DIFERENÇA ENTRE ENSINAR E EDUCAR - E UM PERFIL DA EDUCAÇÃO SECULAR E CRISTÃ NO BRASIL
Origem das palavras
A palavra educar vem do latim educare, por sua vez ligada a educere, verbo composto do prefixo ex (fora) + ducere (conduzir, levar), e significa literalmente “conduzir para fora”, ou seja, preparar o indivíduo para o mundo.
É interessante observar que o termo “educação” em português possui uma conotação não encontrada na palavra education do inglês. Enquanto que em português a palavra pode ser associada ao sentido de boas maneiras, principalmente no adjetivo “educado”, em inglês educated refere-se unicamente ao grau de instrução formal.
Educar, segundo o Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis, “ formar a inteligência, o coração e o espírito. O indivíduo educado, além de estar instruído, ensinado, é identificado como alguém delicado e cortês. Portanto, receber o ensino e o conhecimento pode dar a uma pessoa a capacidade de desenvolver e até absorver diversas atividades, conduzindo-a a realização profissional e também pessoal, porém o caráter pessoal associado à ética, a moral e aos bons costumes demonstrar-se-á através das ações se recebido e praticado a boa educação. Na interpretação do professor Rubem Alves, “educar não é ensinar respostas, educar é ensinar a pensar.”
Ensinar deriva da palavra ensignar.
Ensinar é repassar (a alguém) ensinamentos sobre (algo) ou sobre como fazer (algo); doutrinar, lecionar. 1.1. p. ext. transmitir experiência prática a; instruir (alguém) por meio de exemplos; 1.2. tornar (algo) conhecido, familiar (a alguém); fazer ficar sabendo; 1.3. dar lições a, instruir; 1.4. mostrar a alguém as conseqüências ruins de seus atos; 2. mostrar com precisão, indicar.
Embora a palavra educar também esteja inserida na definição de ensinar e em alguns dicionários, como o respeitado “Houaiss” também compreenda que educar é sinônimo de ensinar, instruir, o ensino apresenta instruções que não obrigatoriamente irão conduzir a uma boa educação. Ratificando este pensamento, o professor ANTUNES DE FRANÇA, mestre em Filosofia, declara:
(...) “educar é: defender o direito à vida, justiça, igualdade social, paz entre as nações; crer na capacidade de todas as pessoas de aprender e de ensinar e de proporcionar meios para que elas sejam melhores do que nós; rejeitar todo tipo de acepção e de preconceitos; promover a pessoa humana por sua essência e excelência; valorizar a caridade, a misericórdia, a compaixão e o senso de empatia; propagar o valor da amizade, da honestidade, da hombridade, da felicidade para todos; desenvolver a crença num mundo melhor, mais justo, igualitário e ético, sem utopismo, paternalismo e conformismo; asseverar coisas, embora a princípio rejeitáveis, mas necessárias para a proteção e a integridade da vida e do interesse coletivo; apregoar o benefício da sociabilidade, da diversidade e da diferença.” (...)
Claramente é evidenciado no filme “O Clube do Imperador” que a inteligência e o conhecimento adquirido das diversas áreas do saber, podem, ou não, ter um resultado benéfico à sociedade. Educar excede o ensinar quando o sentido refere-se à conduta exemplar. O compromisso de transmitir o ensino, por vezes não será suficiente para uma educação satisfatória, exceto haja disciplina regida pela doutrina para coibir a desordem. Infelizmente, o próprio sistema judiciário beneficia quem, comprovadamente, tem mais escolaridade, isto é, quem esteve por mais tempo nas salas de aulas e conseguiu chegar ao nível superior, com um tratamento diferenciado caso venha a ser encarcerado – ainda que o mesmo apresente um grau elevadíssimo de periculosidade. Paradoxalmente, aquele que teve menos oportunidades de estudo e cometido um delito bem menos agravante é passivo de punição mais rigorosa.
