domingo, 29 de junho de 2014

"Mídia age como partido político"

domingo, 29 de junho de 2014

"Mídia age como partido político"

Por Ricardo Rabelo, no jornal Brasil de Fato:


Fernando Morais é um dos jornalistas mais engajados politicamente no Brasil. Nascido em 1948, na cidade mineira de Mariana, fez carreira em São Paulo atuando nas redações do Jornal da Tarde, da Veja, da Folha de S. Paulo e da TV Cultura. Nessa entrevista, ele confirma que não vai mais escrever biografias. “Dá muito trabalho e pouco dinheiro. Assim que terminar o livro que estou escrevendo sobre o ex-presidente Lula, penduro as chuteiras”, assegura. Fernando fala ainda sobre vários temas: política, governo Dilma, regulação da mídia, marco civil da Internet, espionagem americana e utopias.

Você acha que Dilma fez um bom ou mal governo?

Fez, sim, um ótimo governo. Tenho objeções pontuais com relação à descontinuidade de políticas importantes implantadas por Lula, como a política externa e a democratização da aplicação dos recursos de publicidade das empresas estatais.

A mídia conservadora é desonesta?

Toda generalização é perigosa. Eu diria que muitos veículos da mídia conservadora se converteram em partidos políticos. Disfarçados, mas partidos políticos. Mas acho que devemos tratar de maneira diferente os veículos de papel daqueles que são fruto de concessão pública. Não devemos perder de vista que a imprensa está sempre a serviço dos interesses e da ideologia de quem paga as contas no final do mês. Seja em Washington, em Havana, no Rio ou em Beijing. No caso dos meios eletrônicos de comunicação, como o rádio e a TV, no entanto, é preciso ressaltar que se trata de uma propriedade social, uma concessão pública que não pode, por exemplo, ser colocada a serviço de interesses antinacionais.

O que pensa sobre a regulação da mídia?

Sou e sempre fui a favor. Jornais, revistas e TVs vêm envenenando e confundindo a opinião pública ao associar regulação à censura. Regulação, como existe em outros países, é impedir propriedade cruzada: quem é dono de concessão de TV não pode ser concessionário de rádio nem dono de jornal e revista; é proibir parlamentares e seus parentes de enésimo grau de serem concessionários de rádio e TV; é discutir com a sociedade a renovação das concessões de rádio e TV. Nada de censura.

Como vê a regulação da mídia na Argentina?

O modelo da Argentina foi muito bem sucedido. Lá a Ley de Medios atacou fundo a propriedade cruzada. O império encabeçado pelo jornal Clarín foi obrigado a se desfazer de ativos para continuar sendo concessionário de meios eletrônicos.

A grande imprensa age como quarto poder?

Não. Age como partido político. Meio envergonhada, porque não tem coragem de assumir isso, mas age como partido político. De direita.

O que pode ser feito para incentivar a pequena imprensa?

Primeiro que ela seja boa, legível e que traga notícias que são escamoteadas pela grande imprensa. As medidas implantadas pelo ministro Franklin Martins, no governo Lula, pulverizando as verbas de publicidade estatais entre milhares e milhares de veículos – verbas que antes eram destinadas apenas à mídia conservadora - foram uma transformação importante na democratização das comunicações.

Como viu a espionagem americana revelada recentemente?

A bisbilhotice planetária por parte dos Estados Unidos é mais velha que a Sé de Braga. No final dos anos 90, quando o FBI prendeu cinco cubanos na Flórida, condenando-os a penas enormes (um deles pegou duas perpétuas), Fidel Castro reagiu: “É assombroso que os Estados Unidos, o país que mais espiona no mundo, acusem de espionagem justamente a Cuba, o país mais espionado do mundo. Não há chamada telefônica minha para qualquer dirigente político no exterior que não seja captada e gravada por satélites e sistemas de escuta dos Estados Unidos”.

Qual será o papel de Lula nestas eleições?

A presença de Lula na campanha será importante não só porque ele se converteu na mais expressiva liderança popular do Brasil. O governo Dilma é a continuação do seu governo. Tenho acompanhado o ex-presidente em suas andanças pelo Brasil e pelo mundo, como parte do trabalho de campo de um livro que escreverei sobre ele e seu governo. Nas eleições municipais de 2012 a presença dele em palanques regionais arrebatava multidões e alterava as pesquisas de opinião locais. Ter o apoio de Lula é um handicap (vantagem) cobiçado por todo candidato de esquerda.

Confere que não vai mais escrever biografias?

Confere. Como dizem os tucanos, cansei. Dá muito trabalho e pouco dinheiro – ao contrário do que imagina o Roberto Carlos. Assim que terminar o livro que estou escrevendo sobre o ex-presidente Lula, penduro as chuteiras.

Quais são seus projetos?

Estou desenvolvendo com o cineasta Claudio Kahns um canal internacional de notícias para a internet. Vamos ver se dá certo.

Tem alguma utopia?

A de sempre: a construção do socialismo.

* Leia a entrevista na íntegra no site: www.bafafa.com.br

Mídia, política e poder do voto

domingo, 29 de junho de 2014

Mídia, política e poder do voto

Por Luis Nassif, no Jornal GGN:


Historicamente políticos e jornais sempre disputaram quem era mais autorizado a falar pela opinião pública. É essa competição que explica os conflitos reiterados entre ambos.

Ambos têm interesses próprios – legítimos ou ilegítimos – e lutam com garras e dentes para preservá-los. Ambos dependem de financiadores privados; ambos disputam recursos públicos.

Mas existem diferenças.

Os grupos de mídia buscam o público escolarizado, bancarizado e consumidor, que garante os patrocínios comerciais – porque consumidores – e a influência política – porque abarcando setores influentes da sociedade.

Já para os políticos, cada cidadão é um voto. Portanto, seu público é universal, distribuído por todos os cantos do país.

*****

Tem mais.

A governança de grupos de mídia é autocrática, anacrônica, pré-mercado de capitais.

As grandes sociedades anônimas, embora sob comando de grupos de controle, são obrigadas a prestar contas de seus atos a acionistas minoritários, a autoridades reguladoras do mercado de capitais, do direito econômico. Independentemente do tamanho, os grupos de mídia são fundamentalmente familiares. O processo de decisão é solitário, monárquico.

No Congresso, a governança é negociada. São deputados de todas as partes do país, precisando prestar contas aos seus eleitores (em alguns casos, aos seus financiadores), mas tendo de convencer seus pares. Mesmo os lobistas têm que legitimar publicamente seus argumentos.

