quarta-feira, 3 de julho de 2019

Deltan já defendeu o que agora ele condena

Conversas revelam que Deltan já defendeu 'vazamentos' na mídia

Yahoo Notícias
Novas mensagens apontam que Deltan, antes de ser alvo de vazamentos, era favorável à divulgação na mídia de informações obtidas ilegalmente (Foto: HEULER ANDREY/AFP/Getty Images)

RESUMO DA NOTÍCIA

  • Novas mensagens divulgadas apontam que Deltan foi, por diversas vezes, favorável à divulgação na mídia de informações vazadas
  • Desta vez no alvo, coordenador da operação Lava Jato afirma ser vítima de “ataque gravíssimo por parte de um criminoso”

ROLE PARA BAIXO PARA CONTINUAR LENDO

Anúncio
MEI, abra sua conta pelo App Net Empresa
Novos trechos de conversas divulgadas pelo The Intercept Brasil, neste sábado (22), revelam que Deltan Dallagnol e outros procuradores do MPF (Ministério Público Federal) concordaram e defenderam a publicação na mídia de vazamentos de informações sigilosas ou obtidas ilegalmente.
Desde que vieram à tona as primeiras mensagens entre o então juiz Sergio Moro e procuradores indicando possível interferência do agora ministro na operação Lava Jato, as manifestações públicas de Deltan são de que ele e os procuradores, assim como a operação em si, são vítimas de um “ataque gravíssimo por parte de um criminoso”.

Leia também

Mensagens enviadas via Telegram num chat chamado “PF-MPF Lava Jato 2”, no entanto, apontam que em novembro de 2015 Deltan alertou seus colegas que seria “praticamente impossível” investigar pela via judicial jornalistas que tenham publicado material vazado. Na ocasião, eram discutidas no grupo medidas para coibir vazamentos de informações da força-tarefa, classificados por alguns como “muito prejudiciais”.
Já em maio de 2018, Deltan escreveu que “Autoridades Públicas estão sujeitas a críticas e tem uma esfera de privacidade menor do que o cidadão que não é pessoa pública.” Desta vez, a conversa ocorreu no chat chamado “Liberdade de expressão CF”.
17:15:22 Deltan: “Autoridades Públicas estão sujeitas a críticas e tem uma esfera de privacidade menor do que o cidadão que não é pessoa pública.”
Esse grupo foi criado pelos procuradores para redigirem um manifesto - publicado aqui - em defesa das virtudes da liberdade de expressão após um dos procuradores ser ameaçado de punição por ter publicado um artigo com duras críticas à Justiça Eleitoral.
Deltan também já defendeu a prevalência do interesse público “quando há o conflito entre o direito à privacidade e o direito à informação sobre crime grave”. Em março de 2016, ele compartilhou no Twitter uma análise René Dotti favorável à decisão de Moro de tornar públicas gravações telefônicas do ex-presidente Lula com a então presidente Dilma Rousseff.

OUTROS PROCURADORES

Em janeiro de 2017, os procuradores lamentaram o fato do Brasil caído no ranking de percepção da corrupção, publicado pela Transparência Internacional, e expressaram admiração pela Dinamarca, que lidera o ranking.
Num chat no Telegram chamado "BD", a procuradora Monique Cheker - que não pertence à Lava Jato em Curitiba - detalhou que um dos pontos favoráveis praticados pela Dinamarca no combate à corrupção é a proteção e valorização das fontes que expõe corrupção, os chamados whistle-blowers.
  • 08:21:39 Aqui
  • 08:33:49 Livia TinocoInfelizmente, estamos muito, muito longe do modelo da Dinamarca
  • 08:43:25 Monique “Many companies also make use of so- called “whistle-blower” systems that have become very popular in Denmark”.
  • 08:44:07 Enquanto aqui no Brasil há “complexa” discussão se o delator é imoral ou não.
Após os vazamentos envolvendo Moro, Deltan e procuradores Lava Jato, Monique afirmou, pelo Twitter, que os diálogos divulgados foram distorcidos” e classificou as reportagens do The Intecept Brasil como “desleal ou antiético”.

EPISÓDIOS ANTERIORES DO VAZAMENTO

Procuradora deixa caso Lula após 48h da crítica de Moro

procuradora do MPF Laura Tessler foi afastada do processo do triplex de Guarujá, que resultou na condenação do ex-presidente Lula, 48 horas depois da crítica feita por Sergio Moro a Dallagnol.
Em novo trecho de novo vazamento, divulgado nesta quinta-feira (20), mensagens trocadas pelo Telegram entre Deltan e o procurador Carlos Fernando, no dia 13 de março de 2017, apontam que a escala do MPF foi alterada para retirar Laura do processo específico do triplex após Moro criticar seu desempenho em inquirições de audiências. Sabatinado no Senado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) na quarta-feira, o ministro da Justiça negou interferência.

