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A Era dos Coletivos de Solidão
Estamos às portas de uma era não relacional em que os atributos que definem grupos de população são naturalizados e separados entre si de modo a não ser visível a relação que há entre eles. Criam-se assim segregações que não se tomam como tal e antes parecem o resultado natural de diferenças que não suscitam outro sentimento que não o da indiferença. Assim, diferenças e hierarquias, que até há pouco eram consideradas chocantes e revoltantes, tendem hoje a ser percebidas como triviais e até aceitáveis porque expressão de características inatas em relação às quais a sociedade pouco pode fazer. Por exemplo, a concentração da riqueza aumentou escandalosamente nas últimas quatro décadas e a ostentação da riqueza convive indiferentemente com a mais abjeta pobreza. Por sua vez, as discriminações por motivos raciais, sexuais, religiosos ou outros ganham crescente aceitação entre públicos insensíveis às lutas dos movimentos anti-racistas, anti-sexistas, anti-homofóbicos, anti-fundamentalistas, os mesmos públicos que estão sempre disponíveis para ignorar ativamente as conquistas contra a discriminação que esses movimentos têm obtido. Assim, quem é rico merece ser rico porque tem as qualidades para o ser, tal como quem é pobre merece ser pobre por não ter as qualidades necessárias para deixar de o ser. Na construção deste modelo civilizatório estão envolvidos vários processos. Muitos dos quais parecem nada ter a ver com ele.
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