*****

No parlamento prevalece a democracia (cada voto um voto) e a ampla discussão; nos grupos de mídia, as decisões individuais e o cuidado de não chocar os leitores – o que os torna agentes do status quo.

Esta semana, o presidente da Câmara Federal, deputado Henrique Alves, ocupou rede nacional para uma prestação de contas. Mereceu notas pequenas nos jornais.

No balanço do ano, Alves divulgou as seguintes votações que representaram avanços civilizatórios importantes:

1. Criação do Plano Nacional de Educação, obrigando o governo federal a destinar 10% do orçamento para a área.

2. Votação do Marco Civil da Internet, assegurando a neutralidade da rede, dificultando a formação de novos monopólios, como existe hoje em dia na radiodifusão.

3. Prorrogação por quinze anos dos incentivos para a indústria de informática.

4. Aprovação das cotas raciais nos concursos para o serviço público.

5. Instituição do piso de R$ 1.014,00 para agentes comunitários de saúde e endemias.

6. Aprovação da Lei Menino Bernardo, para coibir violência doméstica contra crianças.

7. Votação de emenda constitucional que obriga a União, estados e Distrito Federal a garantir a presença de defensores públicos em todas as comarcas.

8. Aprovação do Código de Processo Civil.

*****

Em relação a esses temas , dentre os quatro grandes grupos de mídia, prevalece o entendimento de que qualquer gasto aplicado na melhoria das condições de vida da população subverte as contas fiscais. E que qualquer política que melhore a vida dos excluídos é eleitoreira.

Aí acertaram. Não fosse o interesse eleitoral pelo voto, não fosse o papel libertador do voto, não fosse o direito de voto estendido a analfabetos, esse país ainda seria uma grande fazenda.

Brasil lidera racha polêmico

domingo, 29 de junho de 2014

Brasil lidera racha polêmico sobre novos objetivos do milênio da ONU

Brasil está liderando a oposição contra um objetivo relacionado à governança, justiça e paz
A Organização das Nações Unidas (ONU) está realizando um extenso debate para definir quais serão as novas metas que substituirão os Objetivos do Milênio – e o Brasil está no centro de uma das principais controvérsias desse processo.
Os oito Clique Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram firmados em 2000 com a finalidade principal de reduzir a pobreza mundial. Eles vão desde a eliminação da fome à universalização da educação primária, e se desdobram em metas concretas, como reduzir em dois terços a mortalidade de crianças menores de cinco anos.

O prazo para o cumprimento das metas é 2015 e, por isso, os países já vêm debatendo quais serão os novos objetivos que irão substituí-los.

Dentro desse processo, o Brasil lidera a oposição a um objetivo relacionado à governança, justiça e paz - e conta com o apoio de boa parte dos países em desenvolvimento. Recentemente, a Rússia também se manifestou duramente contra.

Do outro lado, defendendo a inclusão deste objetivo, há um bloco formado, principalmente, por países ricos como as nações da Europa Ocidental, Estados Unidos, Japão e Austrália.

Um oficial da ONU que acompanha de perto o debate disse à BBC Brasil que essa está sendo a discussão mais difícil dentro das negociações para estabelecer os chamados Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

BBC - Brasil

As caras de um dos senhores PSDB

domingo, 29 de junho de 2014

As duas caras de Aécio Neves

Por Antonio de Souza, no blog Viomundo:


O senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência da República, é um camaleão em busca de votos.

Sem convicções realmente democráticas, ele apela apenas ao “marketing político”.

Nos últimos meses, foi possível flagrarmos alguns exemplos desse comportamento.

O mais escrachado foi em decorrência dos xingamentos à presidenta Dilma pelos VIPs do camarote do Itaú na abertura da Copa do Mundo, no Itaquerão, em São Paulo.

Aécio disse: os xingamentos foram a resposta à “arrogância” da presidenta.

Maciçamente a sociedade rechaçou os xingamentos. Foram um tiro no pé da elite brasileiros e de setores reacionários da mídia brasileira.

Aécio, então, provavelmente orientado por seus marqueteiros, repentinamente voltou atrás. Afirmou que críticas não devem “ultrapassar limites do respeito”.

Esse ziguezague mostra bem os dois Aécios: o que caminha junto com a direita brasileira e internacional aquele que, ao perceber o custo político-eleitoral da estratégia, recua.

Isso ficou bem claro anteriormente quando, em encontro com empresários, Aécio disse a Mônica Bérgamo, da Folha de S. Paulo: “estou preparado para [implementar] decisões impopulares”.

Nessa mesmo matéria, Aécio e seu guru econômico, o ex-presidente do Banco Central de FHC, Armínio Fraga, foram muito claros sobre a necessidade de implantar medidas contra a população.

Diante dos ataques de seus adversários, Aécio voltar atrás. Mas de mentira.

Em entrevista recente ao Estadão, Armínio Fraga, que é o coordenador do programa econômico de Aécio, diz que deve ser revista a política para o salário mínimo, reduzindo os seus aumentos, que provocará menor consumo e terá impactos no crescimento do PIB brasileiro.

Armínio Fraga defende também criar um teto para o gasto público e, assim, aumentar o superávit primário e cortar gastos, muito provavelmente nas áreas sociais, como fez no governo Fernando Henrique Cardoso. Além disto, pensa em diminuir o papel dos bancos públicos, reduzindo o crédito e levando o país à recessão.

O fato simbólico de Aécio ter entrado de mãos dadas com FHC na convenção tucana sinaliza bem como será o seu eventual governo: uma continuidade das políticas neoliberais que quase arruinaram o Brasil nos anos 90.

O governo FHC, para quem não se lembra, aumentou brutalmente a carga tributária, não gastou nas áreas sociais, ampliou o desemprego e quebrou três vezes o Brasil.

Portanto, muito diferente do que se vê hoje, em que mesmo enfrentando o sexto ano da maior crise internacional, o Brasil ainda se aproxima do pleno emprego e gera milhões de empregos.

Nesse sentido, que declarações de Aécio que valem?

As primeiras manifestações, claro, e não os recuos, para inglês ver.

Elas expressam com clareza a linha ideológica neoliberal e a prática política do governo FHC, que concorda em transformar a política e as eleições em partida de futebol e aprofundar o clima de ódio que vê nas redes sociais.

É terrível um candidato à presidência achar normal a agressão de baixo calão à sua adversária e sinalizar que nas eleições teremos um vale tudo.