Consiste um grande desafio para o verdadeiro professor, ao que ama a profissão e atribui mais importância à qualidade do formando que seu ganho mensal, exercer critérios que vão de encontro à própria política da educação secular, reprovando os inaptos e agindo com imparcialidade.
Em nosso país, os intelectuais e defensores da moralidade e de um ensino compatível com as renomadas Academias do mundo estão assistindo indiferentes aos estímulos do governo em reformular a educação, dando ênfase à quantidade representando o sucesso através dos números em detrimento à qualidade. Certamente ouviremos ao final deste governo a célebre frase: “Nunca houve na história deste país um número tão expressivo de pessoas formadas em nível superior.” No atual sistema educacional, sob a égide dos direitos humanos e assistência dos psicólogos, além da sobrevivência das instituições privadas, o professor que mais reprova é o que menos interessa à administração – independente do motivo. O escritor e conceituado membro da Academia de Letras, Arnaldo Niskier, assistia a uma formatura de jornalistas ao lado do acadêmico Abgar Renaut, ex Secretário de Educação de Minas Gerais, e ficou indignado com a multidão de asneiras, segundo ele, que ouviu daquele que, supostamente, seria o melhor aluno da turma. Fato que inegavelmente aumenta em todas as Cadeiras Universitárias, não somente pela reduzida qualidade intelectual dos alunos, mas, sobretudo pelo desinteresse e talvez desqualificação de alguns do corpo docente.
A máxima empregada no início do filme “O Clube do Imperador” retrata a conseqüência daquela trama e também do cotidiano: “O fim depende do começo.” Caracterizando bem o comprometimento do mestre com os discípulos, formadores e formandos. Na contra mão da Sociedade está, ou deveria estar, a Igreja Cristã no Brasil, ensinando que “Nem todo que diz Senhor, Senhor entrará no reino do céu, mas o que faz a vontade do Pai”. Jesus também ensinou acerca dos fariseus que deveriam fazer o que eles mandavam, mas não em conformidade com as suas obras - certamente as suas obras eram más, embora soubessem o certo. A educação empregada nas igrejas tem por objetivo introduzir a conscientização da responsabilidade que cada um tem de ter uma vida idônea. Assim sendo, o caráter é moldado com base nas Escrituras Sagradas. Adquirindo o padrão preestabelecido por Deus o ser humano busca a comunhão com o seu Criador, na linguagem bíblica, a santificação. Método este, que não podemos afirmar ser utilizado nos chamados colégios cristãos, visto que, na sua grande maioria, precisa se adequar ao sistema educacional secular.
Com o surto de escolas cristãs pelo Brasil, devemos inquirir com mais precisão o que é que faz uma escola cristã diferente das demais. Comecemos com a pergunta, “O que é educação cristã?” Como o nome já indica, educação cristã é aquela educação feita do ponto de vista do cristianismo. Com isto, não podemos referir à simples inclusão no currículo escolar de disciplinas que tratem da Bíblia ou de temas do Cristianismo. Nem ainda contratar professores evangélicos para dar disciplinas regulares de um currículo, nem providenciar para os alunos serviço de capelania, devocionais e cultinhos durante a semana. Assim, escolas cristãs não são simplesmente aquelas ligadas a uma igreja ou denominação, aplicando regras evangélicas de conduta. Todas estas coisas são boas e importantes, mas a escola cristã deve ir além disto.
O ato de educar, como disse o professor Benedito Luciano A. de França, vai além de ensinar simplesmente, “está intrinsecamente associado aos valores, normas, atitudes, ações e procedimentos universalmente válidos, éticos e morais; baseia-se, com efeito, em comportamentos, valores e princípios que visam o aperfeiçoamento da vida e da dignidade do ser humano.” A liderança cristã nesta nação e pedagogos submissos à palavra de Deus tem a grande oportunidade de preparar aqueles que estarão em eminência e criarão ou zelarão por leis para desenvolvimento da pátria. Temos a obrigação de ensinar que a ética, a justiça e a solidariedade podem e devem sobrepujar a corrupção e o senso comum até então estabelecido de que o fim justifique os meios – em se tratando de finalidades anticristãs.
