Jornalista
americano conta como os norte-americanos agem para derrubar a presidente
Dilma e buscam seus interesses perdidos após a Era FHC; intitulado de
"um por todos e todos pelo Pré Sal" jornalista explica que o governo
norte-americano tenta de tudo para conseguir a presidente fora do
comando do governo
Por Redação
William Engdahl, norte-americano, engenheiro e jurisprudente (Princeton,
EUA-1966), pós-graduado em economia comparativa (Estocolmo,
Suécia-1969) escreveu um artigo em um dos jornais mais vendidos nos EUA,
o New Eastern Outlook.
William alerta que o governo dos Estados Unidos estão agindo para
derrubar a presidente Dilma Rousseff e conta como estão fazendo para
tal.
Ele também conta que Washington apoiou até o ultimo minuto, o PSDB nas
eleições de 2014. Confira o texto do jornalista norte americano
traduzido pelo Portal Metrópole.
Um por todos, e todos pelo Pré-Sal
Entenda como o governo dos Estados Unidos quer reconquistar seus
direitos no Brasil, perdidos no governo de Luiz Inácio Lula da Silva do
Partido dos Trabalhadores e hoje age para derrubar a presidente
reeleita.
Por William Engdahl
Para ganhar o segundo turno das eleições contra o candidato apoiado
pelos Estados Unidos, Aécio Neves, em 26 outubro de 2014, a presidenta
recém-reeleita do Brasil, Dilma Rousseff, sobreviveu a uma campanha
maciça de desinformação do Departamento de Estado estadunidense. Não
obstante, já está claro que Washington abriu uma nova ofensiva contra um
dos líderes chave dos BRICS, o grupo não alinhado de economias
emergentes – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com a
campanha de guerra financeira total dos Estados Unidos para enfraquecer a
Rússia de Putin e uma série de desestabilizações visando a China,
inclusive, mais recentemente, a “Revolução dos Guarda-Chuvas” financiada
pelos Estados Unidos em Hong Kong, livrar-se da presidente "socialmente
propensa" do Brasil é uma prioridade máxima para deter o polo emergente
que se opõe ao bloco da Nova (des)Ordem Mundial de Washington.
A razão por que Washington quer se livrar de Rousseff é clara. Como
presidente, ela é uma das cinco cabeças do BRICS que assinaram a
formação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS, com capital inicial
autorizado de 100 bilhões de dólares e um fundo de reserva de outros 100
bilhões de dólares. Ela também apoia uma nova Moeda de Reserva
Internacional para complementar e eventualmente substituir o dólar. No
Brasil, ela é apoiada por milhões de brasileiros mais pobres, que foram
tirados da pobreza por seus vários programas, especialmente o Bolsa
Família, um programa de subsídio econômico para mães e famílias da baixa
renda. O Bolsa Família tirou uma população estimada de 36 milhões de
famílias da pobreza através das políticas econômicas de Rousseff e de
seu partido, algo que incita verdadeiras apoplexias em Wall Street e em
Washington.
Apoiado pelos Estados Unidos, seu rival na campanha, Aécio Neves, do
Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), serve aos interesses dos
magnatas e de seus aliados de Washington.
O principal assessor econômico de Neves, que se tornaria Ministro da
Fazenda no caso de uma presidência de Neves, era Armínio Fraga Neto,
[cidadão norte-americano e brasileiro] amigo íntimo e ex-sócio de Soros e
seu fundo hedge "Quantum". O principal conselheiro de Neves, e
provavelmente seu Ministro das Relações Exteriores, tivesse ele ganhado
as eleições, era Rubens Antônio Barbosa, ex-embaixador em Washington e
hoje Diretor da ASG em São Paulo.
A ASG é o grupo de consultores de Madeleine Albright, ex-Secretária de
Estado norte-americana durante o bombardeio da Iugoslávia em 1999.
Albright, dirigente do principal grupo de reflexão dos Estados Unidos, o
"Conselho sobre Relações Exteriores", também é presidente da primeira
ONG da “Revolução Colorida” financiada pelo governo dos Estados Unidos, o
"Instituto Democrático Nacional" (NDI). Não é de surpreender que
Barbosa tenha conclamado, numa campanha recente, o fortalecimento das
relações Brasil-Estados Unidos e a degradação dos fortes laços
Brasil-China, desenvolvidos por Rousseff na esteira das revelações sobre
a espionagem norte-americana da Agência de Segurança Nacional (NSA)
contra Rousseff e o seu governo.