Esta tragédia é reforçada com a nova declaração de Aécio que sinaliza para os partidos da base aliada “sugarem tudo” [de Dilma] e depois passarem a apoiá-lo.

Esta frase mostra que Aécio, sempre querendo parecer como paladino da moralidade, aprova as ações suspeitas e aceita a possível imoralidade com recursos públicos.

Ainda tem dúvida sobre a cara que vai um eventual governo Aécio?

‘Salve o planeta: mate os pássaros’

domingo, 29 de junho de 2014


‘Salve o planeta: mate os pássaros’?

Passarinho que virou 'rojão'
Passarinho que virou 'rojão'






















A frase ‘Salve o planeta: mate os pássaros’ é chocante. Entretanto, está se espalhando nos EUA como uma ironia cheia de fundamento.

Vejamos o que aconteceu, segundo noticiário da Bloomberg:

Os trabalhadores do novíssimo Sistema de Geração de Energia Solar Ivanpah, na Califórnia, passaram a chamar de “rojões” uns objetos que caem do céu soltando fumaça e pequenas chamas. Não são meteoritos nem fragmentos de satélites, mas passarinhos fulminados ou calcinados.

O sistema Ivanpah, no deserto de Mojave, foi inaugurado em fevereiro deste ano (2014) como um projeto de energia alternativa ideal. Ele impressiona por sua extensão e originalidade.

Consiste num conjunto de 300.000 espelhos sistematicamente dispostos numa superfície de 1.416 hectares. Esses espelhos concentram os raios solares em três torres de 140 metros de altura.

Sistema de Geração de Energia Solar Ivanpah, na Califórnia
Sistema de Geração de Energia Solar Ivanpah, na Califórnia
As torres contêm um líquido que quando esquenta movimenta turbinas geradoras de energia. A energia elétrica produzida então pode cobrir as necessidades de 140.000 lares, sem emissão de gases estufas ou outros.

A novidade é promissora e deve- se desejar que se aperfeiçoe e se torne uma alternativa válida em volumes de energia e preço.

Mas, no momento atual, é um teste pioneiro de grandes dimensões e altíssimo custo.

Ivanpah também está servindo para patentear o sistema de “dois pesos e duas medidas” do ambientalismo em matéria de licenciamento ambiental.

Quando se trata de empreendimentos que garantem energia barata e abundante, com tecnologias comprovadas e capazes de impulsionar o desenvolvimento ou a expansão civilizatória, o coro “verde”, de mãos dadas com governos “vermelhos”, inferniza a construção, complicando ao infinito o licenciamento ambiental.

Dois pesos e duas medidas nos critérios de impacto ambiental
Dois pesos e duas medidas nos critérios de impacto ambiental
Veja o drama energético do Brasil por causa dessa infernização: “O Brasil super-rico de potencialidade energética tornar-se-á um ‘sem-energia’?”

Porém, esses critérios parecem ter sido aplicados com extrema leniência e imprevidência no caso de Ivanpah, projeto “verde” e “alternativo”.

Se a causa da morte dos pássaros fosse alguma fornecedora de energia clássica, o estrondo midiático “verde” teria sido universal.

Porém, como a morte dos pássaros se deve a um projeto ambientalista, a cumplicidade do silêncio é também universal!



No caso concreto, o problema é que os objetos luminosos atraem os animais, mas neste caso também os fulminam

Detalhe do Sistema de Geração de Energia Solar Ivanpah
Detalhe do Sistema de Geração de Energia Solar Ivanpah
Diversos estudos apontaram que os insetos são atraídos pela luz brilhante dos espelhos da mesma maneira como vão até a luz na porta da casa ou no jardim.

E muitos pássaros que se alimentam de insetos vão atrás deles – como tentilhões, andorinhas e toutinegras, espécies da região. Por sua vez, aves predatórias como gaviões e falcões vão atrás dos passarinhos.

Uma criança ou um camponês explicaria isto melhor aos autoproclamados arautos salvadores da natureza. Mas esses parecem nunca ter saído de cômodos escritórios e não conhecer muito mais além de seus famosos ‘modelos’ computadorizados da natureza.

Quando os pássaros voam no campo de espelhos, o “fluxo solar” deles, que pode atingir entre 426,67º C 537,38ºC, os torra ou fere gravemente em questão de segundos.

Por vezes os pássaros são incinerados enquanto voam; outras vezes suas plumas são queimadas e eles morrem pelo impacto da queda, ou são devorados por predadores que andam na terra, segundo relatório do National Fish and Wildlife Forensics Laboratory.

Esse relatório diz, por exemplo: “empregados do Ivanpah e do OLE (Office of Law Enforcement, polícia ambiental do United States Fish and Wildlife Service) informaram que em volta da torre e dentro da área da luz solar redirecionada, ‘rojões’ de fumaça aparecem quando algum objeto entra na área... Quando membros do OLE visitamos a planta solar de Ivanpah, observamos muitos eventos ao estilo do rojão... Membros da equipe OLE observaram pássaros entrando no “fluxo solar” e pegando fogo, e em consequência virando ‘rojões’”.

Na ocasião, foi registrado um ‘rojão’ em cada dois minutos.

O relatório também menciona outras estações de energia solar da Califórnia que não usam esses espelhos, mas os mais conhecidos paneis solares.

Não é Meca no sentido muçulmano, mas sim no sentido ambientalista: critérios 'sagrados' passam por cima dos 'princípios' ambientalistas
Não é Meca no sentido muçulmano, mas sim no sentido ambientalista:
critérios 'sagrados' passam por cima dos 'princípios' ambientais
Também ali os pássaros são atraídos pelos paneis, como fazem em inúmeras casas e prédios. Mas só em Ivanpah eles entram em ignição em pleno voo.

A NRG Energy Inc., que opera Ivanpah, tentou minimizar os fenômenos dizendo que a instalação é nova e que a empresa precisa coletar mais ocorrências para formular sua defesa. Antes disso seria prematuro opinar.

No caso das geradoras de energia tradicional, como Belo Monte, tem que demonstrar a priori que não produzirão danos ambientais.

Neste caso, que morram os pássaros. O dogma verde quer que as “energias alternativas” prevaleçam, ainda que morram os pássaros e os humanos fiquem sem eletricidade, aconteça o que acontecer.