Em concordância com o pensamento do nobre professor e escritor Marcos Tuler, a educação secular, compromissada com a seriedade, ensina que todo ser humano deve ser preparado inteiramente – espírito, alma, corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético e responsabilidade moral, ética e espiritual. Outrossim, ensina que os jovens precisam aprender a elaborar pensamentos autônomos, críticos, e formular os próprios juízos de valores, para decidirem por si mesmos, como agir em diferentes circunstâncias da vida.
A educação cristã, por sua vez, vai além das raias da simples valorização do ente. A Palavra de Deus nos instrui que não devemos pensar apenas em nós mesmos, no que somos, julgamos ou podemos ser. Temos de pensar na valorização do outro – no ser do outro. Não há como ser sem o outro. Todavia, para valorizarmos o outro é necessário nos valorizarmos a nós mesmos. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39).
Outra coisa importante é que o cristão nunca deixa de aprender a ser. Ele está sempre crescendo nesse sentido, porque a aprendizagem da fé está no fato de o crente ser e saber ser uma pessoa em constante busca de seu aperfeiçoamento moral, ético e espiritual.
CONCLUSÃO
Embora a palavra conscientização já tenha se tornado um lugar comum no linguajar acadêmico, ainda é a alavanca que pode içar essa estrutura combalida que é a verdadeira educação no Brasil. Com base nos quatro pilares da educação, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser, compreendemos que profundas mudanças precisam ocorrer, tanto no sistema de ensino secular quanto no cristão.
Certamente, pode levar algum tempo para aceitarmos que só se aprende participando, vivenciando, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos.
A educação cristã, por sua vez, vai além das raias da simples valorização do ente. A Palavra de Deus nos instrui que não devemos pensar apenas em nós mesmos, no que somos, julgamos ou podemos ser. Temos de pensar na valorização do outro – no ser do outro. Não há como ser sem o outro. Todavia, para valorizarmos o outro é necessário nos valorizarmos a nós mesmos. “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.39).
Outra coisa importante é que o cristão nunca deixa de aprender a ser. Ele está sempre crescendo nesse sentido, porque a aprendizagem da fé está no fato de o crente ser e saber ser uma pessoa em constante busca de seu aperfeiçoamento moral, ético e espiritual.
CONCLUSÃO
Embora a palavra conscientização já tenha se tornado um lugar comum no linguajar acadêmico, ainda é a alavanca que pode içar essa estrutura combalida que é a verdadeira educação no Brasil. Com base nos quatro pilares da educação, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros e aprender a ser, compreendemos que profundas mudanças precisam ocorrer, tanto no sistema de ensino secular quanto no cristão.
Certamente, pode levar algum tempo para aceitarmos que só se aprende participando, vivenciando, tomando atitudes diante dos fatos, escolhendo procedimentos para atingir determinados objetivos.
Inquestionavelmente, não se ensina só pelas respostas dadas, mas principalmente pelas experiências proporcionadas, pelos problemas criados, pela ação desencadeada. Exemplos e atitudes que falam mais alto que muitas palavras proferidas pelos orientadores. Desta maneira, o Mestre dos mestres, o Senhor Jesus investiu insistentemente para que o conhecimento transmitido moldasse também o caráter dos discípulos.
Pastor EDNILSON PEDRO SOBRINHO
BIBLIOGRAFIA
HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Editora Objetiva 2001
MICHAELIS, Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, Seleções Ed. Melhoramentos
SEREBRENICK, Salomão. 70 Segredos da Língua Portuguesa. Ed. Bloch – Rio de Janeiro
TEIXEIRA, Gilberto. Professor e Doutor (FEA/USP)
http://pt.wikipedia.org