As chaves para a paz
Chave 1: Silêncio
O silêncio é uma forma de bater na porta
do salão da verdade. Ele é a base que te prepara para qualquer prática,
é o alicerce do edifício da consciência. Tudo que é belo e verdadeiro
nasce do silêncio.
Um instante de silencio é suficiente
para exorcizar todos os demônios, porque os demônios são os pensamentos.
Se existe um pensamento compulsivo constantemente assombrando a sua
mente, é porque você deu muita atenção a ele, ou seja, você o alimentou
acreditando nele. Mas, ao aquietar a mente, todos os fantasmas
desaparecem. Não importa quão antiga seja a escuridão, uma pequena
fresta de luz dissipa toda escuridão porque ela é somente a ausência de
luz. O silêncio invoca a luz. Quando a mente se acalma, tudo se acalma.
O preço para a realização espiritual é a
solidão. Em algum momento você vai ter que encarar a si próprio. Por
isso é fundamental aprender a ficar sozinho e em silêncio. Você também
pode chamar esta prática de meditação. Mas, eu não quero que você se
perca no labirinto das ideias e conceitos, na ginástica do intelecto.
Permita-se apenas ficar retirado e em silêncio, observando a grama
crescer. Abandone toda a pressa e todo o desejo de chegar a algum lugar.
Feche os olhos e focalize no ponto entre as sobrancelhas. Brinque de cultivar o silêncio.
Chave 2: Verdade
Falar a verdade não quer dizer que você
vai sair por aí dizendo aos outros tudo o que pensa ser verdade,
desconsiderando o fato do outro não estar pronto para ouvi-la, o que
pode gerar mais conflito, mais guerra. Seguir a verdade significa ouvir o
chamado do seu coração.
Se ainda há desconforto e sofrimento na
sua vida, significa que ainda há uma camada de mentira te envolvendo.
Seja corajoso para encarar suas mentiras. Sem coragem você não será
capaz de encarar a verdade. Procure identificar quando você ainda não
pode ser honesto com você mesmo e com a vida, quando você tem que usar
uma máscara e não pode ser autêntico e espontâneo, quando você tem que
fingir que é diferente do que é. Dê uma olhada nas diversas áreas da sua
vida.
Você terá algum trabalho, mas é um bom trabalho. Lembre-se que “a verdade vos libertará”.
Chave 3: Ação Correta
Isso não tem nada a ver com moralismo. A
ação correta, ou ação consciente, não se baseia no que está fora, ou
seja, não depende da aprovação do mundo externo. Não é seguir um manual
com regras sobre o que está certo ou errado. É uma ação determinada pela
intuição, que é a voz do silêncio. É ter coragem de ser você mesmo,
autêntico e espontâneo. Agir conscientemente significa colocar o amor em
movimento, ou seja, trilhar o Caminho do Coração.
Chave 4: Não Violência
A não violência é a ação sem ego. É a
atitude não contaminada pela vingança e pelo ódio. É não dar passagem
para a maldade que provoca sofrimento no outro, não importa em qual
nível.
A não violência ou ahimsa, como é
conhecida na tradição do hinduísmo, não é cruzar os braços e ficar
esperando que as coisas aconteçam. Ela, muitas vezes, envolve ação,
atitude. Mas, é uma ação que nasce do coração – é espontânea e sempre
vem com sabedoria e compaixão. Não é o ódio ou o medo se manifestando.
Eu mesmo já questionei o poder de
ahimsa. Parece que só deu certo com Gandhi, na Índia. Mas, não é
verdade. Ahimsa é o remédio que esse planeta precisa. A compaixão é o
remédio e ahimsa é compaixão.
Chave 5: Amor Consciente
Eu uso esta palavra ‘consciente’, porque
a palavra amor foi degenerada. Nós demos a ela tantos outros
significados que não têm nada a ver com a sua essência. Para o senso
comum, o amor está ligado ao egoísmo, a uma satisfação pessoal. Ele é
confundido com a paixão, com o sexo e até mesmo com o ódio. Isso
acontece de uma forma inconsciente: a entidade acredita estar amando
porque não tem consciência do que é amor.
Não é possível definir o amor com
palavras, mas eu posso dizer que amar inclui um desejo sincero de que o
outro seja feliz. Inclui ver o potencial adormecido no outro e dar força
para ele acordar. É querer ver o outro feliz sem querer absolutamente
nada em troca. Em última instância, amar conscientemente significa amar
desinteressadamente.
Mas, para que possa utilizar essa chave se faz necessário que você reconheça o seu desamor.