Os 800 anos de Língua Portuguesa

800 anos da Língua Portuguesa

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Queremos festejar esses oito séculos da nossa língua, a língua do mar, a língua da gente, uma grande língua da globalização.
A língua que falamos não é apenas comunicação ou forma de fazer um negócio. Também é. Mas é muito mais.
É uma forma de sentir e de lembrar; um registo, arca de muitas memórias; um modo de pensar, uma maneira de ser – e de dizer. É espaço de cultura, mar de muitas culturas, um traço de união, uma ligação. É passado e é futuro; é história. É poesia e discurso, sussurro e murmúrios, segredos, gritaria, declamação, conversa, bate-papo, discussão e debate, palestra, comércio, conto e romance, imagem, filosofia, ensaio, ciência, oração, música e canção, até silêncio. É um abraço. É raiz e é caminho. É horizonte, passado e destino.
Na era da globalização, falar português, uma das grandes línguas globais do planeta, que partilha e põe em comum culturas da Europa, das Américas, de África e da Ásia e Oceânia, com centenas de milhões de falantes em todos os continentes, é um imenso património e um poderoso veículo de união e progresso.
Em 27 de Junho de 2014, passam oitocentos anos sobre o mais antigo documento oficial conhecido em língua portuguesa, a nível de Estado – o mais antigo documento régio na nossa língua, o testamento do terceiro rei de Portugal, Dom Afonso II.
Neste dia, queremos festejar esses oito séculos da nossa língua, a língua do mar, a língua da gente, uma grande língua da globalização. Fazêmo-lo centrados nesse dia e ao longo de um ano, para festejar com o mundo inteiro esta nossa língua: a terceira língua do Ocidente, uma língua em crescimento em todos os continentes, uma das mais faladas do mundo, a língua mais usada no Hemisfério Sul. Celebramos o futuro.
Em qualquer lugar onde se fala Português, 27 de Junho de 2014
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terça-feira, 24 de junho de 2014

a “ciência bizarra” ajudou a melhorar o mundo

10 provas de como a “ciência bizarra” ajudou a melhorar o mundo

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Posted: 23 Jun 2014 01:00 PM PDT

A ciência amadora parece não ter muita credibilidade na comunidade científica, mas a verdade é que ela tem seus méritos e realmente já ajudou o mundo Continua...
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Posted: 23 Jun 2014 12:00 PM PDT

Esse vídeo em time-lapse de 360 graus foi criado pelo fotógrafo Vincent Brady. Parece que tempo e espaço se dobram nessas imagens panorâmicas da Terra Continua...
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Posted: 23 Jun 2014 11:00 AM PDT

Um novo estudo da Universidade Yale (EUA) curou um homem de alopecia universalis, fazendo crescer novamente cabelo e pelo por todo o seu corpo depois de tomar um remédio para artrite Continua...
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Posted: 23 Jun 2014 10:00 AM PDT

Cientistas mostraram, pela primeira vez, que dois fótons que viajam no tempo iriam interagir, sugerindo que, pelo menos em um nível quântico, saltar ao longo do tempo pode ser possível Continua...
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Posted: 23 Jun 2014 09:00 AM PDT

Se tem uma coisa que agradecemos imensamente por ter sido descoberta, essa coisa é a anestesia. O problema é que os cientistas não estão inteiramente certos de como ela funciona – e só vão descobrir quando entenderem a própria consciência humana Continua...
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Posted: 23 Jun 2014 08:00 AM PDT
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sexta-feira, 20 de junho de 2014

Procura-se Deus

Procura-se Deus

Em pleno século 21, a humanidade continua tentando conciliar fé e razão. Mas será que algum dia a ciência terá condições de provar que foi mesmo Deus (ou alguma outra entidade superior) quem criou o Universo e determinou os rumos da evolução?

