"A violência é uma doença contagiosa"
Após o jogo entre Atlético PR e Vasco, vale a reflexão sobre este artigo - nele o epidemiologista americano Gary Slutkin compara a violência a doenças contagiosas como a malária, a cólera e a tuberculose http://ow.ly/rBs2J
A violência é
uma doença contagiosa
por Gary Slutkin
Ao longo da história, nós humanos demoramos muito
para entender as epidemias. Não porque não investíamos ou não nos
preocupávamos. O problema é que fazíamos o diagnóstico errado. O mesmo acontece
hoje com a violência. Se não conseguimos entender suas motivações, não
entenderemos suas causas.
Depois de uma década combatendo epidemias na África, percebi que os mapas de densidade populacional que ajudam a explicar a disseminação delas no continente eram muito parecidos com os mapas que mediam casos violentos em Nova York e Detroit. Notei então que a violência é uma doença contagiosa assim como a malária, a cólera e a tuberculose. Ela se espalha por meio de brigas de rua, estupros, assassinatos e suicídios. Um tipo de violência provoca outro. É como um ciclo. Se quisermos revertê-lo, temos de atacar o germe antes que se espalhe e se torne uma infecção — e contamine outras pessoas. Em 2000, demos início a um projeto-piloto de contenção da violência em Chicago, no distrito de West Garfield, na época um dos mais violentos dos Estados Unidos. Contratamos interruptores de violência para atuar igual a agentes de saúde diante de casos iniciais de gripe aviária. Eles faziam visitas diárias a líderes de gangues e grupos violentos, além de seus amigos e familiares, e davam conselhos úteis como orientações para empregos. Em um ano, West Garfield viu o número anual de tiroteios cair 67%. Com a expansão da iniciativa para toda a Chicago, o número de assassinatos caiu de 628, em 2000, para 435 em 2010. O sucesso levou nosso programa a ser expandido para outras 15 cidades americanas e outros sete países, incluindo o Iraque.
COM UMA SOCIEDADE MOBILIZADA E FORMADORES DE OPINIÃO BEM PREPARADOS,
PODEMOS CURAR A VIOLÊNCIA
Há algumas semanas, fomos procurados por representantes das prefeituras
de Recife e São Paulo, interessados em colocar em prática nosso programa. Nas
comunidades violentas do Brasil, os moradores moram muito próximos uns dos
outros, o que ajuda a disseminar a criminalidade, mas também facilita a
propagação de medidas pacificadoras.
Com uma sociedade mobilizada e formadores de opinião bem preparados, podemos curar a violência. Assim, com estratégias pautadas em métodos científicos, quem sabe possamos ser vistos como a geração que encontrou a solução para um problema crônico. Do mesmo modo que os médicos do século 19 fizeram com a cólera ao descobrir que a doença não era produto de sujeira e imoralidade, e sim da atuação de um simples bacilo. GARY SLUTKIN é um epidemiologista americano. Professor da Universidade de Illinois, nos EUA, fundou a associação Cure Violence, de Chicago |
Informar de modo a permitir que compreendam por si os princípios metafísicos que estão por trás de todos os eventos bons e ruins que se manifestam em nossa realidade; princípios ocultos que estão enterrados debaixo de muito entulho político-religioso; econômico-social; histórico-cultural.
sexta-feira, 25 de abril de 2014
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