FHC - Mitigar apoio importante

Mensagens trocadas entre Sergio Moro e Deltan Dallagnol, divulgadas pelo The Intercept Brasil nesta terça-feira (18), apontam que o ministro repreendeu as investigações contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pois “não queria perder o apoio”.
O diálogo teria acontecido logo após o Jornal Nacional veicular, em 13 de abril de 2017, uma reportagem de suspeitas contra o tucano. O então juiz questionou Dallagnol sobre a seriedade das “acusações".
O procurador teria afirmado que a Lava Jato não levou em consideração a prescrição para demonstrar “passar um recado de imparcialidade". Na época, a operação era criticada por investigar apenas membros do PT envolvidos no esquema de corrupção.
“Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante", responde Moro.
As denúncias de FHC seriam referentes a um suposto Caixa 2 em 1996.

Leia também

Interesse da MPF em FHC veio de sugestão

A reportagem também mostra que o interesse de envolver alguém do PSDB e, assim, apaziguar os críticos surgiu cedo na Lava Jato. Em conversa no dia 17 de novembro de 2017, o procurador Roberto Pozzobon utilizou um grupo do Telegram Chamado FT MPF Curitiba 2 para sugerir uma investigação de pagamentos da Odebrecht aos institutos de Lula e FHC.
O procurador ainda compartilhou um laudo da Polícia Federal daquele mesmo ano, pagamentos mensais feitos pela Odebrecht ao iFHC entre dezembro de 2011 e 2012. A soma era de R$ 975 mil.
A série de reportagens do ‘Intercept’ começou no dia 9 de junho, um domingo. Na primeira leva de matérias, o site divulgou uma série de mensagens trocadas entre Moro e Dallagnol.

‘Pequena parte' de um 'arquivo gigantesco’

O editor-executivo do portal de notícias The Intercept Brasil Leandro Demori afirmou, nesta segunda-feira, que o material ao qual a equipe teve acesso é ‘uma pequena parte’ de um ‘arquivo gigantesco’. O documento acessado pela equipe revelaria uma suposta ‘colaboração proibida’ entre o então juiz federal, Sérgio Moro, e procuradores da força tarefa da Lava-Jato.

Nessa primeira leva, as acusações contra Moro ficaram por conta de um suposto direcionamento que ele dá para a Lava Jato internamente. Entre outros, o portal apresenta mensagens que mostrariam que Dallagnol duvidada de provas contra Lula, além de colaboração proibida do então juiz com o procurador.
Mais tarde, em 14 de junho, o ‘Intercept’ seguiu suas publicações com mais material contra Moro. Nas novas mensagens divulgadas, há um diálogo horas depois do primeiro depoimento prestado por Lula à Lava Jato.
Neste diálogo, Moro teria proposto ao Ministério Público a publicação de uma nota à imprensa. Nela, haveria conteúdo que esclarecesse o que Moro chama de “contradições” do ex-presidente, no que ele se refere como um “showzinho” da imprensa.

“Vem muito mais por aí”

Em entrevista exclusiva ao Yahoo, o jornalista Glenn Greenwald afirmou que os conteúdos divulgados até então eram “apenas o começo”.
Moro não pode dizer que a reputação dele foi destruída. Mas a aprovação dele caiu dez pontos e ainda vem muito mais coisa por aí, a máscara dele [Moro] vai ser derrubada”, afirmou o jornalista na oportunidade.

Para defesa de Lula, mensagens são “prato cheio”

A divulgação das mensagens pelo ‘Intercept’ abriu um novo flanco para a defesa de Lula tentar reverter um histórico de derrotas em tentativas de anulação de processos contra o ex-presidente.
As conversas divulgadas fizeram a Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) desengavetar um pedido dos advogados de Lula pela anulação do processo do tríplex em Guarujá (SP), que levou o petista à prisão.
A solicitação da defesa foi feita sob o argumento de suspeitas na isenção de Moro após ele ter se tornado ministro do governo Jair Bolsonaro. Em dezembro passado, o ministro Gilmar Mendes (STF) havia pedido vista da ação, mas recolocou em pauta na última semana. A análise do caso está marcada para dia 25 de junho.

Principal base de Bolsonaro, evangélicos estão ‘100% com Moro’

Na última quarta (12), cerca de 30 parlamentares evangélicos se encontraram com Moro e fizeram uma oração para abençoá-lo, como contou o Marco Feliciano (Pode-SP), líder da bancada evangélica na Câmara.
“Fizemos uma oração e abençoamos a vida dele. Pedimos que Deus dê tranquilidade ao ministro”, diz o parlamentar.
O deputado esteve em comitiva, ao lado de Bolsonaro e Moro, que viajou até Belém (PA) na quinta (13) para participar da celebração dos 108 anos da Assembleia de Deus no Brasil.
Lá, Feliciano afirma que Moro foi “ovacionado”.

Moro sobre vazamentos: ‘sensacionalismo’

O ministro da Justiça e Segurança pública, Sergio Moro, foi ouvido, nesta quarta-feira, durante uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. O ex-juiz afirmou que os supostos diálogos revelados pelo The Intercept Brazil constituem um ataque "sensacionalista”, por seu trabalho à frente da Operação Lava-Jato.

Leia também