por Texto Rodrigo Cavalcante
O zoólogo Richard Dawkins e o paleontólogo Simon Conway Morris têm muito em comum: lecionam nas mais prestigiadas universidades da Grã-Bretanha (Dawkins em Oxford e Morris em Cambridge) e compartilham opiniões e crenças científicas quando o tema é a origem da vida. Para ambos, a riqueza da biosfera na Terra é explicada mais do que satisfatoriamente pela teoria da seleção natural, de Charles Darwin. Os dois também concordam que, caso a história do nosso planeta pudesse ser reproduzida em outro lugar, a evolução provavelmente seguiria um rumo bem parecido ao observado por aqui, inclusive com o aparecimento de animais de sangue quente, como nós. Num encontro realizado na Universidade de Cambridge em outubro, porém, eles protagonizaram um novo round de um debate que divide a humanidade desde que o mundo é mundo: Deus existe? Morris, cristão convicto, afirmou na palestra promovida pela Fundação John Templeton (cuja missão é “explorar as fronteiras entre teologia e ciência”) que a “misteriosa habilidade” da natureza para convergir em criaturas morais e adoráveis como os seres humanos é uma prova de que o processo evolutivo é obra de Deus. Já o agnóstico Dawkins disse que o poder criativo da evolução reforçou sua convicção de que vivemos num mundo puramente material. O debate entre Dawkins e Morris, como já foi dito, não é novo, longe disso. De um lado, é óbvio que sempre haverá bilhões de pessoas que acreditam em Deus. Ao mesmo tempo, dificilmente vamos viver para comprovar Sua existência (ou inexistência). Entender alguns laços que unem ciência e religião e mostrar como essa relação vem mudando ao longo dos tempos é o tema desta reportagem.
Durante muitos séculos, Deus (e só Ele) foi apresentado como o principal responsável pelo sucesso da aventura humana sobre o planeta – nas artes, nos livros, nas escolas e nas igrejas. Até que a ciência começou a mostrar que isso não era necessariamente verdade. Na década de 1860, a teoria da seleção natural e da evolução das espécies, de Charles Darwin, lançou as primeiras dúvidas consistentes acerca da influência divina sobre a ordem da vida na Terra. Com o passar dos anos, mais e mais pesquisadores passaram a defender que o destino da humanidade era abandonar gradativamente a fé e a religião em nome da crença em explicações “objetivas” para os fenômenos naturais. “No fim do século 19, os cientistas acreditavam estar muito próximos de uma descricão completa e definitiva do Universo”, escreveu o físico britânico Stephen Hawking.
No século 20, Nietzsche, Marx, Freud, Sartre e outros chegaram a apostar na “morte” de Deus e no início de uma “era da razão”. Não é preciso ser um especialista para saber que esse triunfo não se concretizou. Ao contrário. O que se observa hoje é uma revalorização da fé, inclusive entre os cientistas, como Simon Morris. “Ao longo da história, a relação do homem com o sagrado tem se mostrado um traço extremamente persistente”, diz Oswaldo Giacoia Júnior, professor de história da filosofia moderna e contemporânea da Universidade Estadual de Campinas, a Unicamp. “Nos regimes socialistas em que a religião era proibida as pessoas substituíam a fé por uma ideologia.”
Cabe, então, à ciência provar a existência de Deus? O paleontólogo americano Stephen Jay Gould acredita que nenhuma teoria (nem mesmo a da evolução) pode ser vista como uma ameaça às crenças religiosas, “porque essas duas grandes ferramentas da compreensão humana trabalham de forma complementar, e não oposta: a ciência para explicar os fenômenos naturais e a religião como pilar dos valores éticos e da busca por um sentido espiritual para a vida”. É por pensar assim que ele sempre se colocou do lado dos pesquisadores que são contra misturar ciência com religião (leia mais no quadro da página ao lado).
Quem é Deus?
O cabelo e a barba grisalhos denunciam a idade, mas o corpo é forte e musculoso. Os traços da face transmitem a autoridade de quem não hesitará em agir sobre o mundo caso seja necessário. Para bilhões de ocidentais, a pintura de Michelangelo no teto da capela Sistina, no Vaticano, é a síntese perfeita de Iavé, o Deus bíblico, aquele que “criou tudo em 6 dias”. Como diz o escritor americano e ex-jesuíta Jack Miles, autor de Deus, uma Biografia, mesmo quem não acredita continua moldando seu caráter por influência dessa imagem. Miles faz uma análise surpreendente da Bíblia, ao tratar de Deus como um personagem literário. O resultado é que, como protagonista do livro mais influente da história, Iavé revela uma personalidade que oscila bastante em relação à sua criação – como no momento em que ordena o dilúvio, para tentar “consertar” tudo.
Mas esse Deus é apenas uma entre inúmeras concepções de divindades. Não há sequer consenso em torno do número de deuses. Para mais de 750 milhões de hindus, existem centenas deles, como Brahma, Shiva e Krishna, para ficar nos mais conhecidos. Em rituais xamânicos de origem indígena, os deuses incorporam até em plantas e animais. E para mais de 350 milhões de seguidores do budismo, não há sequer uma divindade a cultuar – apenas Buda, um homem que atingiu a iluminação e virou guia espiritual. Como, então, a ciência pode encontrar Deus?
Apesar disso, os estudiosos sabem que há algo em comum entre essas crenças. Sem exceção, elas acreditam que há uma ordem, uma espécie de propósito (ou, se você preferir, sentido) no Universo. Nenhuma religião trabalha com o pressuposto de que o acaso e a indiferença regem as nossas vidas. Curiosamente, foi a busca por essa ordem que acabou impulsionando o avanço da própria ciência.
Da geometria ao acaso
No século 18, a maioria dos filósofos e cientistas acreditava piamente que a humanidade estava prestes a decifrar (integral e definitivamente) a ordem do Cosmos. Na época, havia motivos de sobra para tamanho otimismo: fazia mais de 100 anos que Isaac Newton publicara Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, considerada até hoje a obra mais importante da história da física. Nela, Newton não apenas descreveu como os corpos se deslocam no espaço e no tempo, mas desenvolveu a complexa matemática necessária para analisar esses movimentos. Segundo essa teoria, as leis do Universo eram estáveis e previsíveis, como se tivessem sido projetadas por um craque da geometria. Em 1794, o escritor, poeta e artista plástico inglês William Blake resumiu essa idéia ao desenhar Deus (um velho barbudo, como o de Michelangelo) criando o mundo com um compasso na mão. “A metáfora do Deus geômetra deriva da velha idéia platônica de um Universo dualista, em que há a necessidade de existir uma ordem, mas continua influenciando a ciência até hoje”, diz o brasileiro Marcelo Gleiser, autor de O Fim da Terra e do Céu e professor de física e astronomia da Faculdade de Dartmouth, nos EUA.
A imagem de Deus, nesse sentido, era perfeitamente compatível com a visão científica do mundo da época. Os problemas só surgiam quando alguém tentava juntar as mais recentes descobertas da ciência com a história bíblica da Criação. Afinal, o estudo das camadas geológicas que formaram a Terra já provava que nosso planeta tinha milhões de anos – e não 5 mil, de acordo com os cálculos de Santo Agostinho. Mas bastava esquecer “detalhes” como esse para que todos fossem dormir felizes, conscientes de que o Universo tinha sido mesmo obra do Criador. Até que...
Se havia uma ordem no Universo, nada mais natural que ela comandasse todas as forças da natureza. E o homem, é claro, era visto como o exemplo máximo da perfeição da vida sobre a Terra. Mas Charles Darwin apresentou sua teoria sobre a seleção natural das espécies e colocou em xeque a idéia de que Deus era o responsável por tudo isso que está aí. Vale lembrar que Darwin nunca disse que o homem descendia dos macacos – apenas que homens e macacos eram parentes evolutivos com um ancestral comum (os paleantropólogos estimam, hoje, que esse “tataravô” viveu em algum momento entre 4 milhões e 6 milhões de anos atrás). Ainda assim, muita gente não aceitou a idéia de que as espécies vivas, incluindo a nossa, possam ter se desenvolvido graças apenas à seleção natural, tendo evoluído quase por acaso em meio a tantas outras espécies. O fato é que o estudo da história da vida em nosso planeta comprovou que, durante milhões de anos, outras espécies reinaram por aqui sem que houvesse nenhuma necessidade da existência dos homens. Como bem resume o cientista americano Carl Sagan no seriado de televisão Cosmos, recentemente relançado em DVD pela super, se a história do Universo fosse condensada em apenas um ano, o aparecimento da espécie humana teria ocorrido nos últimos instantes do dia 31 de dezembro.
E o avanço da física deixou claro que, se o Universo fosse um relógio, nem sequer o tempo marcado por ele seria preciso. Em 1905, Albert Einstein publicou seu estudo da Teoria da Relatividade que, resumidamente, pôs fim à idéia de tempo absoluto. A estabilidade perfeita das leis de Newton começou a se despedaçar para sempre. Logo em seguida, o estudo da mecânica quântica revelou que não é possível sequer prever a posição exata de partículas subatômicas, obrigando os cientistas a se contentar em trabalhar com probabilidades. Apesar de ter ajudado a destruir a velha noção de ordem no espaço e no tempo, Einstein acreditava cegamente que a natureza funcionava (ou deveria funcionar) segundo regras bem definidas – e não de maneira aleatória, como num grande jogo de azar. Numa carta para o físico Max Born, Einstein escreveu: “Você crê em um Deus que joga dados e eu, na lei e na ordem absolutas.” Se para um cientista como Albert Einstein não era fácil lidar com o acaso e o caos, imagine para os que acreditam na religião.
Do ponto de vista da física pura, porém, é importante ressaltar que todo esse papo de criação do Universo tem pouca (ou nenhuma) importância. Não fosse pela descoberta da teoria do big-bang (segundo a qual ele surgiu após uma grande explosão), nem sequer haveria a necessidade de provar que houve uma “hora zero”, afinal o tempo e o espaço são mesmo relativos, não é mesmo? Curiosamente, o big-bang passou a ser considerado por muitos fiéis a “evidência científica” de que a Bíblia está certa ao descrever o “início de tudo”. Talvez para tentar explicar a incompatibilidade existente entre a física das partículas subatômicas e a Teoria da Relatividade, muitos pesquisadores têm discutido atualmente a chamada Teoria das Supercordas, que propõe uma explicação unificada capaz de preencher essas lacunas. “De qualquer maneira, essa tese é mais um desejo de encontrar uma ordem do que algo validado cientificamente”, diz o físico Marcelo Gleiser.
