Combate à corrupção: A difícil tarefa de explicar o óbvio…
Somando os governos Lula e Dilma, foram 2.226 operações da Polícia Federal contra crimes do colarinho branco, contra apenas 48 operações na era FHC.
Robson Leite, via Carta Maior
Meu querido companheiro e amigo Juarez Guimarães, professor da UFMG, conta uma interessante e pedagógica história que ajuda muito na leitura e compreensão do atual momento em que vivemos no país: “imagine uma casa muito antiga – do início do século passado – que nunca sofreu qualquer tipo de limpeza, reforma ou dedetização. Ao ser vendida, o novo dono decide fazer uma faxina geral e uma dedetização em todos os cômodos dessa casa. Com essa ação, surgem centenas de ratos, baratas, aranhas e cupins para tudo que é lado, passando a sensação de que a casa está mais suja e infestada de insetos e bichos do que antes. Claro que se trata de uma falsa impressão, pois na verdade o que se está fazendo é uma limpeza de verdade, como nunca fora feita nos quase 200 anos de existência daquela casa”. Essa história retrata bem o que acontece hoje em nosso país. Porém, infelizmente, boa parte da nossa sociedade, influenciada por um setor da mídia que deseja desgastar o governo de qualquer maneira, acredita que o país esteja mais corrupto, quando na verdade o que se está fazendo é um combate efetivo à corrupção como nunca se viu em nossa história.
Vamos analisar, por exemplo, o recente caso de corrupção cometido por alguns servidores da Petrobras. Esse caso foi descoberto por mais uma operação da Polícia Federal que, assim como nos últimos 12 anos, atuou de maneira independente e autônoma. É evidente que essa condição é mais do que uma obrigação em um estado democrático de direito, uma vez que o combate efetivo à corrupção se dá nesses princípios, mas o problema é que em um passado não muito distante, mais precisamente no governo FHC, não era assim; basta lembrar os diversos casos de corrupção daquele período em que a Polícia Federal não agia, já que os delegados responsáveis pela investigação, quando desagradavam os “interesses do governo”, eram “transferidos compulsoriamente” para outros estados.
A mudança de postura da Polícia Federal, que acabou se tornando uma marca dos dois últimos governos no que tange o combate à corrupção, refletem-se nos números: foram mais de mil operações contra os chamados “crimes do colarinho branco” apurados pela Polícia Federal só no Governo Lula (somando os governos Lula e Dilma foram 2.226 operações!) contra apenas 48 operações na era FHC. Detalhe importante: nenhuma dessas investigações da era Tucana foi contra o governo, já que todas as denúncias daquela época (e eram muitas) foram arquivadas pelo procurador-geral da República – que chegou a ganhar o apelido de “engavetador-geral da República”. Triste página da nossa história que só colaborou com o aumento da impunidade.
Também cabe destacar, dentro desse contexto, que todos os casos de corrupção até agora descobertos pela Polícia Federal tem origem no financiamento empresarial das campanhas políticas. O que soa estranho é que raramente encontramos editoriais dos grandes jornais pautando a proibição do financiamento privado de campanhas ou sugerindo uma reforma política que enfrente esse assunto. A própria proposta da Coalização Democrática, elaborada pela OAB e que traz significativos avanços na legislação eleitoral, não encontra espaço nesse debate dentro dos grandes jornais. Será que o mesmo grande capital privado que financia campanhas, amarrando compromissos políticos, também não financia os grandes jornais e redes de tevê e rádio de forma a impedir ou deturpar o debate sobre o financiamento público de campanhas e até de outros temas? Neste caso, é exemplar a história sobre a lista com milhares de milionários brasileiros que têm contas na Suíça e que não recebeu nenhuma atenção por parte da dita grande imprensa brasileira.
Há outro elemento na questão do combate à corrupção que não pode ficar de fora dessa análise e que é muito bem exemplificado em uma situação bastante curiosa que aconteceu recentemente comigo. Ao pegar um táxi no centro da cidade há alguns dias, o motorista reclamou sistematicamente da “corrupção generalizada do atual governo”. Era contundente e duro dizendo que “todos os limites éticos foram superados”. O curioso foi que ele fazia esses comentários ao mesmo tempo em que trafegava pelo acostamento, fechava os demais veículos mudando de faixa e chegou ao cúmulo de, no final da viagem, perguntar “se eu queria recibo e qual o valor que ele deveria preencher no mesmo”. Evidentemente que eu respondi para ele colocar o valor exato do taxímetro, pois eu, assim como ele, não tolerava nenhum tipo de desvio ético. Esse exemplo que eu trago é para mostrar também que a corrupção, agora descoberta e pela primeira vez combatida efetivamente pelos dois últimos governos, não é restrita aos agentes públicos. Ela está inserida na sociedade.
Precisamos ser intolerantes com a corrupção como um todo! Jogar fora os equivocados princípios do terrível dito popular que diz: “farinha pouca, meu pirão primeiro”; precisamos refletir sobre o nosso papel como cidadãos, que vai desde a educação dos nossos filhos, passando pela relação que estabelecemos com os nossos vizinhos e chegando, inclusive, à nossa postura profissional em nossos empregos. Devemos fazer como dizia Gandhi: “ser a mudança que queremos no mundo”, e isso vale tanto para as coisas mais simples do cotidiano como as maiores e mais complexas na organização de uma sociedade.
Robson Leite é funcionário concursado da Petrobras, tendo sido deputado estadual pelo PT do Rio de 2011 a janeiro de 2014 e autor da Emenda à Constituição do Estado do Rio de Janeiro que garante o ficha limpa para todos os cargos de livre-nomeação e para todos os conselheiros do TCE/RJ.