sexta-feira, 20 de março de 2015

A INTOLERÂNCIA OCUPOU A AVENIDA PAULISTA

 
As manifestações do domingo, dia 15 de março, tiveram o dom de revelar o DNA da elite brasileira. Os cartazes nas ruas, a forma como os manifestantes lidaram com as divergências, a rebeldia contra o resultado de eleições livres, limpas e populares revelam mais do que uma crise de poder. O Brasil vive uma quase crise civilizatória.

As pessoas que foram para as ruas no domingo não eram homogeneamente de direita, ou de extrema direita. Eram majoritariamente eleitores da oposição: segundo o Instituto Datafolha, 82% dos entrevistados na avenida Paulista, no dia do ato, votaram em Aécio Neves (PSDB) e 37% revelaram simpatia pelo partido tucano. Na sexta-feira, no ato promovido por movimentos sociais e sindicais em defesa da Petrobras e da democracia, 74% dos entrevistados revelaram ter votado na presidenta Dilma Rousseff, nas eleições de novembro.

Votar na oposição é do jogo. Arrepender-se de ter votado em um determinado candidato é do jogo. Ir para as ruas protestar contra o governo é do jogo. O que não é do jogo, e pode ter passado desapercebido para uma parcela que protesta contra os erros do governo mas não contra a democracia, é que o ódio às instituições democráticas contaminou as multidões.

Nem todos os manifestantes empunharam cartazes contra a democracia ou pediram a volta dos militares – justo no aniversário de 30 anos do fim do regime militar –, mas o fato é que a intolerância com a diversidade de opiniões, a indisfarçada ignorância a princípios de respeito à diversidade social, de gênero ou cor e a violência contra opositores políticos foram legitimadas pelos que agiram de forma antidemocrática, e também pelos que foram indiferentes a isso. A agressividade não apenas foi tolerada pela multidão, mas grassou livremente pelos quarteirões da avenida Paulista livre, leve e solto, como se não existisse amanhã.

O ambiente cultural em que essas manifestações ocorrem, principalmente em São Paulo, onde se concentra boa parte da elite brasileira, é de coação. O ódio – expresso em vulgaridades como a de ofender a honra de uma presidenta da República legitimamente investida na sua função com palavras de baixo calão, ou na agressão física contra opositores, ou no pedido aberto para que as Forças Armadas intervenham no processo democrático – é taticamente investido de alta agressividade, para inibir reações contrárias. É um ambiente extremado, criado para obrigar os que se opõem a isso a aceitarem passivamente, por exemplo, os aplausos recebidos por um torturador da ditadura na avenida, ou a agressão física cometida por um homem adulto, acompanhado de um filho pequeno, a um adolescente de 16 anos que, num vagão do Metrô, cometeu a “imprudência” de vestir uma camiseta vermelha.

Isso não é um fato isolado na história, mas a semelhança com outros momentos dá um frio na barriga. Os golpes reacionários normalmente são precedidos de momentos em que os grupos à frente dos ataques a instituições passam a achar que suas razões são universais, e jamais passíveis de questionamentos. Os argumentos para a ódio são de ordem quase pessoal – o “meu” direito, o imposto que “eu pago”, o ódio pelo desfavorecido (“aquele vagabundo”) que está sendo amparado pelo Estado às custas do “meu” dinheiro – mas as razões individuais são jogadas como responsabilidade coletiva. Nessa situação, a reação dirigida ao que pensa diferente é a coação física ou moral.

Olhar para as ruas, enxergar a realidade e partir para uma contraofensiva capaz de afastar os riscos de retrocesso democrático é parte da missão civilizatória das forças democráticas brasileiras, nesse momento nebuloso da vida brasileira.

O rompimento cultural com a lógica que se forma nas ruas, desde as eleições passadas, tem que se dar pela coragem. Não existe outra forma de confrontar a agressão. Dilma Rousseff usou dessa lógica quando, muito jovem, optou por uma oposição radical ao governo militar, num cenário de radicalismo de direita.

A reação dos que se sentem coagidos nas ruas pela extrema-direita é a de não se deixar coagir. É prestar a sua homenagem à democracia, às urnas e ao voto. A resposta ao 15 de março é um grande viva à democracia.
 