E se a ciência conseguisse achar essa tal ordem no Universo, será que isso seria a prova da existência de Deus? Ou será que a busca pelo divino não passa de uma necessidade inventada pelo homem para colocar um sentido em tudo (afinal, até onde se sabe, somos os únicos animais que tentam entender por que existe a morte)? Nas últimas décadas, o que se tem visto é um acirramento das diferenças entre aqueles que acreditam que a complexidade da vida só pode ser explicada por uma inteligência superior e aqueles que defendem que a inclinação para acreditar em Deus é apenas um traço biológico da nossa espécie, ou seja, somos programados para ter fé. É o que veremos nas próximas páginas.
Deus vai à escola
Dover, no estado americano da Pensilvânia, é uma daquelas cidades tão pequenas que mal dá para avistar seu núcleo urbano da altura média de vôo de um jato comercial. A pacata vida de seus 1814 habitantes, a maioria descendente de alemães, quase nunca foi notícia nos grandes jornais dos EUA. Tudo mudou no dia 18 de outubro deste ano, quando teve início o julgamento sobre a grade curricular de uma escola pública local que decidiu dedicar parte das aulas de biologia ao estudo de uma teoria conhecida em inglês como intelligent design (algo como projeto ou desenho inteligente, numa tradução livre para o português). Seu principal cartão de visita é o fato de se contrapor à tese de Darwin sobre a seleção natural e a evolução das espécies. Como a Constituição americana garante a total separação entre a Igreja e o Estado, alguns pais acharam que a direção do colégio estava muito perto de misturar ciência e religião, apelaram para a intervenção da Justiça e o debate pegou fogo no país.
Nas salas de aula em questão, as crianças e jovens aprendem que várias tarefas altamente especializadas e complexas do organismo humano – como a visão, o transporte celular e a coagulação, entre outras – só podem ser explicadas pela ação de uma força maior ou, em outras palavras, pela intervenção de um ser superior, capaz de bolar o tal desenho inteligente do nosso corpo e da nossa mente. Para a maioria dos biólogos do planeta, contudo, essa tal inteligência não passa de um novo nome para um velho conceito: o criacionismo bíblico, segundo o qual estamos na Terra apenas porque saímos da prancheta (ou da imaginação) divina para nos reproduzir “à Sua imagem e semelhança”.
Se, como já foi dito no início do texto, há muitos cientistas que não vêem motivos para buscar as impressões digitais de Deus na história do Universo, outros tantos acreditam que as teses de Darwin têm falhas e, como tal, precisam ser ensinadas nas escolas “em toda sua amplitude”, ou seja, alertando os alunos para o fato de que há controvérsias a respeito das descobertas que o jovem naturalista inglês fez a bordo do navio Beagle. Os defensores do desenho inteligente juram que não têm nenhuma ligação com os criacionistas do século 19, que difundiam uma interpretação literal do Gênese para conter a rápida e eficaz disseminação das teorias darwinistas – apesar das críticas da maior parte dos colegas da comunidade científica.
“Uma coisa é você tentar justificar uma fé usando argumentos científicos, outra é descobrir uma teoria científica que pode ser compatível com a fé”, disse à Super o bioquímico Michael J. Behe, pouco depois de depor no julgamento em defesa da “nova tese”. Professor da Universidade de Lehigh, na Pensilvânia, e autor do livro A Caixa-Preta de Darwin, ele diz que, se toda formulação científica compatível com uma crença religiosa tivesse de ser descartada automaticamente pelos pesquisadores, os astrônomos jamais poderiam aceitar os estudos sobre o big-bang. “Estou apenas defendendo o direito dos estudantes de terem acesso a outras idéias sobre a criação do Universo”, afirmou Behe.
A discussão em torno do ensino de ciências – inclusive com a interferência do Poder Judiciário – não é nenhuma novidade nos EUA. No início dos anos 20, muitos estados americanos simplesmente proibiram os alunos de ter aulas sobre as teorias evolutivas de Darwin. Em 1925, teve início um julgamento que, num primeiro momento, levou à condenação de um professor do ensino médio do Tennessee simplesmente porque ele acreditava que somos parentes dos macacos (e dizia isso em classe). Após sucessivos recursos de ambos os lados, o processo só terminou em 1968, quando a Suprema Corte decidiu que qualquer iniciativa no sentido de definir o currículo escolar com base em crenças religiosas era inconstitucional.
É por isso que tantos vêem o desenho inteligente como uma espécie de cortina de fumaça para colocar Deus de volta nas salas de aula? Será que, do ponto de vista científico, o desenho inteligente tem consistência? “Por enquanto, não”, afirma Vera Volferini, professora de genética e evolução da Unicamp. Segundo a bióloga, não existem ainda argumentos científicos que sejam tranqüilamente aceitos pela maioria dos pesquisadores. “Teorias como essa presumem que o ser humano é o resultado de um projeto perfeito, o que não é verdade. É consenso entre os especialistas que o design humano, apesar de eficiente, está longe de ser inatacável biologicamente. A próstata do homem, para ficar em apenas um exemplo, não segue um desenho anatômico ideal”, diz ela. E é justamente essa falha na concepção que provoca muitos problemas que afetam boa parte dos machos da espécie. Além disso, por que não poderíamos ter mais de 5 dedos em cada mão? Vera explica que, ao menos do ponto de vista biológico, temos esse número de dedos não porque seria um problema ter um ou dois a mais, mas porque fazemos parte de uma espécie cujo ancestral, há milhões de anos, tinha (por acaso) 5 dedos.
No Brasil, a teoria criacionista já desembarcou também – nos colégios públicos do Rio de Janeiro e, por enquanto apenas nas aulas de religião (em 2002, um lei proposta pelo governador Anthony Garotinho incluiu a disciplina “religião confessional” no currículo escolar). E a atual governadora do estado, a presbiteriana Rosinha Matheus (mulher de Garotinho), afirmou recentemente ao jornal O Globo que não acredita nas teses darwinianas. Apesar de o assunto não ser tratado nas aulas de biologia por aqui, o tema vem preocupando entidades como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que já se manifestou contra a disseminação do criacionismo nas escolas fluminenses. “O problema não é ter ou não uma crença pessoal”, diz Marcelo Menossi, professor de genética molecular da Unicamp. “O problema é tentar justificar e espalhar essa crença usando falsos argumentos científicos.”
Genética da religião
Nos anos 60, a britânica Jane Goodall afirmou que algumas espécies podem ter a religiosidade gravada nos próprios genes. A pesquisadora ficou famosa ao estudar o comportamento de chimpanzés na Tanzânia. Numa de suas numerosas observações, descobriu que os macacos agiam de maneira nada usual diante de uma cachoeira, demonstrando o que ela batizou de senso místico e de reverência. “Alguns permaneciam sentados numa rocha em frente à queda d’água, como se estivessem encantados. Outros ficavam sob a queda d’água por mais de 50 minutos, quando normalmente nem gostavam de se molhar.” Goodall concluiu que esse comportamento é um traço de religiosidade primitiva. E nós? Será que também nós humanos fomos “programados” para acreditar em Deus?
Para o biólogo Edward O. Wilson, um dos pioneiros da sociobiologia (ciência que se dedica a compreender o comportamento humano por meio da biologia), a predisposição para a religião é mesmo resultado da evolução genética do cérebro. Segundo ele, nossa inclinação para acreditar num ser superior pode ser resultado da submissão animal. Ele conta que entre macacos rhesus o macho dominante caminha com a cauda e a cabeça erguidas, enquanto os dominados mantêm a cabeça e a cauda baixas, em sinal de respeito ao líder – em troca, eles têm proteção contra os inimigos e acesso a abrigo e alimento. Segundo Wilson, a tendência de se submeter a um ser superior é herança dessas ações. “O dilema humano é que evoluímos geneticamente para acreditar em Deus, não para acreditar na biologia.”
Essa seria uma das razões pelas quais Deus é sempre invocado quando precisamos lidar com temas etéreos (e muitas vezes polêmicos, como a bondade, a solidariedade etc.). “Afinal, se Deus for apenas uma constante física, é óbvio que ele não terá nada a dizer sobre ética, certo e errado ou qualquer outra questão moral”, diz o britânico Richard Dawkins (leia o quadro da página ao lado).
O radiologista Andrew Newberg e o psiquiatra Eugene D’Aquili (que morreu há 5 anos) resolveram buscar diretamente no cérebro a origem da experiência religiosa. Utilizando aparelhos de tomografia, eles revelaram as áreas mais ativadas pela meditação em 8 budistas e em um grupo de freiras franciscanas. A pesquisa, cujos resultados foram publicados no livro Why God Won’t Go Away (“Por que Deus não Vai Embora”, sem tradução no Brasil), mostrou que durante as orações havia uma diminuição da atividade no lobo parietal superior, a área do cérebro responsável pela nossa orientação de tempo e espaço, pela sensação de separação entre o corpo e o indivíduo e pela delimitação entre o “eu” e os “outros”. Ou seja, ao meditar criamos um bloqueio que provoca a sensação de unicidade típica do êxtase religioso.
Além disso, várias outras pesquisas comprovam que ter fé, independentemente de acreditar em um ou mais deuses, faz bem para o corpo e a mente, pois melhora as condições de saúde e aumenta a sensação de felicidade. A ciência ainda não conseguiu explicar se Deus criou o nosso cérebro com essa habilidade ou se foi a evolução que fez o cérebro criar esse portal para Deus. Mas nesta nova era de espiritualidade talvez isso não seja tão importante assim. O que conforta muita gente é acreditar que é possível melhorar o mundo pela fé.
"A relação do homem com o sagrado tem se mostrado um traço persistente."
Oswaldo Giacoia Júnior, professor de história da filosofia moderna e contemporânea da Unicamp.
"A metáfora do deus geômetra deriva da velha idéia platônica de um universo dualista, em que há a necessidade de existir uma ordem superior, mas continua influenciando a ciência até hoje."
Marcelo Gleiser, professor de física e astronomia da Faculdade de Dartmouth, nos EUA.
"Uma coisa é você tentar justificar uma fé usando argumentos científicos, outra é você descobrir uma teoria científica que pode ser compatível com a fé."
Michael J. Behe, bioquímico e um dos principais defensores da tese do “desenho inteligente”.
"Se Deus for só uma constante física, é óbvio que ele não terá nada a dizer sobre o que é certo ou errado em questões morais."
Richard Dawkins, zoólogo e professor da Universidade de Oxford, na Inglaterra.