Procure identificar em quais situações e
com quem você ainda não pode ser amoroso. Aonde e com quem o seu amor
não flui livremente? Em que situações o seu coração se fecha? Aí há uma
pista para você. Vá atrás dessa pista e você descobrirá muito sobre si
mesmo. Essa é uma forma de trazer paz para esse mundo: aprendendo a ser
amigo do seu irmão, amigo do seu vizinho.
Aprender a não julgar os erros do outro.
Antes de levantar o seu dedo para acusar o outro, olhe para si mesmo, e
pergunte: “Será que eu não tenho um defeito igual, ou outros até
piores?” “Será que o meu vizinho não tem nada de bom para eu focar a
minha atenção?” Comece a focar no bom que o outro tem. Essa é sua grande
missão.
Chave 6: Presença
Estar presente significa estar total na
ação. É lembrar-se de si mesmo a cada instante. Quando você pode
experienciar a presença, a sua energia cresce e você percebe o amor
passando por você. Se puder sustentar esse estado de alerta, você terá a
percepção de que tudo é sagrado, e a partir dessa percepção, poderá
expandir sua energia conscientemente na direção do outro.
Eu sugiro uma prática bem simples para o
seu dia a dia. Habitue-se a perguntar: Onde estou? O que estou fazendo?
Permita-se parar, apenas por alguns segundos, absolutamente tudo o que
você está fazendo. No meio da ação, pare e pergunte-se: Quem está
fazendo? Assim você interrompe a imaginação e volta para o seu corpo,
para a presença, para a totalidade na ação. Esse é o caminho.
A presença é a chave mestra. Mas, porque
não vamos diretamente para ela? Porque nem todos estão prontos para
usufruir dela. Poucos estão maduros para abandonar o pensar compulsivo,
já que isso lhes dá um senso de identidade. Então, em muitos casos, é
necessário um trabalho de purificação que é este trabalho de
transformação do “eu inferior”, para que você esteja pronto para ancorar
a presença. Para isso, o corpo é o portal. Sinta-se ocupando o corpo.
Sinta seu campo de energia e mova-se a partir dessa percepção.
Chave 7: Serviço Desinteressado
Servir desinteressadamente significa
colocar seus dons e talentos a serviço do amor. É quando você pode se
doar verdadeiramente ao outro, sem máscaras, sem necessidade de agradar
ou fazer o que é certo com a intenção de ser recompensado. O único
objetivo é ver o outro bilhar. Você se torna o amor que se move em
direção à construção.
Acordar pela manhã, consciente de que
está acordando para servir, ilumina a alegria de viver. Naturalmente, a
consciência do serviço aumenta a conexão com o divino, porque, por mais
que cada um tenha seus talentos e dons individuais, ou seja, uma forma
particular na qual o amor se expressa através de você – é o próprio amor
que está se expressando. No serviço, você se torna um canal do amor.
Por isso, eu digo que o serviço é uma forma de manter a chama da conexão
acesa. O amor e a felicidade passam por você para chegar ao outro, não
importa o que você esteja fazendo, se está cuidando do jardim,
construindo uma casa, cozinhando, cuidando de uma empresa ou de uma
pessoa.
Chave 8: Lembrança Constante de Deus
Lembre-se de que Deus está em tudo: dentro, acima, abaixo, dos lados – em todos os lugares.
Ele é a vida única que age em todos os
corpos e é o seu Eu Real. Essa percepção de que tudo é Um e de que a
energia espiritual se manifesta em todas as formas de vida, promove um
profundo contentamento. Não há palavras para descrever essa experiência,
ela só pode ser vivida. A sua vida se transforma numa prece, numa
oferenda a Deus. Pode passar um tsunami, mas você não se esquece de
Deus. Pouco a pouco, a sua fé se torna constante e inabalável, até que
possa sustentar a eterna conexão com Deus.
A partir dessa conexão, você olha para o
outro e enxerga além das aparências, porque você vê somente Deus e
assim pode reverenciá-lo. Este é um sincero namaste: a divindade que
está em mim saúda a divindade que está em ti.
Se verdadeiramente utilizar essas oito
chaves na sua vida, inevitavelmente você irá experienciar a paz. Essa é a
minha experiência.
Durante a fase do desenvolvimento da
consciência que eu chamo de “ABC da Espiritualidade” ou purificação do
“eu inferior”, muitas vezes, descobrimos verdades pouco agradáveis sobre
nós mesmos. Durante esse processo, enfrentamos obstáculos que precisam
ser removidos. Aos poucos, nós aprendemos a identificá-los e removê-los
e, ao removermos aquilo que não nos serve mais, podemos nos tornar
canais do amor divino, para que ele flua livremente através de nós.
Sri Prem Baba