Surgimento de escândalo de corrupção
Durante a áspera campanha eleitoral entre Rousseff e Neves, a oposição
de Neves começou a espalhar rumores de que Rousseff, que até então
jamais fora ligada à corrupção tão comum na política brasileira, estaria
implicada num escândalo envolvendo a gigante estatal do petróleo, a
Petrobras. Em setembro, um ex-diretor da Petrobras alegou que membros do
governo Rousseff tinham recebido comissões em contratos assinados com a
gigante do petróleo, comissões essas que depois teriam sido empregadas
para comprar apoio congressional. Rousseff foi membro do conselho de
diretores da companhia até 2010.
Agora, em 2 de novembro de 2014, apenas alguns dias depois da vitória
arduamente conquistada por Rousseff, a maior firma de auditoria
financeira dos Estados Unidos, a "Price Waterhouse Coopers" se recusou a
assinar os demonstrativos financeiros do terceiro trimestre da
Petrobras. A PWC exigiu uma investigação mais ampla do escândalo
envolvendo a companhia petrolífera dirigida pelo Estado.
A Price Waterhouse Coopers é uma das firmas de auditoria, consultoria
tributária e societária e de negócios mais eivadas de escândalos nos
Estados Unidos. Ela foi implicada em 14 anos de encobrimento de uma
fraude no grupo de seguros AIG, o qual estava no coração da crise
financeira norte-americana de 2008. E a Câmara dos Lordes britânica
criticou a PWC por não chamar atenção para os riscos do modelo de
negócios adotado pelo banco "Northern Rock", causador de um desastre de
grandes proporções na crise imobiliária de 2008 na Grã-Bretanha, cliente
que teve que ser resgatado pelo governo do Reino Unido.
Intensificam-se os ataques contra Rousseff, disso podemos ter certeza.
A estratégia global de Rousseff
Não foi apenas a aliança de Rousseff com os países dos BRICS que fez
dela um alvo principal da política de desestabilização de Washington.
Sob seu mandato, o Brasil está agindo com rapidez para baldar a
vulnerabilidade à vigilância eletrônica norte-americana da NSA.
Dias após a sua reeleição, a companhia estatal Telebras anunciou planos
para a construção de um cabo submarino de telecomunicações por fibra
ótica com Portugal através do Atlântico. O planejado cabo da Telebras se
estenderá por 5.600 quilômetros, da cidade brasileira de Fortaleza até
Portugal. Ele representa uma ruptura maior no âmbito das comunicações
transatlânticas sob domínio da tecnologia norte-americana. Notadamente, o
presidente da Telebras, Francisco Ziober Filho, disse numa entrevista
que o projeto do cabo será desenvolvido e construído sem a participação
de nenhuma companhia estadunidense.
As revelações de Snowden sobre a NSA em 2013 elucidaram, entre outras
coisas, os vínculos íntimos existentes entre empresas estratégicas chave
de tecnologia da informática, como a "Cisco Systems", a "Microsoft" e
outras, e a comunidade norte-americana de inteligência. Ele declarou
que:
"A questão da integridade e vulnerabilidade de dados é sempre uma preocupação para todas as companhias de telecomunicações".
O Brasil reagiu aos vazamentos da NSA periciando todos os equipamentos
de fabricação estrangeira em seu uso, a fim de obstar vulnerabilidades
de segurança e acelerar a evolução do país rumo à autossuficiência
tecnológica, segundo o dirigente da Telebras.
Até agora, virtualmente todo tráfego transatlântico de TI encaminhado
via costa leste dos Estados Unidos para a Europa e a África representou
uma vantagem importante para espionagem de Washington.
Se verdadeiro ou ainda incerto, o fato é que sob Rousseff e seu partido o
Brasil está trabalhando para fazer o que ela considera ser o melhor
para interesse nacional do Brasil.
A geopolítica do petróleo também é chave
O Brasil também está se livrando do domínio anglo-americano sobre sua
exploração de petróleo e de gás. No final de 2007, a Petrobras descobriu
o que considerou ser uma nova e enorme bacia de petróleo de alta
qualidade na plataforma continental no mar territorial brasileiro da
Bacia de Santos. Desde então, a Petrobras perfurou 11 poços de petróleo
nessa bacia, todos bem-sucedidos. Somente em Tupi e em Iara, a Petrobras
estima que haja entre 8 a 12 bilhões de barris de óleo recuperável, o
que pode quase dobrar as reservas brasileiras atuais de petróleo. No
total, a plataforma continental do Brasil pode conter mais de 100
bilhões de barris de petróleo, transformando o país numa potência de
petróleo e gás de primeira grandeza, algo que a Exxon e a Chevron, as
gigantes do petróleo norte-americano, se esforçaram arduamente para
controlar.
