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Incêndio em tanques de combustível provocou enorme desastre
ambiental na Serra do Mar e manguezais. Por que “Folha”, “Estado” e
“Globo” continua a ocultá-lo?
Por
Luciano Martins Costa, no
Observatório da Imprensa
O incêndio que eclodiu às 10 horas da manhã de quinta-feira (2/4),
nos tanques da distribuidora Ultracargo, em Santos, pode resultar em
grave desastre ambiental, mas pouca gente vai ficar sabendo sua real
dimensão.
Três dias depois, os principais jornais do País pareciam não haver se
dado conta da intensidade e das consequências do fogo que consumia
milhões de litros de combustíveis na ilha da Alemoa.
Uma espécie de sonolência atingiu as redações, que em outras ocasiões
investigaram e deram grande destaque a acidentes desse tipo.
A exceção tem nome: já no dia seguinte à primeira explosão, o
Expresso Popular, que pertence ao grupo
A Tribuna,
de Santos, estampava na capa apenas dois títulos. Na manchete, sobre
uma foto de página inteira, resumia a gravidade do incêndio: “Sem
controle”.
No pé da página, informava: “Filho caçula do governador Alckmin morre em queda de helicóptero”.
Entre os aspectos mais importantes, destacavam-se em subtítulos dois
fatos que os principais jornais do País deixaram de lado: “Combate ao
fogo não tem dia nem hora para acabar”; e “Há risco de dano ambiental na
Serra do Mar”.
Nesta segunda-feira (6/4), quatro dias depois que o jornal popular da
Baixada Santista havia alertado para a grande dimensão do desastre, o
Estado de S. Paulo admite, em nota de duas linhas na primeira página, que “Incêndio em Santos ameaça meio ambiente” e a
Folha de S. Paulo
posta uma foto com legenda informando que, 80 horas após a primeira
explosão, observa-se a morte de peixes e moradores são obrigados a
deixar suas casas.
Ou seja: os grandes jornais levaram três dias para admitir a
gravidade da situação, detectada no primeiro momento pelo Expresso
Popular.
Ainda no domingo, o site
Globo.com
informava, erradamente, que um laudo preliminar da Cetesb apontava a
ocorrência de poluição grave na água da região; mais tarde, a informação
foi corrigida: o laudo era da Ultracargo, não da Cetesb.
Dois dias antes, a empresa estatal de controle ambiental havia
divulgado nota, sem contraponto dos jornais, afirmando que a fumaça que
alcançava 50 metros de altura e espalhava cinzas e partículas
incandescentes pela região, não representava perigo.
Movidos a press-release
Ainda no domingo, os dois principais jornais paulistas haviam noticiado
que o governo do Estado decidira criar um gabinete de crise para
acompanhar a situação.
A maior parte das iniciativas era tomada pela Prefeitura de Santos,
que desde o primeiro momento havia mobilizado a Petrobras e órgãos
federais.
O governo paulista parecia paralisado pela morte do piloto Thomaz
Alckmin, filho do governador de São Paulo, ocorrida na tarde da mesma
quinta-feira, em um acidente de helicóptero.
Compreende-se que o governador estivesse fora de combate, e a ninguém
ocorreria ir perguntar a ele, em meio ao luto, o que estava sendo feito
para controlar a situação na Baixada Santista e manter a população
informada sobre o desenrolar do incêndio.
Mesmo porque, com o feriado da Páscoa, era previsto grande movimento
de turistas em direção ao litoral. Mas o Estado tem um vice-governador,
secretários, técnicos, e a empresa de controle ambiental.
Os jornais simplesmente compraram a primeira versão oficial, segundo a
qual não era preciso tomar providências especiais nem nos bairros mais
próximos ao terminal da Alemoa, e não estranharam o fato de que um
gabinete de crise só foi montado no terceiro dia após a primeira
explosão.
Ressalte-se que o grupo de acompanhamento não inclui um representante
da Secretaria da Saúde, mas tem entre seus participantes o
sub-secretário de Comunicação.
O perfil é muito parecido com o do gabinete de crise que foi
instituído mais de um ano após o esgotamento das principais reservas de
água na região metropolitana de São Paulo.
Em condições normais de bom jornalismo, não teria escapado às
redações o fato de que, não apenas em São Paulo, mas na administração
pública em geral, a gestão de crises quase sempre se limita ao potencial
de estrago que as emergências podem provocar na imagem dos governantes.
No caso do incêndio em Santos, as informações mais importantes para
que o cidadão tomasse suas precauções foram dadas no primeiro momento
pelo
Expresso Popular.
Os grandes jornais mandaram repórteres e fotógrafos para registrar o
fogo espetacular, mas rechearam suas reportagens com os press-releases
do governo.
Quase dá para ver as cinzas do bom jornalismo sob as chamas da Alemoa.