As manifestações do domingo, dia 15 de março, tiveram o dom de revelar o DNA da elite brasileira. Os cartazes nas ruas, a forma como os manifestantes lidaram com as divergências, a rebeldia contra o resultado de eleições livres, limpas e populares revelam mais do que uma crise de poder. O Brasil vive uma quase crise civilizatória.

As pessoas que foram para as ruas no domingo não eram homogeneamente de direita, ou de extrema direita. Eram majoritariamente eleitores da oposição: segundo o Instituto Datafolha, 82% dos entrevistados na avenida Paulista, no dia do ato, votaram em Aécio Neves (PSDB) e 37% revelaram simpatia pelo partido tucano. Na sexta-feira, no ato promovido por movimentos sociais e sindicais em defesa da Petrobras e da democracia, 74% dos entrevistados revelaram ter votado na presidenta Dilma Rousseff, nas eleições de novembro.

Votar na oposição é do jogo. Arrepender-se de ter votado em um determinado candidato é do jogo. Ir para as ruas protestar contra o governo é do jogo. O que não é do jogo, e pode ter passado desapercebido para uma parcela que protesta contra os erros do governo mas não contra a democracia, é que o ódio às instituições democráticas contaminou as multidões.

Nem todos os manifestantes empunharam cartazes contra a democracia ou pediram a volta dos militares – justo no aniversário de 30 anos do fim do regime militar –, mas o fato é que a intolerância com a diversidade de opiniões, a indisfarçada ignorância a princípios de respeito à diversidade social, de gênero ou cor e a violência contra opositores políticos foram legitimadas pelos que agiram de forma antidemocrática, e também pelos que foram indiferentes a isso. A agressividade não apenas foi tolerada pela multidão, mas grassou livremente pelos quarteirões da avenida Paulista livre, leve e solto, como se não existisse amanhã.

O ambiente cultural em que essas manifestações ocorrem, principalmente em São Paulo, onde se concentra boa parte da elite brasileira, é de coação. O ódio – expresso em vulgaridades como a de ofender a honra de uma presidenta da República legitimamente investida na sua função com palavras de baixo calão, ou na agressão física contra opositores, ou no pedido aberto para que as Forças Armadas intervenham no processo democrático – é taticamente investido de alta agressividade, para inibir reações contrárias. É um ambiente extremado, criado para obrigar os que se opõem a isso a aceitarem passivamente, por exemplo, os aplausos recebidos por um torturador da ditadura na avenida, ou a agressão física cometida por um homem adulto, acompanhado de um filho pequeno, a um adolescente de 16 anos que, num vagão do Metrô, cometeu a “imprudência” de vestir uma camiseta vermelha.

Isso não é um fato isolado na história, mas a semelhança com outros momentos dá um frio na barriga. Os golpes reacionários normalmente são precedidos de momentos em que os grupos à frente dos ataques a instituições passam a achar que suas razões são universais, e jamais passíveis de questionamentos. Os argumentos para a ódio são de ordem quase pessoal – o “meu” direito, o imposto que “eu pago”, o ódio pelo desfavorecido (“aquele vagabundo”) que está sendo amparado pelo Estado às custas do “meu” dinheiro – mas as razões individuais são jogadas como responsabilidade coletiva. Nessa situação, a reação dirigida ao que pensa diferente é a coação física ou moral.

Olhar para as ruas, enxergar a realidade e partir para uma contraofensiva capaz de afastar os riscos de retrocesso democrático é parte da missão civilizatória das forças democráticas brasileiras, nesse momento nebuloso da vida brasileira.

O rompimento cultural com a lógica que se forma nas ruas, desde as eleições passadas, tem que se dar pela coragem. Não existe outra forma de confrontar a agressão. Dilma Rousseff usou dessa lógica quando, muito jovem, optou por uma oposição radical ao governo militar, num cenário de radicalismo de direita.

A reação dos que se sentem coagidos nas ruas pela extrema-direita é a de não se deixar coagir. É prestar a sua homenagem à democracia, às urnas e ao voto. A resposta ao 15 de março é um grande viva à democracia.

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