A indiferença do universo

Para muitos pesquisadores, o que distingue a ciência de outras visões de mundo é exatamente sua recusa em aceitar cegamente qualquer informação e sua determinação de submeter qualquer tese a testes constantes até que novos dados possam confirmá-la ou refutá-la. Essa visão baseia-se, entre outras coisas, na obra do filósofo vienense Karl Popper, que morreu em 1994. Segundo Popper, a ciência só pode tratar de temas que resistam ao que ele chamou de “critério de falseabilidade”. Resumidamente, o papel do verdadeiro cientista é buscar, com persistência, erros em sua teoria – em vez de tentar achar dados que provem sua correção. Quanto mais genérica e exposta a falhas (ou seja, quanto mais “falseável”), menos provável ela é. Por outro lado, quanto mais resistente (menos falseável), maiores as chances de acerto, pelo menos até o próximo teste. É por isso que um grande número de estudiosos argumenta que não é papel da ciência provar a existência de Deus. “Não faz sentido alguém afirmar que, ao descobrir um mistério do Universo, está ajudando a decifrar a mente divina”, diz o zoólogo britânco Richard Dawkins. Apesar disso, ele reconhece que é fascinante encantar-se diante dos mistérios da natureza – e das limitações científicas para explicá-los. Esse sentimento foi batizado pelo físico brasileiro Marcelo Gleiser de “misticismo racional”. Em outras palavras, é uma espécie de declaração de amor pelos fenômenos naturais, que se concretiza por meio da pesquisa científica. Segundo ele, há um paradoxo por trás da incansável busca por uma ordem e um sentido no Cosmos. “Como o homem é o único ser capaz de amar, tem uma imensa dificuldade em aceitar que o Universo pode ser totalmente indiferente a ele”, afirma.

