberão como caracterizar o lixo quanto a sua origem ou periculosidade e, então, promover a destinação correta dos produtos. Esse é um ponto fundamental na política nacional, pois ela determina que deve-se respeitar o ciclo do lixo também com o processo de reciclagem ou reaproveitamento. Só após de todas as possibilidades de tratamento do lixo forem esgotadas o material se classifica como rejeito e pode ser encaminhado para aterros sanitários.
Primeiro explicaremos todas as formas de destinação que um lixo pode seguir antes de parar em um aterro sanitário. A primeira delas é a compostagem, um processo biológico de decomposição e de reciclagem da matéria orgânica animal e vegetal.

Porém o Brasil ainda tem poucas usinas de compostagem; estima-se que são 14, e entre essas algumas estão desativadas. Esse é um processo que exige tecnologia e conhecimento, além de uma separação correta do resíduo orgânico, o que influencia diretamente na qualidade do adubo gerado. As composteiras demoram de três a quatro meses para reciclar a matéria orgânica de apenas um dia, por isso é necessário que as usinas tenham um logística de recebimento efetiva que obedeça a demanda.
A compostagem em nosso país vem sendo tratada apenas sob perspectiva de eliminar o lixo doméstico e não como um processo industrial que gera produto – o composto orgânico – necessitando de cuidados ambientais, ocupacionais, marketing e investimento no preparo técnico do setor.
Outra destinação que envolve um sistema ainda mais complexo e também esbarra na falta de interesse político e investimento no setor é a biodigestão. Essa técnica é um processo biológico feito por microrganismos, gerando energia a partir da decomposição de resíduos orgânicos.
O biogás, por ser inflamável, pode ser utilizado em fogão doméstico, lampião, combustível, aquecedores e também na geração de energia elétrica.
Entretanto no Brasil o processo é utilizado exclusivamente com material orgânico (esterco) de suínos e bovinos. Isso porque ainda não se desenvolveu tecnologia para fazer a biodigestão com o lixo urbano. Também é um processo que viabiliza a redução do lixo e eliminação dos lixões.
A incineração é outra alternativa ao lixo, mas deve ser feita de forma controlada e profissional através de equipamentos chamados de incineradores, onde o material é queimado a temperaturas acima de 900°C.
Neste lixo não pode haver resíduos orgânicos ou úmidos em geral, pois as características desses materiais reduz a temperatura do processo, o que influencia de forma negativa na combustão. Para a realização da incineração o mais indicado é a destinação de material perigoso (material hospitalar e tóxico).
O calor produzido durante esse processo também pode ser utilizado para a geração de energia elétrica e no aquecimento de água. Em alguns países, esse é o principal processo para a eliminação do lixo. No Japão e na Suíça, por exemplo, a maior quantidade de lixo é eliminada por meio da incineração (72% e 88%, respectivamente). Seu principal problema são as partículas produto da queima do material que, caso não haja uma filtragem extremamente eficiente, pode trazer sérios danos tanto à saúde humana quanto ao ambiente exposto a esse resíduo. Por isso, para recorrer a este processo deve se esgotar todas as alternativas anteriores.
Por fim, como alternativa de destinação dos resíduos temos a coleta seletiva do lixo, que consiste na separação e recolhimento dos resíduos descartados por empresas e pessoas. Desta forma, os materiais que podem ser reciclados são separados do lixo orgânico. Talvez essa seja o processo mais conhecido entre os brasileiros.
Existem diversas indústrias que reutilizam os resíduos descartados para a fabricação de novas matérias primas, como é o caso do aço e do alumínio.
Todas essas alternativas são meios viáveis para que o lixo disposto em aterros sanitários seja o menor possível, já que a construção de um aterro depende de técnicas de engenharia (impermeabilidade do solo, por exemplo) e normas a serem seguidas para implantação.
“Esse espaço tem vida útil de apenas 20 anos e deve ser monitorado pela CETESB durante 50 anos após o fechamento, uma vez que sempre será um passivo ambiental e uma área potencialmente instável”, afirma Luciana Barreiro.
A existência de uma nova lei que regule a destinação e disposição final do lixo é um importante passo para a resolução do acúmulo de resíduos e contaminação de áreas ambientalmente importantes para nossa qualidade de vida. Mas também, a conscientização da população em separar o lixo da maneira correta viabiliza a redução. O que se espera é uma cobrança dessa lei para que os municípios se enquadrem às novas regras. Deve-se haver subsídios técnicos e financeiros para os que buscam se adequarem a esse novo dispositivo legal.

Fonte: Guapuruvu.