Da Rede Brasil Atual: "Acreditar que a mídia tradicional se abrirá ao contraditório é ilusão"
Extraído da Rede Brasil Atual:
VOZES
Acreditar que a mídia tradicional se abrirá ao contraditório é ilusão
É uma grave falha da democracia exigir que governantes eleitos pelo voto
popular sejam obrigados a se dirigir à sociedade por meios privados,
controlados por minorias que os querem ver apeados do poder
por Lalo Leal publicado 07/03/2015 13:40, última modificação 07/03/2015 15:03
CC / MAISUMGRAFITENOMURO
Na primeira reunião ministerial do segundo mandato, a presidenta Dilma
Rousseff convocou seus auxiliares para a “batalha da comunicação”. Foi
enfática: “Nós devemos enfrentar o desconhecimento, a desinformação
sempre e permanentemente. Vou repetir: sempre e permanentemente”.
Nada mais justo. A desinformação contrária ao governo campeia pelo país,
orquestrada pelos grandes meios de comunicação. A reação da presidenta é
justificável. Resta saber quais são as armas que ela e seus ministros
possuem para essa batalha. Se esperam contar com a benevolência dos
meios tradicionais, podem tirar o cavalo da chuva. A batalha estará
perdida antes de ser travada.
Alguns veículos até publicam o que chamam de “outro lado”, mas sempre de
forma discreta e submissa à pauta criada para fustigar o governo. A
desproporção entre o ataque da mídia e a possibilidade de resposta
através dela mesma é brutal. Constata-se uma grave falha da democracia
ao exigir que governantes eleitos pelo voto popular sejam obrigados a se
dirigir à sociedade por meios privados, controlados por minorias que os
querem ver apeados do poder.
Além disso a participação do governo na batalha da comunicação não pode
ser apenas reativa aos ataques da oposição midiática. É preciso tomar a
iniciativa e buscar canais despoluídos para que as mensagens cheguem ao
público sem ruídos.
Para ampliar a liberdade de expressão uma lei de meios é fundamental,
embora não seja o único caminho. Outro, de construção mais rápida, é o
da comunicação pública, indispensável para o jogo democrático. Dela, já
há o embrião constituído pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), com
suas duas emissoras de televisão, oito de rádio, duas agências de
notícias e um portal na internet. Resta tirá-la da irrelevância. Não
para se tornar porta-voz do governo mas para fazer jornalismo de
qualidade, livre de ingerências partidárias e comerciais.
A primeira medida é dar a esses veículos abrangência nacional, atendendo
a um dos princípios básicos da comunicação pública que é o do acesso
universal. Toda pessoa tem o direito, em qualquer parte do país, de
receber os sinais desses meios de forma rápida e fácil. A TV Brasil, por
exemplo, deve ser sintonizada em qualquer lugar da mesma forma com que
hoje sintonizamos a Globo ou a Record.
Com a digitalização e a consequente multiplicidade de canais, torna-se
possível segmentá-los constituindo um conjunto formado pelo canal
generalista já existente, ao lado do infantil e do noticioso. Seria o
núcleo básico ao qual poderiam ser agregados canais de filmes, de
música, de arte e esportes.
Quanto ao rádio, cabe lembrar que ele continua sendo a segunda fonte
mais utilizada para a informação e o entretenimento no Brasil. Ao
controlar um leque de emissoras que vai da histórica Rádio Nacional do
Rio de Janeiro à estratégica Rádio Nacional do Alto Solimões, o serviço
de rádio da EBC tem potencial para se tornar uma alternativa importante
em relação ao que hoje é oferecido ao público.
Necessidade imediata nesse sentido é a constituição de emissora
noticiosa 24 horas no ar, capaz de produzir uma narrativa distinta das
produzidas pelas rádios comerciais que tornam homogênea a informação
radiofônica em circulação pelo país.
No caso da internet, a Agência Brasil já exerce um papel importante
voltado para o público leitor e para o municiamento informativo de um
número expressivo de veículos em todo o território nacional. Cabe
popularizar e ampliar esse serviço tendo como uma das janelas o portal
da EBC, dando a ele formas de acessibilidade e fidelização semelhantes
às obtidas pelos portais informativos vinculados à mídia comercial.
Com a existência de canais públicos fortes, abertos aos interesses mais
gerais da sociedade, a batalha da comunicação seria travada em termos um
pouco mais equilibrados, dando ao público o direito de uma escolha
real.