Petróleo e ataque ao Estado brasileiro
Gosto de separar os macroeventos, de importância magna e efeitos
duradouros, dos eventos menores, de importância e efeito restritos. Os
roubos ocorridos na Petrobras e recém-descobertos deixam os atuais
adultos perplexos. No futuro, quando as crianças que nascem hoje forem
adultas, estes roubos não terão existido. Entretanto, o Pré-Sal estará
jorrando petróleo por cerca de 50 anos, ou seja, durante duas gerações.
Através de plano minuciosamente arquitetado e em fase de execução,
busca-se subtrair dos brasileiros os usufrutos do Pré-Sal.
Sobre o roubo ocorrido na Petrobras, ladrões domésticos, sedentos por
riqueza e poder, são personagens da novela macabra, que a população
brasileira assiste no noticiário diário, escandalizada e atônita. A
novidade é que eles, com o advento da delação premiada, têm a capacidade
de incluir versões que podem comprometer, de forma mentirosa, qualquer
cidadão. Como era de se esperar, a grande mídia, onde a maioria da
população se informa, faz uma cobertura tendenciosa. Curiosamente, esta
mídia reivindica o direito de continuar influenciando a sociedade em uma
única direção, o que ela chama de “liberdade de expressão”.
No silêncio sepulcral que acoberta o maior roubo do momento, que a
população nem desconfia da existência, faço esta denúncia. Em primeiro
lugar, o império e o capital internacional se amaldiçoam pelo fato de a
natureza ter formado o Pré-Sal no hemisfério sul e em um país não
totalmente submisso. Tendo ocorrido, inesperadamente, o imbróglio na
Petrobras, os dois entes citados aproveitam o momento de extrema emoção
da sociedade e começam, com auxílio da sua mídia, a criar conceitos e
legislações que irão comprometer nosso bem mais valioso, o Pré-Sal.
Assim, é ouvido que, se a Petrobras fosse privatizada, o roubo acabaria.
Explico que, com a privatização, o roubo só iria ficar maior e
institucionalizado. Também, um político representante do capital
internacional prega, despudoradamente, a não obrigatoriedade de a
Petrobras ter 30% de todos os consórcios do Pré-Sal e ser a única
operadora desta área. Ele também quer o término da política de conteúdo
local.
O ponto principal que pretendo transmitir é que existe toda sorte de
ataques contra o Estado brasileiro e a mídia só quer difundir, a seu
modo, os eventos da Petrobras, satisfazendo aos interesses externos e
conquistando votos para a eleição de presidente de 2018. Enquanto isso, o
Estado brasileiro vai sendo usurpado. A atuação atabalhoada dos nossos
poderes, meio perdidos, também não está ajudando.
O Executivo resolve colocar a engenharia brasileira como inidônea, e não
só os dirigentes corruptos das principais empresas de engenharia. Estes
corruptos que paguem pelos seus malfeitos perante a Justiça, mas não as
empresas e toda a cadeia de fornecedores que elas alimentam. Neste
instante, a mídia entreguista sugere a contratação de empresas de
engenharia estrangeiras, sem a mínima informação para a população sobre o
que isto representa. Não se fala que matar as empresas brasileiras de
engenharia significa só ter especificações das compras, que levam ao
mercado externo.
Significa também destruir o conhecimento acumulado nestas empresas,
graças ao esforço de anos, que lhes permite, inclusive, competir no
exterior. Será que pensam que pode existir alto índice de
desenvolvimento de um país sem existirem empresas nacionais de
engenharia e de desenvolvimento tecnológico?
A Justiça, graças ao excessivo rigor da sua atuação, sem avaliar todos
os impactos das suas decisões, pode estar causando desemprego.
Certamente, as investigações devem ser aprofundadas e os comprovados
corruptos devem pagar exemplarmente por seus crimes. Mas, nos Estados
Unidos, em 2008, quando começou a quebradeira de instituições
financeiras, graças à crise do subprime, o governo deste país salvou
empresas causadoras da crise, pois não quis contaminar toda a economia.