Em 2009, segundo cabogramas diplomáticos norte-americanos vazados e
publicados pelo Wikileaks, a Exxon e a Chevron foram assinaladas pelo
consulado estadunidense no Rio de Janeiro por estarem tentando, em vão,
alterar a lei proposta pelo mentor e predecessor de Rousseff em seu
Partido dos Trabalhadores, o presidente Luís Inácio Lula da Silva, ou
Lula, como ele é chamado.[Foi revelado pelo Wikileaks que José Serra, o
então candidato do PSDB que competia contra Dilma pela presidência,
prometera confidencialmente à Chevron que, se eleito, afastaria a
Petrobras do pré-sal para dar espaço às petroleiras estadunidenses].
Essa lei de 2009 tornava a estatal Petrobras operadora-chefe de todos os
blocos no mar territorial. Washington e as gigantes estadunidenses do
petróleo ficaram furiosos ao perderem controles-chave sobre a descoberta
da potencialmente maior jazida individual de petróleo em décadas.
Para tornar as coisas piores aos olhos de Washington, Lula não apenas
afastou a Exxon Mobil e a Chevron de suas posições de controle em favor
da estatal Petrobras, como também abriu a exploração do petróleo
brasileiro aos chineses. Em dezembro de 2010, num dos seus últimos atos
como presidente, ele supervisionou a assinatura de um acordo entre a
companhia energética hispano-brasileira Repsol e a estatal chinesa
Sinopec. A Sinopec formou uma joint venture, a Repsol Sinopec Brasil,
investindo mais de 7,1 bilhões de dólares na Repsol Brasil. Já em 2005,
Lula havia aprovado a formação da Sinopec International Petroleum
Service of Brazil Ltd, como parte de uma nova aliança estratégica entre a
China e o Brasil, precursora da atual organização do BRICS.
Washington não gostou
Em 2012, uma perfuração conjunta, da Repsol Sinopec Brazil, Norway’s
Stateoil e Petrobras, fez uma descoberta de importância maior em Pão de
Açúcar, a terceira no bloco BM-C-33, o qual inclui Seat e Gávea, esta
última uma das 10 maiores descobertas do mundo em 2011. As maiores
[empresas] do petróleo estadunidenses e britânicas absolutamente sequer
estavam presentes.
Com o aprofundamento das relações entre o governo Rousseff e a China,
bem como com a Rússia e com outros parceiros do BRICS, em maio de 2013, o
vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, veio ao Brasil com sua
agenda focada no desenvolvimento de gás e petróleo. Ele se encontrou com
a presidenta Dilma Rousseff, que havia sucedido ao seu mentor Lula em
2011. Biden também se encontrou com as principais companhias energéticas
no Brasil, inclusive a Petrobrás.
Embora pouca coisa tenha sido dita publicamente, Rousseff se recusou a
reverter a lei do petróleo de 2009 de maneira a adequá-la aos interesses
de Biden e de Washington. Dias depois da visita de Biden, surgiram as
revelações de Snowden sobre a NSA, de que os Estados Unidos também
estavam espionando Rousseff e os funcionários de alto escalão da
Petrobras. Ela ficou furiosa e, naquele mês de setembro, denunciou a
administração Obama diante da Assembleia Geral da ONU por violação da
lei internacional. Em protesto, ela cancelou uma visita programada a
Washington. Depois disso, as relações Estados Unidos-Brasil sofreram
grave resfriamento.
Antes da visita de Biden em maio de 2013, Dilma Rousseff tinha uma taxa
de popularidade de 70 por cento. Menos de duas semanas depois da visita
de Biden ao Brasil, protestos em escala nacional convocados por um grupo
bem organizado chamado "Movimento Passe Livre", relativos a um aumento
nominal de 10 por cento nas passagens de ônibus, levaram o país
virtualmente a uma paralisação e se tornaram muito violentos. Os
protestos ostentavam a marca de uma típica “Revolução Colorida”, ou
desestabilização via Twitter, que parece seguir Biden por onde quer que
ele se apresente. Em semanas, a popularidade de Rousseff caiu para 30
por cento.