A ética num mundo sem "ele"

“Se Deus não existe, tudo é permitido.” A frase, que ficou célebre no livro Os Irmãos Karamazov, do russo Fiodor Dostoievski, resume uma das questões mais cruciais do mundo moderno: sem uma referência divina, passaríamos a viver numa espécie de vale-tudo moral? “Não necessariamente”, diz o filósofo Oswaldo Giacoia Júnior, da Unicamp. “A busca de um código de valores sempre foi uma preocupação central da filosofia, sem necessidade de uma legitimação divina.” No século 18, por exemplo, os ideais de igualdade e justiça social, aceitos hoje como uma preocupação ética, surgiram de formulações dos filósofos iluministas – que acreditavam ser possível defendê-los com base na razão, não na religião (na época, esse tema não era nada popular no Vaticano). Em meados do século 20, o francês Jean Paul Sartre, o pai do existencialismo – segundo o qual de nada adianta buscar um propósito da existência para além da vida humana –, disse que a nossa própria condição de seres que vivem em sociedade é suficiente para justificar a prática de valores solidários. E ainda hoje filósofos como o vienense Peter Singer (um dos mais ferrenhos defensores dos direitos dos animais) continuam defendendo uma série de condutas éticas baseadas na razão, não na fé. Mas será que a adoção pura e simples de uma ética sem Deus não pode nos levar a um racionalismo frio, capaz de ofuscar valores menos palpáveis, como a bondade? “A fé não se traduziu apenas em atos de paz e harmonia ao longo dos tempos”, lembra Giacoia. “Dos grandes conflitos religiosos do passado ao moderno terrorismo fundamentalista, já foram cometidas inúmeras atrocidades em nome da ética religiosa em todo o mundo.”

Para saber mais

Deus, uma Biografia - Jack Miles, Companhia das Letras, 2002
Desvendando o Arco-Íris - Richard Dawkins, Companhia das Letras, 2000
Consiliência - Edward O. Wilson, Editora Campus, 1999
O Romance da Ciência - Carl Sagan, Francisco Alves, 1982
Why God Won´t Go Away - Andrew Newberg e Eugene D·Aquili, Ballantine Books, 2002
A Caixa-Preta de Darwin - Michael Behe, Jorge Zahar Editor, 1997

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Quién avergonzó a Brasil

Uma democracia que se volta contra o povo

by Leonardo Boff
Uma grita geral da mídia corporativa, de parlamentares da oposição e de analistas sociais ligados ao status quo de viés conservador se levantou furiosamente contra o decreto presidencial que institui a Política Nacional de Participação Social. O decreto não inova em nada nem introduz novos itens de participação social. Apenas procura ordenar os movimentos sociais […]
Leonardo Boff | 18/06/2014 às 20:21 | Categorias: Ética, Ecologia, Economia, educação, Política | URL: http://wp.me/p1kGid-KS
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Quién avergonzó a Brasil aquí y fuera de aquí

by Leonardo Boff
Pertenece a la cultura popular del fútbol abuchear a ciertos jugadores, a los jueces y, finalmente, a alguna autoridad presente. Los insultos e insultos con palabras soeces que hasta los niños pueden escuchar es algo inaudito en el fútbol en Brasil. Se dirigieron a la más alta autoridad del país, a la presidenta Dilma Rousseff, […]
Leonardo Boff | 18/06/2014 às 20:28 | Categorias: Ética, Economia, educação, Política | URL: http://wp.me/p1kGid-KU
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Sistema limpa metade do Pacífico

Garoto cria sistema que limpa metade do Pacífico em 10 anos

A tecnologia Ocean Cleanup funciona como uma barreira flutuante que aproveita as correntes oceânicas para bloquear os resíduos encontrados no mar

Vanessa Daraya, de
Divulgação
O holandês Boyan Slat, que criou a Ocean Cleanup
Boyan Slat: ele teve a ideia quando viu mais garrafas de plástico do que peixes ao mergulhar
São Paulo - O rapaz da foto acima tem apenas 19 anos, mas é responsável por um plano ambicioso apoiado por mais de 100 pesquisadores, cientistas e ambientalistas.
O holandês Boyan Slat criou a Ocean Cleanup, uma tecnologia capaz de limpar o lixo do Oceano Pacífico em uma década.
O sistema funciona como uma barreira flutuante que aproveita as correntes oceânicas para bloquear os resíduos encontrados no mar.
Nos testes com um protótipo, a barreira foi capaz de coletar plásticos em até três metros de profundidade.
O sistema também recolheu pouca quantidade de zooplâncton, o que facilita o reaproveitamento e a reciclagem do plástico.
A estimativa é de que o sistema remova 65 metros cúbicos de lixo por dia.
Slat teve a ideia anos atrás, quando mergulhava na Grécia e viu mais garrafas de plástico do que peixes.
Desde então, desenvolveu a tecnologia, montou um site com todas as especificações, fez um estudo de viabilidade e uma campanha para financiar sua ideia.
A primeira apresentação da tecnologia aconteceu em um TEDx na Holanda há dois anos. Sua ideia não foi bem recebida por todos.
Como resposta, Slat e uma equipe de pesquisadores fizeram um relatório com 530 páginas, em que justificavam a viabilidade do projeto.
O próximo passo é testar o sistema em larga escala e aumentar a produção do sistema. Para isso, ele busca financiamento coletivo. A meta é conseguir 2 milhões de dólares em 100 dias.
Ela já conseguiu 30% da meta em 14 dias.
Veja abaixo um vídeo sobre a Ocean Cleanup, nome da tecnologia e também da empresa criada por Slat:
 https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=6IjaZ2g-21E

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