O Legislativo criou uma nova CPI da Petrobras, contrariando o usual
procedimento para criação de uma CPI. O comum é a imprensa divulgar
fatos comprometedores, uma CPI ser criada e, depois, a Polícia Federal e
o Ministério Público serem acionados. No presente caso, estes últimos
já atuaram e continuam atuando. Não deverá aparecer nada de novo. O
objetivo verdadeiro da CPI é servir para reverberar fatos antigos e não
os deixar cair no esquecimento. Esta CPI se enquadra como ação da luta
pelo poder em 2018 e os que a criaram estão pouco se importando se este
fato irá diminuir a força da Nação no quadro internacional.
A tese de Henry Kissinger de indução secreta para a criação de inimigos
internos nos países do Cone Sul da América Latina, como forma de
enfraquecimento das eventuais coalizões nacionais destes povos, teve
sucesso durante os 21 anos da ditadura brasileira, quando se combatia
uma força comunista impotente, quase inexistente. Desta forma, pode-se
imaginar que, hoje, grupos políticos atuantes no Brasil podem estar
recebendo apoio da CIA ou da NSA, por exemplo, para se contraporem à
formação de uma unidade nacional de objetivos socialmente atraentes.
É custoso invadir o Brasil militarmente para ter as bases de apoio em
terra para a exploração e produção do Pré-Sal. Portanto, é mais barato, e
melhor para divulgação na mídia internacional, que um partido existente
no Brasil ganhe as eleições, tome o poder e, depois, a lei dos
contratos de partilha seja derrubada e rodadas de leilões de entrega do
petróleo nacional sejam realizadas. Assim, uma ação de inteligência
muito atraente pode se ter congressistas e mandatários brasileiros como
devedores de contribuições de campanhas.
No London Review of Books, foi publicado o artigo “It’s the Oil” de Jim
Holt de 2007, no qual ele afirma que: “O Iraque tem 115 bilhões de
barris de reservas de petróleo conhecidas. (...) E, por causa de seu
longo isolamento, é a menos explorada das nações ricas em petróleo do
mundo. (...) Foi estimado pelo ‘Council on Foreign Relations’ que o
Iraque pode ter mais 220 bilhões de barris de petróleo não descobertos.
(...) O valor do petróleo do Iraque, em grande parte leve e com baixo
custo de produção, seria da ordem de US$ 30 trilhões aos preços de hoje.
Para efeito de comparação, o custo total projetado da invasão e
ocupação dos EUA é de cerca de US$ 1 trilhão. Os custos são desprezíveis
quando comparados aos US$ 30 trilhões de riqueza petrolífera. A guerra
assegurou a supremacia geopolítica norte-americana e gasolina barata
para os eleitores. Em termos de realpolitik, a invasão do Iraque não é
um fiasco e, sim, um retumbante sucesso”.
A afirmação de Alan Greenspan, ex-presidente do Federal Reserve dos
Estados Unidos, no seu livro de memórias, também é reveladora:
“Entristece-me que seja politicamente inconveniente reconhecer o que
todos sabem: a guerra do Iraque é, sobretudo, por causa do petróleo”.
Obviamente, todos os corruptos do escândalo da Petrobrás devem ser
julgados com as provas conseguidas, mas é primordial não se cair na
manipulação da mídia para entregar o Pré-Sal, como o capital
internacional e o país hegemônico desejam. Ele é um dos últimos redutos
de soberania que nós, brasileiros, temos. É interessante notar que o
capital internacional, não havendo a possibilidade de a Petrobras ser
privatizada, quer que ela continue atuando no Pré-Sal, porém, associada
às suas empresas, porque sabe que ela descobre petróleo.
Aliás, um representante deste capital internacional, quando perguntado
se a Petrobras iria se soerguer depois do escândalo, respondeu que sim,
porque “ela tem um excelente quadro técnico e muitas reservas”. Fiquei
esperando ele dizer: “ambos conquistados graças ao monopólio estatal”.
Mas isso ele nunca dirá, apesar de saber.
Segundo a antiga diretoria da Petrobras, o roubo na empresa foi de US$ 4
bilhões a US$ 5 bilhões. O Pré-Sal possui, possivelmente, mais uns 100
bilhões de barris de petróleo, a serem ainda descobertos. Sendo
conservador, se for usado o preço médio do barril, para um período de 50
anos, de US$ 80, o petróleo a descobrir vale US$ 8 trilhões. Então, o
brasileiro deve dar mais importância ao roubo da Petrobras ou ao roubo
do Pré-Sal, cujo prejuízo potencial é 2 mil vezes maior?
Paulo Metri